Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 4
Ideia Idiota


Notas iniciais do capítulo

"Não existem ideias idiotas, existem ideias na cabeça de idiotas." - Desconhecido



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Acordei faz algumas horas. Estou arrumando o meu kit e vou partir para o desconhecido, mais especificamente Silent Hill. Andei pesquisando na internet e... Decidi ir lá. Provavelmente vou encontrar uma cidade abandonada, não vou encontrar selo nenhum e nem nada relacionado ao que o professor falou... Já me acostumei com isso e acredito que vou desistir dessa vida de caçador de mitos se não encontrar nada, então diria que essa é uma festa de despedida para a vida adulta e racional. Embora ache que seria realmente incrível encontrar alguma coisa, sinto que vou me decepcionar e é até melhor que isso aconteça, assim desisto de uma vez de sair procurando por tudo que os professores falam em sala de aula sobre mitologia mergulhar no mundo e nas ideias dos teóricos sobre coisas que não me chamam atenção... Quem sabe até mudar de curso.

Respiro fundo enquanto coloco pilhas extras no bolso lateral da mochila. Olho ao redor, observando o quarto mais uma vez vazio a não ser por minha presença. Don e Chang provavelmente estão em aula há essa hora enquanto eu no início do semestre estou me ausentando. Abro a mochila novamente checando as coisas. Vejo os dois pares de roupas que coloquei caso precisasse, as barras de cereal e uma garrafinha de suco ao lado da minha lanterna preta. Fecho. Abro o outro bolso frontal e vejo um pequeno canivete, que tem um mecanismo especial de destrancar fechaduras, ao lado de um isqueiro, lupa e carteira de habilitação. Fecho todos os outros bolsos e sinto na calça que visto se estou com meu celular e fone de ouvido: percebo que sim. No outro bolso, sinto as chaves do carro e do apartamento. Agora sei que estou pronto. Vou até em cima da cama e pego a carta que escrevi pra Don e Chang. Dou uma última lida na carta e finalmente prego por trás da porta do meu dormitório. Sei que Don e Chang jamais entenderiam essa ideia e que provavelmente zombariam dela. Então penso melhor. Arranco mais uma vez a carta da porta, dobro-a e coloco no meu bolso. Pego uma mochila com roupas e alguns suprimentos necessários para a exploração da cidade abandonada e sigo pelo corredor dos dormitórios chegando a um espaço mais aberto. Vejo pessoas transitando por ali, algumas correndo para suas salas, outras preocupadas com seus projetos de pesquisa e eu... Bem, eu só estou saindo da cidade.

Aldebras é uma cidade universitária dos Estados Unidos. Não é lá grande coisa, mas abriga pessoas principalmente na mesma faixa de idade que eu. A universidade é para pessoas que não conseguiram notas ou desenvolvimento esportivo suficiente para ser aceito em outras universidades de mais renome, assim como eu: um cara completamente oposto de nerd e altamente sedentário! Aldebras foi o lugar perfeito para mim então, segundo as minhas notas e os professores orientadores.

Caminho até a área central do pátio de convivência que está apinhado de pessoas fazendo coisas das mais diferentes. Vejo algumas com frascos de química, outras ensaiando para peças e as mais variadas coisas. Próximo a uma barraca de vendas, está um mural disposto. Pego a carta e prego lá, seguindo rapidamente para o estacionamento com o fim de ninguém que eu conheça perceber que estou saindo e comece com perguntas sem sentido.

Ando por uma calçada estreita, tiro o celular do bolso e procuro no GPS por Silent Hill. Me assusto ao descobrir que não é muito distante de onde estou, cerca de cinco a seis horas de viagem. Pelos meus cálculos, acredito estar chegando por volta de umas 23h na cidade caso não pegue trânsito. Continuo andando e sinto uma brisa suave junto com os fracos raios do sol já do final da tarde baterem no meu rosto enquanto caminho para o estacionamento da área de dormitórios. Meu coração acelera um pouco ao lembrar o que talvez possa me esperar em Silent Hill. Mas o engraçado é que sempre tenho esse sentimento ruim, e nunca encontro nada a não ser lugares abandonados cheios de mofo e insetos. Provavelmente, não vá encontrar mais do que isso em uma cidade abandonada dos Estados Unidos.

