Diário de Bordo - Hammock Flying escrita por Sasagawa


Capítulo 2
Capítulo #01




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15 de Março de 2118 – Hammock Flying

(Céu do Arquipélago de Yandré)

Apenas sobrevoei o alto das nuvens. O teto da cabine do piloto estava aberta para que eu pudesse sentir essa sensação gostosa de liberdade com o vento batendo na minha cara. O que mais eu poderia querer? Tudo estava muito bem. Estava pronto para desbravar o Arquipélago de Yandré, minha próxima parada. De repente, devido a uma pequena falha do gerador da máquina, a Hammock Flying perdeu altitude, e ao chão seu destino foi traçado. Como estava descansando da longa viajem, não percebi nada, absolutamente nada a minha volta, até Hammock raspar a “barriga” no chão.

Num ato desesperador, acordei do meu sono e logo puxei a alavanca principal, o freio de mão, para parar a embarcação. Com bastante brutalidade Hammock atravessou a parede de uma construção e aterrissei em um cômodo.

– Minha cabeça...

Levantei a cabeça do painel de controle. Havia batido nele. Felizmente, não saí muito machucado por conta do cinto de segurança. Um pouco de sangue escorria da minha cabeça. Peguei um pano do bolso da minha jaqueta e o limpei. Depois, sacudi a poeira da jaqueta. Minha roupa estava com rasgos nas mangas e cortes na calça. Levantei da cadeira do piloto e caminhei cambaleando para fora da nave, me apoiando na porta dela. Encontrei uma pequena salinha bastante apertada, com uma aparência bastante rústica. Suas paredes eram feitas de tocos de árvores, com um tapete em formato de urso-pardo e uma lareira bem velha e desgastada. Os móveis da casa estavam todos espalhados pelo chão. A Hammock acertou em cheio, arremessando cadeiras, mesas e armários por toda a sala. Que estrago! Como iria pagar por tudo aquilo?

– Olá? Tem alguém aí? – Exclamei, verificando se ninguém havia se machucado.

Olhei e me aproximei da lareira, um pouco mais consciente e percebi que a mesma se encontrava morna, indicando que acabara de ser apagada. Olhei com certa estranheza, afinal, encontrava-me em lugar desconhecido, sem ter para onde ir, e com uma fome desgraçada. Aqueles não eram bons sinais para um aviador naquele momento. Coloquei minha mão ao queixo, e tentei pensar em uma solução para arrumar aquilo tudo.

Ouvi passos vindo em minha direção. Olhei para trás e não vi ninguém. Será que meus ouvidos me enganavam? De repente, um caixote de madeira voava em minha direção. Me agachei, desviando do projétil, que estourava na lareira. Estava espantado, se bem que não mais do que o possível dono daquela casa. Não é todo dia que uma nave, mesmo que pequena, atropela a sua parede da sala. Um homem barbudo, careca, com um nariz grande e redondo, trajando uma camisa de manga comprida verde-escura, uma calça jeans esfarrapada e sapatos pontudos marrons, com uma barba negra e encaracolada, cobrindo boa parte de seu pescoço, gritava e corria em minha direção. Parecia que iria me dar um abraço de urso. Na hora do ataque dele, desviei dando um passo para trás e soquei sua barriga. O homem fechava seus olhos castanhos e gemia de dor, colocando a mão no local do soco.

O corpo do homem caiu no chão, fazendo um barulho bastante alto. Para minha sorte, aquela era uma casa deserta, isolada do mundo. Ainda não haviam descoberto novos locais do Arquipélago de Yandré, que tinha fama de “Arquipélago Inexplorado”. Era por isso que estava ali, simplesmente para catalogar novos locais e me aventurar por novos céus. Pelo menos essa era a teoria, na prática, não foi bem isso que aconteceu.

Vamos dar uma pequena pausa nessa história. Encontrava-me em um lugar estranho, com um total desconhecido, que acabara de tentar me nocautear com um objeto que parecia um caixote, caído atrás de mim, e sem ideias de como iria sair daquele local. Como eu poderia estar pensando em mim mesmo? Na minha vida? Eu só posso estar ficando louco. Realmente o que dizem é verdade: “Vida de aviador é pouca, principalmente se você é um ‘cabeça de vento’”. Realmente é o meu caso. Vamos parar de falar sobre isso, e voltar ao que interessa. Por que eu fui atacado? E o pior: Por um caixote de uvas? Esse homem realmente não tinha nenhuma arma de verdade, ou algo que pudesse pelo menos apavorar um pouquinho? Quem ele pensa que é para tentar desacordar David Hersey, o aviador mais... Mais o quê? Realmente, não estou numa circunstância boa para me autodenominar com algum título importante. Mas se me lembro bem, tudo isso começou com aquele dia. Sim, o dia em que finalmente me transformei num aviador oficializado pela C.P.A.Q. O dia em que meu sonho enfim se realizou!

Lembro que no dia 22 de janeiro de 2116, comemorava por estar finalmente saindo daquela escola para poder me aventurar pelo mundo inteiro. Havia acabado de me formar na Escola Preparatória de Aviação do Comitê dos Pilotos Altamente Qualificados. Poderia enfim ser um piloto oficializado pela C.P.A.Q. Tinha várias ideias, como a de formar uma esquadrilha chamada “Diêlow”. Agora não me lembro bem o porquê deste nome, mas, enfim, não era importante.

