Naïve escrita por Charlie


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Acredito ter dito a alguém que não demoraria muito na atualização de um novo capítulo, então, aqui estamos. Capítulo novo!
Primeiro, lembrando que as passagens em itálico sinalizam pensamentos, mensagens ou telefonemas. Nesse tem bastante deles, então se atentem, assim como as quebras de espaço sinalizadas pelo "x."
O capítulo 19 foi especialmente inspirado na música "Hopeless" do novo albúm da Halsey, Hopeless Fountain Kingdom. Então, podem esperar algumas frases e passagens da música. Tomei bastante cuidado nesse, espero que gostem e compreendam as personagens.
Agradeço pelas respostas que tive com o capítulo anterior e mando um abraço enorme para os leitores que, após tanto tempo, continuam comigo. Ao novos também. Obrigada por continuarem me inspirando e incentivando a continuar. É por vocês que eu faço isso, é por vocês que escrevo. Claro, além de ter a satisfação de suprir a nossa necessidade de ver Santana e Quinn juntas.
De qualquer forma, aproveitem! Nos vemos em breve, xo.



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Quinn's pov
Acordei com o ultimo raio de sol do dia. Mesmo no inverno ou outono. Mesmo às dez da noite dum sei lá qual dia da semana. Domingo. Segunda, não sei. Todavia, nesse universo alternativo, despertei com um gosto claro na língua. Não faz o menor sentido, nada. Talvez, se eu permanecesse com os olhos fechados, tudo pareceria intocável. Nada mudaria. Eu não lembraria de nada sobre ontem a noite. As coisas pareceriam as mesmas, as cores. Os sabores. Aquela mesma sensação do novo, a renovação. Eu ansiava dormir para sempre, sem ser substituída. Então, a princípio, meu primeiro movimento é permanecer com os olhos fechados, mesmo desperta, como naqueles sonhos que você nunca consegue acordar da paralisia. A correria, uma dor de cabeça aguda, a vermelhidão. Como ser tocada. Ser tocada às três da madrugada do dia mais frio do ano, o inverno. O inferno da confusão na cabeça e as pernas bambas. Meu corpo pesava sobre o lençol e todo o cobertor que protegia o despido de qualquer que fosse a temperatura. Um pseudo paraíso perdido. Eu estava perdida. O cabelo bagunçado, o corpo nu e um gosto claro na boca. Então, eu abro os olhos. O quarto é o mesmo de sempre, o mesmo semi iluminado dos últimos dias. Mais arrumado agora, se parecer, porque ela ai já não estava. Os móveis intactos, a pintura, a tintura, a claridade e o ar seco de doer as narinas. Intocável, como se nem eu o tivesse um dia habitado. Uma bolsa minha senta num móvel bem próximo da porta. Fechada, a porta e a bolsa. Espalho a palma da mão pelo rosto, depois o cabelo. Não sei bem o que pensar, se pensar. Não existe ninguém além de meu personagem no cômodo e dessa vez posso sentir que não há. Meus sentidos são devolvidos, pouco a pouco, agora que acordo e quase todo o álcool fora chutado do organismo. Mas ainda resta a sede na boca que aspira ao amargo dum café passado.
Estou acordada.
Deixo a fervor da água queimar a pele das costas, dentro dum banho, como numa ação de punição. Eu não deveria ter feito isso. Não quando verifico meu celular antes de seguir para o banheiro e no visor lê uma mensagem de Santana: Boa noite. Não deveria ter bebido esse tanto e a velha sensação de arrependimento é devolvida a meu corpo. Estou queimando. Em chamas mesmo. Estou a quatro minutos dum ataque cardíaco, hiperventilando em pé embaixo do chuveiro quando o jato de água quente queima a pele e esfumaça a neblina por toda a cabine. Sinto como se fosse desmaiar, as vistas escurecendo e os lábios secos. Não como nada tem horas. Meu estômago dá voltas e retornos quando minha mente insiste em rebater contra a parede tudo que vem acontecendo nas noites até chegar aqui. Até que eu me encontre aqui. Escondo-me no canto suplicando para que as paredes não falassem. Estou pegando fogo, a pele avermelhada, as bochechas. Existe essa tensão em meu corpo, como um peso. A respiração deixa meu peito com dificuldade, grossa e toda a neblina da temperatura dificulta o processo exaustivo de respirar. Assim, fecho meu olhos e concentro em inspirar e expirar. Toda a luxuria adaptada por aulas físicas e exercícios. Mas existe esse fenômeno de inibir um via, aflorar as demais. Então minha mente toma lugares, sabores e sensações fora do presente mesquinho que é a ducha de minha casa. No começo, a fumaça que inalo tem um cheiro refinado. Uma madeira molhada, um certo ríspido, não doce. Recosto o testa na parede a minha frente, ligeiramente fugindo da água, trombando levemente com o concreto já que de olhos fechados. Eu ainda tenho o álcool no sistema. O que sempre quis manter, olhos fechados. Depois, tenho esse gosto doce na boca. Puro açúcar. Devo estar bêbada novamente, porque nada disso faz sentido. Suspiro contra o material gelado da parede e intercalo em senti-lo com os dedos e tocar meu corpo quente. A extensão completa da minha silhueta se arrepia com a rajada de ar frio que, por segundos, passa pelo banheiro. Ouço-a. Santana. Eu me lembro. Lembro agora de suas palavras que ecoam no fundo de minha mente. Lembro-me de como pisei na bola em ir embora. Sair para beber. Santana faz parecer tão fácil, tão simples. Fez parecer. Conheço-a por toda minha vida, até aqui quando estou sozinha em casa. Talvez ela esteja rindo, em qualquer lugar do mundo, da situação que coloquei. Ela e todos os seus amigos me odiando, ouvindo meus gemidos no rádio e trocando de estação. Sem esperança. Os lábios avermelhados, as bochechas levemente rosadas, os olhos escuros e o gosto de cabernet na língua. É o que sua pessoa grita. Grita.
— Quero sentir seu sabor.
— Desde quando?
— Desde que vi você e Brittany se beijando pela primeira vez
.
Um estranho de temperatura mais elevada ameaça escorregar entre minhas pernas, ganhando força já com o molhado da água, então passo a mão entre elas e encosto a parte frontal do meu corpo contra a parede toda. O gelado enviando espasmos e choques por toda a estrutura. Minha respiração cai, bufo quando os dedos sentem a região dos lábios ensopada pelo líquido mais quente, lubrificado e denso do que a água respingada pelo restante do sexo. Evito esbarrar os digitos pelo clitóris e deixo um suspiro frustrado. Eu quero isso, quero tanto e o doce da minha boca desvia meus pensamentos para os lugares mais inabitáveis. Ao acordar sozinha, pensando em sua pele, penetro-me com dois dedos. Dois, assim sem raciocinar duas vezes. Penetro num susto e não consigo abafar o gemido que deixo, nem o cair das água na porcelana. Meu corpo toma todo outro rumo e preciso jogar as costas contra o vidro transparente do box para que não voltasse ao chão. Marco os dentes com força sobre o lábio inferior, depois abro os olhos. Posso sentir o aquecimento reconfortante do meu interior. O que Santana sente. Meu corpo arrepia. Em movimentos lentos, profiro um ir e vir com os dois dedos. A sensação é maravilhosa, mas sou imune ao que sinto com ela. Não é a mesma coisa, mas eu preciso disso. Preciso da suficiência. Então fecho os olhos. Fecho-os e busco a concentração no que estava fazendo, mas o que me vem em mente é o sabor adocicado que tenho no fundo da língua. Sabor adocicado como gloss labial de cereja. Gloss. Brittany usa gloss de cereja. Assim, paro. Retiro os dedos, abro os olhos e ligo a ducha fria do chuveiro. Estou me afastando do real e, pelos próximos vinte minutos, esfrego o domínio de Santana, com todo o cheiro e sabor, de meu corpo com a bucha mais espinhosa. Esfolo-me até que toda a pele seja inexistente.
