Naïve escrita por Charlie


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Saudações!
Após todo esse tempo de tensão, escrevi esse capítulo como uma descontração e retratação de uma verdadeira vida de casado. Sei que rola essa impressão que uma sabe tudo sobre a outra, mas com passar do tempo vão descobrindo que não é verdade.
Nesse capítulo, recomendo que procurem sobre Lara Croft, Tomb Raider e as roupas que ela usava no jogo a fim de aflorar a imaginação. Santana, nessa parte, veste a tradicional mesmo. Prometo que valerá a pena.
Sobre significados, HBIC se estende a "head bitch in charge".
Obrigada, mais uma vez, pelos comentários e favoritos. Vocês são incríveis! Continuem me mostrando o que acham, aceito sugestões sempre.
Até breve, xo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/532758/chapter/20

Quinn's pov
De meio ao corredor, eu já posso escutar sua voz.
Ainda não sei como Santana não foi expulsa do prédio. Se não é a música alta em até excedentes horas da noite, é o barulho, as brigas com os síndicos, a atitude de moleque malcriado que vezes me faz arrancar os cabelos. Ela é difícil e, embora seja um apartamento por andar, tenho certeza que as pessoas dos inferiores a podem ouvir e estão, nesse momento, xingado todos os nomes. Santana não consegue ser uma pessoa quieta, tranquila. 
É quinta-feira, o pior dos dias. Às terças e quintas, Santana entra e saí do trabalho antes de mim, então é mais prático que a encontre em seu apartamento porque ela, certamente, me espera com o jantar pronto e uma banheira de água morna preenchida até o topo. Certamente.
— Puck! - Quando tenho a maçaneta da porta de entrada em mãos, ouço-a gritar. De primeiro, cogito a ideia de Noah Puckerman, de todas as pessoas, estar no loft. Santana e ele são próximos. Próximos demais para meu gosto, se perguntar. Tenho um afeto muito grande por Puck, principalmente após tudo que passamos, ele é um cara especial, apesar dos erros de caráter e desvios - muitas vezes reparáveis - de personalidade. É o tipo de homem que desejo ter próximo em minha vida, ainda mais agora na cidade quase desconhecida, porque visa por nossa segurança e felicidade. Além do mais, ele é o pai da minha filha. Temos um passado pesado em afeto, conclui-se. Todavia, todas as vezes que Santana e ele são postos juntos, sinto que a personalidade de ambos é renovada por uma mente de 12 anos. Não suporto Santana quando está com Puck, ou vice versa. Contudo, ela me avisaria se fossemos receber alguém essa noite, não? - Puck, pare! Não vá por aí! - Empurro a porta aberta e posso ouvi-la com mais precisão. É um loft, mas têm metragem o suficiente de afastamento entre os cômodos para que Santana notasse minha presença ali. Retiro o casaco e deixo a bolsa antes de entrar totalmente. Os raios alaranjados de final da tarde e início da noite em Boston insistem e permanecer até altas horas depois, assim usurpando os vidros da área exterior e invadindo o espaço. Formam riscos e desenhos fracos pelos móveis. Sigo pela a extensão e, na ausência de muitas paredes, já posso ver Santana em pé, em frente a televisão e…falando com ela?. Faço uma careta, com certeza até engraçada demais, diante da cena que vejo. Antes que pudesse ser notada, ao perceber um ar estranho, aproximo-me o suficiente para que meus olhos peguem sua imagem em exposição. Santana está dentro de algum tipo de vestimenta inalcançável a minha compreensão. Não acho que seja a roupa que trabalha porque nunca a vi vestindo e, se fosse, seria bem preocupante. Tem o cabelo preso numa única trança que bate até metade das costas, atrás da cabeça. Em ambas as pernas, embaixo de um pedaço de pano preto que, ao meu entender, representaria um short, prende duas tiras de couro que são suporte para duas armas, uma em cada lado, pouco maiores que pistolas comuns e fazem um trabalho magnifico de réplicas fieis ao produto. No cinto também preto que cruza o quadril, entrelaça entre fios e outras tiras, carrega alguns objetos que me fogem da identificação. Acima de tudo, veste uma blusa, que mais me parece um top devido ao tamanho e exposição de pele lá e cá, camurça verde bem escura.
Minha cabeça quase pega fogo ao tentar compreender toda a cena.
— Eu deveria te deixar morrer - Numa bufada exausta, diz.
Qual é! Eu não sabia que nesse caminho teria um milhão de lobos me esperando. Por favor, venha rápido!— Ouço a voz de Puck ecoar para fora de um dos sistemas de som dali, não sei qual bem certo. Isso explica muita coisa, excluído minhas teorias de minutos atrás.
— Foi por isso que te avisei! - Exalta, novamente, antes de puxar uma das pistolas chumbo, grossas, para fora do cinto da perna esquerda. - Droga, estou indo! - Avisa e, quando mira a arma artificial para a televisão, bem especificamente, grito
— Mas que diabos?! - E ela, do outro lado, paralisa na posição que, no flagra, pego-a. Ainda tem a mão estendida ao aparelho que, subitamente, cai mudo. Mudo por uns trinta segundos até que Puck interfere
Flopez, o que aconteceu?— Pergunta, confuso por Santana e a personagem da tela terem congelado. Quando vira o rosto em minha direção, posso ver um pequeno aparelho de microfone traçar a linha do ouvido até o maxilar. Deixa-me um sorriso nem um pouco envergonhado ou tímido.
— Quinn chegou - Diz, mesmo ainda olhando em minha direção. Pouco depois, desfaz de minha presença e volta a atenção a seja lá o que fazia antes com Puck. Franzo as sobrancelhas porque Santana é inacreditável. Nunca no mundo eu imaginaria que chegaria em casa e veria isso.
Então, não vamos mais jogar?— Puck, de dentro do aparelho de som. Pergunta mesmo sabendo que nada impediria Santana de salva-lo dos lobos, ou sei já qual outra baboseira. Ela sussurrava alguma parecida com dê-me um segundo,  no microfone  – Ah, diga a ela que disse oi.
— Puck disse oi - Diz, mesmo eu perfeitamente conseguindo ouvi-lo. Posso ouvir o barulho da arma em uma das mãos vibrar quando puxa o gatilho contra alguma coisa que existisse atrás da televisão. Após concluir, vira-se a mim - Como foi seu dia? - num sorriso pilantra.
