Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 36
Lágrimas de Verdade


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora das postagens. Faculdade e Trabalho estão sendo prioridade nesse momento. Sempre que puder, estarei postando. Fico grato pelos que continuam acompanhando (:

"Mas todas as mães, sem exceção, deram à luz grandes homens e se a vida as enganou em seguida, delas não foi a culpa." - Boris Pasternak



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–Mamãe...

Puxo a arma e aponto em direção à criatura. O monstro começa a se recompor, movendo seus cabos em forma de tentáculos freneticamente pela sala. Lágrimas escorrem pelo meu rosto abaixo e não consigo me conter. Meu corpo treme a arma balança incessantemente na minha mão direita, não me permitindo focar em ponto algum da coisa que se move de um lado para o outro movendo os cabos. Dois deles são transparentes, mais parecidos com tubos cheios de sangue enquanto outros mais finos parecem emitir algumas faíscas elétricas. A coisa já não se parece com minha mãe, e tão pouco agora com algum ser humano embora ainda preserve alguma forma humanoide.

–Sarah... Sarah... Sarah... – ouço vozes sussurrando.

Puxo o gatilho e o primeiro tiro acerta no que seria um braço da coisa, que emite um gemido e parte para cima de mim. Começo a correr, tentando me livrar dos cabos. A sala não é tão grande, o que me deixa praticamente sem nenhum espaço para me salvar das investidas da criatura. Os cabos presos ao teto balançam a coisa de um lado par o outro, fazendo assim que os “tentáculos” alcancem todas as regiões da sala em determinados momentos. Corro para a esquerda e a investida do monstro acerta meu pé com o tubo derramando sangue para todo lado, me fazendo cair de cara para a grade enferrujada que agora substitui o chão. Sinto sangue escorrendo sobre mim, proveniente do tubo.

–AAAAIII!

Sinto algo perfurando minha perna e grito alto. Por um momento tudo fica em silêncio enquanto meu grito ecoa por todos os corredores do hospital. Mexo-me um pouco e olho para o tubo com sangue me perfurando. A dor é lancinante e não consigo mover minha perna de tanta dor que sinto. Direciono meus braços e consigo atirar no tubo, que se parte deixando um pedaço enterrado na minha pele. A criatura torna a se mover, redirecionando seus cabos e tubos, inclusive o quebrado na tentativa de me acertar com outra coisa. O local começa a se encher de uma fumaça negra, liberada pela cabeça frenética da coisa e pouco consigo ver. Ainda no chão e não vendo muita coisa, consigo puxar o resto do cabo que ficou preso a minha perna: a dor piora.

–AAAAIIII!! SOCORRO!!!

Eu sei que é vão, mas não consigo parar de gritar. Não consigo ver e tão pouco andar. A fumaça negra começa a se dissipar e volto a ver a coisa pendurada através de cabos. Um dos tubos parece ter se reconstituído e agora ela pode me alcançar de novo. Tenho que agir e rápido. Levanto com muito esforço, sentindo a dor piorar a cada movimento que faço e tento andar o mais rápido que posso na tentativa de ir para uma região que ela demore a me alcançar. Aponto a arma e consigo, no segundo tiro, acertar a cabeça da criatura que grita de forma ensurdecedora.

–MATTHEW!!

Dou o terceiro, o quarto e o quinto. A coisa volta a se mover, porém mais lentamente. Talvez a cabeça seja um ponto fraco. Os tubos continuam se movendo, mas agora não me alcançam porque o monstro parece desorientado. O sangue escorre pelo corpo da criatura e pinga no chão. Sinto um líquido quente também escorrer pelo meu rosto, mas são lágrimas. Lágrimas por saber que sou o assassino de minha própria mãe, lágrimas por saber que estou pagando por isso, lágrimas por saber que mesmo tento uma boa intenção, meus atos foram piores que tudo. Mateus está certo ao me chamar de assassino. Mas também não sei o que devo fazer... Essa coisa se for minha mãe vai lutar até a morte e estou trancado. Pra me salvar, salvar Anette eu terei que mata-la mais uma vez. Que diabos de cidade é essa que cobra até a última gota de esforço e vai até o fundo das lembranças pra arrancar os piores sentimentos? Eu odeio essa droga de cidade! A coisa finalmente começa a se mover novamente, balançando sob os cabos que seguram a maca no teto. Os tubos vermelhos se movem e um deles acerta meu braço fazendo com que a dor que estava na perna se irradie até ele.

