É Megan! escrita por HuannaSmith


Capítulo 53
Reunião Relâmpago!


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo vai em homenagem ao aniversário de uma incrível e amada leitora, Lívia!
Parabéns minha flor, que o seu dia amanheça mais sorridente e sua noite mais contente, se é que essa trancedencia procede, feliz aniversário!

E uma boa leitura para todos vocês.



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Eu queria dizer que ainda o amo
Queria dizer que ele ainda faz parte de mim

Mas minha dor não tem fim
E acima de tudo
Mesmo ele sendo o campeão de tudo
Eu tenho amor a minha alma
Que cabe mais que a palma

E esta já não me serve mais
E essa dor inunda tudo
Só solidão me traz

– Huanna S.

• Megan •

Não entendi o porquê de tanto alvoroço, porque tanta preocupação? São só comentários, se realmente acreditássemos em tudo o que falam, eu já teria uns doze filhos com o Taylor, o que está longe de ser verdade, então pra que tudo isso? É só mais uma das apresentações de novos produtos da Marra.

– São só comentários Luci, não devemos acreditar em tudo que falam, é só mais uma das apresentações da Marra, não tem nada com o que se preocupar

– Também acho que não tem nada haver com a doença - mom concordou comigo - as pessoas que costumam falar demais

Luci se desculpou e se retirou da sala, deve ter ido para a cozinha ajudar no preparo das panquecas, mas não estou mais com tanta fome assim, a vontade de comer não veio com a chegada dessa amanhã, nem o "dia lindo" que todos falam, tudo parece meio cinza pra mim, tudo parece estar chorando junto comigo.

Senti algo vibrar no meu bolço, meu Marra Phone me alertou sobre o horário, respirei fundo, o que eu preciso fazer é muito mais importante do que qualquer dor que estou sentindo agora, tenho que esquecer o marfim.

– Mom eu vou ter que sair

– Sair? Como assim Megan? Você não comeu ainda, achei que estivesse triste...

– O que eu tenho que fazer é mais importante mom, prometo que volto para o jantar

Me levantei do sofá e fui na direção do meu quarto, me arrumar o mais rápido possível para não perder a hora, não posso me atrasar de jeito nenhum, mas pude escutar mom falar uma coisa enquanto eu andava.

– Jantar? - ela perguntou, mas eu já estava longe demais para responder que "sim, jantar"

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• Davi •

Meus olhos se abriram como se houvesse um quilo de cola os grudando, mas na verdade é só remela mesmo, luzes fracas no teto sobre mim me lembraram que havia deixado o computador ligado, provavelmente nem dormi, foi só um cochilo.

Levantei com dificuldade, parecia que um rolo compressor tinha passado por cima de mim, minhas pernas demoraram alguns segundos para me obedecerem, meu corpo ainda dormia, um raio de sol entrou pela janela e atingiu meu olho, parecia dizer: "Acorda que já é mais de meio dia!", mas o relógio na mesa desmentiu meu pensamento, eram nove horas.

A porta abriu de repente e tia Rita entrou, com uma cesta embaixo de um dos braços e recolhendo minhas roupas, espalhadas por todos os cantos, com o outro, será que todo mundo resolveu acordar tarde hoje? Ou ainda tô sonhando?

– Tia? O que a senhora faz aqui uma hora dessas? Porquê não tá na Plugar? - perguntei

– Eu estava Davi, mas acabei esquecendo alguns copos que a Meg tinha me pedido, voltei pra pegar e tô aproveitando pra colocar essas suas roupas, que você deixa espalhadas por todo canto, na maquina - tia Rita disse apressada em quanto andava catando peças de roupa, não deixou a chance de me dar um puxão de orelha escapar

– Meg? Espera tia - segurei o ombro dela para que parece de andar - a Megan tá na Plugar?

– Ela dá aula para as crianças, não é Davi? Tá fazendo o trabalho dela querido

– Mas eu achei que...

– Eu também achei, pensava que ela não fosse aparecer por lá durante um bom tempo, mas as crianças são importantes pra ela

Mesmo tudo que aconteceu não passar de uma farsa da Manuela, Megan superaria assim tão fácil se fosse verdade? Comigo seria igual como todos os outros? Ou ela realmente foi pelas crianças?