Abro a porta do carro já sentando no banco do motorista. Jogo a mochila no banco do passageiro, já lembrando o costumeiro ritual. Tranco as portas, fecho os vidros e ligo o rádio e ar condicionado. A banda que ouço: Owl City, minha preferida. Coloco a chave na ignição, giro e ouço o barulho tranquilo do carro. Faço os procedimentos para sair e começo a ganhar a estrada, atento a qualquer barulho do GPS do celular. Ainda na universidade, vejo nas calçadas pessoas andando de um lado pro outras apressadas com suas aulas, bases de pesquisas e outras coisas mais enquanto eu estou ainda curtindo as “férias”, o que me deixa um pouco mal e me relembra os meus pais que sempre falavam para eu ser responsável. Estou dirigindo para a saída da universidade e consequentemente a saída de Aldebras, já que foi uma cidade projetada exclusivamente para abrigar a instituição. Entro na rodovia intermunicipal e vejo placas indicando várias cidades. Ouço a voz robótica do GPS me dizer para entrar à esquerda em 100 metros. Pelo menos acho que vou conseguir dirigir direito uma vez que preciso ficar atento à voz dessa mulherzinha.

...

Olho para frente e já me sinto cansado. Estou a cerca de 3 horas dirigindo e agora que vi uma placa informando a distância necessária para se chegar a Brahms. Quanto a Silent Hill, ainda não vi nenhuma referência especial. Continuo a 77 km/h, pouco abaixo do permitido nessa rodovia que é 80 km/h. Não consigo ver muita coisa além de mato de um lado e de outro, aparecendo aqui ou ali uma casa ou outra. Ainda não me sinto tão ansioso para chegar, mas também não me vejo retornando para a universidade. A estrada está um pouco escura, mas consigo ver poucas coisas com as luzes dos postes e do carro. Continuo velozmente, tentando chegar o mais rápido que puder para voltar o mais rápido ainda.

...

Está chegando quase cinco horas de viagem e me sinto muito cansado. Até agora, nada vi sobre Silent Hill, apenas algumas coisas sobre Brahms, o que me leva a pensar que talvez Silent Hill nem exista de fato. Entretanto, o GPS localizou, então de alguma forma esse lugar tem que existir. Continuo dirigindo, mantendo a mesma velocidade até que ouço o GPS.

–Conversão à direita daqui a 100 metros.

Continuo com os olhos fixos na estrada, olhando uma vez ou outra para o aplicativo que indica a conversão a ser feita. O carro continua até que vejo uma placa indicando Brahms e apontando para a direita. Acredito já estar quase chegando pelo que consigo ver no GPS. Faço à conversão e continuo seguindo em frente. Vejo algumas placas indicando Brahms e continuo seguindo até que finalmente o aplicativo emite som.

–Chegando ao destino final, Silent Hill.

Reduzo a velocidade do carro ao ver uma pequena construção iluminada por um poste e o estacionamento. Paro o carro e o estaciono ali. Pego a mochila, coloco nas costas e desço, trancando o carro em seguida. Vejo a estrada vazia e sinto um pouco de medo, o medo comum em achar alguma coisa. Olho para o relógio e vejo que marca 23h e 42min. Caminho até a pequena construção e abro a porta, vendo um corredor que dá em dois banheiros, um masculino e outro feminino. Entro no masculino e vejo um lugar completamente abandonado, sujo e nojento como se não fosse limpo a séculos. Sinto certo medo ao entrar ali e desisto de usá-lo. Volto para o carro, entro e penso em desistir, em voltar pra universidade e assistir as aulas do dia seguinte, mas me sinto tão cansado que não vejo condições para fazer o trajeto de volta hoje. Coloco a mochila no banco traseiro e tranco o carro mais uma vez, receando acontecer alguma coisa. Nenhum carro passa e começo a perceber o quão idiota fui para sair sozinho, do nada e tão apressadamente para um lugar que nem sabia se iria encontrar. Talvez Silent Hill nem exista mais, seja só uma lenda e o GPS tenha detectado errado. Não via mais nenhum outro lugar para onde ir, para encontrar alguma entrada na cidade, pois o GPS só apontava para aquele lugar específico em Silent Hill. Encosto a cabeça no volante e adormeço.