Caminho mais adentro da área da sala e analiso cada corpo estranho diferente por ali deixado, sem muito me interferir. É a casa dela, a final de contas. Entretanto, sou sua esposa. Não sou? Tem uma taça gorda sobre o tablado de madeira de um dos sofás, sem líquido algum, mas o reflexo roxo no vidro mostra que era de vinho tinto. Algumas almofadas atiradas ao chão, como se tivesse andado pelo móvel, o que não duvido. Além disso, alguns pacotes e saquinhos de snacks. E, bem, tem ela ao centro vestida daquela forma.
— O que na graça de Deus você está usando? - Cruzo os braços sobre o peito enquanto a examino, peça por peça. Agora mais de perto, tem os olhos mais escuros e os ossos das bochechas mais corados, mas sei que é consequência do vinho. Ela não deve ter tomado uma única taça.
Assim quando capta minha pergunta, deixando a transe do jogo, afasta o microfone dos lábios e se vira a mim, parando com os braços abertos em demonstração. Dá até um volta entorno de si.
— Sou Lara Croft - Diz com a maior disposição e obviedade do mundo.
Mentira que você está fantasiada— Puck, incrédulo, interfere. Mesmo sem ver seu rosto, posso confeccionar o desenho perfeito da expressão que adota.- Cara, por que não me mandou fotos?!
— Não posso, tem muita coisa exposta - Lamenta com os olhos ainda em mim.
Exatamente por isso! Você uma vez ficou brava por me ter no telefone enquanto estava sem camisa, mas eu realmente não me importo quando é ao contrário. Então, pode me mandar agora.— Explica numa voz digitalizada. Eu quero rir. Ao invés, junto as mãos na frente do corpo e aguardo o fim da conversa paralela entre as crianças de 12 anos. Aparentemente, Santana estava vestida como uma personagem do jogo que agora jogavam. Meus olhos acompanham seus movimentos quando instala a pistola de volta ao suporte da perna, não posso evitar que caiam sobre o perfeito par de seios suprimidos pela blusa que quase ali não estava.
— Esquece, Puck. Tenho certeza que Quinn não me deixaria mandar, de qualquer forma. - Olha-me em confirmação enquanto borda um sorriso malicioso nos lábios.
Está com a maquiagem também?— Pergunta quando meus olhos procuram de onde sua voz está saindo. Maquiagem?
— Não - Santana nega de prontidão - Mas, não te contei, comprei a segunda Heckler & Koch USP Match que Lara usa no filme. - Exibe com o maior orgulho estampado no rosto. Em contrapartida, eu balanço a cabeça, desacreditada. Não tinha conhecimento sobre esse lado nerd de Santana. Não mesmo. Assim quando ouço Puck dar uma brecha, suspirando desacreditado, interfiro
— Lara quem?
— Croft - Diz, mas tudo que posso fazer é franzir o rosto em confusão. Percebe, o seu congela, pasma.- Laura Croft, não sabe quem é? - Pergunta e aguarda minha resposta, receosa. Apenas dou de ombros, deixando passar toda a indiferença. - Tomb Raider? - Nada - Angelina Jolie em 2001? - Insiste, mas, em todas as vezes, permaneço calada, balanço a cabeça em negação. Tomb quem? Eu realmente não sabia do que se tratava.- Puck! Quinn não sabe quem é Lara Croft! - Volta o microfone em alcance e grita desacreditada.
O que?! Em que mundo ela vive?— Responde, quase imitando o tom de voz de Santana.
— No real - Cuspo.
San, assine os papéis de divórcio!— Exalta entre risos. Pelo visto, Santana já havia contado sobre a tentativa de me fazer separar, assim como nossos problemas de união. - Você não pode continuar casada com uma pessoa que não sabe o que é Tomb Raider e que nem te aprecie vestida como Laura Croft! Digo, já viu a roupa que ela usa? Jesus!
— Estou vendo, na realidade, essa super sexualização. Quem luta contra lobos usando short, straps e top? - É claro que Santana me atraía com aquela roupa. Ela pode usar qualquer vestimenta, seu corpo já é o suficiente. Tenho certeza que fazia a essa Lara, quem é que fosse, justiça em representação. Todavia, esse era meu lugar de cortar todo a feira de peixe que eles faziam. Puck não podia me ouvir, todavia, porque o microfone estava no alcance de Santana. Se consegue, era bem distante.
— Ela não luta contra lobos - Refuta, como se eu a tivesse insultado.
— Pior ainda - Provo meu ponto a ser defendido. Como Noah não consegue me ouvir tão bem, resolvo fuzilar Santana estirada em minha frente de shorts curto e top.
— Espere um pouco, Puck, Quinn está me olhando esquisito. - Alerta ao homem em qualquer outro lugar do mundo sobre o que aqui acontecia. Puck deixa um resmungo ao som.
— Não estou te olhando esquisito - Respondo após olhar sim esquisito. Porque toda a situação não era a mais normal de se ver quando chega do trabalho tantas horas da noite. Assim que a vejo desviar olhares a televisão, arrasto-me para a cozinha porque estou tão, tão exausta. Ouço-a, em minhas costas, avisar que alguém estava perfurando a linha de defesa de Puck, seja lá o que isso fosse.
A cozinha do apartamento de Santana é bem mais planejada do que a minha, algo que percebi ao longos dos anos. Apesar da diferença entre perímetros e metragem dos dois lugares, a sua é mais preenchida no que tange a móveis, utensílios e eletrônicos. Santana cozinha mais que eu, também. Utiliza mais do espaço, por isso a planta bem arquitetada. É um lugar ótimo de se estar, fora a área externa que expõe a imagem horizontal de Boston. Então, vou ávida ao cômodo a fim de encontrar, no mínimo, um jantar quase terminado. Entretanto, nada vejo além de uma garrafa terminada de Cabernet francês. Se já não estava aberta, o que não é provável, tomou a garrafa inteira sozinha. Ela diz perceber a mudança no sabor da uva quando guardados pela metade. Eu, por outro lado, não vejo tamanho problema. Todavia, não é isso que me prende a atenção. Ela não cozinhou.
Então, fecho a porta da geladeira após examina-la, e pergunto
— Por quanto tempo está jogando isso? - A distância não é significativa demais para que não me ouça, nem o som da televisão. Daqui, eu até posso vê-la. Tem ambas as mãos, agora, apontadas para o aparelho. Ambas as pistolas sacadas das pernas. Sobre a respiração, murmura alguma instrução a Puckerman. - Santana! - Chamo-a a atenção.
