Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 29
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

O verdadeiro capítulo 28...



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A semana passou devagar para os alunos no Colégio Saint Peter. Semana de provas era sempre assim... Dean, particularmente, mal podia esperar pelo Sábado. Queria e precisava estar com seu amor novamente. Ficar sem aulas de teatro e sem os encontros da peça de final de ano tornavam sua espera ainda mais sofrida.

Com todos empenhados em estudar, pouco acontecia naquele colégio... Até Ruby dera um tempo de tirar fotos e escrever fanfictions depois de ter ido mal na prova de segunda-feira.

Na primeira metade da semana, o aluno que se destacava por seu bom humor era Christian. O menino parecia pisar em nuvens, e Dean sentia-se feliz por ele. Era perceptível que Pablo andava dando-lhe atenção, e, provavelmente, passando momentos ótimos ao seu lado, escondidos em algum lugarzinho esmo do Castelo... Foi perceptível também quando a situação se reverteu. Quinta e sexta-feira Pablo passou muito tempo conversando com o treinador Scott pelos corredores. Christian tornou-se triste e cabisbaixo.

Dean queria perguntar, mas não se sentia ainda íntimo o suficiente. Não queria deixar Christian ainda mais aborrecido por ter que lhe contar sobre o fracasso de seu relacionamento.

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Para Sam, ao contrário, a semana pareceu passar depressa. Estivera atarefado no colégio. O diretor parecia querer compensar a aparente ociosidade dos professores marcando várias reuniões, que em geral o entediavam. Além de precisar comparecer à essas reuniões, também precisou tomar conta de provas e preparar material para suas aulas. Quando tinha um momento de folga, o professor corria para o veterinário para visitar Ben. O Cachorrinho ainda estava em estado crítico. As vezes, melhorava. As vezes, piorava, matando Winchester de preocupação.

No meio da semana Sam recebeu um telefonema de Clark. Finalmente tinha recebido a resposta pela qual tanto esperara. Sim, ele havia sido aprovado! Sim, ele estava feliz da vida! E sim, estava também apavorado... A perspectiva de largar seu emprego como advogado e partir de vez para a Broadway viver seu sonho era um tanto assustadora, apesar de empolgante. Mas o que estava deixando o homem realmente nervoso era a conversa que precisaria ter com seu namorado Trevor. Trevor não sabia de nada afinal... Sem dúvida ficaria chateado com ele...

– O que eu faço, Sam? - choramingava Clark ao telefone. - Se você fosse ele, ficaria chateado?

Winchester ponderou. Imaginou Dean se mudando para Nova York de uma hora pra outra. Sim, ele ficaria furioso... Mas Clark não tinha saída. Precisava mesmo contar.

– Não, Clark! Claro que não... Fica tranquilo. Conversa com ele, com jeitinho. Vai dar tudo certo...

E Sam torceu mesmo para que Trevor não brigasse com Clark. Afinal seu amigo merecia vivenciar a felicidade de ter sido selecionado para o papel com o qual tanto sonhara. Merecia receber total apoio do homem que tanto amava.

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Sexta-feira pela manhã, Christian se aproximou de Dean. Chamou o louro em um canto para um conversa em particular.

– Dean... Olha... Eu queria te alertar de uma coisa... - disse o menino em tom sério.

O que haveria de ser? Dean apenas permaneceu calado. Será que Navalhada andava implicando com ele de novo, inventando de ter ciúmes sem motivo algum? Ele mal falara com Christian durante a semana afinal...

– Não queria que você levasse o Pablo a mal. Você sabe que ele é uma ótima pessoa... Mas os pais dele são religiosos, e ele acredita em várias das baboseiras que o treinador Scott fala...

Dean ficou apreensivo. Pelo jeito aquele papo não tinha nada a ver com ciúmes...

– Eu sei, Christian... Pode falar... - disse o menino, apressado. Dean queria saber logo do que se tratava.

– Pablo disse que ia contar pro professor Scott de você...

– Contar que eu sou gay? - surpreendeu-se Dean.

– É... Eu falei pra ele não fazer isso, Dean. Mas ele insistiu que era pro seu próprio bem...

Para o seu próprio bem? Que droga! A última coisa que Dean queria era Brian na sua cola tentando catequizá-lo, e levá-lo para o "bom" caminho. Ele e Christian ainda conversaram por algum tempo. Pelo jeito Pablo andava mesmo confuso. Depois de três dias felizes, namorando, decidira novamente que o que estava fazendo era pecado. Agora, pelo jeito, não contente em salvar sua própria alma, queria que o "santo" Brian pudesse dar bons conselhos a Christian e, pelo jeito, a ele, Dean, também.

