The 69th: For What I Believe In escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 11
Cai a Noite


Notas iniciais do capítulo

Eu odeio provas. Eu odeio tanto, tanto, tanto!
Estou em época de provas (como o começo da nota já deve ter esclarecido, haha) e não estou tendo muito tempo para escrever a fic. Mil desculpas, realmente não está dando para acelerar.
Mas quando acabar essa época dos infernos eu certamente vou tentar postar bastante (na medida do possível, rs)! Esse capítulo demorou muito, mas eu fiquei bem orgulhosa dele. Já faz tempo que eu estou querendo fazer um capítulo mais sobre os gêmeos, já que eles quase não apareceram em The 68th e, se tem um momento pra eles, é agora haha aproveitem!

PS: leitores atentos perceberão que a fic está, desde o primeiro capítulo, se passando em um mesmo dia. Um capítulo que fala sobre a noite seria, logicamente, a última fase dessa primeira "parte" (:



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(POV June)

Entrar no quarto dos meninos e vê-los mergulhados em um tão profundo sono não é nada fácil, devo admitir. Daniel emite altos e pausados roncos de maneira engraçada, e não consigo conter um sorriso enquanto observo a cena, parada, com o corpo encostado na trave da porta aberta. Mathew é silencioso durante o sono como nunca deixou de ser. Seu semblante é calmo a ponto de me transmitir uma tranquilidade perfeitamente capaz de tomar meu corpo inteiro. Bom, isso se eu não soubesse que estaria, em alguns segundos, ditando o futuro daquelas duas crianças.

A maturidade sempre foi uma incógnita para mim. Afinal, o que é tão importante a ponto de diferenciar uma pessoa infantil de uma madura? Nunca soube efetivamente responder a uma perunta como essa, mas percebo que agora tenho noção suficiente. Sei que minha consciência, aliada ao lugar onde cresci, fez com que eu mesma me tornasse madura o bastante para, por exemplo, tomar decisões como a de ser voluntária nos Jogos.

Sei que apenas beiro os quinze anos e que não passo de uma adolescente, mas, tendo vivido na Capital, aprendi que idade mental pode ser muito diferente dos meros números que carregamos conosco durante a vida. E, na minha cabeça, acho que realmente sou mais velha do que aparento ser.

Dito isso, sei o quanto é um porre ser madura. Sendo muito sincera, odeio o dever de ser responsável, de ter consciência acerca dos próprios erros e cumprir obrigações. E eu sabia que, no momento em que me oferecesse como tributo, as palavras me fariam anos mais velha; trariam consigo não só os Jogos, obviamente, mas também diversos deveres dos quais a June Haylon da Capital sequer sonharia em dar conta.

É claro que não me arrependo de nada do que fiz para chegar até aqui, pois sei que foi o necessário para continuar levando minha própria vida. Mas a questão - finalmente - é que não quero que Mathew e Daniel amadureçam por minha causa. Não quero que uma de minhas responsabilidades como madura seja fazê-los serem como eu. Não quero arrancar deles o brilho dos olhos da infância só porque eu não o tinha quando decidi virar minha vida toda de cabeça para baixo.

Porém, mesmo que contra a minha vontade, preciso aceitar que levar Mathew e Daniel comigo provavelmente fará com que eu nunca os enxergue com nove anos de novo. Ainda que meu coração o contradiga, meu bom senso insiste em me dizer que estarei garantindo o melhor para meus irmãos. Força, resistência, simplicidade. Acho que sou a prova viva de que o lugar onde se cresce é o responsável pela formação do caráter.

– Meninos - digo em um sussurro. Então, lembro-me de que meu objetivo é acordá-los, o que me faz levantar a voz. - Meninos - repito -, tenho uma notícia para vocês.

Mathew coça os olhos como se despertasse lentamente de seu sono; Daniel, por outro lado, não altera sequer o compasso do ronco.

Vou até sua cama e o balanço de forma a chamar sua atenção, tentando ao máximo fazê-lo de uma forma carinhosa.

– Prometo que você vai poder voltar a dormir logo, garotão, mas acontece que preciso contar uma coisa muito importante.

O primeiro a falar - com voz sonolenta a ponto de parecer moribunda - é Daniel, surpreendentemente.

– Então por que você não nos deixa dormir de uma vez, June?

É, talvez não tão surpreendentemente.

– Deixa ela falar! - responde Mathew, e lanço-lhe um sorriso.

– Papai me pediu para que eu não contasse isso a vocês hoje - começo -, mas não consigo evitar.

Paro por aí, sem saber muito bem como seguir. Inúmeras são as maneiras de continuar aquela fala, mas nenhuma soa delicada o bastante em minha mente. Talvez eu devesse ir direto ao ponto, ou até desistir de contá-los durante essa noite. Porém, um comentário ansioso de Daniel me induz ao que sei que é o melhor a se fazer - e que é, concidentemente, o que faço de melhor: falar sem pensar.