Calço um dos roupões brancos, felpudos, estendidos num gancho no banheiro e toda a sensação do tecido contra minha pele sensibilizada pela água fria e quente é a mais reconfortante. Eu precisava disso, dessa libertação. A essência de lavanda entope minhas narinas como num suco de flores brancas e a temperatura mais baixa do restante do quarto rebate em meu rosto e o corpo responde a queda com a ereção dos mamilos que quase perfuram o tecido. Acho que nunca me senti esse ser sexual antes. Nunca, mesmo antes de Beth. Não enxergava a mim mesma como o sexo, não tinha isso em mim. Todavia, quando o branco roça contra meus seios enquanto caminho até a bolsa largada, presumo a diferença. Não só o esbarrar, o gosto nos lábios, a respiração pesada, a água quente. Os dedos dentro de mim mesma. É como se eu tivesse as mãos atadas em nós e fosse incapacitada de proferir movimentos enquanto um festival de filmes eróticos estivesse sendo exposto a dois palmos do meu nariz. A respiração pesa. Sou tirada da transe quando meu celular vibra contra a superfície que se encontra e outra mensagem de Santana surge. Bom dia, troquei o Advil de lugar. Está na gaveta do criado mudo. E tudo que eu podia pensar era em manda-la ir se foder. Minha cabeça explodia, ela estava ciente mesmo em qualquer lugar que agora estivesse. Quem a permitiu mudar as coisas de lugar na minha casa? Minha. Procuro pelo Advil e os números do relógio digital ali em cima leem 18:57 pm. Vá se foder, Santana, porque finge que se importa quando claramente não dá a mínima? Pensei em discar seu celular e dizer tudo isso em sua presença, mas não fiz. Pensei que mandar mensagem, mas não fiz. Ela tem um diabo de uma sorte por não ter que ficar sentada em casa passando por tudo isso. Com certeza nem estaria pensando em mim numa hora dessas. Uma dessas garotas que sempre ficam em seu pé lá com ela estaria agora, certamente. Deve ter saído ontem a noite, ou melhor, deve ter ligado para Brittany. Santana não precisa de um casamento, tem sempre alguém disposto a esquentar sua cama porque é Santana. Santana não precisa de mim. Não precisa de ninguém. Pela segunda vez aquela tarde, meu anseio em ligar para ela era bem grande, mas, num pensamento rápido, lembro-me que trabalha hoje. Trabalha? Pergunto-me se trabalha mesmo ou se só usou como desculpa para estar com Brittany. Eu podia ir até lá e espia-la, mas, espera, não sei onde Santana trabalha. Ou o que faz, sei? Ela nunca toca no assunto. Que tipo de esposa não sabe onde sua parceira trabalha? Eu odiava como todas as evidências e experiências entre nós duas mostravam cada vez mais que nossa relação não era de um casamento verdadeiro.
Eu precisava de café.
Ainda tenho o roupão e uma essência limpa pregada no corpo quando desço para o escritório. Eu tinha coisas pra fazer, minha vida não podia atolar no grande peso que era Santana. Passo pela porta, o piso gelado é sentido pela sola de meus pés quando entro no cômodo assustadoramente quieto, como o restante da casa. Era uma fortaleza. Os livros, os papéis, tudo. Antes de Santana, raro eram os dias que eu realmente aparecia na empresa. Eu trabalho melhor em casa e todo mundo da associação sabe disso. Eu passava horas enfurnada por aqui. Entretanto, tudo isso era antes de Santana. Existiam fases, antes e depois de Santana. Sento na cadeira atrás da mesa de vidro logo ao centro ocupada por papéis e ali permaneço. O fofo do roupão envolvendo e aquecendo meu corpo, dou uma golada na caneca e estudo, apenas com os olhos, os escritos expostos em cima da mesa. Eu não tinha cabeça para isso, não agora. Então, busco por meu celular. Sento o café e qualquer outra coisa ali na superfície e brinco o com aparelho em mãos. Não existia mais alguma mensagem de Santana. Não que eu quisesse, todavia. Ali, eu desejei ter uma relação amigável com meu pai, que Russell Fabray fosse o homem a quem eu recorreria por um conselho. Em contrapartida, era o homem que visava a força, arrancando-me lágrimas. Quem sempre disse a mim e a Frannie repetitivamente que éramos Fabrays, sempre a honrar o nome. Eu tentei ser a filha perfeita que ele tanto desejou. Deus sabe como eu tentei. Mas toda vez eu caía em contradição e não suportava mais moldar minha imagem segundo seus gostos. Todo mundo já me achava a rainha inalcançável, perfeita demais. Santana sempre achou, sempre tirou sarro. Agora quer eu, sabendo como Russell foi comigo, faça as pazes com ele? Mesmo? Minha ansiedade crescia com o passar do tempo e devo ter ficado em torno de quarenta minutos revezando entre goladas de café e olhadas no celular, até que decido ligar para o pai de Santana, meu sogro. Ainda era meu sogro, não? Ele me mostrou tanto afeto e carinho quando eu visitava a casa dos Lopez e até tempo atrás, durante o jantar que Santana e eu demos aqui em casa a fim de oficializar a assinatura dos papéis do casamento. Ele gostava de mim, era perceptível e eu precisava de alguém que pudesse me aconselhar em relação ao casamento com uma mulher. Eu não tinha amigos casados, não que conhecessem a Santana tão bem quando seu pai. Eu precisava disso. Então, tenho o celular no ouvido esperando a linha ser conectada.
Após alguns toques, ele a conecta.
Quinn — Tem a linha limpa, sem sons ao fundo. Talvez eu o esteja atrapalhando em algo, no trabalho, não sei. Sinto receio e, no primeiro pensamento, quero desligar. A voz é grave, límpida, quase formal demais e isso me assusta um pouco. Quando penso duas vezes, ele interfere - A que devo a honra da ligação?— Assim, posso respirar novamente. Não sinto mais uma culpa em ligar para ele, ainda mais quando Santana e eu estamos numa relação bem turbulenta. Eu não queria parecer fraca por pedir ajuda a terceiros, mas qual era o propósito de ter um sogro se não poder pedir conselhos de vez em quando, ainda mais quando sua filha é um quebra cabeças com peças faltando? Cheguei a conclusão de que ele era o mais próximo de um pai que eu jamais teria.