Se me recordo bem, momentos antes de eu ir até a sala de locação para saber qual seria a nave que a escola designou para mim, um velhinho com uma barba longa e branca, usando um capacete de aviador com uma túnica roxa, calça preta e sapatos marrons veio até mim. Ele possuía olhos verdes e lembro que as vezes zoava o seu fino e grande nariz. Como eu era idiota naquela época. O velhinho era o meu mentor. Seu nome era Vindy Luper. Ele que era responsável por nos ensinar todo tipo de matéria sobre aviação. Boa parte das coisas eu já sabia, pois meu avô, Josef, já havia me ensinado. Não aguentava nenhuma aula. Eu era muito apressado e não tinha paciência em ouvir nada do que aquele senhor me falava. Mesmo que fosse repetida, eu deveria ter tido respeito com ele, e não ficar criando algazarras na sala de aula por conta disso. O pior mesmo foi quando ele queria conversar comigo e eu gritava “CALE A BOCA, VELHO MALDITO!” ou “NÃO ME INTERESSA O QUE VOCÊ QUER ME FALAR! VAZE DAQUI!”. Hoje me arrependo amargamente de ter feito isso com ele. Mas voltando, ele queria me mostrar alguma coisa. Como eu era o “David Babaca”, gritava com Luper para que ele me deixasse em paz e pudesse ir até a sala de locação das naves. Aquele senhor cuidava muito bem de mim e se preocupava bastante. Acho que o único defeito dele, analisando agora, era que ele me comparava muito com meu pai. Acho que isso era um dos motivos de desrespeitá-lo tanto durante a graduação. Pelos boatos que eu ouvia, Vindy e meu pai se conheciam e eram grandes amigos. Eu sempre tive um ódio muito grande pelo meu pai. Lumper queria me levar até uma garagem especial da escola. Naquele dia, se me lembro bem, não era uma simples garagem, mas uma espécie de “Museu da Família Hersey”. Era uma grande área aberta, fechada por uma grade de ferro sólida. Dentro da garagem, havia uma grande engenhoca coberta por um pano velho e desbotado. A todo momento eu criticava e xingava o pobre senhor, dizendo coisas do tipo “VOCÊ É MESMO UM VELHO ESCLEROSADO! PRA QUE ME TROUXE A UM LUGAR SUJO E IMUNDO COMO ESTE?”. Mal sabia eu que debaixo daquele pano velho estava aquilo que me levaria às alturas! Falo da Hammock Flying! Inicialmente, não gostei do visual dela. Achava que aquilo iria desmontar na primeira vez que levantasse voo. Luper continuava a fazer propaganda da nave, contando que meu avô, Josef Von Hersey, havia utilizado ela e que havia passado para meu pai logo em seguida. Na época não sabia se deveria ficar feliz em saber que meu avô a utilizou ou se ficava com vontade de destruí-la por saber que meu pai havia encostado nela. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Lumper me entregou um pequeno emblema para usar na jaqueta. Era o brasão da Família Hersey. O brasão era um escudo com duas divisórias centrais, uma vertical e outra horizontal, que o dividia em quatro quadrados. Cada quadrado possuía um animal. O primeiro era um Leão, o segundo era um Tigre, o terceiro, um ouriço e o quarto, um urso marrom. Nunca parei para analisar o que cada animal representava. Lembro que não gostava muito do ouriço por acha-lo um animal idiota. Novamente, eu me arrependo e muito de ter sido aquele “David”...

Depois de muito conversar comigo, Lumper conseguiu me convencer a pegar a nave, contado histórias de como meu avô a usou em suas batalhas até o momento de sua morte, onde morreu para Sir Saint Drummon. Lumper não quis me contar muitos detalhes a respeito da batalha. Um dia ainda saberei o que aconteceu. Aquele momento de conversação, onde Vindy Lumper me mostrava o que era ser um aviador de verdade, me comoveu e me fez mudar totalmente. Se não fosse pelas histórias que Lumper me contou sobre meu avô, eu jamais teria crescido e me tornado a pessoa que eu sou hoje.

Pois é, foi uma graduação inesquecível. Inclusive, tenho que visitar Lumper qualquer dia desses, para lhe contar minhas novas aventuras. Se bem que isso só será possível se eu conseguir dar um jeito de sair daqui sem ser atacado novamente. Por falar em ataque, quem era esse homem? Está certo que ele habita esta casa e que só me atacou porque viu um louco “estacionar” sua nave dentro de sua sala de estar, mas ainda não sei nada a respeito deste marmanjo. Será que ele é...

– Quem ousa derrubar Igor Von Kaizer em sua própria residência? - O homem sentava no chão, coçando a barriga.

– Isso pode ser considerado um pecado coorporativo! Eu sei disso, porque meu amigo de Gársabe já... - O homem dava uma pausa misteriosa em seu diálogo, se colocando a me observar - Você se parece muito com... Não, não acredito! David, é você?

