Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Queria dizer que estou muito feliz com as críticas que vocês tem feito, fico feliz que estejam gostando da fanfic!
Se vocês puderem indicar ela pra alguém, eu agradeço muito. Comentários são muito importantes e essa fic é movida por eles.
Espero que gostem do capítulo!



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Esperava acordar umas onze horas, pelo menos no mínimo as dez, mas não. Aqui estou eu, às oito e meia da manhã sem conseguir dormir de novo. Penso em ficar na cama, mas meu estômago começa a clamar por comida. Espreguiço-me, tiro o cobertor de cima de mim lentamente e me levanto.
Respiro fundo. Por que eu tinha que acordar a essa hora da manhã hein? Vou até a cozinha e vejo que minha mãe já acordou também e não parece estar cansada.
–Bom dia, Lydia.
–Bom dia.
Meus olhos estão ardendo um pouco pela choradeira de ontem. Isso que dá chorar e depois não secar as lágrimas.
–Tem uma padaria aqui perto, em dois minutos você chega lá. – diz ela mandando uma indireta. Minha mãe não falaria onde é a padaria sem motivo nenhum.
–Me deixa pensar... você quer que eu vá lá?
–Exatamente.
Respiro fundo e volto para o meu quarto. Eu poderia ter perguntado por que ela não vai, mas ela ia começar o discurso sobre como eu sou mal educada e tudo mais. E eu realmente não quero ficar ouvindo xingo a essa hora da manhã.
Pego uma calça jeans, blusa básica azul e uma sandália. Está frio, mas nem tanto assim. Vou até o espelho e vejo como estão meus olhos. Vermelhos. Lavo o rosto e penteio meu cabelo. Escovo os dentes, coloco meus óculos e vou de novo para a sala.
–Quer que eu compre o que?
–Quatro pães de sal e mussarela na bandeja.
Prefiro mortadela, mas fazer o que.
–Compra um sorvete se quiser. – diz ela e sorrio. Pelo menos ir até a padaria vai me dar algum benefício.
Pego o dinheiro e desço o elevador. Quando chego no térreo, vejo que não tem quase ninguém andando na rua. Dou bom dia pro porteiro e vou para a calçada. Acho que com dez passos chego nessa padaria, já consigo até avistá-la de tão perto que é.
Essa cidade tem uma coisa que a outra não tinha muito: árvores. No outono deve ser lindo, as folhas no chão.
Chego na padaria e vejo que só tem gente idosa. Abro um sorriso ao tomar nota que quando eu for idosa, espero estar bem rica e ter pessoas que irão na padaria pra mim. Será uma maravilha.
–Próximo. – diz uma moça com cara entediada.
–Quatro pães de sal.
Ela assente e vai até onde estão os pães como se fosse uma lesma. Ela coloca os pães no saquinho e pesa.
–Mais alguma coisa?
Ela parece ter a esperança que eu diga “não” para evitar mais trabalho para ela.
–Sim, quero mussarela. – falo apontando para onde tem uma bandejinha, fica dentro de um vidro que só dá para quem está atrás do balcão pegar.
Ela revira os olhos e vai se arrastando.
–Toma. – diz ela praticamente jogando a bandeja na minha mão.
–Valeu.
Essa mulher tem que dar um jeito na cara dela, assim vai acabar espantando clientes. Pego um sorvete tablito e vou até o caixa, que está vazio e passo a comida pro moço. Pago e saio da padaria dos idosos.
Paro para guardar o troco no bolso e quando levanto o olhar, vejo uma pessoa andando na minha frente que eu sei bem quem é.
–Thomas! – chamo, mas ele não se vira.
Qual o problema dele?
–Thomas! – e por que eu to gritando por ele?
Eu devia seguir meu caminho pra casa e ignorá-lo, como eu sempre faço, mas acho que tem alguma coisa errada. Thomas não é do tipo de ignorar.
Ando com passos apressados até ele e fico na sua frente, para não o deixar dar mais nenhum passo. Sua cabeça está baixa.
–Você não me ouviu chamando não? – pergunto um tanto irritada.
–Ouvi... –diz ele e percebo que sua voz não está normal.