— Santana e eu discutimos. Discutimos bem feio e eu…eu fui embora e a deixei sozinha. - Minhas bochechas coram, ardem de calor devido a onda de vergonha que agora doma meu corpo. Era diferente falar em voz alta, falar que eu a abandonei. Era ainda mais diferente e difícil falar em voz alta para o pai da pessoa quem você fez isso. Um única lágrima escorre pela bochecha fazendo um contraste de temperaturas.
Em pouco tempo, eu já tinha contado tudo do que havia acontecido entre mim e Santana ao seu pai, tudo mesmo. Ele ali permaneceu tão quieto que vez ou outra eu tive de checar o visor do celular a fim de ter certeza de que não havia desligado em minha cara. Talvez tivesse se sentindo enojado com tudo que eu falava. Entretanto, provou-me errada quando, na primeira brecha de silêncio, diz
Quinn, Maribel e eu estamos casados tem trinta e sete anos e, se pensa que nunca discutimos, você é realmente muito ingênua. O que eu não acho que seja, porque é inteligente e sabe de tudo.— A voz é sincera, posso quase captar suas palavras pairando no ar. Eu fiz a coisa certa quando decidi ligar para ele, buscar seu conhecimento. O pai de Santana é mesmo um homem admirável.- Eu sei que não sou você e Maribel não é Santana, mas quer saber porque acredito termos ficado tanto tempo casados?— Diz, ainda sereno. Na realidade, eu estava desesperada em saber a razão por trás dessa união tão duradoura. A maioria dos casais não tem tanta sorte. Meus pais não tiveram. Eu mesma não conhecia muitas pessoas casadas e felizes, isso dizia alguma coisa. - Deixe-me dizer a primeira regra do casamento: você nunca abandona seu parceiro. Menos se existir a ameaça de violência— Corrige, porque tinha conhecimento sobre Santana e eu e nossa relação. Nosso comportamento de paciência curta. - É um comportamento covarde e você não é uma covarde, entende?— Eu não conseguia encontrar palavras. Sentia-me, se possível, ainda pior.
— Sim, senhor.
A segunda regra é, mesmo sabendo que essa pode parecer impossível a sua geração, permanecer privada. O que diz respeito ao casamento, permanece no casamento. Isso significa não difamar seu parceiro para outras pessoas -Explica e é quase como se ele dizia tendo certeza do que fiz ontem a noite. Como se tivesse me vigiado o tempo inteiro, ou eu sou uma pessoa bem fácil de ser ler. É evidente que, após uma briga, as pessoas vão a bares e bebem até esquecer o que aconteceu? - Não saia e diga coisas a respeito de sua terceiro a outras pessoas que não têm nada a ver com sua relação. Pode aparentar um comportamento inofensivo, mas existe sempre essa negatividade alheia. Vocês são duas mulheres maravilhosas, bem sucedidas e com uma relação invejável, é inevitável. Todo mundo tem um conselho a oferecer, mas nem todos precisam falar. Solteiros não precisam opinar sobre seu casamento, eles não têm noção do que se trata. - Enquanto fala, nesse tom de voz, as memórias da noite anterior revivem em minha cabeça. Bem, Mr. Lopez, eu fiz tudo errado. Eu não sou essa menina perfeita que todos me acham ser. Fiz coisas bem erradas ontem à noite, aliás, coisas que deixariam suas regras de casamento com vergonha, assim como agora me sinto. Sinto que vou explodir a qualquer momento. - Também não há necessidade de compartilhar tudo em rede sociais, mas acho que isso você já sabe. Só tem de ficar de olho em Santana.— Pela primeira vez, deixa uma risada fraca na linha. Santana é uma pessoa pública, gosta dessas coisas. Atenção, foco. É expressiva e tem necessidade de que as pessoas saibam como sua vida anda. Acredito eu ser um reflexo do ensino médio. Vivíamos de rótulos, fachadas, encenação. Então, agora, sente a necessidade de expressar as coisas boas e não de fechada que ocorrem em sua vida. Eu, em contradição, tenho ciência do que pode acontecer. Sempre fui uma pessoa privada, apesar de manter essa grande fachada que foi minha vida no ensino médio e que todos sabiam a respeito. Entretanto, sou uma pessoa de um ramo profissional muito delicado. Não posso sair fazendo isso e aquilo porque sei que se tornará algo público e não sou todas as pessoas que gostam de ser atendidas por uma advogada que já fez x coisas, que "não se dá o respeito", assim erroneamente dizendo. O direito é tradicional, doutrinado e muito preconceituoso, infelizmente. Então eu tenho ciência do quão privada devo ser, ainda mais trabalhando para o cara e uma associação mais valorizada e respeitada de Boston.
Um último conselho meio secreto que está sendo passado de gerações, de Lopez para Lopez, e estou te oferecendo porque agora você é uma de nós.- Num tom sério diz, eu nunca me acostumaria com a nome, mas agora parece ser oficial. Real, eu sou uma Lopez. Sinto o impacto bater contra meu peito e refratar como insegurança.- Eu sou uma homem casado com uma mulher. Evidentemente, não sei como um relacionamento lésbico funciona, mas meu pai um dia me deu esse conselho de ouro, então estou repassando para você que é tão especial e, agora, minha nora.— Meu coração aperta.- Ele disse “Pedro, você é um Lopez e, quando se trata de mulheres que nos casamos, não importa o que aconteça, você é sempre o errado da história. Você sempre pede desculpas primeiro. Não importa o que disse que a fez quebrar as coisas da casa, jogar as sacolas do mercado no chão. Quando isso acontecer, você vai pega-las do solo e se desculpar porque, de alguma forma, é sua culpa. Então, desculpe-me e siga em frente”. - Cita e, do outro lado da linha, suspiro. Tenho o peito apertado, como se de lá o ar não pudesse sair ou entrar. Mr. Lopez não tinha obrigações nenhuma em estar me acolhendo dessa forma, falando estas palavras. Ainda mais depois de todas as coisas que Santana e eu fizemos, qualquer pai teria receio de ajudar a quem tanto machucou sua filha. Todavia, ele aqui estava, confortando-me. Eu não consegui segurar o choro da garanta e, em certo ponto, ele podia me ouvir. Contudo, tomo uma respiração, enxugo algumas lágrimas e digo
— Mas isso não faz de mim uma puxa saco?
E, do outro lado, ele ri. Ri uma risada profunda, não somente um suspiro.