–AAAAAHHH!!!

Dou mais dois tiros na cabeça da coisa, acertando apenas um. Meu braço esquerdo está completamente imóvel.

–Matthew... Você não pode fugir...

–PARÉM DE FALAR MEU NOME! – grito para as vozes que sussurraram.

É então que percebo. Se acertar os cabos que prendem a coisa no teto, talvez consiga derrubar a coisa finalmente e pensar melhor. Arranco o cabo que se movimenta do meu braço e olho para os quatro cabos que prendem a maca no teto. Se conseguir, em quatro tiros derrubo a coisa. Ando lentamente para a direita da sala e o monstro reorganiza os tubos para me acertar. Dou o primeiro tiro e consigo acertar, partindo o cabo. O monstro fica instável no teto, desorientando-se. Acerto o segundo cabo na segunda tentativa e ele se parte, deixando agora a coisa suspensa apenas por dois cabos e completamente desorientada. Os tubos agora estão fora do meu alcance. Troco o pente da arma e acerto os outros dois, fazendo a coisa cair no chão com um forte baque metálico que ecoa por todo o hospital. Os gemidos cessam e se faz completo silêncio, a não ser pelo movimento frenético e desesperado dos tentáculos do monstro. Aproximo-me da coisa ainda mirando-a com a arma e com cuidado, mantendo certa distância do alcance dos tentáculos. O monstro agora começa a perder a cor negra e volta a ser uma maca com uma mulher, minha mãe, deitada e conectada com tubos. Ela ainda se move freneticamente.

–Mãe...

–Matthew... – ouço-a falar com uma voz demoníaca.

–Perdoe-me... Eu apenas queria acabar com seu sofrimento... – sinto mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas não consigo baixar a arma e nem me aproximar mais.

–Você é um assassino Matthew! Não merece perdão! – a voz continua demoníaca.

Assinto com a cabeça e descarrego todas as balas do pente na cabeça dela. O corpo se move por alguns momentos e depois para, deixando claro que o monstro finalmente morreu. Sento no chão e começo a chorar, chorar por tudo.

–EU QUERO SAIR DAQUI!!! SOCORROOOO!!! MÃÃÃÃÃÃE!!!

Fico sentado por mais alguns minutos até que ouço batidas fortes na porta, ainda iluminada pela luz vermelha que goteja sangue. Aponto a arma em direção a ela, mesmo sabendo que está sem balas. Meu rosto está completamente molhado de lágrimas e meu braço e perna ainda doem. Não tenho forças pra derrotar qualquer coisa que entre aqui. As batidas começam a ficarem mais fortes, como se alguém quisesse realmente derrubar e entrar. Seja o que for, tenho certeza de que morrerei. Afinal, é o que mereço. De repente vejo a porta se soltar das dobradiças e alguma coisa cair sobre o chão gradeado. Puxo o gatilho, mas é em vão. A coisa se levanta e é então que, através da luz fraca emitida pela lâmpada de sangue, vejo uma forma familiar que me faz baixar a arma. É Don.

–Matt... O que aconteceu?

–Don... – não consigo falar mais nada, pois as palavras são abafadas pelo choro. Solto a arma no chão e coloco as mãos no rosto e começo a chorar. Sinto Don se sentar do meu lado e me abraçar. Não consigo dizer mais nada, apenas chorar no ombro do meu amigo. As lágrimas escorrem pelo meu rosto como uma cachoeira e Don também não fala nada, mas dá umas batidinhas nas minhas costas como se quisesse me consolar.

–Don... Encontrou alguma coisa? – finalmente consigo falar.

–Sim... Mas... – ele me solta e olha em direção ao monstro caído no chão – e isso?

Começo a chorar novamente olhando para o corpo do que poderia ter sido a minha mãe. Era a última vez que eu a estava vendo, nessa droga de cidade com essa realidade escura, com todo esse terror. Eu a matei novamente. A única pessoa que já acreditei ter amado na vida... Eu a matei. Don olha pra mim, certamente já compreendendo o que acontecera. Ele sorri.

–Vai ficar tudo bem! Acho que encontrei Anette!