– Sim, sou eu... – Respondi um pouco confuso.

– Rapaz, há quanto tempo eu não te vejo? Tempo não, anos! Faz anos que eu não te vejo! Se me lembro bem, você ainda era bem piquititinho assim. – Dizia o homem enquanto fazia um movimento com as mãos de forma que mostrasse um pequeno tamanho. Bastante compreensível, pois segundo ele, eu ainda era um bebezinho na época em que me viu pela última vez.

– Oh! Você parece surpreso. Vendo um tio seu de muitos anos... Parece que os ventos novamente me trouxeram a felicidade, ou quase... – Dizia Igor observando com uma expressão depressiva para o local em que minha nave se encontrava.

O estrago era bem grande. Quase que aquela sala virava pó. Por muita sorte, a nave não acertou o quarto em que Igor repousava. E que sorte foi, diga-se de passagem.

– Tirando este pequeno incidente, acho que tudo ficará bem. Vamos esquecer isso e tomarmos um gole do mais puro licor dos deuses: Dinfërment!

– Dinf... Dinfirmint? – Perguntava enquanto observava Igor tirar de seu refrigerador uma garrafa de vidro marrom, contendo o que parecia ser um tipo de bebida alcóolica.

– É Dinfërment! DIN-FËR-MENT! – Resmungava o tiozinho enquanto derramava uma pequena quantia da bebida em meu copo.

Notei que Igor virava a garrafa como se fosse um copo gelado de água. Aquilo me incomodou um pouco:

– Hey! Por que você bebe em maior quantidade enquanto eu fico com esta pequena dose? Encha um copo digno de um homem para mim! – Dizia em um tom orgulhoso.

– Você? Um homem? Há! Como ousa dizer que é homem se nem pelo no rosto você tem! Homem, huh! Essa é boa. Hahaha! – Gargalhava Igor enquanto dava uns tapas na mesa de forma bem energética.

– Pode rir à vontade. Quando eu fizer um mapa completo do Arquipélago de Yandré, serei nomeado com a grande estrela da exploração e receberei o título de “Descobridor Aéreo”.

Igor parava de rir, me olhando com um rosto assustado. Parecia que finalmente havia mostrado para ele quem eu era.

– Mapa completo do... Arquipélago de Yandré? Pff... – Igor segurava o que parecia ser uma grande risada. Comecei a ficar bastante estressado com o gesto daquele homem.

– Hahahaha! – Não conseguira conter sua risada. - Essa é a maior piada que eu já ouvi, meu pequeno sobrinho. Onde já se viu? Criar um mapa completo de Yandré? Isso já foi feito á mais de 45 anos atrás. Hahaha!

– Qua-Quarenta e cinco anos? – Me espantava. - Mas então, por que eu fui requisitado para uma tarefa já cumprida? Isso não faz sentido algum! – Dizia enquanto levava minha mão ao queixo. Pensava em alguma resposta que pudesse responder aquele problema.

– Espere um pouco... Você acaba de me chamar de sobrinho? – Apontei para Igor de forma inusitada. – Que história é essa de sobrinho?

Estava tudo tão confuso para mim. Primeiro, descubro que a minha missão foi apenas perda de tempo. Depois, que o homem que nocauteei há alguns minutos atrás era meu tio e que estava bebendo licor e rindo de mim como se já fossemos íntimos um do outro. O que estava acontecendo? Quem realmente era aquele homem? Será que estava me contando a verdade? Será que eu tinha um tio beberrão que adorava tirar os outros? Não fazia sentido nenhum pra mim.

– Claro que te chamei de sobrinho. Esperava o que? Que eu te chamasse de “vovô”? Ora, David. Pare de brincar. Você realmente quer que eu acredite que você, meu sobrinho favorito, tenha se esquecido de mim, seu adorado tio? Faça-me um favor, David. Não brinque mais disso, tudo bem? Por um instante, realmente estava achando que você havia...

– Mas nunca vi você em toda minha vida!

Igor se espantara com a minha reação. Parara de beber e repousava sua garrafa de Dinfërment em uma pequena mesa de madeira. Aquilo que ele nunca esperaria ouvir foi dito. Será que ele é realmente meu tio? Não custa perguntar:

– Você tem certeza que está falando com o David certo? Deve haver um milhão de Davids por aí. Você deve estar se confundindo. É a idade. Meu avô costumava dizer que a idade...

– Afeta mais a cabeça do que a própria coluna... – Respondia bastante sério, Igor.

Olhei com certo temor para Igor. Como aquele homem sabia do ditado que meu avô dizia? Apenas amigos e familiares próximos a ele sabiam da existência desta frase. Por ser bastante velho, meu avô vivia reclamando de dores nas costas. Coisa normal de velho. Mas para piorar, ele começou a ter uma memória fraca, que o fazia esquecer-se das coisas com bastante facilidade. Uma das grandes justificativas para a morte dele foi que ele havia se esquecido, enquanto combatia Sant Drummon, de acionar o botão de ejeção do seu assento, o que poderia salvar sua vida. Eu, pessoalmente, não acredito que um grande aviador como ele se esqueceria de um pequeno detalhe. Pequeno não, fundamental! Afinal, uma das primeiras regras que aprendemos na C.P.A.Q. foi: "Certifique-se de conhecer bem sua própria aeronave, para que em momentos emergenciais o usuário possa lidar com a situação de forma inteligente". Modéstia a parte, mas meu avô foi um dos melhores pilotos que aquela Academia poderia ter.