— Não sei - Retruca curto.
Quando torce o rosto e olha a saída de uma das armas, como se essa falhasse em efetuar o que lhe era exigido, volto a onde estava.
— Você cozinhou? - Observou-a na resposta, mesmo tenho estando ciente sobre o que foi perguntado.
— Puck! Está vendo ele? - Grita. Se eu não soubesse que havia um microfone e os sons guturais de Noah saindo de algum lugar, poderia acha-la completamente desvairada sem algum esforço. - Não tive tempo, estou jogando.  – A mim.
— Faz quanto tempo que está em casa? - Às quintas e terças ela sai antes de mim, mas não é um tempo exorbitante de diferença. Exorbitante porque, vendo agora, aparenta que esteve por aqui pelas últimas cinco horas.
— É quinta, babe. Você sabe que às quintas jogo com Puck.- Responde aos ares, sem ao menos olhar em minha direção. Eu sei? Nunca antes a vi vestida assim, mas tem, realmente, o fato de Puck aparecer mais vezes às quintas-feiras. Se não estão jogando, ele está se casando ou coisa parecida. Diante disso, resolvo deixa-los a isso. É quinta, estou exausta e prometi a Santana que reveria meus conceitos matrimonias. Não é como se eu pudesse fazê-la desligar tudo e conversar comigo. Bem, eu podia, mas resolvo não fazer pelo bem de minhas promessas. Um casamento não precisa ser uma prisão. Ela ainda pode fazer suas coisas e eu, as minhas. Ontem me disse que não podia mudar quem era e eu não quero, de hipótese alguma, que mude. Portanto, anuncio após alguma fala crua de Noah
— Ok…vou tomar um banho quente - Sigo o caminho ao banheiro de Santana, esfregando atrás da nunca. Meus musculos pareciam derreter. Os vidros já são escuros e apresentam, afora, os pontos de luzes da cidade em plena estação.
— Dia estressante? - Sua fala me para, antes que concluísse todo o caminho. Viro-me a ela. Pela terceira ou quarta vez desde que cheguei, tem os olhos em mim. Posso perceber a intenção verdadeira por trás do tom, porém.
Deixo um consentimento e suplico - Você poderia me ajudar a firmar os musculos depois, não? Sempre faz propaganda da massagem, seria um bom momento para me mostrar seus dotes. - Entre sorrisos, brinco.
— Com certeza - Responde, batendo-me os longos cílios. - Pode escolher alguma coisa para vermos também. Menos Sex & the City, por favor - Revira os olhos. Bem, isso eu não estava esperando.
Sorrio em sua direção antes de virar e seguir novamente o caminho que antes de ser interrompida fazia. O apartamento caía em silêncio quando me aproximo do banheiro. São passados minutos, ouço Puck
Eu também costumava amar vê-la andar, sabe?— Num tom sereno. Isso explica o silêncio de antes.
— Não acredito que me disse isso, eu vou te matar! - Santana responde, exaltada, provocando-me um sorriso na boca.

Numa chula percepção de tempo, demoro em torno de trinta minutos no banho. Trinta minutos porque a banheira de Santana tem um jato que impulsiona água na temperatura perfeita, direto as costas. Ali permaneço por esse compasso e flutuo na sensação quente em contado direto com a pele. Eu realmente precisava disso, desse relaxamento. Quando saio, visto uma calça larga, branca, de um dos pijamas de Santana e uma camiseta antiga azul marinho com Yale bordado em branco ao centro. Ao retornar a área da sala, ela bate o olho na peça em meu peito e sorri de lábios fechados. Santana lembra. Um tempo atrás também já me disse gostar da camiseta em mim, até vê-la usar dia ou outro. Não me importo, todavia. Ainda está na mesma posição quando sento num dos sofás mais próximo a sua pessoa estendida ao centro. Diante da ação, programa alguma coisa fora de meu alcance na televisão, para depois, com um controle de xbox normal, um que eu pelo menos conhecia, sentar-se ao meu lado. Quando faz, puxa ambas minhas pernas para cima do colo, eu quase ali sentando. Passa uma das mãos por minha cintura a fim de puxar para mais perto e, quando o bastante, sussurra
— Está cheirando gostoso - Abafa a voz com os lábios quase totalmente presos em meu pescoço. A ação, por um instante, provoca-se um arrepio breve. Deixo-a um sorriso de lábios juntos quando volta e meu campo de vistas com os mesmo olhos escuros demais e as bochechas meio avermelhadas. Posso sentir o demi seco da uva que tomara exalar do corpo. As tiras que a amarravam nas pernas cheiravam, sutilmente, a couro recém trocado. Tem uma essência bem fraca do corpo, não do perfume que costuma usar, mas do corpo mesmo. É intoxicante. - Puck, pegue a Walther P99 e vá para atrás daquela estátua de pedra. - Revira os dedos no controle quando menciona Noah. Ele ainda está lá. Olhando agora, a televisão mostra a imagem de uma personagem vestida como Santana, a blusa, o short, os straps e um par de botas pretas sem saltos, o que ela não replicou. Ao canto da tela, um quadrado não muito grande isola um homem de vestimentas estilo Indiana Jones, escondido atrás de uma estátua de pedra. Será que Puck está vestido como ele? Quero perguntar a Santana.
Deixe comigo, Fablo.— Ele responde orgulhoso. Entretanto, não é muito tempo depois quando, subitamente, a tela congela e o personagem do quadrado menor cai em um único golpe ao chão.
— Sério?! - Santana grita e eu quase pulo do sofá, a mão sobre o peito. Tira o controle entre minhas pernas atravessadas em seu colo. - Você levou um tirou na cabeça?! Pensei que tinha dito "deixa comigo"?! - Impõe, incrédula.
Droga, desculpa!— Frustado, lamenta.- Me distraí. Sheel chegou.— Do outro lado da chamada, desculpa-se.
— E?! Não me deixei levar um tiro na cabeça quando Quinn chegou em casa! - Observo-a jogar aos mãos ao ar, em frustração, antes de passa-las pelo rosto.
— Porque você é um doida desvairada! — Choraminga.
— São sei porque ainda jogo com você. - Santana diz, agora parece um pouco mais calma. Aceitando a situação, digamos. Eu contenho o riso. - Não sabe separar a cabeça do pênis.
E você sabe?
