A Neverland Tale escrita por Danica Valdez


Capítulo 6
Peter Pan


Notas iniciais do capítulo

OI! Demorei menos de 6 meses para postar! Olhem que milagre! Bom, o título é auto explicativo então acredito que não precise falar muito. :) Divirtam-se.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/532324/chapter/6

Todas as preocupações que eu mantinha em minha cabeça de uma hora para outra foram esquecidas, dando espaço a uma única só inquietação: Eu estava caindo de uma grande altura. Fechei os olhos com força e não consegui parar de gritar, já tinha tido pesadelos em que passava por uma situação semelhante a essa. Só que dessa vez, era real. E céus,literalmente, como era real.
Eu estava arrependida por ter saído do navio, onde por incrível que pareça talvez eu estivesse mais segura que agora. Parei de gritar, pois percebi que de nada isso ia me adiantar. Abri os olhos lentamente e percebi que eu não estava caindo como eu pensava. Eu estava...Voando?
Evitando olhar para baixo, procurei ver a reação de Kole. Pensei que ele fosse estar como eu, assustado e confuso, mas quando foquei em seu rosto vi que ele sorria de orelha a orelha e parecia ter imenso prazer em permitir o vento bagunçar seus cabelos.
Senti um aperto na minha mão. Desviei o olhar de Kole para o garoto cujo nome eu ainda não sabia. O jovem me olhava aliviado.
– Que bom que parou de gritar, já não aguentava mais – disse bufando – Você devia tentar ser mais como o seu amigo ali.
– Acho que você deveria tentar calar a boca – respondi ríspida, me arrependendo um pouco depois.
Ele virou a cabeça para frente e pude jurar ver um pequeno sorriso se formando, mas este logo sumiu tão rapidamente quanto apareceu.
Voamos por mais alguns minutos, e durante esse tempo eu arrisquei olhar para trás. O navio voador tinha se transformado em um mísero ponto, estávamos longe.
– Vamos descer ali! – ele disse alto para que o vento não abafasse suas palavras, enquanto apontava para uma ilha.
Fomos cada vez mais nos aproximando do chão, até que pousamos. O Estranho soltou minha mão e abriu os braços enquanto andava para trás com um sorriso vitorioso.
– Bem vindos a Neverland!
Neverland...Espera, Simão tinha nos falado desse lugar...
– Eu esqueci de me apresentar, que modos os meus – disse – Meu nome é Peter, Peter Pan.
Kole engoliu em seco e focou seu olhar no chão com semblante sério.
– Algum problema? – perguntou a Kole levantando uma sobrancelha.
– Nenhum... –Kole disse trocando um olhar rápido comigo – Só acho que precisamos de esclarecimentos.
– Esclarecimentos...Claro – disse pensativo – Receberão seus esclarecimentos assim que chegarmos ao meu acampamento.
Dito isso nos deu as costas e começou a andar em direção a densa mata que cercava a praia em que tínhamos pousado. Demorei a segui-lo, as palavras de Simão ecoavam em minha cabeça.
– Vem logo! – gritou para mim impaciente.
Levantei a barra do vestido e corri até eles. O resto do caminho percorremos em silêncio, não andamos muito. Mas o fato de não ter comido nada nas últimas horas e de que meu vestido ficava preso o tempo inteiro em arbustos ou galhos me cansava.
Chegamos a uma espécie de clareira, havia poucas árvores agora e podia se ver um campo verde aberto. Não se parecia exatamente como um acampamento. Peter Pan andou até uma árvore de tronco largo e deu três batidas nele.
– Apareçam! – gritou.
Ao seu comando vários garotos começaram a descer das árvores, não consegui contar quantos. Eram muitos e nos cercaram rapidamente, alguns eram bem mais novos que eu, mas não havia encontrado ninguém que aparentasse ter chegado à fase adulta.
– Esses dois serão nossos convidados até que eu diga o contrário! – disse enquanto obtia total atenção de todos – Montem o acampamento.
Pan mal tinha terminado de falar e os jovens correram para começar suas tarefas enquanto conversavam animadamente e olhavam para nós com curiosidade.
Pude perceber que Kole percorria seus olhos por todos os garotos discretamente.
– Temos muito o que falar – disse Pan aproximando-se de nós.
– Com certe... – Kole ia dizendo.
– Eu não me referi a você – nosso´´anfitrião`` o cortou – estava falando com ela.
Kole deu de ombros, mas senti que tinha ficado um tanto ofendido. Peter Pan fez sinal para que um garoto se aproximasse.
– Devin, dê-lhe comida e água.
Devin assentiu e puxou Kole em direção a um grupo de garotos.
– Sente-se – Pan ordenou apontando para um tronco de árvore no chão.
Sentei um pouco contragosto e logo ele fez o mesmo.
– Está com fome? – perguntou.
Confirmei com um sinal de cabeça e ele retirou do bolso uma maçã. Praticamente a arranquei de suas mãos e a mordi.
– O que quer falar comigo? – perguntei terminando de mastigar um pedaço.
– Você não faz ideia, não é? – perguntou retoricamente olhando para cima por uns instantes.
O observei com cautela enquanto esperava que ele desse continuação ao que quer que fosse que ele quisesse me falar.
– Eu sei sobre o Elixir – revelou -, sei também que você tem uma grande importância se alguém quiser encontrá-lo. Sei sobre o diário de seu pai, da origem do Elixir e de como Odile vem perseguindo sua família. Com certeza sei de muitas outras coisas que você não sabe, portanto não esconda o jogo comigo. É só um aviso.
Fiquei estupefata, sua última frase soava mais como uma ameaça do que um simples aviso.
– Eu quero te ajudar – disse se aproximando e olhando em meus olhos com uma intensidade que me fazia sentir calafrios.
– Me ajudar em que? – perguntei confusa.
– A destruir o Elixir – concluiu.
...
Os integrantes da tripulação do Jolly Roger se recuperavam aos poucos da tinta de lula que Pan havia usado contra eles. O efeito durara pouco, mas o suficiente para deixar Pan escapar ileso levando junto com ele dois importantes prisioneiros do navio. O capitão do mesmo desejava ter previsto que o audacioso Pan viria perturbar a sua paz mais uma vez.
Hook se mantinha calado e permanecia com um olhar perdido no céu.
– Capitão! – Smee gritava seu nome – O que faremos agora?!
– Vamos esperar – disse sem desviar os olhos do céu.
– Esperar o que? – perguntou Smee confuso.
– Não o quê, Smee – Hook retrucou impaciente – Quem.
E foi o que fizeram, por algumas horas esperaram. O costumeiro som de risadas e de conversas animadas foi tomado pelo silêncio, ninguém ousava quebrá-lo. Até que finalmente uma nuvem escura se formou no centro do navio, assustando alguns dos tripulantes. De dentro dela saiu uma mulher de cabelos encaracolados e com semblante tão assustador que intimidaria até o pirata mais temido dos mares.
– Odile! – disse Hook com um sorriso forçado – É tão bom te ver!
Odile veio em sua direção pisando forte e Hook podia jurar que faíscas saiam de seus olhos. Ela ergueu seu braço e o pirata foi erguido alguns metros do chão. Após alguns segundos agonizando sem ar, foi jogado de volta ao mesmo com força.
– Eu ordenei para que vigiasse aqueles dois – disse Odile visivelmente irritada – e o que você faz? Deixa aquele estúpido roubá-los por baixo de seu nariz!
– Des...culpe – disse Hook recobrando o fôlego e em seguida se levantando com dificuldade.
– Suas desculpas não me servem de nada! Quero os dois de volta a esse navio o quanto antes.
– Não será tão fácil consegui-los de volta – Hook advertiu – Pan pode parecer um simples garoto, mas na verdade é...
– Não importa! – bradou Odile – Você cometeu um erro e vai concertá-lo! Atos de incompetência não fazem parte de nosso acordo.
Dito isso ela deu as costas a Hook e voltou ao centro do navio. Antes de desaparecer na costumeira névoa escura, repreendeu seu ´´aliado``.
– A cada ato de ignorância seu ou de sua tripulação, que me prejudique, você será punido. Começando a partir de agora.
Após sua saída o navio estremeceu e despencou dos céus, retornando ao mar.
...
Não estava convencida completamente com as palavras de Pan, ele podia realmente querer ajudar... Mas quem garantiria que ele não estava blefando sobre saber tanto do Elixir? Eu precisava testá-lo, só não sabia como.
– Você não confia em mim, mas quero que o faça – afirmou – E é por isso que responderei a quaisquer perguntas que você quiser fazer.
Talvez eu não precisasse inventar uma brecha para testá-lo ou algo do tipo, já que ele mesmo fez isso. Então aproveitei.
– Onde ou com quem aprendeu tudo o que sabe sobre o Elixir?
– Poucas são as pessoas que sabem da existência do Elixir, e eu tive o privilégio de ser uma delas. Só que eu não sou uma pessoa comum, digamos também de passagem que eu tenho vários contatos espalhados por todos o lugares e isso ajudou bastante.
Ele não respondeu com clareza a pergunta, tentei fazê-la de novo de uma forma diferente.
– Como descobriu o Elixir? – perguntei.