– Nada a dizer, jovem David?

– Você realmente é meu tio? - observava mais uma vez Igor, mas desta vez com um olhar mais cuidadoso. Queria ter certeza que ele fazia parte da família Hersey. - Então me responda: Como é o brasão da família Hersey?

– Você só pode estar brincando! Você acha que eu não conheço bem o histórico da família? Hahaha! O brasão da família contém as imagens de um ouriço, um urso, um tigre e um leão. Ainda dúvida que sou seu tio? Haha!

– Qual é a cor do urso? - O perguntei com um sério olhar no rosto.

– A cor? Bem... Pelo que eu me lembro, era um urso... Droga, Frederic! Por que você tinha que destacar uma cor para esse maldito urso? – Indagava Igor enquanto gritava para os céus levantando seus braços. Parecia que o responsável pela coloração do urso estava no teto de sua casa, e Igor reclamando com ele.

Tinha certeza absoluta de que Igor não conseguiria responder a minha pergunta. Cada vez que olhava para ele, notava que ele estava cada vez mais frustrado e desesperado para responder corretamente.

– David, há tanta necessidade assim para saber a cor do urso? Não vou mentir para você, mas eu não consigo me lem...

– Não será mais necessário, tio Igor. - Cortava a pergunta de Von Kaizer com um sorriso no rosto.

– Ma... Ma... Mas como? - Gaguejava Igor. - Como poderei provar para você que sou seu tio, sem dizer a cor do urso?

– No momento em que você disse "Frederic", pude perceber que o senhor conhecia meu pai, não estou certo?

– Sim! Seu pai foi um grande amigo meu. Lutamos inúmeras batalhas juntos. Com a nossa "Tríplice Aliança", éramos o melhor batalhão que podia atravessar os céus naquela época.

– Batalhão? O senhor tinha um batalhão? Quem fazia parte dele?

– Apenas três pessoas: Josef Von Hersey, Frederic "Fred" Hersey e eu, Igor Von Kaizer.

Enquanto falava, Igor tirava de uma gaveta um porta-retratos e me mostrava uma foto desgastada. Três homens sorridentes estavam posando para a foto. O primeiro possuía um cabelo claro e arrepiado. Usava uma jaqueta de couro preta com uma calça jeans rasgada. Era magro e alto, mas nada que camuflasse sua rebeldia. O segundo usava um cabelo mais arrumado, preto, com roupas mais certinhas. Uma camisa polo e uma camisa jeans impecável. Possuía estatura mediana. O último possuía uma barba “a fazer”, com um grande topete. Usava uma camisa de manga comprida e um short que ia à altura de seus joelhos. Era alto e possuía um abdômen forte. A foto, por ter sido tirada a bastante tempo, estava em um tom preto e branco, dificultando qualquer análise quanto à coloração das roupas.

Estava tão vidrado naquela foto que nem me lembrava de associar o esquadrão às pessoas naquela foto. Felizmente, Igor agiu rapidamente:

– Então, David... Alguma ideia de quem seja quem nessa foto? Lembrando que no esquadrão havia apenas...

– O primeiro, pela cor de cabelo mais clara e roupas surradas, diria que é o idiota do meu pai. O segundo, com esse jeito mais “mauricinho”, chutaria que é o vovô Josef. Agora esse último... – Igor parecia bastante esperançoso. – Não faço a mínima ideia de quem possa ser...

Von Kaizer dava um tapa em sua própria testa. Parecia que estava desapontado com minha resposta. Mas afinal, quem seria aquele homem? Se não era o babaca do meu pai, nem o meu querido avô, então...

– ESPERE UM MOMENTO! – Gritava com todas as minhas forças. – Não me diga que esse é...

– Sim! Este é Igor Von Kaizer! Em outras palavras, seu tio. Eu!

Não acredito! Aquele tiozinho topetudo era Von Kaizer? Isso só podia ser um engano. O homem na fotografia era muito mais descolado que ele. Nem ao menos eles se parecem. O que será que aconteceu com ele para ficar com esta triste aparência? Falta de academia? Não. Olho gordo nos sanduiches dos outros? Talvez.

– Hey! O que você tanto pensa aí? Será que dá para voltar para o assunto inicial?

– Assunto inicial? Verdade! Eu ainda tenho que descobrir o porquê de ter sido mandado para explorar um lugar que já consta no Mapa Mundi.

– Não era isso que eu me referia, mas já que tocou no assunto... Quem foi o idiota que te mandou vir destruir a minha casa? Quando eu descobrir quem foi o canalha, vou triturar todos os ossos dessa pessoa, lançar para os cachorros e fazer um ensopado de carne com legumes utilizando o resto do corpo. Pensando bem, acho que picotar umas batatas para ferver junto com o ensopado não é uma má ideia. O que você acha, David?