— Não tenho um pênis
Não? Ah, ok.— A linha caí muda por alguns minutos, penso até que havia desligado sem quaisquer despedidas. - Tenho que ir, continuamos quinta que vem? Diga a Quinn que mandei um tchau e felicidades ao casal.— Deixa uma risada forçada antes de desconectar, a tela da televisão avisando sua saída do jogo. Desse lado, Santana retira o aparelho do ouvido desconectando o microfone e o deixando em outro lugar ali perto, junto ao controle antes entre minhas pernas. Assim livre, puxa-me completamente a seu colo. Tem uma das mãos pressionada contra minha costas, enquanto a outra descansa numa das coxas cobertas pelo tecido fino da calça. - Como foi seu banho?
— Bom - Sussurro dentro dum expelir de ar - Pode subir mais? - Refiro-me ao trabalho preguiçoso que seus dedos fazem sobre o final das minhas costas. Quando peço, pressiona no ponto com força. Fecho os olhos na sensação. É maravilhoso. Meus olhos abrem dentro de passados minutos e encontram dois pequenos monitores pretos em cada canto do espaço, antes passados despercebidos. - Isso é uma câmera? - Aponto-os.
— Não, são sensores de movimento para a mira das Heckler & Koch USP Match- Responde, serena, nunca cessando o movimento dos dedos ou nosso contanto.
— Das o que? - Encaro-a confusa.
— Heckler & Koch USP Match - Diz entre sorrisos porque tinha uma vaga ideia de que eu não entendia nada sobre o que falava. Meus olhos caem em seus lábios rosados na cor natural.
— Como sabe tanto sobre armas? - Em sua direção, franzo as sobrancelhas e o rosto porque, verdadeiramente, Santana era uma caixinha de surpresas. Mesmo após dez anos, eu ainda descubro coisas a seu respeito. Coisas inimagináveis.
— É só uma Heckler & Koch USP Match, todo mundo sabe disso. - Dá de ombros.
— Não - Balanço a cabeça em negação, lentamente. - Tem uma outra que disse para Puck. Qual é o nome? - Me foge da memória, mas recordo de questionar a mim mesma quando primeiro ouvi Santana dizer. Não são todas as pessoas que sabem nomear armas assim tão aleatoriamente, por mais que seja fã de um desses jogos. São nomes, sobrenomes e números a serem gravados.
— Walther P99? - Confirma toda a teoria que corria em meu pensamento.
— Sim
— É uma pistola, de novo, todo mundo sabe - Explica-se com uma expressão leve no rosto.
— Eu não - Refuto cerrando os olhos a ela.
— Você nem ao menos sabe quem é Lara Croft! - Exalta. Ela jamais esqueceria isso. Eu estava ferrada. - Angelina Jolie a interpretou em Tomb Raider 2001, por Deus! Quem não sabe disso? - Escorrega a mão que antes pressionava contra minhas costas e a cai na cintura novamente, colando minha lateral ainda contra o corpo. A parte exterior de meu bíceps pressiona contra um dos seios. Ela não usa sutiã.
— Eu?! - Afirmo. Entretanto, diante de toda nossa discussão e sobre como me disse ontem ser capaz de manter segredos que eu jamais imaginaria, pego-me presa ao pensamento. - Está escondendo alguma coisa de mim?
— Não sei…- Seu tom cai para aquele rouco mais fraco que me fraqueja os músculos. Senta um beijo no começo do ombro. - Posso ser uma psicopata - Dá de ombros. Obviamente ela não me leva sério. E por que eu a levaria, também? Não quando está vestida de Tombseiláoque. Movimento-me em seu colo para que ficasse um pouco mais em contato com sua frente, nunca saindo dali.
— Por que você e Puck agem como meninos de 12 anos quando estão juntos?- Pergunto, não tão seriamente demais.
— Está me ofendendo. - Diz, põe a mão sobre o peito. - Ele age como um menino de 12 anos. Eu ago como uma menina de 12 anos. - Corrige e eu quase me sinto mal por não separar. Quase. - Uma menina que gosta de video games, armas e Lara Croft. Sabe, como legais.
— Coisas de lésbica - Aponto, esforço-me ao máximo para suprir o riso que entupia a garganta. Eu sei como irritá-la.
— Não vou deixar que sua não auto aceitação amargurada expressa em estereótipo me atinja - Impõe - Até mesmo porque você é a prova viva que contradiz a própria colocação. - E outro beijo, quase até irônico - Gosta dessas coisas?
— Não
— Então - Confirma.
— Também não sou gay - Dou de ombro, tirando meus olhos dela.
— Ah, não? Ok, desculpa por presumir assim então. - Num tom que pinga ironia- Mas, se me lembro bem, é casada com uma mulher. - Enquanto diz, sua outra mão passa caminhos curtos por sobre minha coxa. - Ou ainda acha que tenho um pênis escondido?
— Às vezes tem e vem me escondendo. - Pelo segunda vez, dou de ombros. Busco seus olhos novamente. - Mas, sobre você e Puck, por que? Ainda não me respondeu.
— É um fenômeno chamado identificação, se você nunca ouviu falar. É, na realidade, um mecanismo de defesa. - Diz e tudo que posso fazer é continuar a encará-la. O que diabos aconteceu contigo hoje? Do outro lado, percebe minha expressão vaga. - Você perguntou, é isso que acontece comigo e Puck.- Aponta. Posso quase apalpar a seriedade em seu tom. - Quando perto dele, meu espírito enrustido de criança e tomboy vem à tona. O mesmo acontece quando estou perto de Berry, floresce o desejo por musica e o minúsculo interesse pela Broadway. Ou, até mesmo com você, mas aí é o libido e espirito de HBIC. - Explica e minha boca só não cai ao chão por conta do maxilar e a mão que agora dispõe na traseiro de meu pescoço. Diante da expressão, diz - Qual é, Ms.Yale, ponha a cabeça pra funcionar. - Adiciona pressão ao aperto. - Raciocine, sei que vocês Ivy League tediosos têm de fazer isso de vez em quando. Identificação é quando se incorpora o comportamento de outras pessoas a sua própria personalidade - Numa vista limpa. Forço a concentração a fim de não me perder na sensação que seus dedos executam na nuca.
