Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 47
Capítulo 46




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Sam passou um pouco mais de uma hora, escondido, esperando que a missa acabasse. Depois, vestindo um casaco com um capuz que cobria-lhe o rosto, esperou na lateral da capela até que Dean saísse. Não era um plano lá muito bem pensado, mas, por sorte de Winchester, o menino saiu acompanhado por Justin e Misha. Aqueles dois, além de não atrapalharem, ainda eram bem capazes de ajudá-lo.

– Hey, Dean... - chamou o homem baixinho.

O louro viu o encapuzado e reconheceu Sam imediatamente. O que seu ex-namorado estava fazendo ali? Nervoso, o menino olhou para os lados como a pedir ajuda. O que ele haveria de fazer agora?

– Vai lá falar com ele! - soprou Misha ao seu ouvido.

Sim, talvez fosse melhor fazer isso. Talvez fosse melhor enfrentar o professor e ouvir o que ele tinha a dizer. E que não viesse com histórias ridículas de reencarnação...

Dean não soube como conseguiu seguir Sam até um quartinho escondido, na lateral da paróquia. Seus joelhos não paravam de tremer, e ele suava frio. Apesar disso, se controlava para parecer tranquilo.

Sam também estava nervoso, mas, intimamente, já comemorava vitória. Havia conseguido chamar Dean para uma conversa, e isso já era mais de meio caminho andado. Winchester sabia que o garoto também o amava, e, afinal de contas, estavam predestinados a ficar juntos.

Fechando a porta atrás de si, Sam descobriu o rosto e fitou o louro que o olhava sério.

– Obrigado por aceitar vir comigo... - agradeceu o moreno.

– É... Mas eu não posso demorar muito... - respondeu o mais novo, impaciente. Queria que Winchester fosse logo ao assunto. Dali a pouco Mackenzie estaria procurando por ele.

– Claro... Claro... Dean... É... - gaguejou o mais velho - Você está bem? A sua irmã está cuidando do você direito? - antes de tudo o homem precisava se certificar se seu bebê estava bem.

– Está tudo bem. - respondeu o louro, enfático. - Agora me diz logo o que você tem pra me dizer, porque, sinceramente, acho que está perdendo o seu tempo...

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– Onde está o Dean?

– Sei lá, amor, deve estar com os amigos... Larga ele pra lá. - Mackenzie estava entretida falando de suas desgraças para as amigas.

Saul olhou ao redor. Vários grupinhos de pessoas haviam se formado na entrada da capela. Parentes de Sarah, parentes de Roger, alguns amigos de trabalho, professores de Dean, e colegas do menino, amigos de Mackenzie... Mas nada do garoto... Aliás, ele também não via o tal do professor que supostamente namorava o louro. Saul só o tinha visto uma vez, no prédio de Misha, mas lembrava-se bem de sua fisionomia. Era bem capaz do tal do Sam estar escondido, abusando de Dean em algum canto por ali...

– O seu irmão não está por aqui, Macky! - insistiu Saul.

– Deve estar namorando por aí... Deve ter encontrado com aquele namorado gato dele. - respondeu a loura displicente.

– E você deixa isso? - Bufou Saul, irritado. Mas Mackenzie deu de ombros.
Saul resmungou alto. Como sua namorada podia ser tão irresponsável? O garoto era agora como se fosse filho do casal!

Saul não tinha filhos, mas lembrava-se muito bem de como era ter um pai protetor. O único que podia abusar dos meninos era ele. "Homem de fora jamais toca nos meus filhos" - dizia o sujeito. E Saul concordava com o pai... As vezes os mais velhos sentem necessidade de carne fresca, mas então que se contentem com sua própria prole, ou "chupe o dedo". Se Sam Pada-"qualquer coisa" não tinha filhos, problema dele. Saul protegeria o que era seu!

– Vou atrás dele. Vou prender esse homem safado! - praguejou entre dentes.

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– Dean... Eu...

Dean franziu o cenho ao ouvir Sam chamá-lo pelo nome, de forma tão doce, mas nada falou. Apenas fitou o homem, esperando que dissesse o que quer que fosse. Ele de fato acreditava que Sam estivesse perdendo tempo, entretanto, pois não podia imaginar qualquer explicação que o fizesse ser capaz de entender e perdoar.

– Você acredita em reencarnação?

– Não. - respondeu o louro friamente.

Sam engoliu em seco. - Eu acredito... - murmurou. - Dean, essa sua semelhança com o seu irmão mais velho, não é coincidência...

– Não, é claro que não. Somos filhos dos mesmos pais, não é? É genética... - respondeu o menino, sarcástico.

