Maldição do Fogo escrita por Mary


Capítulo 4
Liza - Apresento-lhes a Sunshine, Fogo e Ouro, e nem ousem se separar


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=kn6-c223DUU (Airplanes - B.O.B. feat. Hayley Williams)



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Liza não deveria ter desafiado Axel. Sabia que não iria vencê-lo. Mesmo que o cara tivesse só um braço, ela não tinha treinamento algum e ainda por cima sua arma não ficava ajustada na sua mão.

Mas ainda assim o fez. Talvez apenas para deixá-lo irritado, talvez para ter um motivo para escalar a parede que tanto desejara. Não conseguia ter certeza.

Não estava totalmente arrependida. Aquilo tinha sido divertido. Ela notou o esforço do garoto para derrotá-la, mas também um canto de sua boca pouco erguido. Contudo, tinha mais coisas em que pensar do que no sorriso de um campista qualquer.

Tinha imaginado que subir aquela parede seria difícil. Talvez tenha sido complicado, mas não daquela maneira. Se assustara quando a lava surgira, mas continuou mesmo assim, e não tinha certeza do motivo.

Contudo, a pior parte foi quando começou a brilhar. Já notava o anel, mas não sabia que se espalharia para o corpo todo. E aquilo tudo estava lhe deixando tonta demais. Mas o que fez tudo ficar ainda mais ruim foi ver aquela ruiva, e também suas palavras.

Profecia? Filha de Apolo? Outra garota ruiva? Estava tudo confuso demais.

Quando abriu os olhos, viu-se em outro aposento. Demorou um pouco para processar que estava na enfermaria. Não sentia dor nem nada parecido. Piscou um pouco e as coisas ao redor começaram a clarear. Ergueu-se um pouco e ficou sentada com os pés sobre a cama. Olhou para o lado e viu o garoto de cabelos castanhos dormindo de braços cruzados.

Não sabia como tinha ido parar lá, muito menos porque Randy estava com ela. Parecia estar desconfortável e a bastante tempo. Mexeu no seu braço, acordando-o, e vislumbrou seus olhos se abrirem.

– Finalmente, hein, Sunshine? - ele disse.

Liza ergueu as sobrancelhas.

– Sunshine?

– Achei um bom apelido para uma filha de Apolo.

– Luz-do-sol é um bom apelido para uma filha de Apolo?

– Você é filha do sol. Não tente discutir comigo.

Ela riu e virou, tirando os pés da cama. Mas ele segurou-a, dizendo para não fazer isso.

– Randy, eu estou bem. Já posso me levantar.

– Como você tem tanta certeza? Não sente nada?

– Nada.

– Nem um pouco?

– Nem um pouquinho. Vamos, deixe-me ir.

Ele se levantou e segurou a mão dela, puxando-a para junto de si. E, juntos, saíram do local.

Mesmo que não tivesse estado muito tempo no acampamento, aquele parecia ser um dia normal. Os campistas estavam praticando suas atividades como se nada estivesse acontecendo. Até porque isso era verdade.

Liza sempre se sentira bem em um dia de sol, mas se sentia ainda melhor. Talvez fosse por saber que aquele era seu lugar natural. Mas não queria ter certeza. Só queria continuar caminhando com o filho de Hermes ao seu lado, pensando em tudo e em nada.

– E agora? - deixou sair de sua boca – O que eu faço?

– Confesso que estou bem feliz por saber que você não é minha irmã – ele disse – Mesmo que não fiquemos mais juntos em um chalé. Agora, você vai ter que conviver com seus irmãos.

– Tipo, é uma obrigação?

– Não tenho tanta certeza. Sempre me dei bem com os meus, fazendo pegadinhas juntos. Mas, pensemos: o que você quer fazer agora?

Olhou para o alto um pouco, observando as nuvens no céu azul. Deveria estar na escola, sabia disso. Mas ali era o seu lugar, era lá que deveria ficar.

– Acho que estou feliz assim. Só quero... tentar aprender a ser semideusa.

Ele riu e passou o braços por cima dos ombros dela, aproximando-os mais.

– Que tal tentar ser um pouco mais filha de Apolo? - sugeriu ele.

– Você quer dizer que eu tenho que aprender a jogar basquete? Porque isso eu não vou fazer.

Por algum motivo, a risada dele a fazia tão bem quanto os raios do sol.

– Quero dizer – disse Randy – que você tem que encontrar seus talentos como Sunshine. Com certeza tem alguma coisa aí dentro que quer ser liberta.

