Maldição do Fogo escrita por Mary


Capítulo 3
Virginia - O que acontece quando se perde uma garota ruiva


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=V8DzY2gNMrQ (The Monster - Eminem feat. Rihanna)



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Não foi exatamente sua culpa. Simplesmente viu mais uma sombra aparecer e sumir, e, quando olhou para o lado de novo, Liza já tinha evaporado. Ficou preocupada com o quer que essa garota iria aprontar, mas resolveu esquecer um pouco. Sabia que não tinha como ficar com ela o tempo todo, e já se sentia mal com isso.

No fundo, sentiu uma alívio. Finalmente estava sozinha novamente, mesmo que as consequências pudessem ser algumas brigas e talvez destruições. Quando viu a expressão de Axel ao olhar para Liza e o sorriso que esta lhe lançou, soube que aqueles dois não poderiam ficar sozinhos.

Mas estava ela lá. Ao invés de andar por todo o acampamento procurando a ruiva, correu para o bosque. Ignorou cada um que a chamou – precisava aproveitar ao máximo cada segundo. Não se importou com os barulhos que faziam, nem notou a massa de cabelo laranja que passou por perto.

Não entrou demais por não gostar tanto assim daquele lugar. A área que estava – a uns dez metros dos outros – parecia ser a parte perfeita. Procurou uma árvore qualquer escondida nas sombras e tentou subir nela.

Sentou-se em um galho qualquer e analisou os arranhões que tinha adquirido durante a escalada. Não estavam fundos, mas ainda ardiam. Deixou-os de lado e inspirou um pouco do ar.

Gostava de fazer isso. Antes da novata aparecer, fazia isso o regularmente e ninguém sabia. Ficava sozinha com seus pensamentos, e eles eram a melhor companhia que iria querer.

Lembrou-se do seu irmão, Luca. Havia partido em uma missão há muito tempo e ainda não voltara. Todos diziam que ele estava morto, mas Nia não conseguia acreditar nisso. Até porque vinha tendo pesadelos com mensagens ocultas sobre ele, talvez sua localização. Mas nunca conseguia entender nada.

Já tentara procurá-lo. E, a cada pesadelo, ficava mais desesperada. Sentia como se ele estivesse morrendo quando tinha esses sonhos, como se a vida dele dependesse da sanidade mental dela.

Bem, se realmente fosse assim, então já estaria morto.

Não que estivesse enlouquecendo. Mas ela estava.

Conseguia se lembrar da primeira vez que tivera a alucinação. Em um parque, aos dez anos, com seus amigos e ouvira aquela voz...

Não podia pensar naquilo. Quanto mais pensava, mais se sentia maluca. Lembrava que seus amigos disseram que era loucura, que não havia nenhuma voz estranha. Mas ainda a ouvia. Parecia clara o bastante aos seus ouvidos. Dizia coisas sem nexo, mas ainda eram palavras.

Pôde vê-la outra vez. Estava em uma folha da árvore à sua frente. Aquela garotinha com o cabelo castanho preso em uma trança, encolhendo-se ao lado da porta do consultório. Balançou a cabeça, afastando aquela visão, mas ela ainda estava presente na sua mente. Fechou os olhos, tentando afastá-la, mas isso apenas parecia torná-la ainda mais viva.

***

Sabia que seu nome seria o próximo a ser chamado.

As vozes haviam começado a dizer coisa com coisa, e aquilo só a assustava mais. Diziam que eram reais, que não precisava ter pavor, que todos podiam escutá-las. Mas Nia sabia que aquilo era mentira.

Também diziam que seria melhor se ela fugisse. Se, assim que gritassem seu nome, corresse para longe, para a portaria e seguisse sem rumo pelas ruas. Até porque depois seria guiada para seu lugar correto, onde iria se sentir bem. Aquela era uma grande tentação.

Mas apenas esperou. Era tudo o que poderia fazer. As outras pessoas – mesmo que também tivessem problemas – olhavam para Nia como se ela fosse a louca daquele local. Até porque nenhuma delas estivesse encolhida, prestes a chorar.

A voz grave ressoou pela sala de espera, chamando-a. E, desta vez, soube que era real.

Sua mãe abriu a porta e a levou para dentro da sala, puxando-a pelo pulso. A garota tentou resistir, mas sabia que não conseguiria escapar daquilo. Foi a caminhar e não quis erguer a cabeça. Mas, quando o fez, olhou para o homem atrás da mesa, convidando-a para sentar-se na cadeira em frente. Pulou para cima dela e tentou olhar nos olhos dele com coragem.

– Olá, Virginia – ele disse – O que houve?

A mulher sentou ao lado dela, com postura ereta.

– Ela tem visto coisas que ninguém mais vê – falou ela.

– Só isso?

Nia baixou o olhar para seus pés e ficou balançando-os.

– Posso ficar com a garota a sós? – perguntou o médico.

– Doutor...

– Geralmente, as crianças falam mais quando os responsáveis não estejam por perto.

Suspirou, mas levantou-se e bateu a porta. O psicólogo também ficou de pé e começou a andar pela sala.

– Então, Virginia...

A garota continuou calada.

– Tudo bem?

Ela levantou a cabeça e olhou para ele. Então balançou-a.

– Por que não está tudo bem?

Não precisa dizer nada para ele, disse uma das vozes. Isso não é exatamente um problema, afinal.

Colocou a mão ao lado da orelha, mas não demonstrou dor.

– Dor de cabeça?

– Não – disse por fim – Elas me falaram que não preciso falar nada.

– Elas quem?

– Você não as ouve? – e arregalou os olhos.

– Acho que não. Elas são boas?

– Elas me fazem pensar coisas. Não as ouvia até o dia no parque, mas agora têm falado mais comigo. Todos deveriam ouvi-las. Por que só eu?

– O que elas te dizem?

Elas disseram que não tinha que falar mais nada. Podia correr para a porta e então fugir. Mas sabia que não seria o certo a fazer. Poderia decepcionar sua mãe e só então arranjaria mais motivos para falarem dela.

– Dizem que tenho que fugir. Que tudo vai se resolver se eu seguir seus conselhos.

– E por que não os segue?

– Porque... porque minha mãe pode ficar triste, né? Se eu fugir. Acho que ela se importa comigo.

Não, não se importa, falaram em uníssono.

Ela só quer arranjar mais motivos para você ficar triste. Ela não se importa, ninguém se importa com você, só a gente.

– Quer dizer... – continuou – Parece que não. Por que ela me traria para cá? Só para as pessoas terem mais o que falar. Geralmente, só se vai a um médico quando você tem alguma doença. Agora, as pessoas reais vão falar que eu sou doente. Eu não sou doente, né? Não quero que falem que sou doente...

– Você também vê coisas?

– Vejo pessoas que meu irmão também vê. Mas ele não ouve as vozes como eu.

– E existem coisas que ele não viu?

Teve a sensação de que estava falando demais. Olhou para o médico novamente e ao lado dele viu...

***

O grito a fez despertar de seu pequeno transe. Abaixou a cabeça e viu o rosto de Matt no pé da árvore.

– Você pode fazer o favor de descer? – ele disse – Acho que eu não conseguiria subir até aí.

Conseguiu não abrir um sorriso.

– Por que eu desceria? – perguntou.

– Eu sei onde a Liza está.

– E daí? – e percebeu que estava sendo grossa demais. Não queria magoá-lo – Onde?

– Na arena.

– Legal.

– Sabe com quem?

– Não faço ideia.

– Axel.

***

Ainda não havia se acostumado a correr com Matt ao seu lado. Já fizera isso umas centenas de vezes, mas aquela sensação estranha continuava a aparecer.

Quando chegaram à porta da arena, encontraram Liza e Axel frente a frente com as mãos próximas às armas. Seika estava um pouco afastada dos dois, com os braços cruzados.

– Vamos, Axel – disse Liza – Está com medo de mim?

Seu sorriso era aquele levemente inclinado para um lado, como se o provocasse apenas por diversão. Mas o outro garoto não parecia nem um pouco feliz.

– Ops – falou Nia – O que fazemos?

– Vamos ver aonde isso vai dar – respondeu Matt.

Já o filho de Zeus a encarou com mais dureza ainda, ignorando os dois na porta.

– Não tenho medo de você, Elizabeth – a maneira como pronunciou seu nome fez com que ela agisse como ofendida – Mas...

– Mas...? Não tem problema perder de uma novata. Ou tem? Acho que sim. Bem, okay. Pode ir embora.

Ele sacou sua faca e, ao ver tal ato, Liza pegou a adaga que tinha encontrado no arsenal. Nia se lembrou de quando foram procurá-la: ainda parecia pesada demais, mas era melhor do que todas as outras armas.

Afastaram-se mais um pouco e ergueram as armas. Esperaram o movimento do outro por muito tempo, até que a ruiva atacou. O barulho de suas lâminas se chocando produziram dores na mente de Virginia, mas esta as ignorou. Seika, por mais que gostasse de lutas, parecia entediar-se com tudo aquilo.

Até que Axel desarmou Liza, fazendo sua adaga cair no chão. A garota ergueu o braço para observá-lo e encontrou um corte liberando sangue. Respirou fundo e, abaixando-se, prendeu a arma ao cinto.

– Não perdi para uma novata – disse Axel.

Liza balançou a cabeça.

– Não. Agora, tenho que ir naquela parede de escalada, né?

– Pelo visto, você cumpre suas promessas, hein, Elizabeth?

– Não sou como você, que se recusa a levar uma aranha para o chalé de Atena.

Aquilo fez com que ele criasse uma careta, mas não saiu. Os cinco correram para a tal parede, esperando o que quer que tivesse que acontecer.

Talvez fosse só impressão sua, mas, assim que Liza chegou à luz do sol, seu corte parecia ter-se curado.

Matt tentou segurar a mãe de Nia, mas esta a afastou. Não queria tocá-lo – apenas ficar ao lado dele já a deixava nervosa. Axel e Seika aproximaram-se um pouco mais para poderem ver a ação de Liza.

Ela teve dificuldade ao passar pelos desafios. Mas permaneceu até o fim, subindo cada vez mais. Até chegar ao final.

Nia esperou não ser outra alucinação.

Via a mão direita da garota brilhando, principalmente na região do anel. E o brilho começou a se espalhar por todo o seu corpo.

– O que é aquilo? – perguntou Axel.

Liza estava claramente confusa. Sua expressão demonstrava tontura e ela estava lutando para não fechar os olhos.

Rachel se aproximou como se não soubesse porque estava ali. Mas, ao ver o brilho saindo de Liza, soltou um gritinho e disse, bem alto:

– Essa era a filha de Apolo que esperávamos para que a profecia fosse completa.

E a garota despencou para o chão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :3



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