Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 5
It's a Beautiful Day


Notas iniciais do capítulo

"Você está na estrada
Mas você não tem nenhum destino
Você está na lama
No labirinto da imaginação dela" - U2 (Beautiful Day)



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Decido continuar a trilha, caminhando pelo terreno irregular entre árvores. O lugar parece silencioso, mas de certa forma um pouco aconchegante. Uma ou outra vez ouve o som de um pássaro ou um grilo... O lugar é calmo e me passa tranquilidade, me lembra de quando meus pais me levavam para acampar em uma pequena cidade assim como essa, com trilhas bem parecidas de mata fechada. Era incrível, sempre gostei das trilhas com meus pais e tudo era muito divertido. Tinha um lago próximo também, ele sempre estava belo e pronto para que várias fotos fossem tiradas dele. Talvez se ainda estivessem vivos, hoje seria um belo dia para se acampar.

Começo a pensar se vir a Silent Hill teria sido uma ideia tão má... Certo que toda aquela mitologia em volta, aquelas criaturas, aquela menina estranha... Tudo isso na verdade talvez tenha sido apenas lenda mesmo, sendo que... Aquela mulher no cemitério me deu um pouco de medo dizendo que era uma ideia idiota. Mas... medo de quê? É apenas uma cidade abandonada! Continuo caminhando pela trilha, que não me mostra muito à frente. Estou começando a me sentir bem, eufórico, pronto para explorar exatamente tudo que há naquela cidade, cada prédio, cada centímetro quadrado. Talvez ainda encontre alguma evidência daquela antiga religião que o professor Thompsom falou, seria interessante... Não! O melhor de tudo seria se eu encontrasse o Selo de Metatron! Isso sim seria demais! O caminho continua sendo se revelado à medida que avanço. Um pouco mais a frente encontro uma pilha de troncos de árvores cortados próximo a uma pequena caminhonete, o que me mostra sinais de que há de certa forma alguns habitantes aqui nas proximidades. Continuo caminhando direto.

...

Finalmente encontrei alguns sinais da cidade: estou caminhando por uma pequena estrada asfaltada, que estava ligada anteriormente à pequena trilha a qual andava anteriormente. A cidade também está banhada por uma névoa muito densa que me impede de enxergar muita coisa à minha frente. Sinto um leve temor por perceber que a cidade parece realmente abandonada e estar sozinho aqui não pode ser muito legal. Continuo andando, procurando por sinais de alguma coisa, mas ainda não encontro nada. Silent Hill parece exatamente com o tipo de cidades fantasmas que são mostrados em filmes.

...

Sinto que finalmente cheguei à cidade. Vejo ruas conectadas, carros parados no meio da pista e vários prédios me rodeando. Sim, estou em Silent Hill. Aqui eu não ouço barulho de exatamente nada e tudo parece muito assustador, muito tenebroso. Não é a toa que esse lugar tem a fama que tem. Pego o meu celular no bolso e tento olhar a hora, mas não consigo enxergar... De algum modo, o relógio marca 88h e 88min, o que eu não consigo compreender. Talvez ele tenha quebrado, não sei. Tento fazer uma ligação, mas acho que nesse lugar não tem rede suficiente para isso. Coloco o celular no bolso e paro no meio da pista tentando entender tudo o que está acontecendo, pois isso parece muito estranho pra acontecer numa cidade abandonada. Abro um sorriso, talvez tenha encontrado finalmente aquilo que sempre busquei desde que entrei pra faculdade: uma evidência de outro mundo, um mundo sobrenatural.

De repente, começo a ouvir um som estranho, um som de uma sirene. Procuro em volta por alguma ambulância funcionando: nada! Não vejo absolutamente nada que possa emitir esse barulho e começo a girar na esperança de encontrar a fonte, mas não vejo absolutamente nada porque a névoa me cerca. O barulho começa a aumentar de intensidade e sinto todo o meu corpo tremer e meus sentidos se confundirem... Alguma coisa estranha está acontecendo e eu preciso entender o quê. Começo a correr em qualquer direção e sinto que estou perdendo a visão, pois tudo está ficando mais escuro. Paro no meio da avenida e coloco as mãos nos olhos, esfregando-os na tentativa de melhorar a visão enquanto que o som da sirene aumenta ainda nos meus ouvidos chegando quase a estourá-los. Abro os olhos, vejo o chão balançar e se distorcer... É como se tudo que estivesse ao meu redor começasse a ser sugado por alguma força misteriosa... A sirene continua até que vejo tudo ao meu redor diferente. Não vejo mais à névoa, apenas um escuro. Olho pro céu, não vejo estrelas, não vejo Lua, não vejo absolutamente nada. Olho pro chão e vejo o asfalto se deteriorar, alterando o solo em grades de metal enferrujadas como se estivessem em cima de algo, mas esse algo como se fosse um abismo profundo. Meu coração acelera e olho ao meu redor. Percebo que finalmente o que eu queria aconteceu: o mundo sobrenatural deu uma prova de sua existência.