– Tipo tocar violão?

– Tipo tocar violão.

– Por que não disse antes? Isso eu já sei fazer.

***

Liza se via correndo pela extensão do acampamento com Randy à sua frente sem soltar sua mão. Um sorriso abria-se cada vez mais em seu rosto, os olhos estavam brilhando e não era por causa do sol. Seu coração estava acelerando-se.

Quando chegaram à oficina de artes e artesanato, ele mandou que ela se sentasse e virasse para o outro lado para que não pudesse vê-lo. A garota ficou observando alguns de seus irmãos e outros campistas na quadra de vôlei.

Perguntou-se se um dia seria assim. Ela estaria lá, jogando com outros filhos de Apolo e gostaria daquilo. Se entenderia a paixão deles. Se conseguiria aprender a conviver com os outros. Se aquele seria mesmo o seu lugar.

Ouviu a voz de Randy atrás dela e virou-se novamente. Ele segurava um violão marrom básico e levou-o até ela.

– Nossa, valeu – disse a garota.

Tomou-o em suas mãos e posicionou os dedos certamente. Moveu-os, fazendo o som sair e começou a tocar a primeira música que veio à sua cabeça. Aquilo a fazia se sentir bem, mas não era uma sensação nova. O fazia há muito tempo, e nem se lembrava de quando começara. Sentiu falta do violão na sua casa, preto com cordas prateadas.

Randy, ao seu lado, dava-lhe inspiração. Mas, com o violão nas mãos, era como se estivesse sozinha. Respirou fundo e fechou os olhos, sem parar de tocar. Deixou que as notas fluíssem e sentiu como se aquilo fizesse parte de sua natureza.

***

– O tempo vai trazer tudo naturalmente – disse uma voz ao seu lado, que a assustou. Achava que estava sozinha, pois Randy tinha ido embora um pouco antes e resolvera ficar sentada olhando para o acampamento.

Tinha ficado tão absorta em seus pensamentos confusos que mal notou a presença do homem.

Sua pele era bronzeada de um jeito perfeito e o cabelo loiro caía por cima dos óculos escuros. Seu sorriso branco emanava um certo calor, e levava um arco e uma aljava de flechas dourados. Os braços eram grandes e musculosos, e Liza tentava não prestar muita atenção.

– Não costumo visitar muito meus filhos – ele falou – Ainda mais quando mal os reclamei. Mas você é poderosa, Elizabeth.

– Liza – ela respondeu automaticamente, resistindo à vontade de abrir a boca – É... bem... Apolo?

Seu riso foi engraçado, fazendo a barriga dela dobrar.

– Que outro deus seria? Nenhum deles é tão espetacular quanto eu.

Ela ergueu as sobrancelhas, ainda sem acreditar muito no que via.

– Bem, Elizabeth, ou Liza, tanto faz. Como eu dizia...

– Não visita muito seus filhos mas eu sou poderosa. Só que eu não me sinto poderosa.

Havia algo familiar no sorriso que o deus lhe lançava. A lembrava do mesmo que gostava de mostrar a Axel quando seus olhares se cruzavam.

– Você que pensa assim – respondeu – Nunca se perguntou o que esse anel faz?

A garota balançou a cabeça e não conseguiu parar de fitar o pai.

– Acha que todos os meus filhos podem brilhar e queimar monstros usando a minha luz?

– Acho.

– Bem, está enganada. Apenas você pode fazer isso.

– Mas... por quê?

Apolo deu de ombros.

– Alguma coisa a ver com destino. Não sei exatamente, não se deram ao trabalho de me explicarem. Acho que foram as Parcas, conhece as Parcas? Claro que sim. Bem, elas devem ter visto alguma coisa no seu futuro e decidiram que precisa ter esse anel para conseguir sobreviver e controlar seus poderes.

– Não consigo controlá-los.

– Como eu disse, o tempo vai trazer tudo naturalmente. Ficou bem legal, posso fazer um poema com isso.

– Pai!

– O quê?

– Por que você veio afinal de contas?

O deus olhou para ela e sentou-se ao seu lado. Apoiou os cotovelos na perna como a garota fazia e suspirou.

– Faz tempo que não venho ao Acampamento Meio-Sangue. E, também, vim te dar um presente.

Abriu a bolsa que levava e de lá tirou uma bainha com duas adagas de bronze celestial, porém mais douradas e com inscrições gregas prateadas na base. Liza ficou boquiaberta e as segurou depois de colocar a bainha. Se encaixaram perfeitamente nas suas mãos. Tentou entender as letras, e parecia estar lendo inglês.