— Não, não é.- Nego - Eu já estudei sobre isso
— Eu também
— Não é introjeção? - Pergunto. Sua pele é macia em contato com a minha. Tudo sobre ela grita sensualidade. Sexualidade. Meu desejo é de continuar esbarrando os braços pelo seio só protegido por um tecido fino. Mesmo quando discute sobre um assunto aleatório comigo, é esse fosso de sedução e sensualidade. E ela não faz a mínima ideia.
Aperto os lábios juntos.
— Não. Olha que eu nem cursei Direito. - Santana umedece os dela. - Ou Psicologia
— É isso que acontece com você e Puck, está supondo então?
— Afirmando
— Como sabe disso?
— Porque sou super inteligente, se não notou.- Humildemente, dá de ombros. Posso fazer nada além de observá-la. - Minha mente funciona como uma máquina. Então, quando estou com Puck e com as demais pessoas que te citei, minha mente trabalha tão rapidamente que acaba ficando vulnerável as coisas exteriores. Assim, quando o menino de 12 anos que é Puck chega, ela tende a se defender dessa forma. - Após, respira satisfeita consigo. Santana é tão cheia dela mesma. - Ou sei lá.- Quando vê-me a observando um pouco mais intensamente, joga mais leve. Seus lábios alcançam os meus num selinho preguiçoso. - E então? O que escolheu para assistirmos? - Desvia o assunto. 
— Podemos conversar primeiro? - Solicito, mesmo sabendo que para esse tipo de pergunta não existe uma saída. Santana não responde com receio, como eu imagina. Só neutraliza os lábios e diz
— Sim, claro. - Talvez também estivesse, ao final de contas, refletido sobre nossa pequena conversa.
— Lembra quando disse ficarmos na mesma página, ciente das coisas? - Digo em serenidade. Todavia, seu foco é desviado quando o aparelho prateado colado na parede próxima a porta de entrada deixa dois apitos metalizados sinalizando a presença de uma interferência. Sem muita demora ou importância para o que conversávamos, tira-me do colo e vai até o interfone.
Boa noite, Ms. Lopez.— Ao aceitar a conexão, a voz engarrafada do porteiro no térreo soa através do aparelho.
— Boa noite, Adolf - Santana responde em contato com o eletrônico em uma voz quase de flerte demais. Ela adora provocar as pessoas. - E é Fabray-Lopez agora. 
Hm…ok, desculpe— Hesita - Há um entregador aqui comigo com um pedido seu, posso permitir que suba?
— Ah, sim, pode. Obrigada. - Mesmo após cessar a conexão, ali permanece. Não é muito após quando duas batidas cegas traçam o centro da estrutura de madeira. O rapaz quase alto demais com vestimentas comuns entrega uma caixa de pizza a Santana, após receber o devido pagamento para tal. Desse ângulo, consigo ver seu rosto quase torrar em vermelhidão quando cai os olhos ao abdômen exporto da mulher do outro lado da porta. Tudo que posso fazer é revirar os olhos quando agradece o rapaz, fechando a porta atrás de si.
— Pediu pizza? - Exasperada, pergunto. Acredito ainda não ter excluído da cabeça todo o cenário de chegar e casa com Santana ter cozinhado o jantar. 
— Achei que chegaria com fome. - Caminha até a cozinha e senta a caixa na mesa ao centro. - Não estamos na mesma página? Eu até pedi metade daquela sabor que gosta, mesmo eu detestando. - Quando volta a mim, toma o mesmo assento no sofá. Sento ao lado, dessa vez.
— Não é isso que me refiro quando digo estarmos na mesma página. - Olho-a com cautela, não posso dizer muito sobre sua expressão além de satisfação. Mas sempre tem essa imagem física de orgulho pregado na fisionomia. As vezes me faz querer batê-la na cara. - Falo sobre minha casa e seu apartamento, os afazeres domésticos.
— Afazeres domésticos? - Ela, do outro lado, olha-me com desdenho. Santana não é a pessoa mais doméstica, também. São incontáveis as vezes que discutimos por conta de organização. Eu até ameacei aqui nunca mais vir se não se esforçasse. Ela não é desorganizada, só consegue ser bem preguiçosa as vezes.
— Sim. Arrumar a casa, limpar, cozinhar, lavar as roupas - Aponto.
— Então vou ter que lavar suas calcinhas? - Diz entre um riso programado. Na estrutura, arrasta seu corpo para mais próximo do meu. Deixa um beijo seco numa das bochechas. 
— Bem, sim, se eu tiver deixado alguma aqui. - Brinco. Ouço-a suprimir uma risada quando enterra o rosto na curva de meu pescoço. - Estava esperando sua comida hoje.
— Mas cozinhei semana passada! - Protesta, voltando o rosto a minha vista.
— Nós comemos todos os dias, sabe.
— Você sabe que um dia da semana tenho de fazer algo com Puck, senão ele chora - Fala, um risada crua deixa minha garganta. Não sei como conseguiu dizer isso com a expressão séria. - Só peço que respeite a noite que estivermos jogando. Nas demais, cozinho pra você. - E outro beijo, agora nos lábios.- Semana que vem me vestirei como Mileena do Mortal Kombat, então pode esperar levar uma espadada na cama enquanto fazemos sexo.
— Mortal o que? - Meu rosto torce - Jesus, quem é você? - Pergunto, desacreditada.
— Sério que está me perguntando sobre Mortal Kombat e não a espadada no sexo? - Se eu estava desacreditava sobre essa sua personalidade desconhecida, ela também estava sobre minha aceitação.
— Sim? - Suprimo um sorriso.
— Quinn Fabray-Lopez, quem imaginaria que pudesse ser tão baixa?! - Ao ares.
Santana passa um dos braços por minha cintura, puxando-me contra seu corpo. Traça os lábios, a princípio, pela linha de meu maxilar antes de deixá-los nos meus. Primeiro só trocamos apertos. Os seus e os meus, até que escorregassem ao contorno de seu pescoço. Sutilmente, pressiono o osso do seu quadril a fim de empurrá-la deitada no móvel. Entretanto, percebe minhas intenções.
— Está tentando fazer com que eu fique por baixo de novo? - Franze as sobrancelhas.
— Você sempre fica por baixo - Digo próximo demais de seu rosto.
— Porque me preocupo com suas costas, já disse.
— Vai sempre usar essa desculpa? Sei cuidar de minhas costas - Forço um selinho novamente, mas ela desvia no meio do ação. Encontro sua bochecha, ao invés. Depois o maxilar. O maxilar.
— Não é uma desculpa. - Explica-se. - Lara Croft nunca está por baixo.