– Megan não dá aula hoje tia - disse antes dela sair e fechar a porta

– Ela não está dando aula, estou ajudando ela a fazer uma festinha de aniversário para o Samuel - tia Rita disse já fechando a porta

"Samuel", um nome que eu já não escutava a um certo tempo, mas que ao ser pronunciado me trouxe a memória, em instantes, um menino de cabelos finos e castanhos, que mal alcança meu joelho e que tem sérios problemas quando o assunto é falar, Samuel... que saudade desse garoto!

Me lembro muito bem o que minha tia me disse na noite passada, que eu precisava dar um tempo pra Megan, pois bem, uma tarde e uma noite é tempo suficiente, ela tá lá na Plugar e essa é minha chance, minha chance de dizer pra ela que as coisas não são exatamente como ela pensa, preciso fazer ela acreditar em mim, acreditar que eu não fiz nada do que a Manuela falou.

Corri para o meu armário e tirei a primeira blusa e a primeira bermuda que vi a minha frente, corri para o banheiro para me trocar, escovar os dentes e pentear meu cabelo, que está todo bagunçado, só que tudo isso ao mesmo tempo, se a Megan tá preparando uma festa para o Samuel, não quero chegar atrasado.

Respirei fundo ao terminar minha caminhada de poucos quarteirões, não pelo cansaço, mas pelo o que eu tenho para enfrentar, a Plugar parecia a mesma, radiante, cheia de crianças e luz, diferentemente de mim, que essa manhã acordei mais pra baixo impossível, mas a Megan tá na Plugar, é por isso que continua a mesma.

Cheguei perto da entrada e as crianças já foram me dando saudações de todos os tipos e me informando que a "tia Megan", estava lá dentro, o que é bom, por que eu quero realmente falar com a tia Megan, só não sei se ela vai querer me ouvir...

Subi os pequenos três degraus de madeira e a primeira coisa que vi foi alguns balões azuis saindo pela porta da sala da Megan, então é a alí que ela vai fazer a festinha, então o mais provável é que ela esteja lá também, respirei fundo e caminhei até a porta.

Luene saiu antes de mim e já foi logo me empurrando para trás.

– O que você tá fazendo aqui, Davi?

– Como o quê? - me soltei dela - esse é o meu local de trabalho Luene, eu dirijo a Plugar junto com o Herval

– Tanto faz, mas você não pode entrar aqui e falar com a Megan - ela disse em um tom autoritário

– Como não posso? E porque? Megan é minha namorada e...

– A Megan não é mais sua namorada - Luene me interrompeu - você fez uma mancada daquelas e ela tá muito magoada, o único motivo dela estar aqui é pra fazer a festa desse garoto, então por favor Davi, não faça ela desistir disso e ir embora

– Mas eu não fiz o que ela acha que eu fiz Luene, eu preciso explicar pra ela que é tudo mentira da Manuela

– Davi você não...

– Faz favor Luene - a empurrei para o lado - dá licença que esse assunto não te dá nem ao respeito

Desde quando a Megan tem guarda-costas? Bom, desde sempre, mas desde quando é a Luene? Que coisa insuportável, parece que ninguém aqui quer que eu me acerte com a Megan, todo mundo sempre deu a maior força pra gente.

Respirei fundo novamente, para não entrar na sala irritado, mas não serviu de muito, mesmo assim entrei devagar e com passos leves.

As portas de correr que dão acesso ao campinho, estavam abertas, deixando a luz do sol e o ar puro entrar, Megan estava arrumando a mesa do bolo, cada detalhe parecia ter sido feito à mão, mas com um toque profissional, os dedos longos e finos, que eu já disse serem de pianista, caprichavam na pintura de uma pequena bola de futebol de isopor.

Um raio de luz refletiu na maçã do rosto dela, parecia ter o rosto todo iluminado, ou então é só minha imaginação, ela está mais bonita neste dia, mas parece também ter uma névoa escura sobre si, de tanto olhar e prestar atenção nos detalhes, acabei me desviando do meu real objetivo, falar com ela.

Antes mesmo que me deixasse entrar um pouco mais na sala, Megan percebeu minha presença, mas ficou séria, apenas me observando com um olhar que eu nunca vi antes, um olhar de raiva e angustia ao mesmo tempo, um olhar de dor, me aproximei.

– Megan...

– Me escuta bem, Davi - ela me interrompeu com um tom baixo porém audível - eu estou aqui única e exclusivamente para o Samuel, porque ele não tem culpa do que aconteceu, mas se não fosse o aniversário dele eu não estaria aqui, porque eu tenho nojo só de olhar pra você

Foi como se alguém enfiasse uma faca no peito, a sensação foi a mesma só que interna, meu coração se dilacerou, sensação que nunca tive igual, cheguei a me assustar com a dor intensa, Megan tem nojo de mim agora?