Gold? Fire? - questionou.

– São os nomes das suas armas. E você nem faz ideia de o que Gold faz.

Pressionou o delta na base e a lâmina girou em sentido horário rapidamente. Quando notou, empunhava um escudo de ouro com as mesmas letras.

Quando virou-se para agradecer, viu que Apolo já tinha desaparecido, deixando-a sozinha novamente. Olhou para o céu e viu que o sol já estava se pondo sobre o Estreito de Long Island. Ouviu o chamado para o jantar e pressionou o delta no escudo, fazendo-o se tornar uma adaga novamente. Apertou seus cabos e, depois de embainhar as armas, correu em direção ao chalé 7.

Ainda não tinha notado que era a única com um cabelo que não era loiro no meio dos seus irmãos. Eles não a olhavam apenas como se fosse diferente, mas como se estivessem sendo obrigados a serem simpáticos com ela. Liza teve vontade de dizer que não precisavam, que sabia que aquele não era seu lugar.

Queria dividir a mesa com os filhos de Hermes, sentada ao lado de Randy. Mas não podia mais fazer isso, e também gostava de saber que não era do chalé 11.

– Oi, Liza – disse o garoto que estava ao seu lado.

Depois de processar o momento, olhou para ele e respondeu:

– Ah, oi.

– Sou Gabe, o conselheiro-chefe do chalé 7. Espero que você consiga se sentir bem conosco, somos uma família. Tem algum talento musical?

– Eu toco violão, mas...

– Perfeito. É legal quando fazemos essas coisas juntos. Já sabe usar o arco e flecha?

– Fico melhor com as minhas adagas, sabe? Curta distância e...

– Você se acostuma. É sempre bom um filho de Apolo usar o arco e flecha.

– Mas...

Eu sou diferente, lembra?, pensou, mas decidiu não falar mais nada. Apenas concordou e voltou a comer.

Reuniram-se ao redor da fogueira e Liza demorou a perceber que também deveria liderar as canções do acampamento. Tentou não cantar muito – não era boa nesse negócio de usar a voz – mas conseguiu se divertir um pouco. Não precisava ficar sentada com seus irmãos, então ficou ao lado de Virginia, que estava ao lado de Axel.

– Armas novas? - perguntou a filha de Hades.

– Ah, sim, meu pai me deu.

Percebeu que a amiga tentava não rir.

– Apolo esteve aqui?

– Também me surpreendi.

– E por que ele veio?

– Pelo que parece, foi para me dar essas armas só.

– Elas fazem alguma coisa especial?

– Depois você vê.

Ao olhar para o lado, notou que Axel estava tentando ficar o mais longe possível da fogueira, como se a temesse.

E viu que o fogo estava ficando cada vez mais forte. Até que, repentinamente, ficou enorme e suas chamas se tornaram negras. Virginia abraçou o garoto ao seu lado, deixando a filha de Apolo sozinha, tremendo. Mas pareceu que ele precisava de mais ajuda do que ela. Todos os outros campistas pareciam assustados, mas ninguém se moveu. Após alguns gritos, o barulho foi cessado e não se ouviu mais nada além do crepitar da fogueira.

Mas ele parecia estar dizendo algo. Formando palavras, para que todos entendessem. Mas não era possível entendê-las.

Até que a outra ruiva gritou novamente e caiu no chão. Quando se ergueu novamente, seus olhos estavam verdes emitia uma aura da mesma cor. Quando sua voz saiu, estava mais grave, mais rígida, e que com certeza não era sua.

Uma maldição deve ser quebrada

Vinda do medo, haverá superação.

Uma aliança será formada

E muitas almas serão ceifadas.

Do sacrifício, vem a salvação

Após a quebra de um coração.”

E caiu com a cara no chão.

Liza ouviu uma outra voz dentro da sua cabeça. Fria e aguda, fazendo-a se arrepiar.

Olá, minha pequena semideusa. Não os escute.

As chamas extinguiram-se, deixando-os no escuro. Até que outro fogo se formou.

Ele vinha da lâmina de Axel.

O garoto gritou e jogou a faca no chão. Depois, parecendo ter se arrependido, apenas se afastou. Seu rosto parecia ainda mais pálido, como se ele também estivesse ouvindo a voz que Liza ouvira.

– Conselheiros-chefes – chamou Quíron – Reunião. Agora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3