Sam estremeceu. Esperava encontrar um Dean bem mais emotivo e aberto ao diálogo. Esperava inclusive que o garoto fosse chorar e exigir explicações. Mas aquele menino parecia mais com o Ross que consigo mesmo... Frio, duro, sarcástico e incapaz de se deixar tocar...

– A gente não tem muito tempo... - ponderou o professor. - Então por favor, me escuta... É uma história comprida, mas Dean, eu tinha uma forte mediunidade quando era mais novo. Agora acho que não... Mas quando eu tinha a sua idade, fui capaz de me lembrar de uma vida passada. Fui capaz de enxergar meu anjo da guarda e saber, através dele, de muitas coisas importantes... Sabe, nossa história de amor é antiga, mas nunca, de fato, conseguimos ficar juntos e sermos felizes. Na sua última encarnação, você morreu jovem demais... - a voz de Sam embargou.

Dean permanecia estático. Sam era louco. Só podia ser...

– Sei... Porque eu era o meu irmão. Então tratei de reencarnar correndo pra ficar com você! - completou o louro, sem esconder o tom de deboche.

– Por que você não acredita em mim? - perguntou Sam, sentido.

Dean estava irritado. Ele não acreditava porque era uma história ridícula, só por isso. Não acreditava porque Sam mentira para ele antes. Não acreditava porquê era mais fácil inventar aquela desculpa esfarrapada que contar a verdade. Não. Winchester não gostava dele. Ninguém de fato gostava. E ele também não gostava de ninguém. Quem não ama, não sofre. E Dean não aguentava mais sofrer...

– Eu acredito em você, tá bem? Só que, Sam, pra mim, tanto faz... Eu não quero mais namorar você.

Os olhos de Sam já estavam mais que marejados.

– Por que? - perguntou o homem, com os lábios trêmulos. Dean estava fazendo birra, só podia ser... O moreno não entendia pra que continuar com tanto sofrimento. Não seria muito mais fácil se o garoto simplesmente deixasse de besteira e se jogasse em seus braços? Antes que o louro pudesse responder, Sam voltou a falar.

– Dean... Você reencarnou pra ficar comigo! Pra quê adiar o que está escrito no livro do destino? Mais cedo ou mais tarde... Você e eu... Nós vamos ser felizes, Dean! - o professor estava emocionado.

– Não! - protestou o menino. - O meu destino não está escrito nas estrelas. Eu faço dele o que eu bem quiser! E eu não quero ficar com você. Não gosto mais de você.

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Ouviu-se um baque, e a porta do aposento escancarou-se. Era Saul.

– Dean, vamos pra casa! - esbravejou o homem. - E você... - disse olhando Sam nos olhos - não se atreva a se aproximar do garoto de novo. Te coloco na cadeia, pedófilo!

O louro não protestou, e saiu com Saul, deixando Sam sozinho. Era melhor assim... Não queria confusão, e já tinha dito ao ex-namorado o que tinha que dizer.

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– Castiel! Pelo amor de Deus! Eu preciso de você! - Sam, agachado no chão, sozinho dentro do pequeno quarto, chorava sem parar. Seria possível que Dean tivesse mesmo desistido dele? Aquilo não fazia nenhum sentido. Ele precisava de uma explicação! O professor queria arrancar o coração do peito. Doía demais.

– Se Castiel não puder vir, pode ser outro espírito. Qualquer anjo do céu! - suplicava o homem.

O moreno não saberia dizer quanto tempo havia passado, quando ouviu um barulho na janela. Assustado, foi averiguar o que era. Mais assustado ainda ficou com a figura que viu. Parecia um anjo de verdade, com enormes asas! Mas aquele não era um anjo qualquer. Era um anjo negro. Suas vestes eram negras... Suas asas eram negras... Suas unhas eram negras... Sam olhou para ele boquiaberto.

– Você... Você é um anjo? - perguntou então o professor, fitando o ser alado.

A criatura cumprimentou-o com um ligeiro aceno de cabeça. - Desculpa se eu o assustei. -respondeu, simplesmente.

Bem, pra falar a verdade, pouco importava se o rapaz era mesmo um anjo. Devia ter algum poder... Algum conhecimento sobre espíritos. Devia estar ali para ajudá-lo, e Sam deveria ser grato por isso.

– Obrigado por vir! Tanto que eu pedi por ajuda... - choramingou ele.

– Não vim por sua causa... Desculpa... - falou a criatura.

– Não? - O que aquele anjo negro fazia ali então? Sam já não estava entendendo mais nada. Talvez estivesse mesmo ficando doido de vez.