– Agora me dá licença

Megan saiu da sala sem olhar para trás, me deixou sangrando sozinho, perplexo no vazio, tentando acreditar que aquela que estava a minha frente, poucos segundos atrás, um dia já foi a mulher que amei e ainda amo.

A

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• Megan •

Abri a porta do banheiro, entrei e, a fechei em um giro, segurei a pia com as mãos, me apoiei em cima, com a cabeça abaixada, despejei tudo ali naquele ralo, um choro angustiante saiu como se estivesse se libertando, soltei a pia e passei a mão sobre minha testa, tentando aliviar a angustia, estava muito quente, molhei os dedos e passei sobre o rosto, de onde vem esse choro?

Meu coração ficou apertado, a mão no peito serviu de alívio e para verificar os batimentos, como eu vou conseguir viver assim? Se só de ver Davi, falar com ele, eu fico nesse estado?

Eu queria dizer que ainda o amo, queria pedir que ele ficasse junto a mim, mas a cada lembrança é como se eu sufocasse, meu coração se despedaça, só de lembrar o que ele foi capaz de fazer.

Quando eu o vejo e não posso beijá-lo, é como se alguém arrancasse um pedaço de mim, porque ele de alguma forma é parte de mim e eu dele, ou pelo menos eu achava que era, agora já nem sei mais.

Mas hoje eu não tenho o direito de me dar tal luxo de ir embora, chorar o dia inteiro em algum canto do meu quarto, hoje o dia é do Samuel, é o aniversário dele e se não fosse por mim, se não fosse por eu ter dado a ideia de fazer uma festinha aqui na Plugar, ninguém tinha lembrado dele.

Levaram ele pra São Paulo, mas não gostaram dele, não era o que "esperavam", ele voltou e em pouco tempo já tava sendo mandado pra Brasília, para um casal que, achava-se, dar "conta do recado", e agora ele voltou de novo, é o aniversário dele e ninguém se lembrou, mas eu fiz com que lembrassem, não posso desistir agora.

Respirei fundo, molhei o rosto novamente para que ninguém percebesse que chorei, encarei meu semblante no espelho, parecia estar recoberta uma uma imensa névoa de dor, nem eu mesma estava me reconhecendo, onde está aquela Megan sorridente? Que todo mundo diz sempre estar contente? Onde está a Megan que sempre olha o lado bom das coisas? Onde tá essa Megan?!

Quando finalmente tomei coragem de sair do banheiro, a minha surpresa não poderia ter sido maior, muito menos melhor, Samuel parado a poucos metros olhando pra mim, com um sorriso no rosto, foi como e nos conectássemos depois de tanto tempo, ele correu até mim e eu o coloquei nos braços, estava mais pesado, nossa, ele tinha crescido muito.

– Que saudade que tava de você Samuel

– Eu também tava com saudade, tia Megan - ele disse ainda sorrindo, mostrando os pequenos dentinhos

– Ele cresceu muito, Rita

– Num é menina? Também achei, a diretora do orfanato deixou ele passar essa tarde aqui com a gente

– Nós vamos brincar de pintar, tia Megan? - ele disse com uma dicção tão perfeita e as voz tão fofa, onde está o "menino que não fala"?

– Nós vamos fazer o que você quiser, sabe porque? - ele fez que "não" com a cabeça - porquê hoje é dia de festa!

– De festa?

– Claro, hoje não é o seu aniversário?

– Você lembrou - ele deu o sorriso mais lindo do mundo, que vontade de morder

– É claro que eu lembrei e é por isso que eu e a tia Rita fizemos a festinha pra você - levei ele até a sala - você gostou?

– Eu amei! Obrigado tia Megan - aquele agradecimento tocou fundo no meu coração - eu te amo - os bracinhos curtos tentaram me abarcar em um abraço, o mais aconchegante e apertado que existe

– De nada meu amor

Apresentei Samuel a cada detalhe da mesa, coloquei-o no chão para que pudesse apreciar tudo, o sorriso que se formava a cada descoberta entre as balas e pirulitos fazia meu coração explodir de alegria, como é bom ser presenteada com esse sorriso.

Rita chegou com uma bandeja cheia de pequenos copos de suco, me dizendo que a festinha já podia começar, era o que as crianças estavam esperando ansiosamente, começamos com algumas brincadeiras, que eu fui tirando de um pote, uma espécie de sorteio, preparado carinhosamente por Rita, a primeira era a favorita, uma boa rodada de pega-pega.

O campinho se encheu de risadas, sorrisos e criaturinhas de um metro de altura, ele fazem isso todos os dias, brincam da mesma coisa todos os dias, mas a inocência de uma criança faz com que um simples sorteio, que nada mais é uma ordem aleatória, se transforme em uma coisa nova e empolgante.

Com os olhos, procurei Samuel no meio de todos, para ver se ele estava conseguindo de enturmar, um grande e lindo sorriso foi o que eu vi, Samuel não estava mais parado em um canto, ele está brincando com as outras crianças, está se divertindo e, acima de tudo, está muito, muito feliz.

Não importa as complicações e dificuldades que eu tive pra proporcionar esse momento pra ele, com esse sorriso, tudo já foi pago, não tem como negar, a festinha é um sucesso!

A

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• Davi •

"Eu tenho nojo só de olhar pra você"

Foi isso o que ela disse, não estou surdo nem muito menos precisando limpar os ouvidos, ela disse baixo mas fez questão que eu entendesse, queria mesmo não ter entendido, até parece que não é mais ela, parece que é outra pessoa.

Levei o copo de cerveja a boca, estava quente, já vi que hoje é o dia de tudo dar errado mesmo, reclamei com o garçom, o único do pequeno bar, o qual eu só frequentava pra escutar a banda do irmão da Manuela tocar, agora é pra afogar as mágoas mesmo.

Enquanto o atrapalhado garçom foi trocar minha cerveja, quase nem percebi, mas uma figura familiar passou em minha frente, não dentro do bar mas na calçada, o muro baixo que me permitiu ver, Jonas passou tranquilamente, como se ele andar por aqui fosse a coisa mais comum do mundo, e o pior, ele estava indo em direção a Plugar.

O garçom chegou com o copo e eu joguei a cerveja para dentro da garganta, bebi tudo em um gole, coloquei uns trocados na mesa, que deveriam pagar por uma dose, e fui atrás de Jonas, saber o que ele quer por aqui, na Marra ele pode até mandar em tudo, mas aqui na Gambiarra, a conversa é outra, ele já magoou demais a Megan.

– Hey Jonas! – consegui chamar a atenção dele, virou-se para ver do que se tratava – você andando pela gambiarra? Cansou da Marra? Pelo o que saiu no noticiário achei que fosse um dia importante por lá

– E você está certo, Davi – me respondeu com um sorriso – mas o que venho fazer hoje aqui é mais importante

– Se você veio falar com a Meg...

– Como adivinhou? – me interrompeu – é isso mesmo o que vim fazer, falar com minha filha

– Olha Jonas, você já magoou demais a Megan, ela detesta a Marra por sua culpa, pelo o que você fez com ela, não faz ela sofrer mais

– Vejo que se preocupa com ela, mas aqui não há motivo, eu vim em paz – ele sorriu novamente

Jonas estendeu uma das mãos e pude ver o que estava ali desde o começo, mas minha curiosidade em saber o que Jonas fazia por aqui não me permitiu ver, na palma da mão dele, estava uma pequena bolinha de pelos, com dois olhinhos pretos e amendoados.

– Isso é pra Megan?

Jonas sorriu e optou por não me responder, me deu as costas e continuou o seu caminho de antes de atrapalha-lo, pelo menos ele não vai deixa-la mais triste do que já está, bem, que eu acho que está, e também não tenho muita certeza disso.

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• Megan •

A brincadeira sorteada foi cobra cega, Rita emprestou um pedaço de tecido o qual enrolamos o ponto de visão de Pedro, os olhos, com um lacinho delicado na parte de trás da cabeça, o giramos uma três vezes conforme a música, para que perdesse sua noção espacial.

Arroz, feijão, salada, tutti-frutti
Onde é que você está?

Quando a musica terminou, todas as crianças correram para lugares diferentes, tentando escapar do bote da temida cobra cega que mal alcança minha cintura, mas foi divertido levantar os pequenos para que a “cobra” passasse em baixo sem saber o que acontecia, isso rendeu muitas risadas.

