Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 33
Alessa Gillespie


Notas iniciais do capítulo

"A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento, duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor." - Joseph Addison



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“Querido Kaufman,

Gostaria de lhe informar sobre os últimos acontecidos. Tenho sentido de que ela está voltando, que o feitiço finalmente deu certo. Ontem após a prática de Quiromancia, senti que em alguns dias ela estará aqui em Silent Hill. A ligação entre eu, Alessa e a sua outra parte faz com que eu perceba sua aproximação. Peço que faça as preparações necessárias para transferir o seu corpo caso preciso, pois já estou com as coisas do ritual em mãos e espero que você cumpra a sua parte do combinado. Caso não faça, deus não vai nascer e espero realmente que ele não tenha pena da sua alma, porque eu não terei. Os anos que a pobre, se é que a posso chamar assim, Alessa passou sofrendo queimada foram muito longos e eu já estava perdendo as minhas esperanças porque era tempo demais e achava que seu corpo não resistiria a tanto... Mas deus deu forças pra ela e sabemos que ela não é uma garota normal, infelizmente! Essa idiotazinha acabou com a nossa cidade e tudo o que havia nela. Mas está na hora de todas as coisas voltarem a seus devidos lugares! A outra está chegando e deus finalmente vai nascer! Só espero que Alessa não domine as magias mais antigas, ou então poderemos estar ferrados. Mas isso não importa agora e tão pouco é o assunto dessa carta. Kaufman, por favor, prepare para tirarmos Alessa do hospital! Arrume a cadeira de rodas, maca e todos os equipamentos e drogas. Estarei indo ao hospital amanhã para verificar tudo. Passar bem! Dahlia Gillespie.”.

–Dahlia Gillespie?

–Acho que deveria ser a mãe da menina... Ela era a coitada que padeceu a mesma coisa que Anette...

–Queimaram ela também?

–Poxa Don... Claro que sim! Eu li em voz alta! Aqui diz que ela estava internada aqui no hospital, pobrezinha... E que passou muitos anos sofrendo, queimada, mas viva. Isso quer dizer que Anette deve estar na mesma situação.

–Será que a internaram aqui também?

–Talvez... – falo colocando o papel velho em cima da bancada – e talvez tenha sido por isso que recebi aquele recado dizendo para vir aqui.

O silêncio predomina. Olho para a recepção escura a não ser por uma luz acesa no final do corredor. Uma espécie de “L” delimita o lugar, dando origem a outro corredor que leva para áreas mais paras dentro do lugar. Há bancos marrons desgastados, acompanhando o “L” que a parede faz com a outra. O lugar parece assustador, mas não tanto com a cidade em seu lado mais sombrio. Olho pra Don.

–Bem... Vamos descobrir.

Virando à esquerda pelo “L” encontramos mais um corredor. Há macas espalhadas por todo ele, impedindo a passagem. Mais à frente há duas portas, uma à esquerda com uma placa indicando que era a sala de exames e a outra porta à frente, que provavelmente leva a outra ala do prédio.

–E essas macas? – disse Don enquanto apontava para as macas que pareciam ter sido colocadas propositalmente transversais ao corredor impedindo a passagem.

–Ué... Tiramos do caminho ou pulamos sobre elas!

Longe de limpas, aquelas camas estavam completamente embebidas de sangue. O cheiro estava horrível e o sangue parecia fresco, em conotação diferente com o resto do hospital que parecia muito velho. Don tapou o nariz enquanto eu começo a empurrar as macas me aproveitando das rodinhas para tirá-las mais rápido do caminho.

–AArrgghhh!! Parece que tudo aqui tem sangue!

–Provavelmente... Venha me ajude aqui!

