The 69th: For What I Believe In escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 3
Verdade Sem Consequência


Notas iniciais do capítulo

Só usando esse espacinho pra avisar que vai ser basicamente esse o ritmo da fanfic: capítulos a cada dois ou três dias. Eu sempre tenho salvo mais do que postei, então em dias em que eu tiver, vamos dizer, um "saldo" grande de capítulos, talvez eu poste em um tempo menor (:

Enfim, espero que gostem desse Capítulo BECAUSE JUNE IS BACK.



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(POV Burton)

Pela primeira vez, paro em frente à porta de June tendo realmente o objetivo de bater. Assim o faço, e sou recebido com uma doce saudação.

– Vá embora! - ela grita em um tom que pode ser ouvido da mesa do café, posta na sala.

Bato mais uma vez, disposto a tentar quantas vezes fosse preciso.

– June, não te faz bem ficar sem comer durante tanto tempo - digo próximo à porta para ter certeza de que ela me entenderia - Você não pode ficar aí para

(POV Burton)

Pela primeira vez, paro em frente à porta de June tendo realmente o objetivo de bater. Assim o faço, e sou recebido com uma doce saudação:

– Vá embora!

Bato mais uma vez, disposto a tentar quantas vezes fosse preciso.

– June, não te faz bem ficar sem comer durante tanto tempo - digo próximo à porta para ter certeza de que ela me entenderia. - Você não pode ficar aí para sempre.

Espero alguns segundos, que passam em completo silêncio. Então, ouço um abrir de fechadura e dois pedaços de metal deslizam para lados opostos me dando passagem para o quarto de June.

Tudo está exatamente igual à primeira vez em que vi o cômodo, no dia em que saímos do Distrito 6 em direção à Capital após a Colheita. Bom, tudo exceto a garota deitada na cama que parece ter envelhecido anos em apenas um mês.

June está enrolada nos lençóis e seu cabelo está preso em um coque bagunçado que parece não ter sido tocado por ninguém faz uns três dias. Como já era previsto, tem roxas e salientes olheiras sob os olhos, as quais me fazem admirar ainda mais o trabalho de Fennie e sua equipe, principalmente a maquiadora. Mas o desgaste para por aí; seu corpo foi tão bem tratado quando retornou da Arena que é difícil de afirmar, baseado em sua aparência, que June realmente foi um tributo.

Por fim, noto algo que me chama a atenção e que força um sorriso em meu rosto: vejo sobre sua camiseta uma corrente de prata que sei a ela quando retornou dos Jogos e da qual caem dois pequenos pingentes. A pequena faca forjada na prata faz com que eu mesmo me lembre do quão corajosa June foi na Arena, já que as facas foram a arma escolhida por ela. Por fim, há o bolinho de chocolate. Ainda espero que, sempre que olhar para o pingente, June se lembre de mim.

Não que eu precise de um pingente para lembrar-me dela.

– Tenho comigo a maior honra que alguém poderia te conceder - anuncio, então estendo a ela um bolinho de chocolate de verdade. - Coma com sabedoria.

Vejo que June abre um sorriso e fico feliz em saber que fui o motivo disso.

– Obrigada - ela diz, primeiramente. - Mas será que sou qualificada para usufruir dessa dádiva?

Seu sarcasmo me faz perceber que a antiga June ainda está lá, dentro da nova.

– Acho que posso conceder tal privilégio a você, senhorita Haylon - respondo, e nós dois comemos os bolinhos. Não sei quanto a ela, mas eu saboreio cada mordida.

Quando terminamos, alguns - muitos - segundos de silêncio indicam um momento constrangedor para ambos. Por fim, June o quebra.

– Sabe, Burton, eu tenho algumas perguntas que quero te fazer, mas não quero que isso se pareça com um interrogatório. Então, pensei em fazermos um pequeno jogo: seria como Verdade ou Consequência, mas sem as consequências porque realmente não estou afim de levantar da cama.

Eu rio.

– Verdade ou Consequência? Meio estranho, mas pode ser uma boa.

– Mas só as verdades - June se apressa em dizer. - Já estou cansada das consequências das minhas ações.

Sinto o clima pesar; quero tudo menos que ela se lembre de seus problemas. Assim, tomo a iniciativa de ser aquele a começar nosso pequeno jogo.

– Carne de esquilo ou de alce? - pergunto, depois a encaro como se tivesse dito algo sério.

– Uau, você realmente não sabe jogar Verdade Sem Consequência.

– O que eu sei é que você tem que dizer a verdade, não importa qual seja a pergunta.

Ela revira os olhos, mas dá um sorriso.