– Será que eu posso roubar a tia Megan um segundos de vocês crianças? – Rita entrou no meio da brincadeira

– Eu peguei você! – Pedro anunciou a vitória

– Assim não vale, a tia Rita me distraiu – reclamou Rosa

– Sem brigas, que tal todo mundo jogar uma nova partida em quanto eu converso com a tia Rita?

As crianças pularam e já começaram a organizar-se entre si, parece que deu certo, não fomos para muito longe, alguns passos para a esquerda, não deve ser tão urgente.

– O que foi? – perguntei

– Tem alguém que tá aqui pra te ver

– E quem é?

Em uma fração de segundo já não precisei mais de resposta, avistei meu pai próximo ao portão enferrujado que dá acesso ao campinho, o que daddy está fazendo aqui? Nossa, faz tempo que não o vejo.

Deixei as crianças com Rita e caminhei lentamente em sua direção, respirando pelo nariz e soltando pela boca, mantendo os pensamentos longe do que foi a ultima vez que estávamos juntos, melhor não lembrar.

– Megan! – ele anunciou quando eu finalmente me aproximei
– O que tá fazendo aqui?

– Vim te ver – dad encostou-se na parede atrás de si, com um sorriso – conversar com você na verdade

– Conversar? Não temos nDa para conversar

– Por favor Megan – ele falou em um tom sério – me escute

Respirei, pensei por uns 7 segundos e fiz que “sim” com a cabeça.

– Eu queria me desculpar com você, eu sei que o que fiz foi completamente errado, agora eu sei o quão burro eu fui, por isso que quero que você me perdoe, porque eu sou seu pai e você é minha filha, a gente precisa se entender

– Jonas Marra se desculpando? Tá doente ou o mundo realmente dá voltas? – ele me olhou com uma cara de tristeza – tá bom... eu posso revelar o que você fez – me encostei na mesma parede, ao lado dele

– Megan Lily aceitando um pedido de desculpas? E ainda por cima tão rápido? O que aconteceu com a minha menina?

– Muitas coisas... – disse com um suspiro no final

– É uma tarde linda – dad disse olhando para as crianças brincando – e temos bastante tempo

Droga, ele sabe mesmo como me fazer “abrir o bico”, como dizem aqui no Brasil, será que conto tudo? Acho melhor contar ou ele vai descobrir por outras fontes, quando cisma que tem alguma coisa errado comigo não para até encontrar.

Temos tempo, ele tem razão, um açaí do Caolho e uma mesa de pneus coloridos, foi o que embalou minha longa história de tristeza, tudo o que de ruim aconteceu nesses últimos meses.

Quando finalmente a última palavra foi dita, dad me olhava de uma forma acolhedora, como se estivesse para dar um conselho que um bom pai dá para uma boa filha, não é que eu estava certa?

– Eu sei que provavelmente você já deve ter conversado com a sua mãe sobre isso – fiz que sim com a cabeça – e o que eu acho sobre essa situação, é que você deve escutar o que Davi tem a dizer

– Mas dad...

– Me escuta Megan, eu sei que não tenho crédito nenhum com você, mas se eu fiz tudo errado desde o dia que você nasceu, eu faço questão de fazer o certo agora, confia em mim, escuta o que ele tem pra dizer, se ainda assim o seu coração não aceitar ele, então é porque realmente não era pra ser, é melhor esquecer sabendo que lutou, do que sofrer sabendo que nunca sequer tentou

Dad e eu nunca conversamos dessa forma, tão aberta e sem qualquer tipo de impasse, o que ele disse começou a fazer sentido pra mim, o que eu até agora não entendi, dad fez com que tivesse algum sentido, contar isso a ele, é como tirar um peso enorme das costas, como se estivéssemos em divida em uma relação que transcende a matéria.

– Vai seguir meu concelho? – ele concluiu com uma pergunta

– Vou, se você me contar o que tem nessa caixa e porque tanto cuidado pra ela não balançar - a caixa colocada por ele em cima da mesa, desde o início da conversa, me encarava

– Oh, já ia me esquecendo – ele abriu a tampa de papelão com cautela – é pra você

De lá de dentro, dad tirou uma pequena bolinha branca e felpuda, tão branca que eu poderia jurar que era neve, exceto pelas orelinhas sobre o que pareceu ser a cabeça, o rosa do interior dela chegava a destacar, dois olhos pretos e amendoados se encontravam pouco a baixo, pude escutar um “miu” de saudações.

– É um gatinho?