Em três ou quatro minutos terminamos de empurrar umas oito macas para as laterais de modo que já nem cabiam direito no corredor. Uma das portas ficou livre, sendo a outra impedia por uma das macas, a sala de exames. Mas a maca estava suja demais para pular, então Don assentiu com a cabeça quando apontei para a outra porta que nos levará provavelmente a outra ala. Caminhamos até ela e eu a abro sem problemas. Damos então de cara com mais um corredor, este vazio e também iluminado apenas por uma luz próximo da porta. Há alguns armários de metal enferrujado e duas portas na parede da direita. Eu e Don tentamos as duas, mas estão trancadas. Mais a frente há outra porta dupla com janelas de vidro escuro. Vamos a até ela e abrimos tranquilamente, chegando a outro corredor, dessa vez também em “L” como a recepção. A princípio, não vemos nenhuma luz acesa. Então o corredor vira para esquerda nos mostrando que a iluminação vem de fora através de janelas abertas e quebradas. A névoa também entra no corredor, dando uma aparência um tanto mais macabra ao prédio. Ao lado, contamos algumas portas e pretendo tentar uma por uma. Ainda há alguns bancos desgastados colados à parede onde eu deixo o cano que ferro que encontrei no corredor para facilitar a abertura das portas.

–Don, vamos tentar uma por uma. Eu tento essa e você aquela e seremos mais rápidos.

–Okay... Mas se eu tentar uma porta e sair alguma coisa de dentro?

–Bem... Aí eu te jogo esse cano de ferro.

–Hm... – ele me olha meio desconfiado.

–Que foi cara?

–Acho que você tá é nos trazendo pra morte.

–Morte? Quero saber se vai ajudar ficar parado e sentado igual um idiota esperando que tudo nessa cidade vá pro inferno... Don, eu vou achar Anette e você vai ter que me ajudar!

– ... – ele não diz nada.

–Então cara... No três! – Falo segurando a maçaneta e mandando-o ir para a porta seguinte.

–1... 2... 3!

Giramos a maçaneta ao mesmo tempo, mas nenhuma das portas abriram. Olhamos um para o outro decepcionados.

–Pelo menos não saiu nada de dentro.

Vamos às duas portas seguintes, agora virando a esquerda. As janelas abertas deixam mais névoa entrar e mais claridade. Não há nomes nas portas marrons de madeira descascada. A tinta da parede parece muito velha.

–Okay, vamos lá!. 1... 2... 3!

Giro a maçaneta e a porta abre, fazendo minha mão me puxar para dentro. Olho para Don e vejo o mesmo acontecendo.

–Certo. Don, reviste essa sala! Procure por qualquer coisa que pareça interessante. Eu vou ver esta aqui.

Ele assente com a cabeça e some através da porta aberta que se fecha sobre suas costas. Entro na sala e vejo algumas cadeiras desarrumadas e escrivaninhas. Parece uma espécie de escritório. No meio, há um sofá um tanto desgastado e na parede da direita há outra porta que parece levar a algum lugar. Também há janelas quebradas, que deixa o local mais enevoado e iluminado que o corredor. Vou até uma das escrivaninhas e abro a gaveta, procurando por qualquer coisa. Finamente encontro uma pasta vermelha com alguns papeis dentro. Decido ler alguns. Os primeiros falam sobre uma reforma no hospital feita a cerca de quarenta anos atrás criando assim um subsolo. O lugar era um tanto antigo. Outros papeis falavam sobre pacientes os quais deveria ter cuidado extremo que ficariam internados nesse subsolo, entre eles estava Alessa Gillespie. Puxo o papel e leio mais atentamente.

“Alessa Gillespie... Queimaduras de terceiro grau em todo o corpo... Sinais vitais preocupantes... Quadro estável. – Lisa Garland”.

–Anette...

Tento passar para o próximo, mas percebo que a página está grampeada com outra. Puxo a seguinte e começo a ler.

“Alessa Gillespie: Ritual para o nascimento de deus. Queimaduras por todo o corpo, sinais vitais preocupantes e quadro estável. Os poderes paranormais da garota atrelados a deus que já está vivendo dentro dela e seu poderoso poder a mantém viva, até que sua outra metade a complete.”.