...

Abro os olhos. Olho aleatoriamente para as direções e vejo um monte de água à minha frente. Saio do carro rapidamente e corro até um pequeno parapeito em frente do estacionamento e olho para o enorme lago à minha frente. Era o lago Toluca, o lago que o professor havia citado e que eu havia visto em cartazes na internet quando cidade supostamente havia tido os seus dias de glória. Talvez Silent Hill não fosse apenas uma lenda inventada, mas talvez a cidade existisse mesmo.

Corro para o carro e pego o celular e a mochila. Volto para o lugar e tiro uma bela foto do lago, que ainda parecia belo. Sorrio com essa imagem e procuro algum lugar para chegar mais perto. Começo a andar lado ao pequeno muro, procurando alguma entrada, algum modo de me aproximar e finalmente encontro uma escada um pouco desgastada. Tiro a chave, tranco o carro pelo controle remoto e começo a descer a pequena escadaria que me leva a uma pequena trilha entre algumas poucas árvores. Há uma certa neblina um pouco fraca, que começa a ficar mais densa à medida em que caminho, o que me deixa um pouco preocupado. Mas minha fascinação pelo lago ainda é grande e sei que posso chegar rápido. A névoa fica mais densa e já não consigo ver nada além de cinco metros de distância. Continuo caminhando e encontro um poço subterrâneo de água. Talvez essa seja a parte do interior da cidade, visto que ainda existem esses costumes rústicos. Continuo direto pela trilha até que encontro um velho portão de ferro trancando uma área fechada por um muro cinza. Tento abrir, mas está trancado ou enferrujado... Talvez as duas coisas. Puxo o pequeno canivete multifuncional da mochila e uso a pequena ferramenta para abrir portas. Depois de vários clicks, ouço um maior que abre a fechadura. Empurro o portão e dou de cara com uma mulher branca de calças marrons e blusa branca ajoelhada na frente de um túmulo e rodeada por vários outros túmulos. Ao ouvir o som dos passos, ela olha pra mim. Tento sorrir, mas ela me ignora. Eu me aproximo, dando uma olhada no cemitério repleto de túmulos e com uma pequena construção ao canto.

–Er... Olá.

Ela me olha com expressão de medo. Ela permanece sem me falar nada enquanto eu olho fixamente para ela. A expressão dela parece diferente de sua idade, de algum modo ela permanece ali me olhando como se fosse uma jovem de 20 anos, mas tem uma certa aparência de ter uns 35 anos.

–Eu sou Matthew – estendo minha mão – e estou aqui procurando alguma coisa sobre Silent Hill. Você poderia me mostrar um modo de encontrar a parte que já foi mais “habitada”?

Ela continua em silêncio. Olha pra mim como se eu fosse mata-la nesse exato momento. Eu tento sorrir ainda com a mão estendida, mas ela parece se importar pouco com isso. Fico pensando se agi de algum modo errado. Recolho minha mão e decido ir embora.

–Er... Então tá.

Viro-me e continuo seguindo a trilha que dá em outro portão de ferro. A névoa ainda continua densa, então sinto um pouco mais dificuldade para ver outras coisas mais a frente. Talvez se essa mulher soubesse... Paro em frente do portão e tento enxergar algo: nada. A névoa permanece muito densa. Puxo o trinco do portão, fazendo um grande barulho ao abrir. Quando começo a passar pela abertura, ouço a mulher murmurar alguma coisa.

–Pode repetir, por favor?

–É uma ideia idiota. Ir a Silent Hill é uma ideia idiota.

Olho para ela, que volta a se ajoelhar no túmulo. Decido prosseguir e deixa-la continuar seu luto. Na verdade, sempre soube que vir a Silent Hill era algo idiota, assim como todas as outras idas a lugares “sobrenaturais” que fiz. Mas... Sou irresponsável mesmo, então fazer uma ou outra coisa idiota já faz parte da minha vida. Passo o portão e começo a ouvir o barulho de água, denunciando que estou mais perto do lago Toluca. Começo a correr, seguindo em frente na trilha buscando encontrar mais uma paisagem para tirar uma boa foto.


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