– Gata, é fêmea – dad me corrigiu e colocou a criaturinha entre minhas mãos, tão quentinha ela me olhava com uma carinha irresistível – você lembra quando tinha seis anos e cismou que queria uma gata da loja de animais?

– E você não me deu porque é alérgico – passei minhas unhas na cabecinha pequena dela, agradeceu com um ronronar

– Exatamente – ele sorriu – bem, infelizmente aquela gatinha não existe mais, mas essa aí é a neta dela

– O que?! Tá me dizendo que você foi atrás daquela gata que vi quando era pequena?

– Sim, eu fui e, foi muito difícil encontrar porque... – eu sorri pra ele para mostrar que não adiantava, nada é “difícil” quando se trata de Jonas Marra, ele riu – confesso, não me custou muito

– Tudo bem, só de ter lembrado já é incrível – coloquei a gatinha na mesa – obrigada pai

Pela primeira vez, em muito tempo, eu consegui chama-lo de “pai”, sempre digo dad isso ou dad aquilo, mas dessa vez eu senti vontade de dizer a palavra “pai”, foi mais forte que me sotaque, foi verdadeiro, aposto que ele notou também.

O abracei fortemente, que saudade desse abraço! Não notei o quanto o desejava até esse momento, o quão especial é pra mim, mesmo que briguemos o tempo todo, sempre é a mesma coisa, não conseguimos ficar longe um do outro por muito tempo.

Ao fim do abraço, ele sorriu, um sorriso sincero e feliz, como a muito tempo eu não via um em seu rosto, beijou minha testa e se levantou, disse que precisava ir.

– Mas e o Samuel? Não falou sobre ele

– A sua mãe já falou sobre...
– Mas eu quero saber o que você acha – frisei bem o “você”

– Adote o menino – ele disse com um sorriso – é o que te faz feliz, não é?

– Sim, muito

– Eu quero que faça o que te faz feliz Megan, tenho certeza que será uma ótima mãe pro Samuel, saiba que eu lhe apoio nisso

Fechando minha mão em forma de punho e a beijando, meu pai andou na direção da saída, mas parou antes para falar algo que havia esquecido.

– Você tá diferente peaunuts – que saudade eu senti de ser chamada assim, é a melhor sensação do mundo – você mudou, não se preocupe que foi pra melhor, não digo só pela fala... o seu semblante tá mais vivo, seu sorriso mais feliz, você amadureceu muito, pude perceber só em sua forma de me contar o que aconteceu – dad parou, pensou um pouco, e com um sorriso concluiu sua despedida – alguém que te faz mudar assim, não me parece ser o traidor que você disse

Ele fez mais uma pausa, fazendo com o que eu pensasse no que acabou de dizer, foi inevitável.

– Mas continua sendo a minha Megan – apontou com o queixo para o meu colar, “MG” Marra Girl... – tchau Megan!

Dad já estava no portão, acenando pra mim, mas imersa em pensamentos não havia sequer percebido, será que ele tem razão?

– Nos vemos mais tarde, não é pai?

– Tchau Meg – ele disse com o mesmo sorriso

Com um aceno leve, Rita chamou minha atenção de dentro da minha sala de aula, com gestos ela me disse que estava na hora de cantar os parabéns para Samuel, sacudi a cabeça afim de espantar os pensamentos e fui ao encontro dela, chamando todas as crianças comigo.

Olhando o todo não como parte, mas como um conjunto, a mesa do bolo estava a coisa mais linda, tudo em verde e amarelo, as cores favoritas do meu pequeno, e como ao ser perguntando por seu esporte favorito, alguns meses atrás, ele respondeu “futeblol” , era assim que a mesa estava decorada.

Bolinhas de futebol e jogadores com a camisa da seleção por todos os lados, garrafinhas de leite decoradas com um uniforme das cores da festa colado na frente, lembro-me o quanto trabalho e tubos de cola quente foram gastos!

Pequenas latinhas com algumas das balas favoritas de Samuel, todas também personalizadas com o nome dele, e muitos, muitos docinhos! Uma cadeira foi posta para que Samuca alcançasse a vela no topo do bolo caseiro.

Todas as crianças da Plugar apareceram, alguns voluntários, Herval e... Davi, que apareceu na porta quando dois versos da conhecida música já haviam sido cantados, ele nitidamente me olhava, não desviava o olhar e nem sequer fazia questão de disfarçar.