Uma vez Maribel e eu entramos numa discussão sobre de quem era a culpa por ter deixado Santana, quando tinha em torno de três anos de idade, cair do berço. ela era uma criança difícil e que necessidade de muito atenção, e certo dia, enquanto nós dois estávamos em casa, distraídos, ela caiu direto ao chão. Direto mesmo. - Um riso frio sobe por minha garganta porque eu totalmente posso imaginar Santana como uma criança atrevida e que necessitava de ser vigiada. É típico dela. Toda a imaginação me faz crescer um sorriso nos lábios.— Maribel e eu gritamos um com o outro a respeito de quem era a culpa por não ter olhado-a, enquanto Santana permanecia no chão, chorando. Eu lembro de tudo tão vividamente, mas, sabe do que eu não me recordo? De quem era  culpa.— Desse lado da linha, posso ouvir-lo deixar uma respiração mais pesada, quase como um suspiro. — Quando se trata dessas coisas, não importa quem está certo ou errado na discussão, o que realmente conta é como escolhe se comportar quando posta sob esse tipo de situação. Não há certo ou errado, ganhar ou perder porque vocês são parceiras. Eu compreendo você não querer ser uma puxa saco que força a barra, mas orgulho vem antes da destruição. Pelo o que entendo, você continua com seu orgulho ou continua com seu casamento, simples assim. Pode ter o tipo de casamento que te destrói de dentro para fora ou o que te traz prazer, felicidade. A diferença é que, no primeiro, a pessoa pergunta “como faço isso funcionar para mim?” e, no segundo, “como faço isso funcionar para nós?”. São duas pessoas na união e, se você não é capaz de entender isso, não há maneiras de ter um relacionamento saudável e é claro que desejo isso a vocês. Você me ligou por um conselho, pois bem, é esse que estou te dando: peça desculpas e siga em frente.

x.

Pelas demais horas, eu passeei pela casa.
Vi televisão até que o som desta me fez arrepiar, em certo ponto. Peguei um livro da prateleira ainda não terminado, mas descobri não ter mais a paciência com romances mal acabados. Então, puxo um dos de Direito Civil. Não era muito tarde quando, por fim, desisti deste. Deus, até peguei uma das revistas de Santana que ainda, infelizmente, estava jogada pela casa e descobri que Justin Bieber e Selena Gomez andam numa relação quase tão turbulenta quanto a nossa. Não acredito estar fazendo isso, jesus. Passo outro café e busco algo sólido para que não caísse desnutrida, mas tudo na geladeira pertence a Santana e esse seu gosto peculiar de comida, mesmo para uma descendente espanhola. Desço e subo as escadas, vou ao escritório, arrumo os papéis da mesa. Arrumo o quarto, as coisas jogadas pela casa, separando as minhas e as de Santana. Eu não podia fazer isso mais, mesmo as palavras de Pedro Lopez ecoando em minha mente. Assombrando-me. Não era assim tão fácil.
É pouco tempo demais das onze quando Santana me manda outra mensagem. Reviro nos lençóis da cama, quase não acostumados com uma única pessoa por ali e leio um Boa noite, Quinn. Não é tarde demais quando o celular toca e aparece seu nome no visor. Ela está ligando, não mandando mensagem. Pergunto-me o que está fazendo, se está bêbada o bastante a ponto de me ligar mesmo após toda a cagada que fiz. Que fez. Mas, quando estou deitada sozinha e pensando em sua pele, lembro-me do que realmente somos: estranhas. Então, rejeito a chamada. Apenas me certificando de que ainda está viva, envia quando desligo. Eu quase jogo o celular contra a parede porque ela acha que me conhece bem o bastante.

x.

Tem três dias que não a vejo quando decido, em trégua, vê-la. Não vê-la, especificamente, mas pelo menos responder a suas mensagens ou aceitar suas chamadas. Não nos falamos tem três dias, contudo, ainda tenho a aliança no dedo. Ainda barro um de meus colegas de trabalho ao sermos postos estranhamente no elevador ao final de turno e ele me pergunta se podemos sair para beber, eu e ele. Digo que sou casada, que agora estou casada e sair para beber não seria de muito agrado a minha esposa. Eu não saio mais, não procuro mulheres por esses três dias. Ainda tenho suas coisas em minha casa, suas roupas e tudo que a diz respeito. Eu só não procuro por ela por dois dias, mas, no terceiro, decido vê-la.
A princípio, saio do trabalho às seis da tarde, já que o movimento é consideravelmente calmo. Calmo e, calma, dirijo até seu apartamento em Beacon Hill. É um caminho a ser percorrido, mas é sempre bom rever o contraste de paisagens da cidade. As luzes, os bairros e as pessoas. Santana mora em uma parte nobre, o que não me assusta. Eu costumava vir até aqui com frequência, mas sempre me surpreendo com o que ali pode aparecer. Para quem sempre dizia que morava em Lima Heights, Santana é puro blefe. No prédio em que mora, um dos mais bem estruturados do bairro, estaciono logo em frente, fora do estacionamento porque pretendia não levar muito tempo. Na realidade, eu nem sabia o que ia dizer. Oi, já sabe que estou viva, pode parar de me ligar. Oi, no dia em que discutimos saí, procurei mulheres e uma delas me deixou em casa. Oi, eu te odeio e por que não admite que está errada? Nada funcionada. Minha cabeça doía.
Quando entro, o porteiro reconhece meu rosto, cumprimenta, mas nada diz a respeito de Santana estar em casa ou não. Não que precisasse saber, também. Eu quase o perguntei se ela havia trazido alguém para casa nesses últimos dias que não nos vimos, mas, antes que fizesse, corri para o elevador e subi até o último andar. Seguro a respiração quando bato na porta uma, duas, três vezes. Depois mais três. Ninguém. Na ausência de respostas, concluo que a) ela não está em casa b) ela sabe que sou eu e não deseja me ver c) não quer abrir a porta para qualquer pessoa que fosse d) está ocupada transando com alguma mulher e) onde ela está?. Passo a mão pelo rosto em frustração e martelo a ideia de ter vindo aqui, em primeiro lugar. Eu não tinha obrigação nenhuma em fazer. Assim, vou embora.

É depois da sete quando chego em casa.
Primeiro, a porta está destrancada, o que é uma novidade. Mesmo em condomínio, certifico de manter tudo fechado. É por precaução e já teria ligado para a polícia se o carro de Santana não estivesse parado ali na porta. Deixo um suspiro exausto quando empurro a estrutura de madeira, quase me arrastando. Entro na casa com um discurso pronto, palavras e falas ensaiadas quando vejo que ali estava. Meu coração chuta dentro do peito porque não a vejo tem três dias. Três dias. Para quem estava acostumada com o grude, sempre por perto, é um tempo enorme. Todavia, todas as palavras são excluídas de minha cabeça quando a casa se encontra em repleta ordem. Por "ordem" digo livre das coisas de Santana. Não há mais revistas, roupas, sapatos e produtos espalhados por ai. Está tudo perfeitamente em seu lugar, como se eu, na realidade, morasse sozinha. Como se Santana nunca estivesse existido. Deixo a bolsa no sofá da sala quando sigo para a cozinha após ouvir barulhos. Ela estava lá. Eu posso sentir se cheiro, sua pessoa, seu perfume. Estou nervosa quando vejo-a, com toda sua graciosidade, revirar uma gaveta de lá. Assim quando entro no cômodo, me vê. Usa uma calça jeans quase justa demais e uma blusa que a cobre até os pulsos, de uma coloração pendente ao vinho. Seu cabelo ainda é solto e negro, assim como os olhos.
Eu estou furiosa com ela, mas continua tão, tão atraente.
— O que está fazendo aqui? - Quando me vê, logo pergunto.