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Foi só Christian se afastar e Dean esquecer do problema por um instante que Brian apareceu ao seu lado, do nada.

– Olá, Dean - cumprimentou o treinador. O homem, ao contrário do que previra o garoto, era todo sorrisos. Talvez Pablo ainda não tivesse tido a oportunidade de conversar com o ele...

– Oi, professor Scott - respondeu o menino educadamente, mas sem entusiasmo.

– Falei com seu pai hoje, pelo telefone...

Dean olhou para Brian espantado. Falara com Roger ao telefone? Por que? Para que? Será que Pablo tinha tido tempo sim de contar tudo a Brian, que fora correndo contar a seu pai? Dean sentiu-se gelar por dentro.

– Ele me disse que o médico já deu permissão para que você volte pro time! - completou o homem, sem esconder o contentamento - mas não se preocupe, prometi a ele que pegaria leve. E logo logo você já vai estar totalmente em forma...

Que alívio... Dean respirou fundo, sentindo-se mais tranquilo. Só depois processou melhor a informação que acabara de receber. E ele não sabia o que responder... Brian estava todo animado, dando-lhe a boa notícia. Como dizer a ele que não queria voltar para o time de basquete? Bem... Só existia um jeito... Precisava ser sincero!

– Mas treinador... Eu não quero voltar pro time... - disse titubeante.

A expressão que se formou na face de Brian foi de um espanto horrorizado. Em seguida franziu o cenho.

– Mas por quê? - quis saber ele.

– Pra falar a verdade, não acho que participar do time de basquete seja o certo pra mim... Eu nem sei jogar direito... - suspirou o menino. - eu poderia dedicar esse tempo a outras atividades extracurriculares que tem mais a ver comigo.

Dean sorriu por dentro. Sua explicação havia saído tão perfeita e tão madura que Brian não haveria de contestá-la.

– E que outras atividades seriam essas? - o homem permanecia perguntando, com a expressão de quem não podia acreditar no estava ouvindo.

– Pintura, música... - respondeu Dean convicto.

Brian fitou o garoto. Dessa vez era visível o pavor em seus olhos.

– Dean... Um garoto na sua idade precisa praticar atividades físicas... Precisa conviver com outros homens que falem sobre assuntos masculinos, como mulheres e futebol. Música e pintura podem ser muito bons, mas não agora... Não há nenhum problema em um homem ser sensível e artístico, mas primeiro precisa estar seguro de sua sexualidade, entende? Ou pode acabar ficando confuso e se desviando do caminho correto.

O louro agora era quem olhava para Brian arregalado. Primeiro achara que não, depois achara que sim, em seguida achara que não novamente... Mas agora tinha certeza: Pablo contara à Brian Scott que ele era gay! E era impressionante a quantidade de besteiras que saia da boca do treinador. Dean queria responder alguma coisa, mas nem sabia exatamente o que falar. Antes que tivesse a oportunidade, Brian continuou seu discurso.

– Dean, eu entendo... Você está confuso, assim como outros meninos da sua idade ficam. É mais comum do que você pensa... O Pablo, o Christian, até mesmo o seu irmão quando tinha a sua idade, sabia? Mas isso não quer dizer nada. Até eu já fiquei confuso, e sei o quanto ajuda ter alguém pra conversar. Você pode me procurar para conversar quando quiser.

O cérebro do garoto agora dava um nó. Como assim seu irmão e Brian também tinham estado "confusos"? Isso significava que Dean, o primogênito, era gay também? E significava que Brian algum dia tinha tido vontade de ficar com rapazes? Agora sim, todas as palavras tinham fugido de sua boca por completo.

– Então, segunda-feira que vem, te encontro na quadra às 10h da manhã. Tenha um bom fim de semana. - completou o treinador, quase ditatorialmente.

Dean apenas concordou, balançando a cabeça boquiaberto.

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– E então, Clark? Como foi a conversa com Trevor? - perguntou Sam, ao telefone, preocupado. Já era sábado de manhã, e sabia que Clark iria conversar com o namorado na noite anterior. - Ele ficou muito zangado?

– Zangado? Não... - Suspirou Clark. - Ele ficou triste... - respondeu em um muxoxo. - Ele disse que eu deveria ter confiado nele... Disse que teria me dado todo apoio do mundo. Falou que me ama, e se magoou por eu não ter contado antes...

– Ahh Clark, mais isso é bom... - comemorou Sam. De fato Trevor ter ficado um pouco triste não era o pior que poderia ter acontecido... - Então está tudo bem com vocês?

– Sim... - disse melancólico. - Mas eu fui um idiota... Não devia ter escondido nada do Trevor... - Clark suspirou fundo. Melhor mudar de assunto...

– E você? Decidiu o que vai fazer com o Dean hoje?