O ignorei, tentei me concentrar nas palminhas e no sorriso de Samuel, mas volta e meia meu olhos teimavam comigo e nossos olhares se entrelaçavam, como se eu não tivesse vontade sobre mim mesma.

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• Davi •

Os bonecos de papel ainda estão na minha bancada, a cara da Megan e a minha em forma de emoticons, não sei nem sequer se devo deixar isso, talvez seja melhor guardar em alguma gaveta e esquecer de vez... mas toda vida que penso nisso simplesmente me causa repulsa, é que não dá, não dá pra esquecer ela.

– Davi? – tia Rita me chamou – meu filho? – abriu a porta do meu quarto

– Oi tia – respondi sem me levantar do meu sofá

– Ô meu filho – ela se sentou ao meu lado, passando a mão no meu cabelo – ainda tá assim? Tristinho?

– Pois é, acho que vou ficar assim por um bom tempo
– Mas eu tenho uma coisa que vai te alegrar, ou pelos menos alegraria á um ano atrás

Tia Rita me entregou um envelope branco, endereçado á mim, Davi Reis, vindo direto da Marra International, o que Jonas quer comigo? Abri sem muita demora, minha tia também estava curiosa.

De dentro tirei uma espécie de convite, uma espécie não, era um convite, resta saber para o quê.

Davi Reis.

A equipe da Marra Brazil lhe convida para uma reunião promovida por Jonas Marra, sua presença é indispensável e de muito valor.
Esperamos que aceite o convite repentino.
Atenciosamente,
Equipe Marra International.

Fiquei tão boquiaberto quanto tia Rita, “se estão te convidando é porque é importante”, foi o que ela disse, mas o motivo que eu vou a essa reunião não é por minha “presença indispensável”, e sim porque Megan vai estar lá, talvez agora ela já queira falar comigo, ou estou apenas me iludindo.

A

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• Megan •

A casa estava estranhamente vazia, nenhum empregado ou alma viva estava por alí, mom e tia Dorothy devem estar se arrumando com certeza, elas fazem questão de estarem impecáveis nos eventos, mas uma reunião da Marra é tão... comum, mas agora que meu pai e eu meio que fizemos as pazes, não posso fazer feio, right? O flanelo azul! Ele sempre diz que trás sorte antes de subir em um palco, deve estar no escritório dele.

Abri a enorme porta e corri para a terceira gaveta a esquerda, de tanto ele falar acabei decorando até as coordenadas, abri a gaveta, mas essa estava vazia.

– Onde estão as... – quase tomei um susto quando levantei o rosto e me toquei do que estava a minha volta, o escritório estava vazio

Os troféus nas prateleiras, os livros sobre a bancada, o porta lápis, os papéis, porta-retratos... onde estão todas as coisas? Só os moveis vazios ocupavam a sala, e um enorme quadro branco na parede, não é quadro, é a foto da nossa família, onde estão, minha mãe, meu pai, eu e a... e a Lily, porque está virado?

Sai dalí meu atordoada, mom havia aparecido, sentada no sofá ela sorriu ao me ver, mas este foi desaparecendo quando viu também de onde eu estava vindo.

– Megan? – ela perguntou

– Porque o escritório do meu pai tá vazio, mom? Onde estão as coisas dele

Dorothy, que não havia nem notado presença, abaixou o rosto e se retirou da sala, eu fiquei esperando a resposta da minha pergunta.

– Senta aqui do meu lado, meu amor – ela pediu e eu obedeci – eu devia ter te contado assim que você voltou pra casa, mas você estava tão tristinha que eu...

– Me contar o que, mom?

– Seu pai e eu Megan... nos separamos a um tempo, eram muitas brigas, constantes

– Separaram mom? Mas vocês sempre brigaram, aconteceu alguma coisa de diferente? Foi porque eu sai de casa, mom?

– No, no, sweetie – ela segurou minha mão – é que não estava dando mais Megan, a gente sabe quando chega o fim

Sorri fracamente, não posso negar, essa notícia me pegou em cheio, logo agora que dad e eu estamos bem, achava que toda a família estava bem também.

Mom e dad sempre foram inseparáveis, não importava quantas brigas, sempre acabam juntos, como ímãs, ele agia e ela seguia, o pingue e o pongue, nunca longe demais, meu pais...

– Eu conheço essa carinha, ficou triste não foi, meu amor?