– Vim fazer uma visita ao Padre Matthews. - Explicou ele. - Prazer, meu nome é Samael.

– Padre Matthews?! - surpreendeu-se Sam. Então ele, que era boa pessoa, suplicava por ajuda, e o anjo que descia do céu vinha para aquele padre homofóbico? Que injustiça!

Samael deu um sorrisinho de lado.

– Desculpa, tenho que ir... - E dizendo isso, o anjo desapareceu pelo aposento, através do que parecia ser uma passagem secreta.

Sam, estupefato, esperou mais alguns minutos, até resolver ir pra casa. Pelo menos aquele acontecimento inesperado o fez se esquecer por um minuto de sua dor.

Na manhã seguinte ouviu-se a notícia da morte do padre Matthews, vítima de um crime violento e sem explicação. O corpo do homem fora encontrado sem vida, com a garganta perfurada, e o mais intrigante foi a falta total de vestígios do assassino. Tudo que encontraram foi uma enorme pena negra, o que nada ajudou os investigadores. Padre Matthews fora vítima do crime perfeito...

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– Vou colocar esse seu namorado na cadeia... - vociferou Saul, segurando o braço de Dean com violência. - Se ele encostar mais um dedo em você... Tá ouvindo, né, garoto?

Que homem intrometido. Por que não deixava ele em paz? Saul nem mesmo policial era, Dean descobrira pelas conversas dele com Mackenzie. O homem trabalhava para um firma terceirizada, e fazia serviços de secretariado na delegacia. Havia conseguido um uniforme policial sabe-se lá onde, e adorava tirar onda com ele.

– Você não tem poder pra prender ninguém... - zombou o louro.

Saul ficou com raiva e apertou o braço do garoto com mais força.

– Não folga comigo não, moleque! Eu conheço todo mundo na polícia! Se precisar de um favor, eles fazem pra mim.

Dean não respondeu. Odiava Sam, mas não a ponto de querer vê-lo na cadeia. Cadeia era pra criminosos, e isso, seu ex-namorado não era.

– Você não vai ao colégio na segunda-feira! - completou Saul - Eu sei muito bem que só quer ir pra lá pra encontrar o professorzinho!

Com alguns minutos passados do encontro com Sam, os joelhos de Dean voltavam a bambear, pensando no professor. Ele conseguira ficar calmo, e falar friamente com o homem. Ponto pra ele. No momento, entretanto, o sentimento em seu peito era horrível. Ele não queria ir para a escola exatamente para não ter que encontrar Sam de novo. Saul estava redondamente enganado...

– O difícil vai ser você convencer minha irmã... - argumentou Dean.

Aquela noite, Saul e Mackenzie brigaram horas a fio. Ela queria se ver livre do irmão. Saul, ao contrário, dizia ser uma grande irresponsabilidade mandar o garoto para o colégio.

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A noite, sozinho em seu apartamento, Sam não sabia mais o que fazer. Não tinha mais certeza de nada. Talvez ele fosse mesmo um lunático, e tivesse sonhado com toda aquela história de reencarnação.

Sem ver outra alternativa para sua dor, Winchester alcançou uma garrafa de vinho. Não costumava beber, mas talvez, naquele momento, o álcool pudesse ajudá-lo.

Estava em situação deplorável.Talvez Dean tivesse razão em repudiá-lo, e de sair de perto dele. Talvez Castiel nem mesmo existisse. Assim mesmo, por via das dúvidas, o homem implorava por sua presença.

– Castiel! Onde você se meteu!? Isso não é justo! Dean é minha alma gêmea! Ele é meu! - gritava o homem, após já estar na metade de segunda garrafa. Ben ficou assustado quando viu seu dono jogar um cadeira com força no chão. Winchester parecia com raiva.

– Sam... - uma voz chamou de repente.

O homem levantou os olhos turvos de lágrimas, zonzo pelo efeito do álcool.

– Quando vai parar de chorar e fazer alguma coisa por você mesmo?

– Castiel?

Mas para sua surpresa, não era Castiel quem acabava de se materializar ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Samael é um personagem do meu amigo Darkside Collins. Ele é um anjo que, para salvar seu amor, precisa cometer assassinatos (só lendo a história para entender). Em vez de matar qualquer inocente, ele prefere tirar a vida de padres, que, assim como Padre Matthews, são contra os gays, ou são pedófilos.

Nessa historia, Samael faz apenas uma participação especial (padre Matthews estava precisando de uma visita). Quem quiser ler sobre ele, as histórias podem ser lidas aqui Nyah!, no perfil do Darkside Collins.



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