– Fique longe de mim, seu velho canibal! – Gritava desesperadamente com uma perna de mesa na mão, sacudindo de forma que Igor não pudesse se aproximar de mim.

– David, o que está fazendo? E onde foi que você arranjou esta perna de mesa? – Perguntava inocentemente, Igor.

– Não mude de assunto, carnívoro humano! Você planejava fazer um...

– Cof... Cof... Cof...!

Igor e eu rapidamente olhávamos os destroços que a Hammock havia feito, para tentar identificar de onde estava vindo aquele barulho.

– Igor, você tem filhos? – Perguntei com um olhar sério em direção a Hammock Flying.

– Não... - Respondeu Igor desconfiado.

– É casado? – Continuei.

– Não...

– Divide a casa com algum desempregado ou vagabundo?

– David...

– Aluga a casa para algum mendigo morar?

– David...

– Possui fetiche por...

– DAVID! Para que todas essas perguntas?!

Fiquei em silêncio por um tempo. Continuava a observar com uma expressão seria para a minha nave. Igor não entendia o que estava acontecendo ali.

– Se você não tem nenhuma companhia em sua casa, alguém suspeito estrou aqui...

Igor se espantou. Por um momento, parecia estar associando o fato ocorrido com o que eu acabara de falar. Pode ser a bebida, mas Igor parecia ter...

– Alguém invadiu minha casa?! IMPERDOÁVEL!

... Um pensamento bastante lento...

– David, pare de ficar filosofando com a sua mente e venha me ajudar a acabar com este arruaceiro! – Gritava com bastante ódio, Von Karma.

– S-Sim! – Dizia enquanto acenava com a cabeça positivamente, indo de encontro com a minha nave. O som que havíamos escutado parecia vir de dentro da Hammock Flying.

– Cof... Cof... Cof... – Cada vez mais alto ouvíamos o barulho.

Olhei para Igor, que se concentrava na entrada da nave, esperando o que quer que fosse sair de dentro dela. Permaneci parado. Igor respirava de maneira forte e suava frio ao meu lado. Entreguei-lhe a perna da mesa que havia pegado e fui andando lentamente em direção à entrada da Hammock. Fiz um gesto com as mãos para que Igor me seguisse com a nova arma. Se fosse necessário, ele seria capaz de nocautear o que quer que estivesse ali.

Barulhos de passos ecoavam pelo local. Podia se ouvir o barulho da tosse com mais nitidez. Parecia que a qualquer momento, alguma coisa sairia da nave. Por um instante, um silêncio devastador ocorria no lugar. Igor segurava mais forte a perna da mesa, enquanto eu me aproximava da porta de entrada da Hammock com cautela. Eis que a porta se abre.

– Cof... Cof.. Ugh! Argh... Odeio poeira! Parece que David não conhece a palavra “limpeza”, pra avariar... Cof... Cof... Hum? E falando no desarrumado...

– Senhor... Rodrigues...? – Antes que eu pudesse ouvir uma resposta, Igor tratou de dar uma pancada na cabeça do ser que descia da minha nave, enquanto sacudia suas vestes empoeiradas. A pessoa desabava, caindo em cima de mim. No chão, já furioso, empurrei o corpo desacordado de cima de mim, para que pudesse me levantar.

– Por que você não esperou ele se identificar? Será que você não presta atenção em nada?

– Mas ele parecia tão intimidador... Não pude resistir... – Explicava Igor.

– Eu vou tirar sua dose diária de Dunfortent para você aprender.

– É Dinfërment, caramba. – Replicava Von Kaizer nervoso.

– Não interessa qual seja o nome dessa bebida. O que faremos agora? Você desacordou uma das maiores autoridades de Tenyson City!

– Errado! Quem é essa figura? – Von Kaizer coçava sua barba sem entender o motivo do grande alvoroço que eu estava fazendo. Mal sabia ele que o senhor Tennyson Rodrigues era ninguém menos que o presidente da C.P.A.Q., o Comitê dos Pilotos Altamente Qualificados.

Coloquei minha mão sobre a testa e dei um breve suspiro. Meu tio era um idiota.

– Acho melhor o colocarmos na sua cama, tio. – Sugeri.

– O QUE? Na minha cama arrumada? NUNCA! Ninguém além de Igor Von Kaizer dormirá naquela cama! – Exclamava Igor com seu dedo indicador levantado.

– Mas tio, onde o deixaremos então?

– Bom, podemos deixa-lo encostado na parede, assim ele não suja e nem infecta meus móveis com suas bactérias urbanas! - Igor parecia muito feliz com sua ideia “genial”.

Olhei para ele negativamente. Realmente meu tio era um idiota.

– Ai minha cabeça... O que aconteceu?

Igor e eu olhamos atentamente para onde o Senhor Rodrigues estava. Parecia que finalmente ele estava consciente.

– FIGURA! Você está vivo? – Gritava espantado Von Kaizer.

– Figura!? – Olhava confuso Tennyson. – Do que está falando, Senhor Barbudo?

– Senhor Rodigues, vejo que está são e salvo! – Falava enquanto impedia Igor de responder. - Desculpe-me pela reação de meu tio. Ele não sabia que você era um aliado. – Falei sem graça.