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Eu estava caminhando por um lugar, um lugar completamente escuro e que as coisas tinha cheiro de carne em decomposição, sangue e ferrugem. O lugar era completamente estranho e me dava arrepios. O chão era formado por grades e sobre elas haviam criaturas caminhando, tentando de alguma forma me matar. Algumas delas não me davam tanto medo como cachorros que abriam a sua cabeça em duas... Mas havia os manequins que gemiam e derramavam sangue quando eu batia neles. Sempre tive medo de manequins, eles eram estranhos, pois pareciam pessoas de verdade que foram transformadas para estarem ali... Eu corri até um deles e desferi um golpe com um machado em sua cabeça, decapitando-a. O corpo dele jorrava sangue e eu comecei a sorrir enquanto o corpo da criatura caia no chão. Estava feliz até que ouvi passos pesados nas grades caminharem por trás de mim e o meu erro foi me virar na direção da coisa. Ele era um homem, ou qualquer coisa parecida à exceção de sua cabeça. Ele veio até mim e ergueu uma grande espada... Acordei.

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Agora eu sabia que não era mais um sonho. Durante todos os meus dias sonhei com coisas parecidas que me geravam essa vontade de descobrir algo real naqueles sonhos. Agora eu sei que ele existe! Meu corpo se arrepia inteiro, meus olhos começam a derramar lágrimas... Eu sempre achei que saberia lidar com essa situação quando a encontrasse, se a encontrasse. Agora eu vejo o quanto fui um idiota ao vir aqui, o quanto eu não saberia nunca me virar... Decido voltar para casa.

Pego rapidamente a lanterna dentro da mochila e tento encontrar o caminho de volta. Começo a andar calmamente e começo a perceber um pouco mais da cidade... Meu coração acelera mais a ainda e começo a correr desesperadamente, entrando em uma rua e saindo em outra na esperança de voltar para o carro e chegar à faculdade. Estou com medo. Continuo correndo até que encontro a rua exata pela qual eu cheguei aqui. A lanterna consegue iluminar mais à frente e vejo que a grade que tomou o lugar do asfalto está quebrada. Paro. Observo a situação e vejo que cairia tragicamente em um profundo abismo. Meu corpo se arrepia novamente, tenho que encontrar outra saída. Tento voltar para onde estava tentando me lembrar das ruas... Tudo parece diferente de quando eu passei antes, tem grades que impedem que eu chegue a algumas ruas, tem prédios quase demolidos... Vejo algumas árvores queimadas e carros parados no meio das ruas. Não me lembro mais onde parei.

Entro na primeira rua à esquerda, é uma rua comercial. Vejo algumas lojas, algumas com a porta aberta. Sinto medo, qualquer coisa pode aparecer aqui agora... Eu já não sei mais o que pensar no que fazer. As paredes estão enegrecidas e sujas de sangue. O cheiro chega a ser insuportável e minha cabeça dói. Ainda não sei o que fazer e continuo caminhando. De repente, começo a ouvir passos, o que faz com que eu vire para trás mirando a lanterna. A criatura parece ter um pouco mais que a minha altura, tem uma cor negra e seus olhos são vazios, vestida de noiva. Era um manequim.

–Aaaahhh... – a coisa geme.

–Não... pode ser!

Sinto um misto de alegria e desespero. Alegria por saber que tudo o que sempre acreditei realmente existe e desespero porque não sei o que fazer, tenho medo de morrer. Corro até a primeira loja que encontro e tento abrir a porta: trancada. Pego o canivete especial e forço a fechadura conseguindo abrir com um click. A criatura ainda vem atrás de mim, então corro para dentro e fecho a porta, usando o canivete para forçar a fechadura mais uma vez e trancar. Olho a loja em volta enquanto a criatura bate na porta tentando abri-la, mas sem sucesso. Olho em volta dentro da loja e percebo que entrei em uma loja de ferramentas. Vejo alicates, chaves de fenda e coisas parecidas... Talvez possam me ajudar em sobreviver aqui, pelo menos até encontrar um meio de voltar para casa. Aqui dentro as paredes estão deterioradas, mas o chão parece ser de cerâmica velha, quebrada e suja de sangue.