– Como poderia ser diferente, mas tudo bem, eu entendo, antes de meus pai vocês são um casal, cabe a mim compreender
– Que tal a gente ir se arrumar, agora? Se não chegaremos atrasadas, nosso cabeleireiro e estilista já estão lá em cima nos esperando

– Mas você ainda vai? – perguntei

– Claro, recebi um convite individual, mesmo separada do seu pai eu ainda sou sócia da Marra, a segunda maior, tenho que comparecer – mom disse com um sorriso fraco – vamos?

– Let’s go!

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– Quando fazemos uma festa ou reunião de última hora, certamente não irão todos aqueles que convidamos, mas parece que essa regra não se aplica a Jonas Marra, esse é de longe um dos eventos mais importantes que já aconteceram no Brasil, reunindo certa de cinquenta celebridades do mundo da tecnologia, cinema, música, moda e alguns fãs fanáticos e sortudos... hi Britney! – acenou a tagarela repórter

Um grande tapete vermelho estava disperso na entrada, homens que mais pareciam armários, cuidavam da segurança das celebridades que por ele passavam, acenando e fazendo poses para os fotógrafos, que eram dezenas de milhares deles, se é que este número existe.

Um carro preto e altamente sofisticado, parou na entrada dos convidados, que dá acesso para o tapete vermelho de veludo, havia um homem encarregado apenas de abrir as porta dos carros e receber os convidados, quando este deu indícios de que iria fazer o seu trabalho, foi uma grande chuva de luzes, os fotógrafos pareciam conhecer o carro, já sabiam quem sairia de lá, ou só estavam apostando na sorte.

De lá saiu Pamela Parker, a mulher de Jonas Marra, estranhamente não acompanhada pelo marido, isso foi ressaltado pelos repórteres que narravam o que ela estava vestindo, logo após veio Dorothy e Brian Benson, o guru do mistério.

E por último, mas não menos importante, saiu do carro a adorada Megan Lily Marra, filha única de Jonas, e também única herdeira de todo esse e outros patrimônios, como uma repórter descreveu, Megan estava usando um vestido aveludado, lilás escuro e com algumas pedras prateadas, o cabelo preso em um coque levemente solto e com uma trança na lateral, com um fio ou dois ultrapassando o limite e alcançando os ombros.

Um colar de diamantes, brincos e uma pulseira de mesma linha compuseram o restante do modelo, ressaltando os olhos cativantes de Megan, os famosos “olhos de borboleta”, capazes de lhe prender por horas, uma bolça cheia de pequenas pedras estava em sua mão.

– Megan! O que você está vestindo? – uma repórter quase invadiu o tapete vermelho para conseguir uma palavra dela

– É Channel – ela respondeu, como quase sempre, a linha de roupas de grife favorita da garota

As celebridades já haviam entrada na sede da Marra Brasil, os fotógrafos aproveitaram para trocar os filmes de suas câmeras e apreciar as fotos retiradas, chegando de forma diferente de todos os que por ali passaram, Davi chegou andando ao tapete vermelho, mesmo assim conseguiu diversos fleshes, o ex-sucessor de Jonas ainda é notícia.

Vestindo um paletó cinza claro, com um lencinho de bolço na cor azul, Davi sorriu desajeitado para os fotógrafos, tentando responder a todos, quando o certo é apenas ignora-los e sorrir, a repórter intrometida fez a mesma pergunta ao menino.

– Davi Reis! Quem você está vestindo?

– Hãn.. é Greta Alugueis de última hora!


Todos estavam trocando palavra no auditório da empresa, quando o início da reunião foi anunciado, os nomes estavam marcados nos assentos, Davi procurava o seu entre tantos outros, quando finalmente encontrou e virou o rosto com um sorriso, seu olhar se esbarrou nos de Megan Lily, cujo nome estava grafado na cadeira ao lado da dele.

Sem palavras e sem reação, pois Jonas ainda não devia saber do término dos dois ou não teve tempo de mandar que alguém mudasse, esticou a mão para ajudar Megan a se sentar, mas ela ignorou e sentou sem ajuda, “pelo menos ela não está mais com a cara de nojo”, pensou Davi.

Todos sentados, estava tudo pronto para começar a reunião, mas as luzes apagaram todas de repente, assuntado os convidados, um projetor foi ligado e uma mensagem apareceu na enorme tela de LED.

“JONAS MARRA É UMA FARSA!”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do enoooorme capítulo, o que será que essa frase do final quis dizer? Deixe aqui nos comentários o que você acha!
Beijos e até o prox capítulo.