— Já a viu transando?
— Não. Que tipo de pergunta é essa? É um jogo!
— Então por que diz isso? - Prossigo tentando, mas continua a desvencilhar do meu toque.
— Porque ela é uma lutadora?! - Expõe a obviedade da questão lógica.
— Então nunca está por baixo? - A essa altura, eu só dava corda a suas falas como numa força de distração.
— Sim, duh. - Bufa. Noutra nova tentativa de passar meus braços por alguma parte de seu corpo, profere movimentos rápidos demais a meu entender. Tem meus braços presos entre suas mãos e ambas as pernas em volta das minhas, quase numa chave. Olho-a sem muito entender o que tinha acontecido, somente sentindo seu pleno contato com meus membros quase sufocados pela força. Seu rosto escreve uma satisfação inalcançável. Assim, contorço o corpo preso embaixo do seu, mas a força que disponho é de tamanha intensidade não esperada por ela, levando-nos ao chão num último movimento. Uma vez no chão, percebo toda a tentativa ter sido em vão, porque continua sobre o meu que, na realidade, veio a amortecer sua queda. Ela ainda está por cima. Deixo um choramingo de dor.
— Quer mesmo lutar comigo? - Desafia. Acima de mim, posso ver o sorriso de orelha e orelha e ouvir a gargalhada. - Não pode usar seu próximo peso pra sair de uma chave de perna. - Explica. Solta meus braços e usa das mãos para separar ambas minhas pernas, entra com o quadril no meio delas. O ar entra fino em meus pulmões quando sinto sua pélvis pressionar contra meu sexo coberto por diversas camadas de pano antes do contato imediato. - Tem de fica parada - Volta a mão para cima e busca meus olhos quando a voz cai mais para um sussurro - Pressione uma das mãos no peito da pessoa quem está te segurando para que não suba. - Na demonstração, deita a sua aberta sobre o meu. - Impulsione seu tronco contra o dela, deixe o cotovelo de lado. Uma das mãos pesa no joelho adversário antes de ir para dentro e segurar. Puxe o calcanhar que está na pegada. Assim, a mão que usou para tal pode segura-la no quadril. Firme as pernas no chão e, uma vez que estiver na posição, pressione o corpo contra o da pessoa. Na dor da torção do joelho embaixo de seu corpo, ela vai ceder. - Diz. Tenho Santana se arrastando, literalmente, por cima de mim. Seu cheiro e respiração pregados em meu corpo, demonstrando cada movimento que explicava. Nessa momento, meu cérebro é distraído da curta, mas doída dor da queda pelos movimentos e como falava cada palavra numa linha tênue de tonalidade. Quero perguntar a ela como sabe de todas essas coisas, mas, antes que pudesse proferir qualquer palavra, senta seus lábios nos meus. Diferentemente de todas as vezes que nos beijamos essa noite, solta-os sobre os meus. Tenho o inferior entre ambos, depois o superior. Mesmo em cima, ela deixa que eu lidere o caminho e execute movimentos lentos sobre os seus. Ao primeiro esbarrar de nossas línguas, ela tem gosto de vinho tinto. Eu sabia essa ser sua bebida, mas sentir a essência da uva pregada no membro é toda outra sensação delicadamente elaborada. Santana é quente e faz meu corpo superaquecer quando deixa a mão suspensa sobre minha clavícula. Um onda grossa de excitação bate contra o final da barriga. No pesar de sua respiração, afasta nosso rosto, cortando o contanto. Diz
— Não podemos - e me observa. Seus olhos caem para uma cor mais escura, se possível. Sei que as sensações eram mútuas. - Você está menstruada - Aponta, lembrando-se. Como se eu estivesse esquecido. Senta um selinho em minha boca e, quando a vejo impulsionar o corpo para longe do meu, seguro-a.
— Então me deixe fazer - Solicito. Uma de minhas mãos brincam com a barra do shorts que usa, enquanto os olhos só seguram o receio. Santana não gosta de fazer isso, disse que soa muito como um favor. E não é isso que fazemos. Eu não masturbo e ela não faz nada comigo após, nunca. Taí o receio. Mesmo assim, diante de sua ausência de protesto, prossigo. Eu realmente penso que nesse cenário onde não transamos em algum tempo, ela precise de um mão amiga. Ou duas.
Desabotoo o botão da peça, passando pelo cinto e descendo o zíper. Infiltro uma das mão para dentro do shorts e vejo sua expressão mudar quando meus dedos sentem o tecido da calcinha e puxam-na, sutilmente, para cima, a fim de concretizar maior contato entre o pano e seu sexo. Sua respiração é quente quando bate contra meu rosto e a língua desliza pela minha. É macia, quente e convidativa. Uso a vantagem de nossas posições para penetrar os dedos totalmente na peça, afasto a calcinha e assim entre em contato com seu sexo, diretamente. Subitamente, os dígitos de meus dedos umedecem. Há um gemido, não sei se meu ou dela.
— Estava vendo pornô? - Pergunto abafado por sua boca, porque não era possível estar molhada nesse ponto só por se esfregar em mim. Sinto o esticar dos lábios num sorriso. Também, a presunção de Puck ter induzido Santana a assistir a filmes eróticos não me assusta nenhum pouco. Ela não responde, todavia. Apenas deixa um sorriso como resposta, quase me desafiando a seguir a razão cronológica das coisas. É o vinho. A essência do vinho. A escala de excitação. Eu cresci analisando pessoas, é parte de minha profissão. Então, pela forma como Santana sempre aperta os lábios, umedecendo-os após as goladas no vinho a fim de insistir na permanência do sabor, e a maneira como coloca as pernas juntas, apertadas, ela tomou o bastante para estar excitada. É isso que o vinho faz com Santana, deixa-a excitada. A pele aquece, as bochechas coram, os lábios avermelham, os olhos escurecem e não preciso tocar meus dedos entre suas pernas para saber que, nessa altura, ela está ensopada. Mas toco, sinto-a. Eu a conheço. Conheço como seu corpo funciona em intervalos de dois. Era isso que ela gostaria que eu desvendasse.
Quando seus olhos caem fechados diante da sensação, pergunto
— O que me quer fazendo? - num sussurro. É o bastante para que os abrisse novamente, puxasse minha mão do short e agarrasse a outra.