–E por que não respondeu? Odeio ser ignorada. – falo mais calmamente.
–Lydia, eu não queria que me visse chorando.
Ele levanta o rosto e vejo que seus olhos estão vermelhos e há lágrimas em sua bochecha. Engulo em seco.
–Thomas, o que aconteceu? Sabe que pode confiar em mim, certo?
Ele abre um sorrisinho amarelo.
–Eu confiaria minha vida a você.
Sinto meu rosto esquentar violentamente. Isso não é nada demais, Lydia. Nada demais. Ele só acha você confiável. Só isso.
–Diga o que aconteceu então. – falo tentando desesperadamente mudar de assunto.
Ele parece hesitar um pouco, mas então respira fundo e me encara.
–Meu pai, Lydia. Ele tem problema no coração e ultimamente... – ele para por um momento. –Ultimamente ele vem tendo mais ataques e de madrugada... de madrugada ele teve um ataque cardíaco e ele quase morreu.
–Meu Deus, Thomas! – falo com muita pena dele e achando meio irônica a situação. Ontem eu sonhei que meu pai tinha morrido, quando na verdade foi o dele que quase morreu de verdade.
Sem hesitar, jogo meus braços ao redor do seu pescoço e o abraço. Não é hora para se ter vergonha. Ele quase perdeu o pai, eu não posso simplesmente voltar para o apartamento depois dessa. Ele me abraça de volta e sinto uma lágrima sua na minha nuca. Nos soltamos depois de uns seis segundos.
Ele abre um sorriso.
–Me surpreendeu. – diz ele.
Coloco uma mão no bolso sem saber o que falar.
–Quero dizer, em um dia quer me espancar, no outro me abraça.
Dou um tapa leve no seu braço.
–Não se acostume com a minha gentileza, ela é passageira. – pelo menos com ele é passageira. Amanhã vou querer bater nele de novo. –Se você precisar de qualquer coisa, pode me chamar.
–Obrigado, Lydia. Mesmo.
Dou de ombros.
–Não foi nada. – olho para baixo sem saber o que falar, mais uma vez. –Ahn, bom, é melhor eu subir. Minha mãe deve estar morrendo de fome.
Ou talvez ela tenha voltado para o quarto para dormir.
–Eu vou no parque, quer ir comigo? – diz ele.
Não, Lydia. Não vá. Mas ele está muito mal por causa do pai dele e provavelmente vai ficar o dia inteiro em casa sozinho e só pensando sobre a quase morte do pai. Não posso fazer isso, não sou má a esse ponto.
–Tudo bem, eu só vou levar isso lá pra cima. – digo apontando para o apartamento. –E comer alguma coisa, daí eu desço e a gente vai.
Ele assente e eu vou para o prédio. Subo no elevador pensando se essa foi uma boa decisão ou não. Eu simplesmente não gosto da ideia de ter que sair com Thomas, ainda mais sozinha. Não que eu ache que ele seja um assassino ou coisa do tipo, só não me sinto muito confortável com isso.
Entro no apartamento e vejo que minha mãe está sentada no sofá. A toalha já está em cima da mesa.
–Que demora, hein?
Nem tinha pensado em como vou falar pra ela que eu vou sair com o Thomas sem que pareça ser um encontro.
Coloco o sorvete na geladeira e o pão e a mussarela em cima da mesa.
–Mãe, sabia que o pai do Thomas teve um ataque cardíaco e quase morreu? – falo, por fim. Parece ser o melhor modo de começar. Como um pedaço de pão.
Ela arregala os olhos.
–Que horror, Lydia! Como ficou sabendo?
–Encontrei Thomas lá em baixo, ele estava péssimo.
–Pobre garoto. – diz ela. –Ele deve estar sofrendo muito.
Realmente deve.
–Ele perguntou se quero ir ao parque com ele.
Ela tenta disfarçar tomando um gole de café, mas vejo que está com um sorrisinho nos lábios.
–E você vai?
–Sim.
Ela faz que sim com a cabeça e vejo que ela tá sorrindo mesmo. O que fazer com essa mãe louca?
–Vou comer rapidinho e descer. Devo voltar até no máximo dez da manhã.