– Seu tio? – Tennyson observava Igor com um de seus olhos fechados, enquanto que o outro estava bem aberto, notando todos os detalhes da aparência dele. – Seu tio é uma pessoa um tanto quanto curiosa, não? – completava.

Tennyson Rodrigues era um senhor de estatura baixa. Seus cabelos engomados estilo “boi lambeu”, junto de seu bigode, eram ruivos, em um tom mais alaranjado. Usava um paletó roxo, com uma camisa formal laranja. Sua calça era lilás, em conjunto com o paletó. Em seus pés, um belo par de sapatos sociais marrons muito bem engraxados era calçado, o qual Rodrigues limpava a todo o momento com um pano preto que guardava no bolso de seu paletó.

– Senhor Rodrigues, realmente me desculpe pelo ocorrido. É muito bom ver que está bem, mas agora me responda. Por que você estava escondido dentro da Hammock Flying?

Rodrigues parava de analisar meu tio, enquanto arrumava seu paletó sujo de poeira. Parecia querer ter uma imagem mais apresentável para mim.

– É uma excelente pergunta, meu jovem David! – Exclamava Tennyson. – Digamos que quando lhe dei a missão para vir explorar o céu de Yandré, eu estava desconcentrado e acidentalmente peguei um papel antigo de 2073. Fazem exatos...

– Quarenta e cinco anos desde a sua descoberta, certo? – Falava de maneira sarcástica.

– Impressionante, jovem David! Parece que as aulas de história da academia servem, de fato, para alguma coisa! E pensar que você reclamava bastante por aprendermos sobre o passado.

Não acredito que ele vai começar a lembrar da minha juventude na C.P.A.Q. agora. Ou pior, começar a se lembrar da época em que ele fundou a academia!

– Lembro-me muito bem de quando fundei o Comitê dos Pilotos Altamente Qualificados. Meu lema era “Um grande piloto não é analisado pela sua grande habilidade de guerra, muito menos pelo seu talento em acrobacias. E sim, pelo seu próprio caráter.”. Faz quanto tempo que não falo isso, hein? – Dizia enquanto alisava seu grande bigode. - Sabe? Estou pensando em fazer umas alteraçõezinhas na academia. Talvez colocar um busto meu em cada sala de aula. Pois é, seria interessantíssimo! Todos iriam se lembrar deste lema só de olhar para o meu rosto. Acho que irei fazer isso! O que você acha, David?

– Tio, você viu onde eu deixei as ferramentas? – Dizia enquanto mexia na lataria da Hammock Flying.

– David, acho que você nem ao menos trouxe ferramentas... – Dizia Igor enquanto me olhava com uma cara de reprovação.

– OS SENHORES ESTAVAM ME ESCUTANDO? – Parávamos o que estávamos fazendo para ver o que Rodrigues tanto resmungava. – Que falta de educação com os mais velhos! Imagine se quando eu era novo fazia uma coisa dessas para o meu avô? Ele me daria uma de suas coças bem...

– Tio, não achou nada mesmo? – Eu insistia.

– Nadinha, David! Parece que a Hammock não sofreu tanto dano assim...

– IMPOSSÍVEL ARGUMENTAR COM OS SENHORES, HUNF! - Rodrigues cruzava seus braços com uma expressão fechada.

Mas o que ele queria? Que ficássemos perdendo nosso tempo ouvindo velharias? Claro que não! Eu preciso concertar logo a Hammock Flying e dar o fora daqui o quanto antes.

– Senhor Figura, peço minhas sinceras desculpas. Mas é que agora não é hora para relembrarmos do passado. Precisamos ajudar meu sobrinho a concertar esta banheira velha.

– Tem razão! Mil perdões! E por favor, não me chame de “senhor Figura”. Me chamo Tennyson Rodrigues, atual presidente da C.P.A.Q e fundador. – Falava enquanto fechava seus olhos, segurava seu paletó com uma das mãos e levantava o dedo indicador com a outra mão.

– Bem, será difícil me acostumar a isso. Mas eu dou meu jeito. Sou Igor Von Kaizer, tio de David Hersey! – Dizia enquanto pegava bruscamente a mão de Rodrigues e a cumprimentava.

– É-É um Pra-Praze-zer co-conhecê-lo-lo! – Tentava se expressar Rodrigues.

Após o cumprimento, Rodrigues logo se punha a se arrumar. Estava com seu paletó bagunçado, enquanto que sua camisa social estava bastante amassada.

– Caham – tossia Rodrigues. – Onde estávamos? Ah, sim! David, vim lhe trazer sua verdadeira missão.

O bigodudo ruivo tirava de dentro do seu paletó uma carta amarela.

– O que é isso? – Perguntei bastante curioso.