Fugindo aso costumes, é estranho vê-la franzir as sobrancelhas em minha presença. Como se fosse uma grande merda me ver. Ela está nervosa também, é perceptível. Santana não me vem cumprimentar com um beijo, tampouco pergunta como foi meu dia. Ao invés, observa com esse olhar intenso. Ilegível. Por um momento ou dois, um calafrio me sopra a nuca.
— Não se preocupe, eu só vim deixar uma coisa.- Diz, seca. Volta a procurar seja lá o que fosse numa gaveta não muito baixa. Quando termina a fala, mostra uma pilha não muito extensa de papéis sobre o balcão ao centro. Eu sabia o que era. Somente a estrutura e formalidade trouxe a tona o assunto. Então, caminho até ele para ter certeza. São papéis do cartório. É um acordo de divórcio.
Minha boca seca.
— Imagino que tenha ido ao meu apartamento.- Eu não me viro para vê-la, mas sei que havia cessado a procura por seja lá o que fosse. Tem a voz firme, quase ensaiada demais. É séria.
— O que é isso? - Digo, sei o que é, mas quero que ela fale. Quero que ela diga. Quando meus olhos a procuram, tem os braços cruzados sobre o peito e recosta numa superfície atrás do corpo. Ela estuda as expressões que dançam sobre minha face. Sou uma pessoa fácil de ler. Santana sabe como me desvendar.
Após uns minutos, fala
— São papéis de divórcio.- Chulo, frio assim. Nunca tira os olhos de meu rosto.- Estou te dando a desculpa que precisa para se afastar, porque é isso que veio pedindo, certo? Sinto que vem registrando casa coisinha que faço de errado, porque permanece esperando que algo ruim ocorra entre nós. E venho tentando encontrar uma solução para esse problema e-
— Foi isso que encontrou? - Agora é minha vez de franzir as sobrancelhas e fazer cara de birra. Eu podia virar isso contra mim, contra ela. Eu queria brigar, queria discutir. Queria, de uma vez por toda, arrancar esse seu jeito mimado. Ela precisava me ouvir e, já que aqui agora estava, era isso que ia fazer. Aproximo-me de onde estava, mas não muito.
— Me diga que não é isso que deseja - Entretanto, ela não move um músculo. Ali permanece com a mesma posição. Os braços, o torso, as falas. Diz, num suspiro.
— Então é minha culpa? - Cuspo, incrédula.
Vejo a bufar, revirar os olhos como se falasse com uma criança de dez anos incapaz de entender o que é dito. Desce os braços para os lados do corpo depois de esfregar o rosto em frustração.
— Não, não é sua culpa.- A voz é calma, surpreendentemente.- Isso não se trata de culpa nem de uma discussão. Eu sei como discutir com você, fazemos isso tem anos. Passo discutir com você até o ponto que nossos rostos fiquem vermelhos, explodindo de raiva, contanto que briguemos justamente. Mas você roubou, Quinn! Você foi fugiu! - Cospe, agora em tom instável. Do outro lado, recuo diante da acusação, mas, ao invés de concordar, meu maxilar trava.
— Você fugiu também! - Grito.
— Eu fui a cozinha buscar algo pra beber, Deus! Eu não te mandei ir se foder e saí. Eu não dormi fora de casa e não voltei. Eu não nos deixei ir dormir sem ao menos dar sinal de vida. Há outros quartos na casa, no apartamento. Há outros lugares no prédio e no condomínio. Dê um diabo duma andada pelas ruas, mas não simplesmente não volte para casa! - Em outra mão, grita também. A expressão nula, os lábios presos, não tenho muito tempo para analisá-la porque o que falávamos era sério.- Nós não podemos agir como se fossemos ficantes mais! Você quer dormir separada, tudo bem, mas me fale! Você quer pegar outras pessoas, tudo bem, me fale! Contanto que estejamos na mesma página, ciente das coisas.
— Ciente das coisas? - Num tom mais controlado, coloco nunca perdendo-a de vista. Seus olhos. - Quais coisas, Santana? Nós nos casamos porque você queria ganhar uma maldita de uma aposta! - E ela me olha como se quisesse quebrar ou arremessar alguma coisa.
— E dai? - Grita em pura frustração - É por essa única razão que não podemos tentar ter um casamento de verdade?
— Sim, por isso! - Se estava frustada, eu também estava.- Como quer que eu considere isso algo serio? Como devo saber que existem regras quando tudo isso sempre foi uma grande piada?
— As pessoas se casam por motivos bobos todos os dias! Só porque houve uma aposta no meio disso, não quer dizer que sou indiferente a respeito desse relacionamento. Não é como se tivesse sido uma coisa do nada. Nós mantivemos um relacionamento, com sexo ou não, por mais de dez anos, literalmente. Nós uma vez fomos muito amigas. - Na alegação e toda essa retomada de memória de quando nos conhecemos e até chegarmos aqui, deixo um riso satírico.- Olha, só porque talvez ferramos uma a outra de vez em quando, não muda o fato que estivemos presente quando precisamos. Que nos importávamos mutualmente. - Há esse afeto palpável em seus olhos, essa sinceridade. Ela falava sério, todas as palavras. Suspira, pega o ar, franze as sobrancelhas, oscila entre emoções. Se eu sou fácil de ler, Santana também é, definitivamente.- Então só porque não sou boa nesse lance todo de casamento quer dizer que isso é uma piada? Uma brincadeira? Eu nunca estive casada! - Exalta - Nunca estive nessa posição que estamos antes disso então, sim, eu fodi com tudo, mas estou aprendendo! Nosso relacionamento sempre foi dois extremos: é cem por certo sexual ou uma amizade dinâmica com um tom implícito de sexo que tende a explodir por nenhuma razão em particular. Nós nunca tivemos os dois. Nunca fomos amigas e fizemos sexo ao mesmo tempo. Pelos últimos anos, majoritariamente, foi sexo. Então, sim, eu falo bastante disso. É isso que você gosta. Ao menos era o que gostava. Era isso que fazíamos. - impõe de peito firme e braços juntos. Ela sabia que me domaria em algum momento da discussão porque é isso que sempre faz, e nada me deixa mais irritada porque, àquela altura, eu já era possuída. Mesmo sem algum esforço do seu lado.- Me perdoe se eu não pude compensar todo o comportamento de dez anos em um único mês. Eu gosto de sexo e gosto de fazendo sexo com você. Eu gosto muito de fazer sexo com você, muitas vezes, mas, por Deus se eu estivesse te buscando por apenas ter alguém quem esquentasse minha cama. Eu uma mulher atraente e é um diabo dum mundo grande, mas cá estou nessa cozinha com você discutindo sobre uma coisa que eu nem preciso!
— Então não discuta! - Grito. Santana sempre consegue pegar num nervo e ali permanecer sapateando. Uma coisa que eu odeio é indiferença. Ainda mais quando ela vem de Santana. - Você fez um trabalho incrível mostrando o quanto não precisa! - Jogo aos ares.