– Sim! - exclamou Sam, alegre. O dia estava atipicamente quente para o outono. - Vou levá-lo à praia! - falou com entusiasmo.

Clark demorou a responder.

– À praia? A praia do colégio? - perguntou incrédulo.

– A praia sempre fica deserta! E ainda mais sábado... Não tem ninguém por perto. A escola está fechada... - justificou-se Sam.

Mas não era bem esse o motivo do desconforto que Clark sentia...

– Você não acha... Hmmmm... Isso meio... macabro?

Sam surpreendeu-se. Macabro? Deixou que o amigo se explicasse.

– Sei lá... Ross morreu naquela praia... E Dean... Não foi lá a última vez que vocês se viram?

Winchester engoliu em seco com a lembrança.

– Besteira, Clark... - resmungou. Mas ficou pensativo. Talvez o amigo tivesse razão...

E então Clark mudou de assunto mais uma vez.

– Sam... Aproveita que você vai sair com o Dean hoje... Conta que você namorou com o irmão dele! Conta tudo... Vai ser melhor pra vocês... Se eu pudesse voltar atrás, não teria escondido nada do Trevor...

Sam arregalou-se. Contar para Dean? Nem morto... Tratou de despedir-se de Clark, cortando o assunto. Tinha que terminar os preparativos para o encontro com seu bebê. Depois ele e Clark poderiam conversar mais, já que se veriam no meio da semana para se despedir. Quinta-feira Clark estaria se mudando de vez para Nova York.

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A campainha tocou mais ou menos meia hora depois que Sam desligou o telefone. Seu coração bateu acelerado. Fazia tempo... Muito tempo que não tinha seu amado nos braços.

– Dean... - suspirou ele, sem conter o sorriso que se formou em seus lábios.

Os olhinhos do mais novo se encheram de água. Estava emocionado por finalmente estar com Sam de novo... As duas semanas que ficaram separados foram mais demoradas que uma lesma atravessando o oceano Atlântico a nado... Jogou-se nos braços do mais velho em seguida. O pai de Misha era um santo por fazer novamente aquele imenso favor...

– Achei que eu fosse morrer de saudades... - choramingou o louro, enquanto apertava o corpo do moreno contra o seu.

Sam correspondeu as carícias e beijinhos, sentindo-se o homem mais feliz do mundo. Só ao lado de Dean estava completo. Em seguida anunciou que tinha uma surpresa para o outro. Iriam fazer um piquenique. Antes, tinha certeza que seria na praia... Agora, depois do que Clark dissera, ficara na dúvida. Só precisava ser num cantinho deserto, onde jamais seriam vistos.

– Vamos à praia? - sugeriu Dean entusiasmado. E como Sam poderia negar?

Dean não cabia em si de felicidade. Aquilo era romântico, e excitante... E Sam era o melhor namorado do universo inteiro!

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Se esgueirar para fora do apartamento de Sam, ao lado do moreno, fazendo de tudo para não ser visto, deixou Dean ainda mais fascinado com a aventura. Sentia-se um clandestino, vivendo um amor proibido. Quando chegaram à praia então, quanta emoção... Dean não se lembrava de todas as vezes que sua alma estivera por lá com seu amado, mas podia sentir a vibração do lugar. Era lindo, doce, calmo... E totalmente deserto. Podia ver os muros do Castelo que se erguiam majestosos, metros acima.

Se Dean não se lembrava, Sam não podia esquecer... Colocou a cestinha de piquenique na areia, no mesmo local que sempre pusera antes, e contemplou a paisagem. O mesmo mar azul profundo e o céu azul clarinho... A areia, branca e suave... As pedras... A gruta. O homem sentiu um nó na garganta. Clark tinha razão... Ele vira Ross morrer em seus braços, naquele mesmo cenário... Também ali, vira Dean pela última vez, sabendo que o destino mais um vez os separaria... E quantas vezes, sozinho, não se refugiou ali para chorar?

Era estranho o quanto gostava da praia... E não... Ele não a achava macabra... Muito pelo contrário. Aquele cenário, lindo, o levava para mais perto de Deus. O sol, o mar, as pedras, que permaneciam inabalados diante de qualquer tragédia, sempre estiveram ali para lhe dar força. Para lembrá-lo de olhar além... E como pudera duvidar que um dia haveria de ser plenamente feliz, quando era exatamente isso que lhe diziam as ondas do mar? Era exatamente isso que o vento soprava aos seus ouvidos...

Sam contemplou seu menino correndo, sorrindo, brilhando junto com o sol, e sentiu uma lágrima escorrer em seu rosto.

– Obrigado, meu Pai. Obrigado! - murmurou baixinho, emocionado.


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