Rodrigues me entregava a carta. Com minhas mãos, a abri de forma bem cuidadosa para que não rasgasse o conteúdo da carta. Com o papel em mãos, pus-me a lê-lo:

“Caro Comitê dos Pilotos Altamente Qualificados,

Venho por meio desta carta, suplicar por ajuda. Escrevo diretamente de Sarabasta, reino deserto onde a seca e o calor são problemas gravíssimos. Porém, há muitos anos, conseguimos cessar estes problemas. Hoje, meu povo vive para semear paz e prosperidade. Um dia, um homem, cujo nome não lhes poderei dar no momento, chegou a nosso reino. Ele prometeu comida e abrigo para todos os viajantes que necessitavam de ajuda. Com o tempo, este homem ganhou a confiança de meu pai e do reino. Quando pensávamos que tudo corria bem para o nosso povo, eis que este homem traiu minha confiança. Meu velho pai não acredita em mim, muito menos os soldados reais. Recorri então a várias instituições à procura de ajuda, porém todas em vão. Em uma bela noite, ouvi dois guardas conversando. Um deles dizia que existia um grupo de aviadores especializados em fazer missões para todos aqueles que necessitavam de ajuda. Quando ouvi aquilo, fui procurar imediatamente nas bibliotecas reais, vestígios de academias aéreas ao longo da região. O mais próximo que pude encontrar, eram vocês. Estou recorrendo a vocês, pois não sei a quem mais confiar. Todos acham que este homem nos trará bons frutos, mas sei que nas mãos dele, nosso reino perecerá, apodrecendo até que nosso povo seja destruído. Eu vos imploro para que me ajudem. Um homem já servirá de grande ajuda para mim. Se a questão for o pagamento, prometo recompensar lhes dignamente.

Atenciosamente,

Sirena Sandgard, Princesa do Reino de Sarabasta.”

Ao terminar de ler a carta, olhei para o rosto de Rodrigues. O mesmo me observava esperançoso.

– O que o senhor acha, jovem David? – Perguntava Rodrigues.

– Bom, há duas hipóteses. Ou essa princesa tomou sol demais na cabeça e está imaginando coisas, ou é um daqueles típicos casos de família onde o pai ignora a filha e a mesma se sente rejeitada e solitária por conta disso. – Presumi.

– Não, não, jovem David. Digo em relação ao pedido. Vai aceitar o trabalho, Senhor Hersey?

Igor parecia bastante empolgado com o que ouvia. Mal podia ele acreditar que um membro de alguma Família Real estava requisitando nossos serviços.

– Um trabalho? E da Família Real? David, isso é maravilhoso! Uma oportunidade única de se conseguir bastante dinheiro! Além, é claro, de conseguir um bom Ranking na academia por ajudar alguém tão importante assim. – Explicava Igor.

Eu entendia que o valor de trabalhar para a Família Real era muito grande. Essa missão poderia me trazer grande status na academia. E quem sabe até reconhecimento pelas minhas futuras ações. Mas não sei se realmente eu quero me envolver com esse tipo de gente. Não me enxergo no mundo da nobreza. Quero apenas realizar meu sonho, nada mais.

– Senhor Rodrigues, agradeço muito pela missão, mas receio ter que recusar desta vez...

– DAVID, VOCÊ É LOUCO? E quanto as conquistas que conseguirá com esse serviço? Fama, fortuna, nada disso te interessa? E o Ranking da academia? Vai deixar por isso mesmo? – Dizia desesperadamente, Igor.

– Tio, para falar a verdade, não penso em me misturar com a realeza. Eu pertenço a outro mundo. Um mundo totalmente diferente deles.

– Jovem David, sei que o senhor já fez sua decisão, porém, devo dizer que seria de grande importância para a academia, a realização desta missão. Por favor, o senhor não deve pensar apenas no seu status. Pense na ajuda que o senhor nos traria. Melhor ainda, pense na promessa que seu avô fez quando planejou a academia. Sei que aí no fundo, o senhor...

– Eu sei muito bem o que meu avô prometeu. Eu quero ajuda-lo a realizar esse sonho, mas...

Olhava bastante pensativo para a Hammock. Não sabia mais o que fazer. Será que eu deveria fazer parte do sonho de meu avô? Queria muito ter o ajudado na época, mas eu era apenas um bebê. Não havia muito que eu pudesse fazer. Vovô Josef e Tennyson Rodrigues eram muito amigos. Compartilhavam de tudo, desde experiências de batalha até hobbies e passatempos que gostavam. Eram uma dupla e tanto. Meu avô tinha um grande sonho: Fundar uma academia aérea onde aqueles que não possuíssem mais esperança em seus corações pudessem requisitar ajuda e serem resgatados. Antes de falecer, vovô fez Rodrigues prometer que continuaria com o seu sonho. Foi graças a isso que a C.P.A.Q. enfim, conseguiu levantar voo. Um sonho muito bonito, tenho que admitir.

– Eu entendo perfeitamente a sua decisão, jovem David. Por isso, mandarei outro piloto em seu lugar. Achei que seria interessante para você explorar novos lugares, como Sarabasta. Mas se isto incomoda o senhor, peço desculpas pela minha inconveniência. – Dizia Rodrigues enquanto pegava a carta da minha mão e a dobrava para guarda-la em seu paletó. – Estarei encaminhando esta carta para outro piloto que esteja dentro das qualificações para o serviço. – Rodrigues parecia estar se preparando para ir embora.