Consigo sorrir e vejo uma expressão de alívio em Don. Talvez tivesse pensado que aquela era Anette e que eu estava chorando por tê-la matado, mas ao ver meu sorriso deve ter pensado que certamente aquela não era ela.

–Só me responda uma coisa... Essa não era Anette, era?

–Não...

–Que bom! Porque não cheguei a vê-la, mas acho que sei onde está! Só resta saber como devemos entrar. Tem um enigma na porta, e gostaria que você desse uma olhada. Não sou muito bom com essas coisas, sabe?

Tento sorrir. Embora Don tenha amadurecido um bocado, ainda tinha alguns problemas com essas coisas. Agora já não o acho, mas tão idiota. Ele parece realmente ter mudado... Não me arriscaria a dizer isso, mas talvez passar por Silent Hill tenha sido bom pra ele. Ele estende a mão pra mim e me levanta, puxando-me para fora da sala. Dou uma última olhada para a coisa antes de sair.

–Adeus mamãe...

Don olha estranho pra mim, mas deve ter compreendido. Caminhamos até a porta dupla. Tudo está em silêncio e não parece haver mais monstros por enquanto. Cruzamos a porta e Don chama o elevador, que já está parado nesse piso. Entramos. Don aperta o botão com o nome base e sentimos o elevador descer. Ficamos em silêncio enquanto apenas o barulho dos cabos metálicos pode ser ouvido. Mas por dentro de mim, minha mente encontra-se em uma terrível confusão. Temo pelo que devo encontrar... Temo por isso, pois sinto que matar minha mãe não foi a pior coisa que eu fiz. O elevador finalmente para e as portas de metal se abrem.


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Notas finais do capítulo

Trecho correspondente à história de Carl.

Estava de tarde. O sol estava para se por naquele dia, mas o céu em Silent Hill continuava cinza como sempre. A névoa cobria tudo e Carl estava impaciente. Ele tinha a plena certeza de que Tyler não viria mais. Era uma vez o seu aprendiz e a promessa de Tyler, consequentemente.

—Liwards... – ele pronunciou com ódio na fala.

Ainda do lado de fora da sua velha casa, Carl focava seu olhar na estrada, esperando que de repente aparecessem os dois com malas nas mãos. E por alguns minutos, ele pensou que fossem eles. Viu duas pessoas caminhando, um adulto e uma criança. Estavam de mãos dadas e suas sombras eram pouco discernidas por causa da névoa. Ele sorriu. Finalmente seriam eles e teria seu sonhado aprendiz, e assim dar uma melhor continuidade na busca pela mãe sagrada.

Conforme foram se aproximando, para a decepção de Carl, ele percebeu que não se tratava de Tyler e seu filho, mas de uma mulher e um garoto. Ele parecia assustado, mas a mulher expressava raiva. Para a surpresa de Carl, ao se virar para entrar em sua casa sem mais esperanças, a mulher grita.

—Eeiii você!!

Carl se vira para os dois. O garotinho parece um pouco ansioso.

—Pois não?

—Meu nome é Veronica. Esse aqui é Chang! Ele deseja saber o que aconteceu com a irmã dele de verdade. Eu já expliquei trocentas vezes que ela foi queimada viva, mas ele não acredita em mim. Dá pra o senhor convencer ele disso de uma vez para ele me deixar em paz?

Carl olhou para ela levantando uma das sobrancelhas. Parecia intrigado.

—AAh... Veronica! Era de você que ela tanto falava... Pelo visto vejo que não era uma boa amiga para ela... – ele caminhou até os dois e se abaixou para ficar na mesma altura de Chang – E você rapazinho? Chang, não é? Sua irmã não está morta..
.
Veronica revira os olhos e joga a cabeça para trás não acreditando no rumo da conversa.

—Viu!! Eu sabia sua nojenta!!! – Chang agora se dirige para Carl – E o senhor conheceu ela?

—Sim, sim! Vamos, entre!! Posso lhe contar mais sobre o que sei dela!!

—Não! Não vamos entrar Chang!!

—Você não foi convidada, Veronica.

Ela arregala os olhos enquanto Carl pega na mão de Chang e o leva para dentro da casa. O garoto sobe a pequena escada mostrando a língua para ela, que impaciente, vai embora. O garoto olha pra Carl cheio de expectativas e os dois cruzam a porta principal da casa.



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