Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 44
Capítulo 43




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Sam andava de um lado para o outro em seu quarto, chorando sem parar, e sem saber exatamente o que fazer. E se o Dean nunca mais quisesse falar com ele? E se estivesse mesmo tudo acabado entre eles, para sempre? Ele tinha tanta certeza que o menino viera para ficar ao seu lado... Mas e se estivesse enganado. Vai ver a espiritualidade havia colocado Dean ali apenas para testar o seu auto-controle, e ele, Sam, falhara miseravelmente. Mas como haveria de resistir? Era apenas um homem... E um homem muito apaixonado.

Mas o que deixava Sam ainda mais desesperado era imaginar o quanto seu bebê devia estar sofrendo. Imaginar o louro chorando, sentindo a falta dos pais, e ainda por cima decepcionado com o namorado, partia o coração do mais velho. Ele não podia deixar que o pobre menino sofresse assim. E se Mackenzie estivesse sendo ruim com ele? E se Saul estivesse se metendo no meio e piorando tudo ainda mais? Ele tinha que fazer alguma coisa. Mas o que?

Winchester então olhou para o chão, onde Ben brincava, inocentemente. Talvez devesse dar um jeito de entregá-lo ao louro. Quem sabe o animalzinho não pudesse ajudar a amenizar tanta dor? Mas e se ele largasse Ben na porta dos Campbell e Mackenzie se livrasse do bichinho? Era arriscado demais...

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– E então? Estão prontos?

Christian olhou para Brian com pouca animação. Se dependesse apenas dele, jamais se encontraria com Matthews de novo. Mas Pablo pelo jeito tinha mesmo sofrido uma lavagem cerebral, e não estava nem um pouco disposto a largar a terapia.

– Estamos prontos. - respondeu então o garoto de origem latina, levantando-se do banco onde estava sentado.

Brian reparou o quanto Pablo parecia abatido. Não se parecia nem de longe com o garoto animado que tornara-se capitão do time de basquete dois anos atrás. Aquela nova versão do menino estava sempre triste, cabisbaixa e sem vontade de fazer nada. O professor Scott suspirou. E se o aluno estivesse mesmo ficando deprimido, como Christian lhe dissera? Ele torcia para que não... De qualquer forma, apesar de Patrick, Christian e Dean discordarem dele, Brian tinha a certeza que o Padre poderia ajudar o garoto. Matthews era um bom homem. Um homem de Deus... Talvez devesse expor sua preocupação para ele.

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Sam Winchester, depois de circular o quarto umas cem vezes seguidas, finalmente sentou-se na cama. Em seu braços segurava o pequeno Ben, perdido em seus pensamentos e sentindo seu coração implodir dentro no peito. Chorava copiosamente. Talvez Dean e Ben jamais fossem se reencontrar. E nada do que estava acontecendo parecia fazer qualquer sentido... Era como um quebra-cabeça que apesar do encaixe perfeito, tinha peças que se repeliam. Desse jeito, uma imagem jamais se formaria.

– Castiel, pelo amor de Deus! Eu preciso que você apareça pra mim! - suplicou o homem então, em voz alta e embargada pelo choro. Ele nunca mais pedira ao seu mentor que viesse em seu auxílio. Sabia que Castiel não tinha permissão para aparecer para ele... Mas naquele momento, Sam sentia como se aquela fosse a sua única esperança. Ele precisava urgentemente de uma explicação e de uma palavra de consolo.

Winchester olhou ao redor, mas, desolado, constatou que ainda estava sozinho. Ou se Castiel estivesse ao seu lado, ele não podia vê-lo. Estava em silêncio quando de repente bateram na porta, fazendo o professor dar um pulinho de susto.

– Toc Toc Toc!

Sam limpou os olhos depressa e assoou o nariz. Não queria que ninguém o visse naquele estado.

– Quem é? - perguntou antes de abrir a porta. Se pudesse evitaria de fazê-lo.

– Sou eu, professor. Misha! Eu e o Justin.

Misha e Justin decidiram procurar Sam assim que tiveram um tempo livre, logo depois do almoço. Primeiramente queriam saber se ele tinha alguma notícia de Dean, que continuava sem dar nenhum sinal de vida. Além disso, ficaram preocupados quando o inspetor avisou que Winchester não estava se sentindo bem, e que não daria aula.

Sam, sem nem saber porque, resolveu abrir a porta. Poderia ter simplesmente dito aos garotos que estava doente, e que voltassem depois. Mas poder falar com os amigos de Dean talvez o fizesse se sentir melhor.