— A pergunta não é essa. É, o que eu te deixarei fazer? - Quando concluí, marca os dentes em meu lábio inferior, em uma única mordida. Puxa a barra da camiseta e a tira de mim. Ao me ver em disposição, sem sutiã e quaisquer outras peças, arqueia uma das sobrancelhas. Vejo-a escorregar o corpo para mais baixo, assim como o rosto. Compreendo o que fazia quando a temperatura de sua língua é sentida por meu mamilo direito. Puxo o ar com força, depois deixo um gemido diante da insistência de movimentos incrivelmente lentos. Mas é claro que Santana não me deixaria sair impune. Para minha surpresa, prendo a respiração assustada quando morde, levemente, minha parte que tinha na boca. A sensação se descreve como uma sutil pontada de dor em amalgama com prazer. Faz a mesma coisa com o outro mamilo. Eu estava pronta para explodir ali. Ela se encontrava em todo lugar. Suas mãos deslizavam por minhas pernas, cintura e torso. A língua em meus seios, lábios e maxilar. Puxa forte minha pele no início da caixa torácica  para dentro da boca, provando-me outro gemido. Quando tem os dedos posicionados em ambos os lados de minhas costelas, sei o que está fazendo. É tarde demais, todavia. Grito em risos.
— Pare com isso! - Rebato meu corpo contra o seu enquanto os dedos proferem movimentos ágeis demais contra a parte citada, causando-me cócegas. Os risos me sufocam a garganta. - Sabe que odeio quando faz isso! - Tento a puxar para longe de mim, mas Santana é mais forte. Aparentemente.
— Justamente - Entre olhos lacrimejados e riso, vejo-a sorrindo. Quando percebe que luto em falta de ar, risada e domínio, cessa os movimentos. Bufo em respirações longas embaixo de seu corpo.  Tão desnecessário, Santana. Santana me dá um tempo para recomposição, mas não é muito depois quando sinto pressionar o começo da coxa contra meu sexo.
— Posso tocar você? - Timidamente, pergunto.
— Vou permitir - É reconfortante quando fala. - mas só hoje, blondie. - diz, deixo um sorriso diante do apelido. Ela costumava me chamar assim no ensino médio. Impulsiono meu corpo para cima, induzindo o seu a seguir os mesmos movimentos, até que estamos sentadas uma de frente a outra. As pernas interligadas de alguma forma. Toco seu rosto e deslizo as mãos para as bochechas até que chegassem no cabelo preso. Desfaço a trança única e infiltro os dedos  entre a grade dos fios negros, grossos, fundo demais até que meus digitos tocassem o couro cabeludo. Seus olhos caem fechados com a sensação. Seguro os fios com precisão o bastante para que erguessem seu rosto, sento os lábios nos seus. Com a outra mão alcanço a haste do top ou blusa que usava, puxando para cima da cabeça, separando nossos lábios somente para a passagem. Encosto seu peito no meu e sinto um gemido seu passar pela minha boca que profere movimentos lentos, mas precisos. Quando posso dizer que sua respiração está precisa demais, a pele cresce ainda mais quente sob meu toque, impulsiono seu corpo para trás, tomando o lugar em cima deste, agora. Ela parece não se importar. Eu até tiraria sarro na hora, mas o ar de excitação que dá me faz perder o foco. Eu podia a fazer suplicar, colocá-la em seu lugar. Provar meu ponto. Mas, ao invés, desato os straps das coxas e retiro o short do corpo. Beijo a boca, a bochecha a e curva da clavícula antes de retirar a última peça. Ela só me observa. É tudo que podia fazer, também. Deslizo o dedo por toda a humidade que guarda entre as pernas, vendo-a se contorcer em prazer, para depois a penetrar com um único dedo. Quando faço, geme. Geme e torce a coluna num arco perfeito, impulsionando o quadril contra meu dedo. Santana sussurra alguma coisa embaixo da respiração que não posso compreender, mas, em resposta, adiciono outro dígito. Ela alcança meu antebraço da mão correspondente e aperta com força, impulsionando-me mais adentro. A sensação é maravilhosa. Seu interior é quente e macio. Esponjoso. Executo movimentos fracos de ir e vir, a princípio. Entretanto, ansiando ter o máximo de controle possível, move a mão em contato com o antebraço a fim de me fazer ir mais rápido. Até move os quadril, circulando-o,  e preciso desviar o olhar para que mantivesse o foco no que fazia. Eu quase não queria que ela atingisse um orgasmo, só para poder observa-la proferir ditos movimentos. Santana dançava, era uma cheerleader, então sabia rebolar quando precisava. Solta a mão de meu braço quando adoto a rapidez dos movimentos, e leva ambas a cabeça, entrelaçando os dedos no cabelo. Ela estava perto. Seu seios dançavam com o impacto e força que eu aplica sobre seu corpo, toda a cena da silhueta perfeitamente desenhada, os musculos demarcados sobre a pele, a respiração, o prazer. Eu sou gay, a final de contas. Prende o próprio lábio na boca. Ela está perto, eu posso sentir. Uso o digito de meu polegar para um contato mais preciso em seu clitóris e, quando faço, seus gemidos mudam de intensidade. As paredes interiores apertam contra meus dedos, assim um orgasmo a corta inteira. A musculatura de meu braço queima ao ser sujeitado a tamanho movimento contínuo. Tiro os dedos de dentro dela antes de deitar a cabeça sobre seu peito. O coração metralha contra meu ouvido. Santana passa as mãos em meus cabelos e infiltra os dedos para dentro do couro.

Abro uma garrafa de vinho da adega de Santana quando sai para tomar banho. Não tinha certeza se gostaria de tomar outra, mas eu realmente precisava. Então abro-a, quase um roubo. Demoro um tempo na escolha, porque a maioria dos seus é demi seco. Santana não toma vinho totalmente seco ou branco. Diz que o não tintos a dão dor de cabeça. Assim, reviro a prateleiras e pego o único branco. E seco. Ops. Não sei porque ainda o tem. Entretanto, pego-o, abro-o e sirvo duas taças antes de pegar uma fatia da pizza e ir a área externa. Arrasto a cadeira para mais perto do batente da sacada, assim como uma banqueta dali.
Estou na segunda taça e no meio do terceiro pedaço quando Santana volta vestindo um roupão rose felpudo de banho, bem espaçoso ao corpo. O cabelo cai num coque volumoso atrás da cabeça. Tem uma expressão limpa no rosto e o vento que nos interfere me traz a essência de sabonete líquido da silhueta.