– Espere, Senhor Rodrigues! – Disse enquanto estendia minha mão para frente.

– Sim, jovem David?

– Eu pensei bastante no que o senhor me disse e, bem... – Dei um breve suspiro. – Irei aceitar o serviço.

Igor e Rodrigues se entreolhavam, descrentes do que eu havia acabado de falar. Mal podiam eles acreditar que eu aceitaria ir para Sarabasta, mesmo depois de um discurso convincente como o meu.

– Quer dizer então que você vai para... Sarabasta? – Perguntava Igor.

Antes que eu pudesse responder, Rodrigues me puxou pela gola, já passando seu braço pelas minhas costas de forma que estivesse me abraçando, e foi me guiando em direção à Hammock Flying.

– Ótimo! Já organizei tudo para a sua viagem. Comida, água, roupas limpas, não falta mais nada. Enquanto você conversava com seu tio, tomei a liberdade para arrumar a sua nave. Troquei o óleo, reabasteci seu tanque de combustível, arrumei a base que você quebrou com a queda e, não menos importante, coloquei um chaveirinho em formato de pinheiro preso no vidro da frente, para dar um leve aroma de lavanda em sua nave. Ela estava cheirando a sovaco de lenhador depois do serviço. Não sei como você aguentou até aqui!

Rodrigues dizia aquilo tudo com bastante entusiasmo. Parecia até que ele já sabia da minha respos...

– VOCÊ O QUÊ? NÃO ACREDITO QUE FEZ TUDO ISSO MESMO SABENDO QUE EU PODERIA TER RECUSADO! – Gritava para ele.

Rodrigues deu um pulo, graças ao susto que recebeu. Coloquei minha mão sobre a testa, tentando me controlar. Respirei fundo e voltei a falar com mais calma:

– Como você tinha tanta certeza de que eu aceitaria o serviço, Senhor Rodrigues?

Rodrigues, por sua vez, respirava fundo, tentando se recuperar. Retomou o folego aos poucos e pôs-se a ajeitar sua roupa. Com um sorriso em seu rosto, disse:

– Jovem David, que pergunta boba. Claro que eu sabia que o senhor aceitaria, afinal, você é um Hersey!

Aquilo me confortou. Parecia que aquelas poucas palavras me inspiravam, aumentando a minha força de vontade. Não poderia falhar. Nada poderia me parar naquele momento.

– Certo! Estou a caminho do Reino de Sarabasta. Mande uma carta para a Princesa Serena dizendo que o resgate já está a caminho!

Corri em direção à Hammock Flying, pronto para ligar os motores e partir para mais uma aventura.

– Jovem David, não acha que seria uma excelente ideia chamar seu tio para ir com o senhor? - Sugeriu Rodrigues enquanto caminhava para perto da nave.

– QUE ABSURDO! Como o senhor se atreve a interromper o treinamento do meu sobrinho? – Igor cutucava furioso o peito de Rodrigues. – Como o senhor quer que o garoto evolua se estarei lá para fazer tudo para ele? Ora, isso é uma falta de respeito muito grande com a Família Hersey! Somos de uma geração de campeões, droga! – dizia enquanto batia o seu punho em seu peito.

– Valeu tio! E muito obrigado, Senhor Rodrigues! Prometo que quando voltar, meu nome estará na primeira colocação! - Disse enquanto entrava na nave e me preparava para decolar.

– É assim que se fala, jovem David! – Sorria Rodrigues.

– Ah, David! Já ia me esquecendo! Coloquei um estoque de Dinfërment para você beber no caminho. Agora você me provou ser um homem de verdade! – Igor levantou seu polegar e piscou com um de seus olhos para mim. De certa forma, ele quis me encorajar. Eu acho...

Enquanto subia voo, pude ouvir Tio Igor e Rodrigues discutirem. Algo como...

– O SENHOR É O TIO MAIS IRRESPONSÁVEL QUE EXISTE! COMO O SENHOR DEIXA UM ESTOQUE DE BEBIDA ALCÓOLICA PARA O GAROTO BEBER DURANTE A VIAGEM? QUER MATÁ-LO, É ISSO? – Brigava Rodrigues.

– Ah! Não diga bobagens, Rodrigues. O garoto já é um. Ele sabe se cuidar. – Retrucava Igor.

– NÃO É DISSO QUE ESTOU FALANDO! ESTOU FALANDO DA SUA IRRESPONSABILIDADE COMO TIO! COMO O SENHOR FAZ UMA COISA DESSAS? INACEITÁVEL! INADIMISSÍVEL! MANDAREI CAÇAR SUA LICENÇA PARA PILOTAR!

– O senhor não faria isso...

– NÃO FARIA? O SENHOR NÃO ACREDITA NAS MINHAS PALAVRAS? O SENHOR SE ARREPENDERÁ POR TER MEXIDO COM...

Com a altura, os gritos que Rodrigues direcionava para meu tio foram perdendo sua potência. Já não conseguia ouvir mais nada daquela discursão. Mesmo se eu pudesse, acabaria não prestando atenção, pois havia apenas um som que eu queria ouvir: os motores da Hammock Flying planando sobre o céu de Sarabasta.


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