Irmãos da Revolução Francesa. escrita por G V Gomes


Capítulo 3
O acordo




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–Leia isto, agora. –Aaron indica um pequeno texto no jornal.

–Es...Es... Esti... Ma... Estima se que... Que... –Heron se irrita e soca a mesa, não conseguia ler uma simples frase de jornal, já pensava em desistir quando o outro lhe aconselhou.

–Acalme-se, não desista agora, se o fizer nunca vai conseguir nada na vida. –Fora, sabias palavras para um garoto de doze anos, sua frase soou como um conselho de mãe, uma mãe que ele nunca vira em sua vida, sim a mesma que faleceu ao dar a luz a dois bebes.

–Está bem, vou começar novamente. –Heron se sentiu motivado para continuar, e retomando o fôlego tenta continuar a leitura. –Estima-se que... Quatro... Quatrocentos e do... Doze mortos franceses e mais de... Mais de seiscentos feridos. –Heron ergue a cabeça sorrindo, indicava que a frase tinha terminado; enfim conseguiu ler, como seu “pai”.

–Muito bem. –Aaron sorri de volta para Heron, os dois mal acreditavam que passaram ao ultimas sete horas lendo um simples jornal. O sol estava nascendo quando Pierre despertou todo torto, na cadeirinha, ainda zonzo ele procura o filho na cama e ao não encontra-lo ele desce os degraus para o salão e escuta a voz de seu filho.

–Quer ler mais alguma coisa? –Aaron pergunta com alegria nos olhos.

–Acordou cedo meu filho? –Pierre pergunta puxando uma cadeira para junto dos três.

–Acabei nem dormindo, pai. Passei a noite ensinando Heron a ler.

– Monsieur* Gerard. –Heron se assusta com o homem, e se levanta da cadeira.

–Não, se preocupe meu garoto, não quero atrapalhar.

–Não é isso, é que tenho que preparar o café dos hóspedes. –Heron levanta e tropeçando em tudo corre para um cômodo do albergue, que servia como cozinha; para sua infelicidade sua “mãe” estava lá furiosa e com pratos feitos.

–Onde é que você estava? -Helena dá uma bronca em Heron. –Porque eu tenho que fazer tudo sozinha! Salvei sua vida quando sua mãe não queria você e é assim que me agradece, talvez eu devesse tê-lo deixado no frio para morrer. –Dessa forma ela grita com o garoto de olhos azuis.

– Mes excuses*. –Heron tenta se explicar e é agredido no rosto duas vezes.

–Tirant d'eau*! Sempre dando desculpas esfarrapadas. –Helena pega os pratos. -Vá servir os hóspedes. –Ela lhe entrega seis bandejas com copos cheios.

No salão Aaron e pai aguardam seus pratos em uma mesa de madeira não feita, bem torta para ser mais exato, em exatos cinco minutos.

–Pai, quando a carruagem ficara pronta? -

–Pedi ao cocheiro que viesse aqui quando o serviço estivesse pronto...

–Mas já vai embora?

–Não se preocupe podemos brincar até Jubilo voltar com a carruagem.

–Jack acorde! -Helena grita, batendo varias vezes em Jack.

–Que inferno mulher, me deixe dormir.

–Levante logo seu merda!

–O que, que é!

–Aquele burguês que você colocou aqui dentro, precisa manda-lo embora.

–E porque eu faria isso? Ele está pagando o dobro do que cobramos por uma semana.

–É por que.... Por que.... Não acho que ele seja um burguês de verdade.

–Pois não se preocupe, ele pagou adiantado.

De volta ao salão, já eram quase oito da manhã quando o cocheiro chegou com a carruagem.

– Monsieur*. –Jubilo entra pela porta. –Senhor Gerrad a carruagem já está pronta, já podes partir.

–Ótimo! –Pierre se levanta rapidamente com um sorriso no rosto. –Aaron, vamos. –O garoto estava perto de uma mesa brincando com Heron, quando o pai lhe chamou ele ficou triste, pois teria que abandonar o novo amigo, seu único amigo até agora, Pierre percebeu a mudança de expressão do filho. –Aaron, já ensinou Heron a escrever? –Pierre pensa em um plano para auxiliar a amizade do filho. –Fique aqui um pouco, irei acertar nossa conta.

– Au revoir*. –Aaron já se despedia do colega.

No escritório Jack mexia em seus papéis, como se procurasse algo importante, ou fingisse fazer as contas das despesas.

–Senhor Gerar, que bom vê-lo. –O pilantra ergue os braços ao ver o homem. –Por que tenho a honra de tê-lo aqui? –Ele convida Pierre a se sentar.

–Senhor Leon, quero pedir-lhe uma coisa. –Pierre quis ir direto ao assunto, mas o Jack não pensou assim.

–Ficou confortável, gostou da estadia, precisa de algo mais? -Jack não queria dar motivos para o burguês reclamar.

–Não se preocupe, já estou de saída, agradeço pela estadia. –Jack vibra com aquelas palavras, enfim receberia o pagamento.

– Monsieur* Gerard, presumo que queira pagar sua conta. – Jack puxa um papel, molha uma pena no tinteiro. –São 25 francos por pessoa, 45 pelo quarto e 10 pelos serviços. –Ao terminar de falar o taberneiro estende a mão aguardando o pagamento, sem titubear Pierre paga o homem ruivo.

–Senhor Leon, tenho outro assunto para tratar, com o senhor. –Pierre se arruma na cadeira. –Irei para Trévoux, e vi que o meu filho fez amizade com o seu.

–Jean? –Jack diz o nome do filho alto, se assustando o burguês.

–Não, digo Heron.

–Oh, Heron não é meu filho, Helena o encontrou na porta de uma igreja em uma cesta no meio da neve, parece que sua mãe era uma prostituta que não podia cuidar dele e o largou em um canto qualquer, quando chegou aqui, não pude dizer não. –Jack tenta ao Maximo parecer um pai protetor, mas aquilo era a maior mentira, agora mesmo não sabia onde estavam seus outros filhos.

–Gostaria de leva-lo comigo, como convidado de meu filho.

–O que!? –Jack dá um pulo ao escutar aquilo. –Quer levar meu querido filho.

–Mas acabou de dizer que ele não é seu filho. – Pierre lembra Jack de suas palavras.

–Ele é meu filho de criação. –Jack se inclina para frente e diz. –Façamos o seguinte, deixo você leva-lo por 50 francos. –Com um sorriso amarelo Jack retorna a posição inicial da conversa.

–Sabe que está negociando seu “filho”, não é!? –Pierre arruma o paletó. –Pago 40 francos.

–45 e não se fala mais nisso.

–40 francos e duas moedas de ouro. –Pierre acaba com qualquer chance de Jack, aquela era uma proposta irrecusável, o pilantra entorta a boca pensando. –Dou lhe uma, dou lhe duas...

–Está bem, pode leva-lo. –Jack pareceu derrotado.


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Notas finais do capítulo

Mes excuses =Me desculpe
Tirant d'eau =Calado
Au revoir =Adeus por agora



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