— Admito que forcei a barra, mas não fui só eu. Eu não vou deixar que coloque todo o peso disso em meus ombros como seu fosse a errada e você, a santa. Eu flerto com mulheres, sim, admito, mas você também. Mesmo se não é tão explícita como eu, você flerta, então não é justo que culpe a mim. Eu, pela vigésima vez, não beijei a Brittany; ela me beijou, mas você decidiu que era certo me punir por uma coisa que eu não tinha nenhum controle sobre, mesmo quando descaradamente beijou Rachel Berry na minha frente! Eu sei o quanto meu relacionamento com Brittany te afeta e deixa insegura sobre o nosso, mas eu nunca faria algo que mexesse nessa insegurança. Mesmo quando discutíamos no colegial, sabíamos que existiam limites para as nossas brigas e, não importa o que, nós nunca os ultrapassávamos. Perdão se não compreendi sua relação com Russell. Perdão sobre o show, sobre Brittany e a recepção, e porque eu flerto. Perdão se essas coisas te machucam. Eu não estava tentando te machucar. Eu não sinto prazer em fazer coisas que te ferem, Quinn, você acreditando nisso ou não. Mas eu sou eu, sempre serei. Você não pode ficar chateada com as coisas que compõem minha persona porque essa sou, com quem se casou. Eu posso melhorar, na medida do possível. Mas sempre serei essa sarcástica, cruel, um pouco insensível, super atraente, mulher que tem um saudável libido e ama voltar pra casa e provar para sua esposa isso. Isso tem que ser o bastante pra você, Quinn, porque você casou com Santana Lopez, não outra pessoa. Não posso ser outra pessoa. Não estou pedindo para que seja, também. Estou preparada para briga contanto que seja justa, mas você tem de me dizer o que quer. - Diz e só ali permanece. Seu tom de voz vai degradando e caindo a intensidade com cada colocação, se eu uma vez não interfiro e a faço explodir novamente. Tem os olhos imóveis, como se aguardasse qualquer reação agressiva minha. É uma pena, entretanto. Uma pena que ela tem essa imagem sobre mim, mas não há nada que eu possa fazer quando somos as pessoas que somos e fomos durante o colegial. Ela me conhece, ao final de contas. Quando só ali permaneço, sem dizer nada, apenas numa respiração pesada, Santana me estuda e prende os lábios para dentro da boca, brevemente, enquanto faz. Olhando-a, dessa forma, tendo a desviar a atenção por medo de conseguir enxergar, através do reflexo dos olhos, que alguém a manteve segura por esses três dias; que Santana esteve nos braços de outra pessoa. Ela não me contaria, todavia, nem se eu implorasse. É realmente difícil refutar o pensamento que me cerca quando tem o rosto tão limpo, preciso, a expressão calma, como se tivesse dormido perfeitamente todos esses dias. Ela faz tudo soar tão fácil. Faz tudo parecer tão simples, eu a conheço por uma vida inteira e sempre fora assim. Em toda essas nossas novas e passadas relações, pude perceber que a verdade machuca. Sua verdade. E segredos matam, todos eles. Mesmo se aos poucos, matam. É isso que sempre fomos, entretanto. Sempre fomos e não posso acreditar que ainda permaneço aqui, a essa altura da brincadeira. Ainda sentindo. Ainda aqui fico, então deve haver algo real nisso tudo, não? Talvez seja melhor do que eu imaginava ser. Talvez sejamos melhores.
Dê-me esses olhos, Santana, é mais fácil de perdoar.
Após alguns suspiros, resisto com o tom mais baixo possível, exausto
— Estou menstruada - E ela não parece compreender, de primeira, a mensagem que desejo passar porque franze as perfeitas tiras que tem acima dos olhos. Olhos que cerram e me encaram, desacreditada. Volta os braços sobre o peito, cruzados.
— Vai mesmo usar isso como desculpa para tudo? - Seu tom, agora, não é muito impulsivo. Autoritário, não. Se analisar, posso senti-la cansada também. Cansada apenas dessa discussão que tínhamos. Disso que estávamos vivendo.
— Não, não é uma desculpa - Balanço a cabeça negativamente - Eu só estou te dizendo isso porque prometeu assistir Sex & the City comigo e me dar chocolates quando estivesse tendo meu ciclo. Acabou de me perguntar o que quero, não foi? Quero assistir Sex & the City. - Estudo sua expressão. A princípio, deixa uma respiração funda. Ela se lembra, lembra-se da promessa. A fez quando ainda me convencia a se casar com ela. É isso, esse é nosso trato. É nisso que nosso casamento era fundamentado, então eu tinha de cobrar, principalmente agora. Ela desvia a atenção, coça a nuca, passa as mãos pelo cabelo e depois se volta a mim. Eu tenho certeza que me analisava a fim de certificar que eu não usava uma das máscaras que aprendi por todo o ensino médio.
— Realmente espera que eu faça isso agora? - Ênfase no “agora” porque não era o momento certo, segundo ela.
— Sim - Respondo sem pausas, num único assopro. Dessa vez, eu não estava pagando de vítima. Eu não queria que Santana sentisse pena de mim, tampouco achasse que eu fugia de uma discussão. Agora, eu só cobrava o que me foi prometido. O dia de hoje já se foi mostrando sendo uma grande merda. Era disso que eu precisava. - As pessoas não fazem promessas porque são fáceis, as fazem para provar que podem manter sua palavra mesmo quando as coisas ficam difíceis. Você prometeu que assistiria Sex & the City comigo, então estou contando com isso.
Santana, por alguns minutos, só me observou com esse olhar intenso e intimidador. Geralmente, eu já estava costumada, mas, dada a situação, movo meu peso duma perna para outra em incômodo. Ela precisava falar alguma coisa. Ao invés, vejo-a sumir de minha frente e caminhar até um dos compartimentos mais afastados na área da cozinha, após sussurrar um quase ilegível “ok”. Busca, ali, por alguma coisa. Viro meu corpo a ela a fim me melhor prestar atenção no que fazia. No compartimento, move alguns utensílios e volta com um pacote fechado de hershey’s.
Minha boca cai aberta.
— De onde isso saiu? - Quando a vejo voltar, pergunto, incrédula. Eu possuía chocolate em casa, uma barra talvez. Não um pacote.
Em resposta, pisca um dos olhos em minha direção e diz - Segredo.
— Como você tem “segredos” na minha casa?
Assisto-a rebolar até a sala, onde deixa o pacote de chocolate em cima da mesinha de café. Atira-se no sofá antes de dizer
— Você ficaria surpresa com as coisas que sou capaz de esconder - E podia estar falando sobre comida, dinheiro ou coisas mais perigosas. Sigo-a até o cômodo e, depois de preparar a série na televisão, sento-me na outra extremidade do sofá, distante dela. Vejo-a abrir o pacote e morder um dos chocolates antes de me oferecer.
Permanecemos em silêncio, somente prestando atenção nos diálogos entre as personagens da série  por contados dez minutos, até que Santana voltasse a falar.
— Não estou entendendo nada - Tem as pernas cruzadas sobre o móvel e uma expressão confusa no rosto, a mais adorável possível. Eu realmente senti sua falta.
— Você nunca assistiu? - Questiono, mas ela nunca tira os olhos da tv.