–Lydia, até que enfim você assume que gosta dele!
Reviro os olhos. Qual parte do “não gosto do Thomas” e do “mal o conheço” ela não entendeu?
–Eu só vou porque deve estar sendo difícil pra ele. A mãe dele deve estar no hospital e ele ia ficar remoendo o que aconteceu com o pai dele e não será nada legal. – termino de comer.
–Sei...
Levanto-me da mesa e vou até o meu quarto, bufando. Não troco de roupa, essa está ótima. E afinal, isso não é um encontro. Escovo os meus dentes, dou uma penteada no cabelo, porque hoje não está muito bom, e pego minha bolsa. Coloco o celular nela e uns trocados, caso eu queira comer alguma coisa.
–Mãe, vou indo.
–Vai querida, aproveite.
Coro muito. Ela com certeza está achando que eu vou beijar o Thomas, ou coisa do tipo. Saio de casa sem responder nada.
Chego no térreo e vejo que ele está sentado num banquinho. Quando me vê, abre seu tradicional sorrisinho e se levanta.
–Até que não demorou muito.
–Se eu demorasse provavelmente ia brigar com a minha mãe. – murmuro ainda irritada. –Onde é esse parque?
–A pé levam uns dez minutos, mas acho difícil acharmos um táxi por aqui. – diz ele olhando para os dois lados. –Sua mãe poderia nos levar?
Só de pensar na ideia, já fico estressada.
–Prefiro ir a pé mesmo. – falo já começando a andar.
Se ela nos levar, vai ser o momento mais constrangedor da minha vida, porque ela ficará me enchendo.
–Ok então. – diz ele. –Tudo bem com você?
–Sim, meu pai virá me visitar. – falo animada. –Acredita?
Ele parece surpreso.
–Estou feliz por você. Faz muito tempo que não se veem pelo o que você me falou.
Faço que sim com a cabeça.
–Você acha que ele vai gostar de mim? – pergunta Thomas depois de alguns minutos andando.
Paro, fazendo-o parar também e o encaro.
–Por que ele teria que gostar de você?
Ele olha pro chão antes de responder.
–Nada não. – diz dando de ombros e voltando a andar.
É cada pergunta que esse aí me faz. Andamos mais um trecho do caminho em linha reta.
–Mas acho que sim.
–O que? – pergunta ele distraído.
–Acho que meu pai gostará de você. – minha mãe parece ser fã número um do Thomas. –Mas acho que nem irão se encontrar.
–Ah, sim. – diz ele sorrindo. –E você?
–O que tem eu? – pergunto sem entender.
–Você gosta de mim? – pergunta ele com um sorrisinho.
Por algum motivo indefinido, sinto as bochechas queimarem. Essa pergunta é meio vergonhosa. Eu posso falar que “sim” e ele entender de outra maneira.
–Isso não é uma pergunta legal de se fazer. – falo andando mais rápido.
Ele segura meu pulso e sou obrigada a parar.
–Você gosta de mim? – repete ele, se divertindo com a minha expressão.
O que eu respondo?
–Nada contra você. – falo do jeito mais normal possível. –Agora, será que a gente pode andar ou tá difícil? – pergunto nervosa. Meus batimentos estão bem alterados.
Thomas sorri de lado.
–Podemos sim.
–Aleluia. – sinto sua mão sair do meu pulso e o nervosismo passa.
Continuamos o caminho. A maioria das casas tem flores do lado de fora, isso é muito bonitinho. Faço uma nota mental de pedir pra minha mãe comprar algumas para colocarmos na sacada.
–Chegamos. – diz Thomas apontando para a imensidão verde na nossa frente. É só atravessarmos a rua e estaremos lá.
Tem crianças por toda parte, pessoas caminhando, outras encostadas em uma arvore lendo. Ambiente agradável.
Atravessamos a rua e andamos até uma grande arvore.
–Até que esse parque está bem preservado. Tem praças nessa cidade que estão praticamente destruídas. – diz Thomas.
Sento-me em baixo da arvore e encosto-me no tronco. Esse lugar é tão calmo, me deixa mais leve.
–Que horas são agora?
–Nove horas. – diz ele consultando o celular. –Quer fazer o que?