Fungando e com os olhos vermelhos, o professor não conseguiu disfarçar o quão arrasado estava se sentindo. Os meninos ficaram surpresos. Imaginavam que Winchester estivesse muito triste com a morte dos pais de seu namorado, mas não pensaram que o encontrariam naquele estado. Surpresos também ficaram ao serem recepcionados por um alegre filhote canino. Podia cachorro na escola? Acharam melhor nem comentar...

– A gente queria saber se você tem notícia do Dean... - disse Misha com a voz fraca.

Sam não respondeu, mas fez um gesto com a cabeça convidando os meninos a se sentarem. O silêncio reinou por alguns segundos até que o mais velho resolveu responder.

– Dean... Ele... - a voz de Sam embargou - Ele está muito triste e... Ele terminou o namoro comigo... - completou o moreno, fazendo todo o esforço do mundo para conter as lágrimas.

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Dean levantou-se da cama e lavou o rosto no banheiro. Ele estava cansado de ficar ali deitado, com pena de si mesmo. Além disso, finalmente começava a sentir fome. Já tinha dado algumas mordidas no sanduíche que Saul lhe trouxera, mas agora sentia necessidade de comer comida mesmo. Comida de verdade...

O garoto então desceu até o andar debaixo. Quem sabe a irmã não tinha feito alguma coisa pro almoço? Para sua surpresa, entretanto, ao invés de encontrar comida, encontrou Mackenzie e o namorado envoltos em uma nuvem de fumaça, comendo biscoitos recheados e rindo sem parar.

Que nojo... Aquilo devia ser maconha, ou alguma outra droga qualquer... E Saul não deviam estar trabalhando? Bem, problema... Dean franziu o cenho e passou por eles direto. Sorte que tinha comida congelada no freezer.

– Gatinho, vem cá! - chamou Saul. - Deixa eu passar a mão em você!

Dean ignorou o homem, e em seguida ouviu Mackenzie reclamar e bater no namorado. Mas a revolta da moça durou pouco, pois logo já estavam se agarrando no sofá e rindo novamente.

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Enquanto isso, Brian, Pablo e Christian chegavam à paróquia para se encontrar com Matthews. Antes dos meninos entrarem para a consulta, Brian pediu para conversar com o padre em particular.

– Padre Matthews... Não sei se você soube... Mas o Skye, lembra dele?

– Aquele rapaz homossexual que vivia grudado com Patrick Vantouch? Como poderia esquecer? - disse o homem um tento irritado, provavelmente se lembrando dos ovos que foram lançados em sua careca algumas semanas atrás.

Scott abaixou os olhos. Sim, Skye e Patrick haviam muitas vezes sido desrespeitosos com o padre. Mas no fundo eram bons meninos...

– Skye estava deprimido, padre. Ele tentou se matar... Um rapaz tão jovem... E eu andei pensando... - Brian queria falar de Pablo, mas foi cortado pelo outro homem.

– Tentou se matar? Até que enfim o rapaz Clarkou uma atitude!
Scott olhou para o padre sem entender suas palavras, e Matthews prosseguiu.

– Skye não tem mais jeito, Brian... Nem ele e nem Patrick. Eu sei que a Igreja é contra o suicídio, mas no caso deles... Bem, eu particularmente acho melhor dar fim a uma vida cheia de pecados, e que não vale a pena...

– Não vale a pena?! Skye é só um garoto, Matthews! E que eu saiba seu único pecado é gostar de rapazes! - Brian estava chocado com o que acabara de ouvir. - E eu espero que ele consiga se recuperar. Está em coma... - completou sem esconder sua indignação.

– Esse rapaz só causa sofrimento pra família. Eles são gente decente, católicos, tementes a Deus... Vai ser melhor pra todo mundo se o garoto morrer...

Matthews falava quase sem expressão, como se a vida daquele rapaz não tivesse importância nenhuma... Brian lembrou-se de Patrick com os olhos vermelhos de tanto chorar. Talvez Vantouch tivesse mesmo razão... Aquele velho idiota não parecia conseguir enxergar nada através da máscara do preconceito. Como ele pudera estar tão cego durante tanto tempo? Patrick e Skye eram bons rapazes, e mereciam viver e ser felizes como qualquer outra pessoa. Sem perder tempo, o treinador chamou por Pablo e Christian e os levou dali. Terapia com o padre Matthews, nunca mais...

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Misha e Justin olhavam assustados para Sam, mas o professor não podia mais guardar segredos. Se os amigos de Dean entendessem, quem sabe não poderiam conversar com o louro e fazê-lo entender também?

– Dean ficou magoado comigo. Terminou o nosso namoro porque descobriu que eu namorei com o irmão dele, quando éramos garotos... E eu nunca tinha mencionado isso... Aliás, até cheguei a mentir, dizendo que não conheci o primeiro Dean...

– E por que você mentiu? - perguntou Misha, arregalado.