– Alce - responde brevemente. - Minha vez: Banho de Sangue ou a grande final?

– Final, com certeza - não hesito em responder. - Não saber o que esperar dos Idealizadores, poder ser devorado por bestantes... Existe emoção maior?

Nós dois rimos, e de repente me dou conta do que realmente estamos dizendo. Então quer dizer que June se sente confortável o bastante para mencionar os Jogos e até mesmo para levá-los a um lado cômico. Talvez esteja no caminho certo da aceitação de qual é sua realidade agora, mas pode ser que esteja se forçando a viver com isso e fingindo ser mais forte perto dos outros como sabe fazer tão bem. De qualquer jeito, só o esforço já me mostra uma força maior do que a que eu imaginava.

– Essa era uma das perguntas que queria me fazer desde o começo? Sério? - pergunto, enfim.

– Não - ela confessa -, mas a pergunta do alce fez com que fosse muito difícil dizer algo sério depois.

A verdade é que a curiosidade está me matando naquele momento, mas toda aquela situação ao mesmo tempo me faz feliz; qualquer que seja a pergunta que June quer me fazer, poderei dizer que passei por sua mente. Em algum momento, ela pensou em coisas que precisava saber. Coisas vindas de mim.

– Vá em frente - peço, esperando que seja o suficiente para que June finalmente me pergunte o que quer saber.

E, por sorte, acaba sendo.

– Você... Você acha que tudo isso funciona? - ela pergunta, e inicialmente não entendo o que quer dizer. - Quero dizer, os Jogos, a Capital, a divisão dos Distritos...

– Traduzindo - interrompo -, quer saber se acredito em você, se concordo com o que disse na entrevista? Sobre o governo de Panem estar completamente errado, sobre os Jogos serem um absurdo e tudo o mais?

Ela faz que sim com a cabeça.

Então, já sentado na cama, me aproximo dela e olho em seus olhos.

– June, todos pensam assim. De verdade, aposto minha vida que não há um habitante dos distritos que ache que isso tudo está certo. O problema é que, além das pessoas não terem voz nessa sociedade, sabem que nada vai mudar tão fácil. Você teve mais oportunidades que todos nós por ser da Capital, e o que fez se oferecendo como tributo foi o começo de algo que vai muito mais longe. Foi impressionante, e todos estávamos precisando disso. - Respiro fundo. Vamos, Burton, tem muito mais que você quer dizer.– Por isso, tenho confiança em você como nunca tive em mais ninguém durante toda a minha vida. E estarei ao seu lado para qualquer coisa que quiser fazer, pode ter certeza, loirinha.

Ela não responde, mas também não quebra o contato visual. Tê-la chamado de “loirinha”, como fiz no dia em que a conheci, abre um sorriso em seu rosto. É com essa expressão tranquila que June olha para mim agora, e aproveito cada segundo da proximidade entre nós. É quase como se houvesse um fio invisível ligando-a a mim. Dizem que, quando duas pessoas têm esse tipo de conexão, seus corpos ficam sincronizados; seus batimentos cardíacos, sua respiração, tudo acontece ao mesmo tempo nas duas partes. No silêncio do quarto de June, consigo ouvir quando o ar é inspirado e expirado; porém, só há um som de cada vez. Só uma respiração.

– Por que você mudou depois que voltei dos Jogos? - June pergunta em um tom tão baixo que interpreto como um sussurro.

A distância entre nós não aumenta.

– Porque antes eu não tinha coragem de fazer isso.

Então, como tantas vezes eu havia imaginado acontecer, me inclino e deixo que meus lábios toquem os dela. Me afasto um pouco para saber se June quer que eu continue; como resposta, ela mesma avança e continua o que comecei. O beijo é longo, calmo e leve. Depois de alguns segundos, deslizo minhas mãos por sua nuca e toco seu cabelo. Cada segundo é melhor do que o anterior, e June me recebe com a mesma vontade com que a quero naquele momento.

Quando nossos rostos finalmente se afastam, nossas testas continuam juntas. Os olhos de June permanecem fechados por mais alguns segundos, e ouço um suspiro sair de sua boca lenta e calmamente. Ela, naquele momento, é a coisa mais linda que já vi.

– Deveríamos jogar Verdade Sem Consequência mais vezes - é o que digo em um quase sussurro.

Ela sorri, então passa os dedos por meu rosto, descendo até meu pescoço.

– Nem me fale - responde.


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Notas finais do capítulo

Não sei vocês, mas eu to apaixonada por esse capítulo! Narcisismo...? Talvez um pouco hahaha mas espero que tenham gostado tanto quanto eu (: