A Dama da Lua escrita por Malcolm Beckster


Capítulo 4
Aprendendo a Ver




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Elizabeth tomava cuidado, Thomas não queria um progresso ridículo na ciência da noite para o dia, então ela corrigia o que ela achava que todos deveriam saber, corrigiu que para acessar o Hiperespaço era necessário o maldito buraco de minhoca, uma vez que alcançada a velocidade da luz um simples impulso faria a nave adentrar a nova camada do Universo, corrigiu que o Universo suportava velocidades superiores a da luz, a Camada Relativa não suportava, mas a Hiper Camada suportava. Teorizou novamente as partículas de táquions, suportando um pouco mais onde elas se encontravam na CR e na HC, nomes respectivos das camadas do espaço, ao terminar, metade do caderno estava preenchido com informações e desenhos, pontas de lápis quebrados, um caneta quase sem tinta a borracha bem menor do que a que encontrou quando chegou, ao longe, muitas pessoas analizavam seu trabalho e Adrian perto o bastante para ler na bela caligrafia da jovem o que ela queria dizer, parecia impressionado.

– Como sabe disso?

Ela mentiu, queria ficar boa nisso: - Meu professor desenvolveu teorias do Hiperespaço, eu passei meu curso aprimorando elas.

– Bem, acho que finalmente teremos mentes femininas na astronomia, isso está bastante completo.

– Por que não há mulheres no ramo?

– Como assim por quê? Quem era capaz de empurrar os telescópios? Apenas pessoas fortes. As mulheres ficaram com trabalhos corporativos como empresárias, agentes, contandoras, matemáticas e o homem ficou com trabalhos manuais, só agora que os homens estão conseguindo espaço nessa área - ele disse, ainda que fosse algo tolo e idiota - Você deveria… Ah, desculpe - sua expressão se suavizou - Esqueci que você é do exterior.

– Não tem problema.

– Não, desculpe mesmo, eu te tratei como idiota, não deveria ter feito isso.

– Não tem problema, agora, pode entregar isso para o nosso superior.

– A Sra. Flint.

– Você não disse que mulheres não costumam trabalhar como astrônomas.

– Elas não costumam se destacar muito, a maioria delas costuma se envolver com projetos mais corporativos do que acadêmicos, mas existem mulheres no ramo.

– Ah, entendi. Mas sim, gostaria que entregasse a ela.

– Tudo bem, você colocou seu nome aqui?

– Não, por quê?

– Bem, costumamos fazer isso nas teses.

“Teses, como as que Smith me entregou”.

– Não - ela pegou o caderno negro e escreveu seu nome numa letra perfeita - Aqui.

E saiu calmamente Adrian Silver, que ia entregar a primeira tese de Elizabeth Moon, astrônoma.

– Você fez o quê? - os dedos de Smith estavam na base do nariz, depois se arrastaram para os olhos e voltaram, num gesto repetitivo.

– Eu enteguei uma tese de 52 páginas para minha superiora - disse Moon, sentada numa pequena cadeira, pequena comparada a de Smith, uma enorme poltrona vermelha de couro, sua mesa negra combinava perfeitamente com ela e servia como uma proteção eficiente - Ela disse que adorou e que vai me enviar para a Equipe Técnica de Ciência Teórica.

– Você sabe como funcionam as coisas aqui?

– Como assim?

– Equipes Técnicas possuem prazos, se você não realizar os prazos você é demitida, você precisa fazer um avanço mesmo que microscópico conforme o trabalho avança, o problema que - ele tirou da gaveta um caderno preto onde na etiqueta branca de identificação estava escrito Elizabeth Moon na cor preta - Eu li a sua tese e foi a coisa mais genial a respeito de astronomia que já vi em toda minha vida.

– É só eu dizer que não consigo progredir.

– Mas os outros vão conseguir, pare de achar que eu sou um idiota só porque não sei o que é Hiperespaço, a humanidade tem uma habilidade incrível de pegar algo cuja probabilidade de se tornar outra coisa é zero, como areia, e por uma infinidade de processos tranformá-la nessa outra coisa, que é a porcaria do vidro. Nós nos destruímos, transformamos isso num deserto nuclear e ainda estamos vivos. Não me subestime nem subestime seus colegas.

– E o que eu devo fazer? Sabotar o projeto - disse, revelando sua ideia.

– Claro que não, bem… Vamos lá, mais uma era de desenvolvimento tecnológico. Você será lembrada, por enquanto.

– Elizabeth Moon, astrônoma - disse ela, num tom glorioso que obrigou Smith a esboçar um sorriso.

Por um instante o tempo parou para Elizabeth, Smith que saía ficou parado tal como as folhas, percebeu que não conseguia se mover na mesma velocidade que costumava, mas percebeu que mesmo virando a cabeça, a imagem não mudava, isso a deixou tonta, e finalmente as coisas voltaram à velocidade comum, o que fez ela girar a cabeça rapidamente, batendo ela na parede e machucando com força sua cabeça. Caiu no chão, um galo se formava.

– Isso doeu! - resmungou ela.

– O que aconteceu?

– Nada, tudo bem.

– Você mente mal pra caramba, precisa melhorar isso. O que aconteceu?

– Eu não sei dizer exatamente, tudo ficou parado.

– Vamos fazer um exame de sangue, temos um laboratório aqui, não é nada demais.

Smith não esperou que ela respondesse e a guiou até um pequeno anexo próximo da sala, pegou uma seringa e deu um tapa no rosto de Elizabeth.

– Ai - disse, e nesse momento Smith inseriu a agulha com força e ela decidiu se focar na dor do rosto, finalmente entendendo o por que do gesto de Thomas, ele tirou a seringa, colocou-a numa entrada específica, o material rubro foi sugado e o computador iniciou uma análise que não durou mais do que alguns segundos, e naquele instante reconheceu amostras de sódio, açúcar, ferro, nutrientes e de um material isolado que não foi reconhecido.

– O que é isso?

Ela olhou, procurou por algo diferente e disse: - Deve ser o Habilis.

– E o que seria isso?

Percebendo que seria uma história longa, a menina andou até um lugar para se sentar: - No futuro, existem duas facções religiosas lunares, uma humanista e outra feminista, a feminista preza pela superioridade feminina enquanto a humanista preza pela igualdade entre os homens - pela expressão de Smith, as duas palavras tinham sentidos diferentes naquela época - a minha família é uma das mais antigas e uma das criadoras da facção feminista chamada Irmandade da Lua, que vai surgir dentro de milhares de anos. Como geralmente fazemos partes de exércitos e não temos o mesmo porte físico de homens costumamos ingerir uma droga sintética que melhora nosso desempenho atlético e físico, ela se chama Habilis.

– Então você tem meio que… Eu não sei como dizer isso sem parecer ridículo, mas essa situação toda é ridícula, você tem meio que poderes?

– Sim, pode se dizer que sim.

– Como?

– Não sei, eu deveria ser mais forte e mais rápida, mas não sei porque vi tudo parado.

– Venha comigo.

– Para onde vamos.

– A Reborn Corporations vive testando novas tecnologias com exoesqueletos, vamos ver se você consegue fazer o que eles fazem… Sem os aparelhos.

Em cinco minutos Elizabeth Moon já estava impressionada pelo conhecimento do homem de pele escura e barba rala chamado Marshall Fisk, doutor e principal coordenador da Divisão de Protótipos, ele parecia saber de tudo, química, física, biologia, matemática, programação de computadores, algo bastante impressionante para um homem com apenas 45 anos de vida. Foi ele quem mostrou o traje de diminuição de impacto, uma malha grossa e colante que Fisk demorou alguns minutos para sintetizar em seu tamanho, embora a tecnologia de impressão 3D facilitasse isso bastante. Depois disso, foi colocada em frente a um muro de concreto e atrás dela, dentro de um quarto separado por uma janela de vidro espesso, eles disseram: - Soque a parede, use a base da palma da mão.

Smith apoiou o braço no ombro de Fisk, olharam com cuidado para a garota.

Ela respirou, se acalmou, não lembrava de ter esmagado uma parede de vidro alguma vez.

– Pode ir.

Ela socou, a parede tremeu, mas nada de fato aconteceu. Olhou para Smith, que encarava a parede.

– Encoste na parede.

Ela com calma encostou o indicador na superfície, ela caiu em pedaços. Elizabeth saltou alguns centímetros de distância para se proteger da queda.

– Soque o vidro! Rápido - disse agitado, ela o fez, um pequeno trinco surgiu, aumentou de tamanho cada vez mais rápido até ocupar toda janela, que caiu como flocos de neve cortantes. Smith disse sem se abalar, mas sério - Você pode romper estruturas, seu soco impacta diretamente no interior, seu punho não é forte, mas você consegue produzir uma vibração que age na estrutura dos objetos. Pelo menos eu acho que é isso.

– Não é bem assim - disse Fisk, educado - Provavelmente você não consegue impactar objetos, ou seja, ainda é fraca, não vai sair carregando um carro verde e chocá-lo contra o chão - falou imaginativo - Digamos o seguinte, seu soco atinge a superfície, a onda de impacto é transmitida para o corpo impactado, se espalha pelo corpo e rompe sua estrutura. Entende, senhor Smith? Não é uma vibração, é a onda de impacto.

– Não são a mesma coisa?

– Não exatamente, a onde de impacto é o choque de corpos, se não fosse o traje, a mão da senhorita Moon teria sido esmagada. Aliás - ele mudou de assunto, Smith não foi rápido o bastante para cortá-lo - como conseguiu fazer isso? Nenhum ser humano que eu conheça seria capaz de produzir choques de impacto tão poderosos.

– Sobre isso - Smith disse - Um truque de mágica - ele estalou os dedos, Fisk caiu no chão com os olhos fechados como se fosse um boneco de pano.

– O que foi isso? - ela perguntou assustada, ele tinha batido a cabeça com força e tentava ajudá-lo, mesmo desmaiado.

– Um truque de mágica que aprendi com um amigo meu, chama-se atordoamento.

– Como fez isso?

– Um bom mágico nunca revela seus truques.

– Do que você está falando?

– Está vendo estava cart?a - ele ergueu a mão como se segurasse alguma coisa.

– Que carta?

– Exato, não há carta assim como não há truque. Eu simplesmente fiz com que ele desmaiasse usando um golpe simples - ele posicionou a mão em seu ombro e olhou fundo em seus olhos - Está sentindo uma dor no peito? - ele pressionou a mão em seu ombro, uma dor latente desceu para o peito, logo para as pernas até se transformar numa dor de cabeça.

Ela não aguentaria por muito tempo.

– Estou, e dói muito.

– Se eu tivesse feito dois milímetros a mais para a esquerda você não teria sentido nada e o resultado seria o mesmo - apontou para Fisk.

– Mas do que adianta? Ele ainda vai se lembar.

– Aí que entra o truque - ele tirou uma seringa - Vírus Nanotecnológico, consegui com o Kaiser, ele tinha uma variedade enorme deles, alguns digitais e outros genéticos caso os primeiros não funcionassem, ele apanhou muito e depois de ferrou muito, para simplificar, eu copiei alguns e estes foram para meus laboratórios de pesquisa. Ele acessa a rede neural do portador e desarma memórias recentes antes de se apagar.

– Como sabe que não vai apagar tudo?

– Porque eu controlo o vírus - tirou do bolso um controle digital antes de injetar o vírus - Acho que vinte minutos basta, agora vamos, tenho que colocá-lo em seu escritório, coloque sua roupa, no canto do laboratório existem desintegradores atômicos, eles correm pela superfície do material, isso é quase todo feito a base de polímeros de borracha e materiais elásticos, deixe no chão, pelo menos nele eu acho que não tem borracha.

– Você não pode fazer isso!

– Fazer o quê?

– O que está fazendo, ele não fez nada de errado, ele te ajudou. Você poderia ter feito isso sozinho!

– Não podia, claro que não. Eu tenho um determinado número de recursos para meus objetivos, mas Fisk tem recursos quase ilimitados, eu não poderia vir aqui mesmo como presidente da Reborn considerando quase doze trilhões de dólares e um ano de investimentos. Os desintegradores ao entrar em contato com o solodo poderiam tudo a perder, Fisk é o único que sabe como parar a desintegração atômica porque foi ele quem desenvolveu o projeto.

– Então você é dono de tudo e não é dono de porcaria nenhuma?

– Depende dos setores, eu sou um matemático, cuido de gerência, não sou nenhum tecnólogo.

– E Fisk é?

– Fisk passou a vida inteira estudando, ele é um estudioso, era cheio de alergias quando era pequeno e não podia sair de casa, o pai era professor e tinha que ensiná-lo as matérias exigidas, ele não tinha nada pra fazer então estudava. As teses dele eram gigantes, os trabalhos são muito bem feitos, ele entende de tudo, fala várias línguas e é bem culto. Não é tão vivido assim, mas é genial.

– Não respondeu minha pergunta.

– Ele era perfeito, uma pessoa séria, dedicada e educada, não fala palavrões e não perde tempo pra nada, não procrastina quase em momento algum.

As portas do elevador se abriram e ele saiu. No chão, Moon olhou para o próprio braço onde estava o macacão, foi para um banheiro onde tirou o traje e colocou suas roupas e procurou no armário do canto um pequeno controle com uma ponta metálica, encostou a ponta na superfície de borracha e um buraco se formou nele… Bastaram cinco minutos para que ela pressionasse o contato que cancelou a desintegração.

Pensou, refletiu, não acho motivou para tal. Encostou a ponta novamente e foi embora.

Smith conversava com Fisk naquele momento: - A cabeça ainda dói?

– Sim, mas pela dúvida, como fez aquilo?

– Só apertei seu nervo, e eu pensando que a dúvida era outra.

– Isso me leva ao ponto, como ela fez aquilo?

– O soco, uma droga chamada Habilis, não sei como foi desenvolvida e nem quem, mas deixa ela poderosa.

– Ela é dependente ou algo?

– Não ao que parece, ela é permanente, não precisa usá-lo de cinco em cinco minutos. Na verdade, não existe mais disso.

– Os efeitos são completamente permanentes?

– Não - ele mostrou um pequeno frasco com sangue, provavelmente de Elizabeth - Eu fiz uma breve pesquisa… Os efeitos passam de acordo com o envelhecimento das células, na verdade, muito obrigado por me emprestar seu assistente, se ele aparecer amanhã de ressaca ou resfriado é por causa do remédio que você me deu.

– Remédio?

– Bem… Era um remédio, só que causava amnésia e fortes dores de cabeça - disse com um sorriso.

– O que você vai fazer?

– Estudá-la, deixar que ela tome seu rumo e caso ela fique louca, matá-la.

– Faria isso?

– Se fosse necessário, absolutamente sim.

– É um homem estranho, senhor Smith.

– E quem não é quando garotas de vinte anos viajam no tempo?

– Eu não pareço tão afetado com isso, não é, senhor Smith?

– Aposto que já criou mil teorias malucas para como ela veio parar aqui, não é?

– Mil e uma - respondeu o homem com um sorriso.

– Alguma delas com sentido?

– Três. Veja, ela não sabe nada sobre nós, então não existem viajantes regulares, logo ou ela veio num período anterior ao permitido pelos viajantes normais, outra ela desenvolveu a tecnologia de viagem no tempo, e eu adoraria sabe que de fato isso aconteceu afinal, eu tenho muito interesse pela humanidade antes da Queda ou uma última e digamos, menos provável, algo ou alguém a trouxe para cá.

Smith imaginou deuses com poderes infinitos mandando seres poderosos e descontrolados como ela ao passado.

– Existe algo que lhe associe à palavra Irmandade da Lua?

– Bem, no reinado de Arranis IV, a Rainha de Bakeni, mulher celibatárias associavam à Lua a presença de poder e imortalidade.

– Seria possível que… Bem, você sabe.

– Duvido muito, eu vou fazer a minha pesquisa, faça a sua também, qualquer coisa eu e você nos reunimos de manhã.

– Sendo assim, vou embora.

– E a garota?

– Ela vai viver a vida dela.

Smith desceu pelo elevador até alcançar o térreo, olhou para a enorme torre, um império grandioso que demorou anos para ser construído. Com um soco Elizabeth poderia destruir tudo aquilo e ainda parte da integridade do local, com prédios caindo sobre prédios, sabia que ela não faria isso, mas poderia e talvez o fizesse algum dia.

Ela apareceu.

– E então, o que faremos agora?

– Eu vou para casa, você vai achar a sua.


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