– Pro Dean não ficar chateado, né? Era bem capaz dele achar que o professor Winchester estava namorando com ele só por causa do irmão... - Justin acrescentou, poupando Sam de dar a Misha essa mesma explicação.

– E estava? - Collins então perguntou olhando o professor nos olhos.

– Não... Eu... Eu... - gaguejou o homem. Como explicar que era possível amar os dois Deans da mesma maneira? Ambos eram reencarnação do mesmo espírito, afinal. - Vocês acreditam em reencarnação? - perguntou por fim.

Justin e Misha acenaram a cabeça afirmativamente, e em seguida ouviram a história mais incrível que haviam ouvido em toda a sua vida.

Antes de se despedirem, os meninos prometeram ir até a casa de Dean no dia seguinte. Era aniversário do louro, e com certeza o diretor daria aos melhores amigos do pobre órfão autorização para ir vê-lo. Eles tentariam falar sobre Sam, com muito tato... Também dariam um jeito de saber se Mackenzie e Saul estavam tratando dele diereito. Depois dariam notícias do Dean ao professor.

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– Será que o professor Winchester é louco? - perguntou Justin, assim que ele e Misha se afastaram do quarto de Sam.

– Não! - surpreendeu-se Misha. - Eu acreditei em tudo... Em cada palavra... E o Ben, atual cachorrinho e ex-ratinho, é tão fofo!

– Sim, ele é fofo... - sorriu Justin. - Mas será mesmo que é tudo verdade...? - o louro estava na dúvida. De qualquer forma, sentia vontade de ajudar o homem. Estava claro que maluco ou não, ele gostava de Dean de verdade, tendo ou não gostado de seu irmão também.

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– Para onde a gente está indo? Hoje não vai ter terapia? - perguntou Pablo, surpreso, assim que Scott levou os garotos de volta para o carro.

– Não, não vai ter terapia... - respondeu o mais velho. - Mas quero que vocês conheçam um amigo meu. Ele está hospedado na minha casa, então é pra lá que estamos indo...

– Que amigo? - Quis saber Christian.

Brian não respondeu. Respirou fundo em seguida. Ele não sabia exatamente como pedir desculpas.

– Eu não vou levar vocês mais para encontrar o padre Matthews. Eu estava enganado sobre ele... Patrick, o meu amigo, é um rapaz que se aceita do jeito que é... O mais importante é a gente ser feliz, sabe?

Christian nem pôde acreditar no que acabara de ouvir. O que dera em Brian Scott afinal? O garoto sorriu de uma orelha a outra. Talvez agora Pablo fosse ter a ajuda de que tanto precisava!

– Patrick tem um amigo, chamado Skye - continuou Brian. - Ele estava deprimido. Tentou se matar... É uma história muito triste. Esse tipo de coisa não devia acontecer com ninguém...

Scott suspirou. Não queria que algo assim se repetisse com seu aluno. Pablo não podia continuar como estava... Após a decepção que tivera com Matthews, algo despertou dentro do treinador. E se o único jeito de Pablo ser feliz fosse como homossexual? Ele deveria morrer também? Não. De jeito nenhum!

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Patrick ficou feliz com a visita. Sentou ao lado de Brian e dos meninos e contou sobre sua própria experiência de vida. Como ele se descobrira gay e como havia sido a reação de sua família. A mão lhe deu apoio desde o início. O pai, custou a aceitar. De qualquer forma, nem de longe tivera tido problemas tão sérios quanto os de Skye. Com ele, tudo havia sido muito diferente...

– Mas ficar com outro homem é pecado... - murmurou Pablo, tristemente.
– Pecado!? Pecado é um padre careca e mau amado ficar colocando minhoca na cabeça de meninos inocentes! - retrucou Patrick, ferinamente.

Christian riu e concordou com ele. Quanto a Brian, esse ainda não sabia exatamente no que acreditar. Preferiu manter-se calado. Mas quando finalmente voltou para a escola com os meninos, notou que Pablo sorria pela primeira vez em muitas semanas. Talvez ele finalmente tivesse dando alguma ajuda ao aluno...

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A conversa com Misha e Justin dera a Sam um pouco de esperança. Quem sabe os meninos pudessem acalmar o coração de seu neném e fazê-lo enxergar o quanto Winchester o amava de verdade?

Sam também conversara com Clark e Garth. Ligou para os dois amigos para contar a tragédia e chorar suas mágoas. Apesar do alivio imediato que o desabafo lhe trouxera, mais tarde, quando a lua já estava alta no céu, Sam sentiu que mais uma vez não aguentaria de tanta tristeza. Então, sem outra alternativa, o professor tentou chamar Castiel de novo.

– Castiel, por favor! Eu preciso de você! - suplicava ele, com os olhos cheios d' água.


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