— Você sabe que não - Retruca não tão forçado.
Eu aponto, explico e mostro as personagens, toda a informação necessária para que ela compreendesse, mas tenho certeza que, dentro de dois minutos, já esqueceu tudo porque pergunta
— Elas só falam sobre sexo?
— Sim, então você vai adorar. - Deixo um riso irônico. Quando percebe, olha-me de volta.
— Como conseguiu fazer com que Russell te deixasse assistir a isso?
— Não é como se eu saísse gritando pela casa que via também.
Por incrível que pareça, conseguimos chegar até o começo da terceira temporada. O tempo passava e Santana acabava comendo a metade do pacote que era para ser meu, segundo a lógica dos eventos. Não reclamo, todavia. Passado algum tempo, quando ela fala novamente, percebo que estávamos mais perto nos assentos do sofá do que quando primeiro sentamos. Tenho os pés em baixo do corpo e ela, a perna esticada sobre a mesinha de café como se me esperasse a chamar a atenção sobre isso.
— Só me relembre a razão por gostar tanto dessa série?
— Você me prometeu que assistiria e não falaria nada. - Falo sem desperceber a trama das personagens. Posso ver, do canto do olho, ela me olhando.
— Não, eu prometi assistir e não reclamar. Muito.- Explica. - Eu ainda não reclamei sobre nada. Só estou tentando descobrir o que está acontecendo. E essa ruiva? Gay.
— Ela se assumiu em 2007 - Rendo-me ao que falava porque, claro, Santana, em algum ponto, comentaria sobre isso.
— Eu sabia.
— Você transaria com ela? - Não sei bem ao certo a razão por trás de minha pergunta. Talvez eu desejava colher informações, não sei. Só sei que, quando dei conta, já havia perguntado.
— Ela deve ter uns cinquenta anos hoje. - Diz, aparentando não se assustar de forma alguma com o tópico levantado. É Santana, todavia. Era de se esperar.
— Não hoje, antes. - Quando demora para responder, volto os olhos a ela que parece estudar agora a mulher dançar em cenas. Permanece alguns segundos calada, o que já era uma afirmação para mim. 
— Não.- Responde.  
— E Carrie?
— Quem é Carrie?
— A personagem da Sarah Jessica Parker.
— Não.- Dessa vez, não demora a responder, o que me deixa totalmente desacreditada. Com a resposta, não o tempo de demora.
— Não?! - Protesto - Ela é loira.- Digo. Ouço-a gargalhar diante do que foi dito, sem muita certeza da comicidade.
— Sabe, eu sei que as pessoas acham que eu tenho uma queda por loiras, mas não tenho.- Entre sorrisos, aponta.- Digo, Noah não é loiro, Finn não era loiro.
— Sam era e, de qualquer forma, eles são homens.
— Sam foi só para te irritar - Depois de respirações, confessa.
— Eu sei que foi por esse motivo que começou a namorar ele, mas não entendi porque terminaram. Sam era seu disfarce perfeito. - Falo, ainda que insegura. Ela se ajeita na posição, passa as mãos sobre o tecido macio da blusa.
— Ele era perfeito demais - Admite, provocando-me uma careta de surpresa. Ela percebe. - Ok, eu o achava um cara legal. Senti pela dele por usá-lo daquela forma, ok? Feliz?
— Parcialmente - Digo entre sorrisos fracos. É uma coisa nova de se ouvir, ainda mais vindo de Santana.
— E você também não é loira. Não natural, pelo menos.- Numa forma de desvio, enfia um pedaço de chocolate na boca. Toma seu tempo com ele enquanto assisto a linha perfeita de seu maxilar demarcar sobre a pele ali exposta. - Então Britt era a única loira com quem estive de verdade.
Era isso. Essa era minha deixa.
— Perdão, San.- Cuspo, de repente. Santana me olha com uma expressão espantada e estamos perto o bastante para que possa vê-la franzir o rosto em confusão e surpresa. Busco pelo painel de controle e coloco a tv no mudo, instintivamente. - Perdão por…Eu não deveria ter fugido, te deixado sozinha. Eu não deveria ter ignorado sua mensagem e não deveria não ter voltado para casa.- Seus olhos apenas me examinam com cautela.- Não deveria ter te tratado como se fosse…como se a única coisa existente entre nós fosse sexo. Perdão por ter te mandado ir se foder, e perdão por ter perdido a cabeça quanto a questão de meu pai, mas ainda sinto que deveria ter respeitado minha decisão em não querer que ele venha a recepção. - Então eu decido cuspir meu coração inteiro. As palavras de seu pai, os discursos e falas que vinha ensaiando. Tudo. 
— Eu respeito - Ela interfere.- Eu acho que um dia você vai se arrepender por não tentar entendê-lo. Não digo isso a fim de te fazer diminuir qualquer sentimento que tenha por ele, estou dizendo porque eu mataria, Quinn, eu mataria mesmo pela oportunidade de ter minha abuela só olhando para mim de novo. Ela me machucou, fez-me sentir inútil, me abandonou…- Dessa distância, posso ver seus olhos se tornarem aguados demais para o orgulho. Uma ou duas lágrimas escorrem por suas bochechas e estou congelada no lugar.- Mas eu ainda a amo. Se ela viesse até mim e dissesse que gostaria de ir a festa, eu mandaria uma limusine ir buscá-la. Eu sei que crescemos, você e eu, em situações familiares completamente diferentes. Familiares, amigos, dinheiro e todas as outras coisas, mas a família está sempre no sangue, entende? Eu meio que pensei nós sermos tipo uma família agora e questões familiares dizerem respeito a nós duas. Eu pensei, desculpa. Se eu passei dos limites, perdão. Só quero que sabia que não estou tentando fazer qualquer coisa que propositalmente te machuque. - Se eu estava cuspindo meu coração fora, Santana também estava.
— É difícil aceitar seu perdão.
— Eu sei - Lamenta de olhos fracos.
— Você deveria ter me dito sobre Brittany.
Novamente, ela consentiu. - Eu sei, babe, eu te juro que a única razão por eu não ter contado foi por saber o quão meu passado com Britt mexe com você e te faz sentir insegura sobre nós. As coisas estiveram tão turbulentas entre a gente nesses dias e eu não queria nos colocar numa situação pior da que já estávamos. Eu pisei na bola, deveria ter te contado assim quando aconteceu. - Ela tem o corpo virado para mim e, eu, a ela. Nós podíamos fazer isso. Podíamos conversar como pessoas normais. Podíamos pedir desculpas e perdoar. Seguir em frente.
— Sim, não acho fácil falar sobre sentimentos.
— Eu sei. Quinn, confie em mim quando digo que isso aqui é o mais vulnerável que vai me ver e amanhã provavelmente já estarei te chamando de Fabgay novamente. Mas nosso relacionamento significa algo pra mim, então quer dizer que estou disposta a lutar p- Antes que ela pudesse concluir a linha de palavras afetivas encantadas, sinto a raiva domar meu ser novamente. Corto-a. 