– Estava conversando com um homem, com quem eu costumava fazer negócios, e o assunto surgiu na conversa – respondeu vagamente.
– Então...Você descobriu o Elixir por acaso enquanto jogava conversa fora? – perguntei em um tom irônico.
Ele não pareceu gostar muito da minha ironia.
– Aprenda uma coisa sobre mim, Adellah. – disse se espreguiçando – Eu nunca jogo conversa fora.
– Como sabia que eu estava naquele navio? – perguntei tentando fugir um pouco do assunto por hora, já que ele se recusava a responder com clareza.
– O navio estava nos arredores de Neverland, eu sempre mantenho os olhos em tudo. Nada passa despercebido por mim, vi você e seu capacho no convés. Quando percebi de quem se tratava, decidi intervir.
– Obrigada por me tirar de lá – agradeci – E a propósito, Kole não é meu capacho. Ele é meu amigo.
Ele abriu um sorriso de escárnio e fez sinal para que eu continuasse.
– Eu e Kole estaremos seguros aqui?
Pan se levantou e ergueu a mão para me ajudar a levantar.
– Se me obedecerem, estarão. – disse em tom de brincadeira, mas novamente soou mais como uma ameaça disfarçada.
Hesitei em segura-la. Ele rolou os olhos e me puxou pelas mãos. Agora, estávamos ambos de pé. Olhei em seus olhos mais uma vez, eles e uma sensação de reconhecimento estranha me forçaram a fazer uma afirmação.
– Nós já nos vimos antes.
– É claro que já! – ele disse me deixando curiosa – É normal que garotas sonhem com homens como eu! Já deve ter me encontrado várias vezes em seus sonhos!
Foi minha vez de revirar os olhos.
– Os meninos perdidos já devem ter feito uma fogueira, venha – ele disse se adiantando e caminhando a minha frente.
– Eu ainda não terminei de sanar minhas dúvidas! – falei enquanto o seguia.
– Azar o seu – disse sem se virar.
Bufei e não fiz questão de apertar o passo para acompanhá-lo lado a lado. Sua forma de agir era completamente irritante, mas pelo visto eu ia ter que suportá-lo por um bom tempo. Chegamos ao centro da clareira onde os meninos perdidos se encontravam espalhados em volta da fogueira recentemente acendida.
Kole estava ligeiramente afastado, sentado no chão e apoiado a um tronco de árvore. Não me notou de primeira quando me aproximei, quando sentei ao seu lado ele deu um sorriso fraco, que eu retribuí afagando seu ombro. Contei sobre a conversa com Pan a Kole, ele em momento algum me interrompeu. Quando terminei, Kole suspirou e abraçou os joelhos e abaixou a cabeça.
– Aonde eu fui me meter... – murmurou baixo.
– Desculpe – disse me sentindo culpada por arrastá-lo aquela confusão.
– Não me peça desculpas – disse levantando a cabeça, agora fitava o céu estrelado de Neverland – Nada disso é sua culpa.
Ficamos algum tempo em silêncio, o único som que se ouvia era o das risadas dos outros.
– Quietos! – Pan gritou e no mesmo segundo todas as conversas haviam cessado.
Ele já permanecia de pé, sem cerimônia alguma retirou algo de seu cinto, ele levou imediatamente o objeto a boca e imaginei se tratar de uma espécie de instrumento musical, uma flauta. Primeiro pensei que o som estivesse meio abafado, mas logo percebi que mesmo vendo Pan tocar a flauta não conseguia ouvir nada. Não havia som algum.
Eu parecia ser a única ali a achar aquilo estranho, pois os outros conversavam baixo enquanto observavam seu líder. Peter Pan continuou tocando por mais algum tempo. Até que subitamente parou e guardou a flauta, as conversas foram terminando e os meninos bocejavam de sono, aos poucos e ele se aproximou de onde estávamos.
– O que achou? – perguntou se agachando para ficar frente a frente a mim.
– Achei que a função de um instrumento musical fosse produzir música – disse debochada.
Ele me encarou e riu, uma risada amarga e curta chegou aos meus ouvidos.
– Imaginei que não fosse ouvir – disse desviando seu olhar para Kole que havia adormecido ao meu lado.
– Por quê? – franzi a testa curiosa.
Ele voltou seu olhar novamente para mim, sem emoção. Levantou e se afastou, indo se recolher.
Ele parecia determinado a manter tudo que sabia para si mesmo, mas eu estava mais determinada ainda a descobrir o que ele guardava para si. Com esse pensamento, cai no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente nosso querido Peter Pan apareceu, não é? Me contem o que vocês acharam dele nos comentários ;) Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Neverland Tale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.