Dou de ombros.
–Não sei, e você?
Ouvimos uma buzina fina e vemos que é um cara passando com um monte de algodão doce.
–Socorro! – falo feliz da vida.
–O que foi? – pergunta Thomas levantando a sobrancelha.
–Algodão doce! Faz tanto tempo que não como.
Ele abre um sorriso com o meu entusiasmo.
–Vou lá comprar e já volto.
Faço sinal de positivo com o dedo e vejo ele se afastar. Sinto uma coisa bater levemente no meu braço e vejo que é uma bola de plástico roxa. Uma criança vem correndo atrás dela. Pego a bola de plástico na minha mão e entrego pra ela.
–Obrigada. – diz a criança com um sorrisinho. Ela é muito fofa.
–De nada.
Uma moça vem atrás dela.
–Tenho que ficar de olho nessa menina, ela é muito arteira. – diz ela rindo. –Vamos, querida? Seu pai pediu para não voltarmos tarde.
A menina parece chateada.
–Mas a mamãe ainda não chegou! – protesta ela.
A moça me lança um olhar triste e respira fundo.
–Está bem, brinque mais um pouco. Mas então iremos embora.
A criança faz que sim com a cabeça, sorridente e vai um pouco mais a frente brincar com sua bola de plástico roxa.
–Ela ainda não entende que a mãe não irá voltar.
–A mãe dela morreu?
A moça faz que não com a cabeça.
–Quem dera fosse isso... A mulher foi embora e a deixou.
Abro os olhos, horrorizada.
–Isso é terrível.
–É sim, mas ela ainda não entende isso. Acha que a mãe vai voltar a qualquer momento e abraçá-la. Pobre criança.
Que dia triste esse. Thomas vem na minha direção e a moça me lança um olhar.
–Bonito seu namorado. – diz ela.
–Ele não...
–Tenho que ir, bom dia. – diz ela me interrompendo e indo atrás da menina abandonada.
Dou um breve aceno mesmo que ela não esteja vendo e Thomas senta-se ao meu lado. Me entrega o algodão doce.
–Valeu. – falo já abrindo o meu. –Quanto foi?
–Não precisa pagar.
–Preciso pagar ou vou ficar endividada.
Ele levanta uma sobrancelha, sem entender.
–Ontem foi chocolate, hoje algodão doce. Daqui a pouco estarei te devendo muito dinheiro.
Thomas sorri.
–Eu te dei o chocolate e o algodão doce. Não é pra você pagar, eu te dei.
Abaixo a cabeça meio sem graça e como um pedaço do doce.
–Então obrigada. – falo, por fim e volto a olhá-lo.
–Não há de que.
Fico observando o parque enquanto como e sinto seu braço no meu. Viro-me para olhá-lo, mas ele também está comendo distraidamente.
Termino de comer e olho no celular. Dez pras dez.
–Thomas, já é quase dez horas. – falo um pouco surpresa. O tempo passou muito rápido.
–Vamos então. – diz ele se levantando.
Levanto-me também e jogo o saco do algodão doce e o palitinho fora. Saímos do parque e andamos pela calçada.
–No final, acabei ganhando. – diz ele rindo.
–Como assim?
–Bom, ontem você perdeu a aposta e disse que só iria sair comigo para estudar. Mas hoje nós fomos até o parque e conversamos.
Tinha me esquecido da droga da aposta.
–O que achou? – pergunta ele ainda rindo da minha cara.
–Não foi tão ruim quanto eu imaginava. – falo com sinceridade e rio um pouco também.
Chegamos ao prédio e entramos no elevador. Aperto o número 3.
–Depois do almoço terei que voltar para o hospital. - diz ele. –Meu pai já deve estar melhor, mas a alta será só de tarde.
–Espero que ele fique bem. – falo.
–Obrigado por ter feito companhia a mim, eu precisava me distrair.
Dou de ombros.
–Faria o mesmo, não faria? – falo.
Thomas abre um sorrisinho.
–Pode apostar que sim.
O elevador se abre e eu saio.
–Até amanhã. – ele fala.
–Até.
A porta do elevador se fecha e dou um breve aceno.


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