É parecido com o a carta que achei. Penso se tudo isso era a mesma coisa que Anette teria que passar. Continuo vasculhando e então encontro a ultima folha sobre Alessa, pelo menos dentro da pasta.

“Querido Kaufman,

Acabei de constatar que Alessa conhece sim as magias antigas. Eu sei que você pouco se interessa nelas, mas é importante avisar pra você que caso ela consiga utilizar essa magia, todo o seu hospital vai pelos ares, sinto muito informar para você. Estou tomando medidas cabíveis, mas se ela conseguir usar o selo de Metatron, ela pode impedir o nascimento de deus. Levando em conta que mandei outra carta a alguns dias avisando que a outra metade dela chegaria, é possível que Alessa também tenha pressentido isso e fazendo tudo o que for possível para evitar o glorioso dia em que deus nos abençoará! Lembre-se do que ela fez com a nossa querida Silent Hill e o que pode fazer com seu hospital caso o corpo dela estiver aí. Se não quiser, providencie a retirada do seu corpo daí o mais rápido possível e nada de vir com as mesmas histórias que disse da outra vez. Deus precisa nascer, e não é ela e tão pouco você que vai impedir. Passar bem! Dahlia.”.

Retiro o objeto o bolso e dou novamente uma olhada. Se essa coisa é realmente capaz de impedir o nascimento de deus, então tudo está em minhas mãos. Eu poderei usá-lo para isso de alguma forma.

–Maaatt?!

Viro para trás e vejo Don.

–Não vai acreditar no que encontrei...

Olho para ele e vejo sua boca suja por alguma coisa que não consigo identificar o que é. Provavelmente alguma comida que encontrou na cozinha do lugar.

–Comida! E com apenas um mês de vencimento!

Sorrio ao vê-lo levantar um pote de geleia. Era o que eu mais preciso agora. Don poderia continuar sendo um idiota, mas foi sendo um idiota que ele encontrou comida, então por mim está tudo bem.


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Notas finais do capítulo

Trecho correspondente à história de Anette.

Embora tivesse prometido ao pai, Anette havia descoberto uma coisa nova e não pretendia parar de usá-la. Embora não soubesse como controlar, Anette sabia pelo menos como isso acontecia: Com emoções. As emoções faziam que ela acabasse fazendo as coisas mudarem ao seu redor. Se tivesse raiva ou ficava triste, ela apagava as luzes acesas. Era sem querer, mas ela achava engraçado quando acontecia e então a luz reestabelecia-se. Ela se sentia uma menina normal, até que começaram a acontecer coisas estranhas. Certo dia, uma menina caçoou dela porque era morena, mas tinha o cabelo estranhamente loiro. Não era algo normal de se ver na escola, e por isso aquilo provocou uma reação em cadeia onde várias outras meninas da sua turma chegaram até ela e ficaram observando a estranheza de sua aparência. Anette ficava com raiva e chorava muito até que a professora deu um jeito na situação. O dia continuou e a menina continuou enchendo o saco dela, até que...

—Para com isso!

—Ahá... Falou a menina negra do cabelo loiro... – ela começa a rir.

—Por favor, para!

—Lá lá lá lá... Negra loira, negra loiraa!

Os olhos da menina se enchem de lágrimas e não aguentando mais a outra menina rindo dela, Anette se virou e gritou para a menina parar.

—PAAAAAARAAAAAA!!

Foi então que aconteceu. Estranhamente, a menina foi empurrada por uma força invisível - que Anette pouco conseguiu enxergar – até o início da escada que se estendia para baixo, fazendo com que caísse velozmente escada abaixo. Ela viu o corpo da menina batendo degrau a degrau e caindo aparentemente morto lá embaixo. As outras meninas olharam para ela e saíram correndo, com medo da menina loira que continuou chorando sentando-se então nos degraus da escada e não entendendo o que acabara de fazer. Não demorou até que seu pai chegasse e a levasse para casa, mudando-a de escola mais uma vez.



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