– Fala logo! - ele insiste.

Sem mais delongas, resolvo simplesmente respondê-lo.

– Eu vou ao Distrito 6.

– O quê?! - me interrompe Mathew.

– E vocês vão comigo.

– O quê?! - É a vez de Daniel.

O semblante de ambos é perplexo, e não sei direito a causa específica disso em meio a tantas possíveis.

– Mas e o papai e a mamãe? - pergunta Daniel.

– A mamãe vai voltar?

– É claro que vai, Mathew! Você acha que ela nos deixaria aqui, sozinhos?

– Mas e se não voltar? Quer dizer... E se ela tiver ido embora para sempre?

Percebo que estou quieta e que não interrompi em nenhum momento a discussão a respeito de algo sobre o que sabem tão pouco.

– Ei - decido interferir -, deixem-me explicar. Eu e papai decidimos que o melhor é que continuem comigo, sabem, considerando tudo o que aconteceu e o que pode acontecer... - Sinto-me em uma enrolação infinita. Como explicar a duas crianças que ficarão algum tempo sem os pais, sem contar a realidade extremamente nova em todos os aspectos? - Mamãe vai voltar - resolvo me adiantar -, mas vai continuar aqui na Capital. Seremos... - Hesito, sentindo o peso da responsabilidade caindo novamente sobre meus ombros ao torná-la concreta com minha fala. - Seremos só nós três.

Vejo Mathew e Daniel entreolhando-se, e continuam em silêncio durante algum tempo.

– Então, o que acham? - incentivo desesperadamente uma resposta. Não demora muito até que eu tenha uma, mas essa não me agrada muito.

– Eu não quero ir para o Distrito 6, June - é o que Daniel diz de forma breve.

Fico sem reação; quem sou eu para discutir com esse posicionamento? Durante aqueles segundos, me vejo repensando todo o futuro que eu e meu pai escrevemos para os gêmeos.

Felizmente, Mathew parece ter mais o que dizer do que eu mesma.

– Nós temos que ir.

Mas Daniel rebate.

– Não, não temos.

– Você prefere que a June vá sozinha?

– Eu não disse isso! Só quero meus pais e meus irmãos, todos juntos aqui na Capital. Por que a gente não pode continuar como está agora?

– Por que a gente não pode mudar um pouco?

– Então você quer ficar sem o papai e a mamãe?

Noto que o jogo de perguntas entre os dois não vai provavelmente a lugar nenhum, e cada argumento de Daniel aumenta a culpa de minha consciência. Chego a abrir a boca com a intenção de dizer a eles que não nos mudaríamos mais e que eu me arranjaria com uma vida na Capital. Isso, porém, só até o momento em que uma frase de meu pai volta sem nexo à minha mente.

Ter seus irmãos ao seu lado vai permitir a eles o melhor futuro que podem ter.

Ao som de suas palavras em minha cabeça, resolvo não contrariá-lo. Penso na imensa confiança que meus pais têm em mim a ponto de confiar-me certo tempo da criação de seus filhos. Imagino o quão longas devem ter sido as brigas entre os dois a respeito dessa decisão. Certamente, ela não é de hoje, mas foi tópico de longas discussões durante o tempo em que sua filha estava na tela da televisão. Coloco em minha mente o quão incrível é ter chegado até aqui e o quão amplo é o leque de possibilidades que teremos vivendo no Distrito 6.

Abro a boca novamente, mas dessa vez com o objetivo de deixar claro que faremos o necessário a qualquer custo e que no futuro veremos que isso é de fato a melhor dentre todas as opções.

Mas, novamente, Mathew usa meu tempo de silêncio para colocar na mesa seu último argumento, o qual parece sintetizar absolutamente tudo.

– Cameron faria isso, Daniel.

Em resposta, Daniel não cede automaticamente; o quarto na verdade fica mudo. O nome de Cameron no ar parece atrair todas as energias familiares que nos mantêm juntos e que nos movem para frente. É quase como um passe de mágica capaz de fazer-nos repensar tudo o que fizemos, fazemos e, principalmente, faremos.

Daniel, depois disso, não hesita em balançar a cabeça em aprovação.

– Então... Quando vamos?

Volto meu olhar para Mathew. Seus lábios formam um sorriso tão verdadeiro quanto o que estava em seu rosto quando nos vimos pela primeira vez desde que retornei, me fazendo perceber que talvez não seja eu a responsável pela maturidade daqueles meninos.

E, mesmo que fosse, talvez ser maduro não seja de todo ruim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Fiz um capítulo bem focado nos pensamentos da June dando, ao mesmo tempo, destaque pros gêmeos, como eu avisei que faria (: comentem, dêem sugestões ou critiquem; é tudo muito bem-vindo pro andamento da fic!



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