A Neverland Tale escrita por Danica Valdez


Capítulo 4
O Elixir


Notas iniciais do capítulo

Hi!
Eu tive uns probleminhas para editar a história aqui no Nyah. Vocês vão perceber que está um pouco espaçado demais em alguns casos, junto demais. MAS, o que vale é a história, pois eu vou consertar o resto depois.
Espero que gostem do capítulo e não me joguem maldições por demorar tanto :)



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Preciso entrar...
Abri os olhos e puxei o máximo de ar que consegui, me sentia sem fôlego como se tivesse passado tempo demais debaixo d´água. Estava sentada, me apoiando em uma porta de madeira. Levantei um pouco atordoada e encarei-a, gelei ao lembrar o que estava por detrás dela.


O símbolo real do reino – um lírio – estava pintado na porta, o mesmo que permanecia pintado na porta do meu quarto e no de minha mãe. Girei a maçaneta, curiosa com o que poderia encontrar lá. Infelizmente, após algumas tentativas de abrir a porta, percebi que estava trancada.


– Adellaide?


Virei lentamente e encontrei minha mãe, elegantemente vestida – como sempre – e com um olhar confuso no rosto.
Desde a morte do meu pai, eu tenho sofrido com o sonambulismo. Saio vagando pelo castelo e acordo em qualquer lugar, menos no meu quarto. Sempre consegui fugir antes que me vissem, até que Kole me encontrasse no meio do jardim. Sendo que essa era a primeira vez em que eu vagava de noite sem consciência, dois dias seguidos.


–... Entendeu?
– O que? – perguntei, percebendo que minha mãe tinha dito algo.
– Eu disse para voltar para seu quarto e se arrumar. Mas antes, passe aqui. Sinto que precisamos ter uma conversa.


Subitamente, lembrei do ocorrido na noite passada. Realmente precisávamos ter uma conversa, só que ela estava muito errada se pensasse que seria a única a falar. A única coisa que fiz foi concordar com um aceno de cabeça e depois correr em direção ao meu quarto, que por sorte ou não, era no mesmo corredor.


Abri a porta e fui em direção a cama. A fita que tinha amarrado na cama, para prender meu pé tinha sumido. Corri para abrir a gaveta em que tinha guardado a chave, joguei várias peças de roupa no chão até que a gaveta ficasse praticamente vazia. Foi então que encontrei algo inesperado. Junto a minha chave havia um embrulho de papel, que parecia ter sido feito ás pressas.
Puxei o barbante que prendia o embrulho e o abri. Dentro havia uma chave prateada e um bilhete.


´´ Abrirá qualquer porta que você desejar, use com sabedoria``
Procurei atônita por uma assinatura, mas não encontrei. Isso só podia significar uma coisa: alguém entrou no meu quarto, me ajudou a sair e aproveitou para me deixar um presente estranho.


Rodei a chave pelos meus dedos. Não gostei da ideia de ter alguém entrando no meu quarto no meio da noite, mas se o que estivesse escrito no bilhete fosse verdade...Eu poderia usar para abrir a porta do quarto do meu pai e procurar uma forma de tornar útil aquele diário que ele me deu.


Joguei as roupas de volta na gaveta sem sequer tê-las dobrado e troquei a camisola por um vestido verde água de mangas longas. Peguei a chave prateada e guardei na lateral do meu sapato. Fechei a porta e andei silenciosamente pelo corredor. Me surpreendi quando encontrei minha mãe do lado de fora de seu quarto me esperando.


– Vamos entrar, Adellaide – ela disse apontando para seu quarto.
Entrei em silêncio e sentei em uma poltrona verde macia. Minha mãe fechou a porta e se sentou em um sofá de frente para mim.
– Quero conversar com você sobre a comida que servirem, eu pensei em...
– Se eu soubesse que o único motivo que você tinha para conversar comigo é este, eu nem teria vindo – disse sem emoção.
Ela me observou e devolveu as palavras duras.
– O que você quer que eu diga? – perguntou retoricamente – Que vou cancelar tudo?! Não posso mais desfazer o que foi feito!
Suspirei e cerrei meus punhos.
– Você pensou em mim quando permitiu que o conselho me usasse para estabilizar o reino? Pensou em como eu me sentiria?
– Falando assim você faz parecer que eu não me importo com você, mas isso não é verdade. Você é minha única criança, minha filha querida...
– EU NÃO SOU MAIS CRIANÇA! – grito o mais alto que posso.
– Adellah... – ela murmura me olhando com olhos arregalados.
– Eu sou perfeitamente capaz de escolher o que é melhor para mim – eu disse me levantando e indo embora.
...
– Você foi dura com ela – comentou Simão.
Após minha recente briga com minha mãe, procurei um ombro amigo para desabafar. Ou seja, Simão. Ele como o bom ouvinte que era, escutou tudo o que eu queria botar para fora.
– De que lado você esta? – perguntei bebericando uma xícara de chá que Simão me deu.
– Você vai aceitar, então? Vai tentar se aproximar dos pretendentes? – perguntou ignorando meu comentário anterior.
– Que escolha eu tenho? – bufei – A minha sorte é que existem muitos príncipes e nobres desesperados para se casar ou para subir ainda mais na vida.
– Eu sinto muito por toda essa situação – Simão disse pegando uma de minhas mãos carinhosamente – Quer ouvir a minha opinião sobre tudo isso?
Fiz um aceno positivo de cabeça.
– Você nem os conheceu ainda. A maioria pode ser exatamente como você imagina, mas e se você encontrar alguém diferente? Alguém que te faça, nem que seja só por um mísero segundo, cogitar a ideia de se casar.


Não respondi.


– Olhando por um lado – disse Simão soltando minha mão e me servindo mais chá - , eles não tiraram completamente o seu direito de escolher com quem vai se casar. Quer dizer...Eles te deram uma lista com mais de vinte nomes de pretendentes, isso sugere que quem escolhe no final é você.
– Obrigada, Simão – agradeci – Eu tenho que me apressar para me arrumar, ficamos tanto tempo aqui que perdi a noção da hora.
Agradeci mais uma vez a Simão e me apressei em subir as escadas. Talvez Simão estivesse um pouquinho certo.
...
Parei em frente à porta do salão de festas do castelo, levei a mão a maçaneta e dei um longo suspiro antes de girá-la. Ao entrar, ouvi o som de um trompete e em seguida meu nome sendo anunciado para os convidados:


– Princesa Adellaide!


Todos os olhos voltaram-se para mim naquele momento. As pessoas sorriam e erguiam suas taças, eu não estava muito confortável com aquilo, pois a maioria das pessoas era desconhecida para mim.


– Majestade – chamou uma voz familiar.


Olhei para o lado e encontrei Kole. Ele estava vestido com seu uniforme de guarda, mas usava uma mascara branca com lírios pintados nos cantos que cobria metade de seu rosto.


– É tão bom te ver – me senti aliviada - , não conheço nem metade das pessoas que estão aqui.
– Eu vou te ajudar, não se preocupe. – disse exibindo um sorriso – Decorei alguns nomes ontem á noite.


As pessoas começaram a se aproximar para me cumprimentar e sempre que eu não conseguia lembrar um nome, Kole se aproximava e sussurrava para mim o nome correto. Tudo parecia correr bem, até que foi anunciada a valsa.


Eu pretendia aproveitar esse momento para sair de fininho e usar meu mais novo presente, a chave que possivelmente abriria a porta do quarto de meu pai. Mas não tive a oportunidade.


Todos os pretendentes queriam dançar comigo, de forma que eu acabava trocando de par o tempo inteiro. Já tinham se passado quatro músicas, e nenhum dos pretendentes me agradara. Um tinha pisado no meu pé e outro apertou minha cintura forte demais. Quando finalmente me vi livre do último pretendente, que passara a dança inteira me cantando, senti novamente uma mão em torno da minha cintura e outra segurando minha mão.


Olhei para o meu parceiro e percebi que ele estava vestido de uma forma bem diferente dos outros pretendentes. Ele trajava vestimentas brancas e uma máscara de baile de couro , que contrastava com seus olhos verdes e penetrantes, mas que me impedia de ver seu rosto claramente.


– Mais um pretendente?
– Como se eu tivesse esse privilégio, infelizmente não sou digno de ser seu marido –respondeu sorrindo de lado.
– Que...
– Não temos tempo para isso – interrompeu-me – Você corre perigo.
– O quê?! – exclamei enquanto ele me girava, me deixando de costas para ele.
– Eles vão tentar te matar – sussurrou no meu ouvido -, e eu odiaria ver um mundo privado de sua beleza.
– Não sei quem você é, mas sei que é impossível ocorrer um assassinato aqui no castelo. Estou segura.
– Seu pai também pensava assim – ele me girou novamente, dessa vez ficando de frente para mim - , não subestime aqueles que querem te fazer o mal.


Ele me soltou e saiu se misturando a multidão. De todas as danças que tive hoje, essa foi a mais desagradável e estranha de todas. O que ele quis dizer com aquilo? Tentei sair dali e foi quando reparei que ele tinha deixado cair uma coisa no chão. O diário de meu pai. Um papel de carta dobrado ao meio se projetava para fora. Olhei para ver se mais alguém tinha visto aquilo e feliz ao constatar que ninguém percebera, o abri.


´´ Vá ao quarto de seu pai e use a chave prateada.
Quando adentrar, procure um jarro branco com uma tinta azul.
Use a tinta no diário, mas não use muito.
Não vai querer que a tinta acabe antes de você ter terminado de ler.
Vou criar uma breve distração para que você consiga sair sem ser notada.
Não estrague tudo. ``


Fiquei alguns minutos, olhando para o papel. Atônita e sem ação. Ouvi um grito do outro lado do salão.
– CÉUS! VEJAM O BANQUETE, QUE HORRENDO!
Eu nem precisei me aproximar para saber o que estava acontecendo. Conseguia ver de longe. Vários insetos subiam pela comida e apareciam nas taças de vinho dos convidados próximos a mesa do banquete.
Percebendo que aquela era a distração, corri para a direção contrária. Onde ficava a saída do salão. Já fora do salão, retirei os saltos – não antes de pegar a chave, é claro – e os joguei para o lado. Subi a escada descalça e segurando a barra do vestido para não tropeçar.


Cheguei ao segundo andar ofegante e abri a porta do quarto com as mãos trêmulas e errando a fechadura no mínimo quatro vezes. Entrei no quarto e tranquei a porta. Eu não conseguia parar de pensar no que ocorrera minutos antes, mas agora não podia ter distrações.


Circulei pelo quarto, procurando pelo jarro. Tentei não me desesperar e raciocinar. Meu pai não deixaria algo importante para ele aparente para que qualquer um visse, ele teria o escondido.


Quando eu era pequena um dos meus passatempos preferidos era encontrar passagens e esconderijos secretos no palácio. Sempre procurei em vários cômodos, nem o quarto de meu pai escapara. Eu sabia todos seus esconderijos.


Com dificuldade, desloquei a cama alguns centímetros para o lado. Agachei-me e tateei o chão a procura daquele piso solto. Encontrando-o, retirei-o colocando para o lado. Pude ver um buraco fundo no chão e dentro dele o jarro que o estranho tinha mencionado no bilhete.


Retirei com cuidado o jarro do buraco e retirei sua tampa. Abri o diário de meu pai e com meus próprios dedos, passei a tinta nas primeiras páginas do caderno. No início nada aconteceu, mas depois a tinta começou a evaporar do diário, revelando a caligrafia de meu pai colorida em azul.
Me emocionei ao ler algo, que fora escrito diretamente para mim.


Dellah,
Acredito que este diário somente chegará em suas mãos após a minha morte. Sinto muito que você tenha tido que saber o que estou prestes a te contar tão tarde, tive medo de comprometer sua segurança. E ainda mais agora do que nunca, você precisa se manter a salvo.
Muito antes de conhecer sua mãe, eu era uma pessoa diferente. Eu fazia parte de um grupo de feiticeiros. Sim, feiticeiros, Dellah. Mas não eram feiticeiros como aqueles bonzinhos que eu colocava em suas histórias de ninar, era um grupo de feiticeiros do mal. Éramos cinco ao todo; nosso passatempo era lançar maldições em aldeões e brincar com os desejos das pessoas. Não me orgulho de quem eu era, mas passei a me orgulhar de quem eu passei a ser. Um grande rei, e espero, um grande pai para você.
Gostaria de lhe contar em mais detalhes, com a visão do novo ´´eu``. Mas preciso ir direto ao ponto. Nós todos éramos poderosos, mas isso não bastava. Decidimos criar juntos uma poção, que poderia realizar o desejo de qualquer um que a bebesse. Com muita magia negra e ajuda de criaturas, cujo os nomes não ouso pronunciar, criamos o Elixir.
Nosso erro pode ter sido a salvação de muitas pessoas, nós somente produzimos o bastante para um. Cegos pelo poder, vi meus ´´amigos`` matarem uns aos outros e tentarem me matar. Foi ai que percebi o quão enrascado eu estava. Abandonei o grupo e escondi o Elixir.
Anos depois eu já estava casado com sua mãe e recebi a visita de uma antiga amiga e filha de um dos integrantes do grupo poderoso de feiticeiros que eu participara um dia, Odile – que mais tarde eu descobri ser a única além de mim que havia sobrevivido aos ataques do grupo – que se voltou contra mim e me lançou uma forte maldição. Uma doença incurável.
Ela pensou que assim eu seria obrigado a procurar o Elixir, e ela descobriria a localização dele. Mas eu não o fiz. O que a irritou profundamente, mas todos esses anos ela tem esperado a hora de minha morte como vingança.
Dellah, eu preciso que você encontre o Elixir e o destrua. Antes que alguém mal intencionado possa utilizá-lo. Sinto muito em te passar um fardo tão grande, minha criança. Existem mais bilhetes como este no diário, eu te guiarei.
Seja forte, Dellah.


Meu rosto estava inchado de tanto chorar. Meu pai tinha se sacrificado para proteger todos nós. Eu não o decepcionaria.
Me assustei ao ouvir várias batidas na porta e alguém girando compulsivamente a maçaneta. Andei devagar até a porta e olhei pelo buraco da fechadura para ver quem era. Aliviada abri a porta e dei passagem para que Simão e Kole entrassem.
Kole arrancou a chave de minha mão e fechou a porta rapidamente. Olhando atentamente percebi que ambos estavam ofegantes e nervosos.


– O que houve para que vocês ficassem nesse estado?
Simão mexeu nos cabelos e sem me olhar nos olhos disse:
– O castelo foi invadido.
– Os guardas fizeram o possível para contê-la, Majes...Adellah. Eu juro. Mas ela ameaçou a todos que estavam no salão, eu e Simão a vimos matar vários convidados – Kole disse atordoado.
Odile. Só pode ter sido ela.
– Por que ela os matou?!
– Ela disse que se ninguém dissesse onde te encontrar ela iria matando um por um – Simão completou.
Dei-lhes as costas e abri uma das gavetas de meu pai. Encontrei uma bolsa de couro, onde coloquei a chave, o diário e a tinta.
– Não vou deixar que ela mate mais alguém, vou descer até o salão e me entregarei.
– Não pode se entregar! – Simão se aproximou e chacoalhou meus ombros – Se você for levada por ela, será o fim do reino!
– Simão... – Kole desviou o olhar – O que Simão quer dizer é que...
– O que é, Kole?! – perguntei impaciente.
– A primeira pessoa que ela matou, foi a rainha.


Após Kole me contar o ocorrido, cambaleei para trás e com a mão tapando a boca, para tentar calar meu sofrimento. Mais lágrimas surgiram, embaçando minha visão. Ficamos alguns minutos em silencio. Mas chorar não adiantaria em nada.
Peguei a bolsa de couro e a dei para Simão.


– Esconda isso em um lugar seguro, ninguém além de nós pode saber onde essa bolsa está.
Simão assentiu lentamente, sem entender muito bem a situação, apreensivo segurou a bolsa apertada ao peito.
– Kole, venha comigo até o salão.
Fez uma rápida reverencia. Antes de abrir a porta, abracei Simão e sussurrei em seu ouvido:
– Caso, aconteça algo comigo. Te nomeio o rei temporário deste reino, cuide bem dele.


Boquiaberto, Simão me olhou enquanto eu abria a porta e saia ás pressas com Kole. Descemos as escadas rapidamente e logo estávamos em frente a porta do salão, que permanecia fechada.Limpei meu rosto com a bainha do vestido. Kole posicionou sua mão sobre a porta e ao meu sinal abriu a porta. Revelando uma cena que eu nunca esqueceria.


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Notas finais do capítulo

O que será que ela encontrou do outro lado? Muahaha Próximo cap, vocês descobriram. Ah, e quem vocês acham que era a pessoa que dançou com a Adellah e ajudou a ler o diário? Algo me diz que vocês sabem quem é ;-)



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