— Não está muito frio pra ficar aqui fora? - Assim quando termina de escorregar fechada a porta de acesso a área, questiona.
— Eu precisava do ar - Respondo antes de levar a taça aos lábios. Santana me olha com um ar curioso quando vê o tipo de vinho. Mesmo assim, alcança a outra posta em cima da banqueta e dá uma golada. Acho que ela faz esse esforço por mim.
Basicamente, conversamos sobre coisas aleatórias nos passados minutos que ali permanecemos. Eu contei sobre novos casos, Al, as pessoas da empresa, minha casa, contas e eventos. Santana reclamou sobre ter abacaxi na pizza havaiana, sobre o vinho, o seco e de que não aguenta mais Boston. Também disse não ter de ir trabalhar em certos dias da semana que vem, mas, quando perguntei a razão, a fim de aprofundar o tópico, mudou de assunto. Só fala que estão trabalhando em um novo projeto. Me conta sobre Puck e a vida de casado, as reclamações e brigas. Eu eventualmente levanto o tópico novamente de ter pedido pizza e ela reclama, traz a tona o encontro que a havia prometido semana passada enquanto comíamos o bolo de "saída do armário" que me assou. Certo, tinha me esquecido disso. O encontro. Nunca tínhamos tido um antes, então a chamei para um. Mesmo em livre espontânea pressão. Certo. 
Vou a cozinha para preencher as taças mais uma vez e, quando volto, ela está debruçada contra o batente. Tem as costas para os vidros e a porta de acesso, para mim, mas ainda posso ver um nuvem clara de fumaça ser soprada por cima da cabeça. Antes que notasse minha presença, sento sua taça na baqueta e recosto meu corpo atrás do seu. Passo a mão livre em na cintura e, em resposta, ela vira a cabeça somente em perfil. Segura o cigarro entre os dedos. É um lucky stricke.
— Voltou a fumar? - Abafo as palavras no tecido do roupão perto de seu pescoço. Tomo uma bolada do vinho, agora queimando minha garganta. Santana costumava fumar nos últimos anos do ensino médio, quando nosso ódio pelo mundo era parecido. Quando nunca brigamos, mas vivíamos brigando. A sutil rouquidão da voz nunca é algo natural. Acredito ter parado por um tempo ou diminuído a quantidade. Claramente agora tinha voltado ao hábito. 
— Não - Volta a cabeça a frente e o cigarro aos lábios. A cada tragada, uma fumaça nos pulmões e no ar.
— O que está fazendo então? - Outro gole. Outro trago. Diante da insistência, gira em meu braço e fica de frente agora. Até que a morte nos separe, não? Em metáfora, acende um cigarro e nos encharca de gasolina. Sou sua esposa ou sua ficante?
— Fumando - Diz, antes de soprar a fumaça para longe de meu rosto. Alcança a taça, toma um gole do vinho, senta-a novamente. Umedece os lábios. - Estou estressada com essa vida de casada. Me sinto sobrecarregada, preciso de um alívio, um relaxamento - Explica. Leva o cigarro ao lábios, puxa a fumaça. O bico da estrutura queimando alaranjado diante de meus olhos. Retira a tira de tabaco da boca. Traga, mas, antes que pudesse liberar o ar, puxo-a pra mim e sugo a fumaça que tem presa na boca. Libero-a quando sinto a essência do cigarro bater contra minha língua. Santana me observa boquiaberta. Eu fui uma skank, a final de contas. Fumei mentol 100.
— Eu te fodendo no meio da sala não é o suficiente? - Cuspo, afastando meu corpo do seu. Viro todo o líquido sutilmente amarelado da taça de sua só vez, observando-a por cima da borda do vidro. - Deve ser muito estressante ver todas essas mulheres de saia e cropped darem em cima de você e não poder fazer nada a respeito, não? - Provoco. - A aliança deve atrapalhar bastante. Ou você tira quando vai fode-las? - Observo-a apertar o maxilar, a expressão congelada. Deixo um riso satírico diante disso. - É isso que você faz? - Por todo meu corpo passava um onda gelada. Talvez fosse o álcool.
Quando tenho a próxima fala ensaiada para cuspir no rosto cretino de Santana, ouço seu celular tocar dentro do apartamento. Ela apaga o cigarro e segue o barulho, deixando-me para trás. Pelos vidros posso vê-la coloca-lo no ouvido e dizer
— Oi, Mercedes. - Cumprimenta.
Por que Mercedes ligaria a essa hora para Santana? Por que não para mim? Elas eram próximas, sim, mas se estava em algum tipo de problema eu era a pessoa certa a ajudar. Não era? Sigo Santana para dentro do apartamento, ouvindo-a conversar.
— Já era hora, aquele cara era um nojo! - Eleva a voz, franze as sobrancelhas em raiva. - Não pode fazer isso, vai ser processada. Quinn não vai poder te ajudar. - Observo-a de uma distancia não muito próxima. Ela sabe que presto atenção porque, na menção de meu nome, seus olhos caem sobre mim. - Você está grávida? Oh, ok. - Santana vê meu desespero, balança a cabeça em negação. Segundo a conversa e as falas, Mercedes rompeu com o namorado ou vice versa. Chorava no telefone, porque Santana revirava os olhos as vezes. - Onde ele costuma frequentar? Downtown, onde? De que dia costuma ir? - Em cada pausa e pergunta, meu coração acelerava porque Santana tinha alguma coisa em mente. Uma coisa não muito boa. - Costuma ir de que dia? Ok. Se eu te prometer que ele não vai fazer mais nenhuma burrada, nunca, você vai ficar bem? - Outra pausa. - Sinto muito ele ter terminado contigo, mas a vida é assim. Ele é um merda, você merece coisa muito melhor. -Analiso as palavras de Santana. Tem a expressão calma, agora. Mercedes deve ter cessado o choro. - Ele vai te ligar e, quando fizer, não o dê ouvidos. - Pausa. - Ok, conversamos amanhã. Fique bem. - E desliga. As palavras de conforto me tranquilizariam se uma vez não viessem de Santana.
Ela tinha alguma coisa planejada.
— Não vou te tirar da cadeia - Digo, considerando a possibilidade de fazer algo totalmente sem noção com o dito ex namorado. Encaro-seguir rumo a seu quarto fugindo de mim, de nós, de Mercedes e de qualquer explicação que devesse.  
— Não vai precisar. - Responde sem olhar em minha direção.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Naïve" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.