— É por isso que tem papéis de divórcio no balcão da cozinha? Porque você quer “lutar”?  – Sinto os ossos das bochechas arderem e meu tom sobe umas duas casas.
— Sim, Quinn, é exatamente por isso.
Nós estávamos de volta as duas extremidades do sofá.
— Que sentido lógico isso tem, Santana? Como devo acreditar que você quer esse relacionamento quando uma única discussão te fazer querer sair? Suas ações não condizem com suas palavras! - Assim quando cruzo os braços em cima do peito, vejo-a pular do sofá e correr de volta para a cozinha. Diante disso, grito - Quem está fugindo agora? - Admito que estava agindo como uma criança, eu não sabia como ser vulnerável. As pessoas machucam demais. Sou obrigada a ficar ali pelo tempo que Santana desaparece, emburrada. Eu não me sujeitaria a isso novamente.
Quando retorna, tem os papéis que trouxera em mãos.
— Não estou fugindo.- Diz, deixando a pilha sobre meu colo, - Olhe na última página.- Instrui-me. Abro os documentos e folheio as páginas enquanto ouço sua voz me dar direções, saídas e retornos. - Eu não quero me divorciar, mas se for necessário pra fazer ter segurança sobre nós e deixar de te fazer pensar que tudo que faço é contra você; que só estou aqui por conta de uma aposta, então assinarei um divórcio.- Santana diz enquanto encaro as páginas que me foram solicitada, estão presas juntas. É uma petição de casamento. Procuro-a com olhos confusos.- Mas, se formos assinar o divórcio, eu só vou ignorar e te pedir para que case comigo novamente. Eu quero estar casada com você, eu quero estar contigo. Não importa o quanto empurre, não vai me afastar. Eu não vou permitir. Me importo com isso o bastante. - Ouço-a dizer. Tenho o coração bombeando contra meu peito, em todas as direções. Uma ponta de ansiedade floresce em meu estômago e sou tomada por todas as sensações e emoções que Santana deseja.
— Por que? - Pergunto.- Eu não sou a pessoa mais doce do mundo. Não sou fácil.- Era como se minha garganta viesse sendo fechada a cada palavra. Mutilada por facas de ferro. Meus lábios secam, mas não é o suficiente para inibir minha fala assustada de - Não sou a Brittany.
Ela toma uma respiração.
— Não, não é.- Concorda. Pisco em aceitação. Santana toma o assento ao meu lado, mas evito que meus olhos subam aos seus. A qualquer parte sua.- Você está certa.- Era o que eu esperava ouvir. Eu não era, certo? Mas, de qualquer forma, a palavras me cortaram como adagas.- Eu nunca vou te amar como amei Brittany. Eu nunca amarei alguém como a amei porque ninguém é ela. Sabe de uma coisa, Fabray? - Alguma parte dentro de mim aguardava o conforto, as palavras acolhedoras. Entretanto, era com Santana. Era Santana. Eu nunca deixava de ser ingênua.- Eu sinceramente não me candidatei a isso! Caramba, eu esperava todo esse drama de Berry, não de você. As lágrimas, os ataques estão sendo demais pra mim! - Diz com mais precisão, jogando as mãos aos ares. Santana é impossível.- Se as pessoas de McKinley pudessem te ver agora, te juro que não acreditariam você ser quem costumava faze-los tremer. Eles até fariam de escrava, nunca teriam te votado para rainha do baile. Quando te pedi em casamento, pensei que estivesse me relacionando com uma pessoa mais forte! Alguém que me acompanhasse na cama e que se igualasse comigo em ser uma vadia. Mas não. Ao invés, ganhei isso de brinde! Uma melodramática que fica reclamando porque não posso escolher cartões de casamento! Jesus! O que vai ser depois disso, huh? Vai chorar porque não te coloquei pra dormir?!
— Cala a boca, Santana! - Grito, mas, como perfeita teimosa, ela não obedeceu.
Nós éramos assim, era essa nossa relação. Volátil. 
— Vamos fazer assim, sábado que vem vou te levar para caçar unicórnios porque, se conseguir capturar um, pode fazer um desejo, e talvez possa desejar um pouco mais de noção e seios maiores! - Cospe.
Antes que eu pudesse perceber, minha mão já tinha tomado o caminho de costume para ir de encontro a sua face, mas, ao ver a imagem de Santana nem se preparar para o tapa, apenas permanecer com o rosto intacto, aguardando pelo impacto, paro quando minha palma inteira está a centímetros da bochecha esquerda. Tão próxima que posso sentir o calor irradiar de seu corpo. Ali paro. Ela também. Respiro fundo, suspiro. Ao invés de concluir o movimento, enfio a mão antes interrompida para atrás de seu pescoço e a puxo para mim. Para meu corpo, pego seus lábios no meu. Tem tanto tempo. Nossos lábios só permanecem travados a força, até que Santana se rende e movimenta os seus nos meus. Tem tanto tempo que não a sinto. Tanto, tanto tempo e, quando sua língua primeiro toca a minha, tenho de barrar uma respiração mais pesada.
— Lopez - Quando a solto, digo. Tem os olhos fechados ainda.
— Sim? - Responde aos ares.
— Não estava te chamando.- Pego, agora com ambas as mãos, seu rosto, delicadamente. Ela em nenhum momento se dá o trabalho de olhar para mim, voltar ao mundo externo. Rende-se ao toque.- Você me chamou de Fabray. É Fabray-Lopez.
— Claro que é - Complementa sorrindo quando avança seu corpo ao meu, obrigando-me a deitar sobre o sofá. Tenho o peso da silhueta pressionada contra a minha e não é tempo demais quando puxa a blusa para cima da cabeça, arremessando-a a nenhum lugar específico. Afasto seus lábios para um pouco mais longe dos meus para que pudesse ver o perfeito par de seios em disposição em minha frente, pressionando-se contra mim. O corpo de Santana sempre foi algo invejável as demais pessoas, se não de extremo desejo. É um ponto bem trabalho que ela tem e sempre teve, tão característico de sua pessoa que não é de se julgar minha ação de somente parar e olhar. Ainda mais quando não nos vemos tem três, quatro dias.
Ao perceber minha intenção, ergue uma das sobrancelhas e me deixa um desses sorrisos de lábios fechados. Antes que eu pudesse protestar, impulsiona a mão para entre minhas pernas e, num pensamento súbito, lembra-se e para.
— Você está mesmo menstruada ou estava fingindo?
— Infelizmente…- Digo, em lamentação. É o necessário para fazer com que saia de cima do meu corpo e caia frustada na outra ponta do sofá.
Santana não liga para essas coisas, não é um problema para ela transar menstruada. Santana transa de qualquer jeito, literalmente. É o sexo ambulante. Todavia, está ciente que eu, em contrapartida, não me sinto confortável, então simplesmente aceita. Busca pela blusa descartada enquanto sento novamente e reafirmo o vestido no corpo. Quando faço, sinto sua mão me puxar pela cintura para seu colo. Permito-a.
— Isso não quer dizer que as coisas entre nós estão resolvidas.
— Claro que não. - Concorda, serena, antes de voltar a atenção a televisão num episódio aleatório. - Ao próximo episódio, então.


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