Vou até algumas prateleiras e consigo pegar uma chave inglesa pesada, uma chave de fenda e um alicate, colocando-os na bolsa e a chave inglesa no meu bolso pra usar contra as coisas que aparecerem. Tento respirar e me manter tranquilo, mas não consigo. Sento no chão por trás de uma bancada tentando me esconder e vasculho na bolsa pelos artigos e rascunhos que encontrei na internet sobre Silent Hill. Começo a lê-los aleatoriamente tentando encontrar alguma explicação para tudo aquilo...

[ Silent Hill: 2 fases... Dia/Noite. Dia névoa, noite sem lua...

Coisas estranhas... monstros saídos da mente... Terror psicológico...

Rituais, deuses e mitologia... Alessa Gillespie... Mãe Sagrada. Incubus e Incubator.

Deus, serpente e junco... Mortalidade...

Lobsel Vith, Xulchichibara, Metatron... A Ordem.

Purificação dos pecados, eliminação do Caos, paraíso e reestabelecimento da Ordem ]

–Mas... Não consigo entender...

–Olá rapaz!

Olho em volta. Vejo duas portas perto da bancada que estou e uma delas está aberta com um vulto de alguém. Meu coração acelera novamente. Ilumino imediatamente com a lanterna e vejo um homem bem alto de cabelo preto com um rosto meio quadrado. Era o professor Thompsom.

–Pro...

–Rapaz, o que você faz por aqui a essa hora da noite?

–Pre... precisamos sair daqui professor – falo enquanto me levanto e me aproximo dele – essa cidade não está abandonada, tem monstros, tem coisas estranhas...

Ele olha pra mim com uma expressão de desdém.

–Como assim? É só uma cidade abandonada! Fiz certo em imaginar que algum dos meus alunos viria para cá investigar... Venha, vamos embora.

Ele caminha até a porta e tira um canivete parecido com o meu, abrindo a porta. Vejo o manequim vestido de noiva quase acertá-lo na cabeça, mas nada parece acontecer e o manequim regride, indo para o outro lado. Ele sai e fica na calçada da loja me esperando.

–Vamos, venha comigo.

–Mas... Professor, o senhor NÃO ESTÁ VENDO?!

O manequim estava quase entrando na loja, mas regride mais uma vez ao perceber a presença de Thompson.

–O quê? Ah, acho que não deveria ter falado tão enfaticamente... Você realmente acredita que há alguma coisa anormal aqui?

Sinto meu desespero se transformar em raiva. Como ele pode não perceber essa escuridão sem fim, o cheiro horrível exalado e essa coisa absurda vestida de noiva querendo me atacar?

–Professor... eu não estou louco.

Ele olha pra mim indiferente.

–Está bem, se ainda quer brincar aí, fique à vontade. Eu vou voltar pra minha casa. Pensei ter feito certo em me preocupar com a possibilidade de algum aluno idiota vir investigar isso, mas acho que errei. Fique aí brincando com sua imaginação.

Olho ao meu redor. Vejo a loja completamente deteriorada e o manequim querendo entrar... Meu coração continua acelerado. O professor fecha a porta e provavelmente foi embora. Tento imaginar que é apenas coisa da minha imaginação e corro até lá, abrindo a porta em seguida. Vejo a rua, completamente escura, grades substituindo o asfalto e vários manequins vestidos com roupas que provavelmente eram expostas em lojas. Vejo Thompson caminhando entre eles como se nada realmente o incomodasse.

–Professor! – grito.

Ele olha em volta, olha para o céu e depois para mim. Ele está a uns 10 metros, mas ainda posso ouvir sua voz.

–É uma bela noite, não?! Veja as estrelas e a Lua como estão lindas hoje! Vamos, venha embora comigo e te pago um café.

Ele sorri. Olho para o céu e não vejo nada além de escuro. Viro em direção a ele e vejo os manequins vindo em minha direção. Se eu for até ele, provavelmente serei pego por algum deles e morto. Queria saber por que ele não os vê! Penso em correr até ele ou algo do tipo, mas... Se eu for, eu posso morrer e além do mais talvez não tenha outra oportunidade de investigar isso, que pode ser o maior acontecimento da minha vida. Respiro fundo.

–Não, obrigado. Vou passar à noite por aqui e investigar mais dessa cidade.

–Mas... Não tem nada aqui. É apenas uma cidade abandonada, com alguns mitos. O máximo que você poderá encontrar são bandidos se escondendo de algum mal feito e fazerem algum mal a você. Não quero me sentir culpado por isso, então... Venha comigo, por favor. Vamos sair daqui.

Vejo um dos manequins se aproximar mais e corro para dentro da loja mais uma vez, trancando-a com o canivete. Volto para o mesmo lugar e sento atrás da bancada, tentando aguentar mais alguns momentos até que amanheça.


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Notas finais do capítulo

O capítulo foi inspirado na música que o nomeia, Beautiful Day do U2.



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