She's Lost Control escrita por Pinguim Pirata


Capítulo 3
Instituto St. Clair


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito (muito, muito) tempo eu venho com um novo capítulo. Vou dedicar esse para Izzie, que quase veio atrás de mim cortar a minha garganta porque eu não atualizei a fic.

Enjoy



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O início do dia se passou como uma nuvem uniforme na mente de Lena. Ela se lembrava de fazer as malas, lutando pra encaixar o maior número de livros possíveis no meio de suas roupas, do café da manhã com o pai e a madrasta, que evitava olhá-la nos olhos, e então o longo caminho no carro do pai.

Nesse momento ele estava fazendo algum discurso sobre como ele esperava que ela se recuperasse, e o quanto ele estava decepcionado com suas atitudes, e todas as outras baboseiras que ele provavelmente havia ensaiado anteriormente, mas Lena estava preocupada com outra coisa. Na tarde anterior havia tomado os últimos comprimidos que tinha escondido em seu quarto, e agora tentava calcular quanto tempo levaria até começar com uma crise de abstinência.

Durante o restante do percurso de quarenta minutas dentro do luxuoso carro, Lena procurou algo para falar, não para garantir a seu pai que ficaria bem, mas sim porque o silêncio parecia estar sufocando-a. Em geral, ela estava acostumada – e confortável – com o silêncio, mas naquele momento ela tinha uma sensação estranha, subindo pela sua garganta, e uma parte de sua mente continuava a repetir que algo grande iria acontecer.

Lena passou o tempo ouvindo músicas em seu celular e observando uma grande floresta de eucaliptos pela janela do carro. Ela tinha certeza de que se abrisse a janela poderia sentir o cheiro agradável e característico das árvores, mas manteve o vidro levantado. Finalmente, o carro virou uma curva, saindo da estrada principal e entrando em uma mais estreita. Logo estavam de frente ao casarão que Lena vira no panfleto.

Agora, de perto, ela podia conhecer melhor o lugar onde passaria uma temporada indeterminada. Havia alguns jovens na varanda, uma ouvindo música, outros dos lendo livros, um grupo de cinco garotas sentadas na grama e dois garotos jogando beisebol, mas todos pararam o que estavam fazendo quando o carro de Jason Harber estacionou na área coberta destinada aos carros. Um dos garotos que estava na varanda levantou-se e entrou no casarão, e voltou acompanhado de uma mulher da idade de seu pai, negra e com os cabelos volumosos presos para trás por bandana. Lena ergueu uma sobrancelha ao vê-la. A mulher se parecia com uma daquelas mães liberais e modernas que se via por ai, e não com a responsável por um instituto para jovens problemáticos.

A mulher e o garoto se dirigiram até eles, enquanto o pai tirava suas malas do carro. Lena reparou na quadra de tênis, afastada da casa, e na grande piscina coberta do outro lado. Realmente, não se parecia com um “instituto” e sim com um simpático hotel com jeito caseiro, onde recém casados passariam a lua de mel em alguma cidade turística. Claro, o instituto não estava em nenhuma cidade turística, e sim no meio da estrada entre uma cidade e outra.

A mulher sorria de forma simpática, o garoto apenas um meio sorriso constrangido. Ela se adiantou para apertar as mãos de Lena e seu pai, o garoto ficou alguns passos para trás. A mulher se apresentou como Doreah St. Clair, a atual diretora do instituto. Lena achou o sorriso da mulher sincero, e o olhar acolhedor.

Doreah pediu que o garoto levasse as malas de Lena para dentro, e ela teve a impressão de tê-lo visto um olhar questionador para a mulher mais velha, mas não prestou a atenção nisso. Ela explicava sobre o sistema de visitas para Lena e o pai dela, e não se pode dizer que saber que veria uma psicóloga uma ou duas vezes por semana animou Lena, mas ela tentava manter seu otimismo sobre a temporada que passaria ali. Até porque, apesar do medo, ela ainda se lembrava de sua mãe dizendo que ela merecia ser feliz, e não uma escrava de vícios, como a mesma fora.

– Bem, vou deixá-los se despedirem, Lena, me encontre na varanda, querida? – Lena assentiu com a cabeça, e Doreah afastou-se em direção a varanda. Seu pai estava claramente desconfortável, e olhar de Lena apenas intensificava isso. Ele avançou para abraçá-la, envolvendo-a desajeitadamente, mas o braço não foi retribuído. Lena apenas ficou parada, como uma estátua, fria e inexpressiva. Jason se afastou, com o rosto corado, e ela segurou a vontade de sorrir. Um de seus passatempos favoritos era deixar o pai desconfortável, e isso não era nem um pouco difícil.

–Não precisa se preocupar em vir me visitar.

Ela se virou e se dirigiu á casa, sem olhar para trás ou esperar alguma palavra de despedida. Na verdade, Lena só esboçou uma reação quando percebeu que todos que estavam do lado de fora da casa, inclusive Doreah, viram a cena, e então não pode evitar corar, porém foi recebida amigavelmente pela mulher mais velha.

–Você vai dividir o quarto com a Madison. Não se preocupe, ela é um doce, e vai te mostrar a casa toda. Faremos de tudo pra você se adaptar aqui, qualquer coisa que estiver te incomodando, você pode falar comigo, ou com a nossa psicóloga, tudo bem?

–Sim. Mas... É que... – Lena mordeu os lábios, em saber como dizer, e Doreah esperou pacientemente até que ela encontrasse as palavras certas. – Eu provavelmente vou ter uma crise de abstinência daqui a algum tempo, então... - Completou ela, diminuindo a voz.

–Não se preocupe querida, quando começar a se sentir mal, vá para a enfermaria. Você vai ser muito bem tratada.

As duas passaram pela sala de estar sem mais palavras e subiram dois lances de escadas até o andar do dormitório das meninas, e seguiram por um extenso corredor até o último quarto. A casa era maior por dentro do que parecia por fora, pensou Lena. Seria muito fácil para ela se perder ali dentro. Doreah bateu na porta, e alguns segundos depois uma garota alta, com os cabelos tingidos de rosa e roupas em estilo punk rock atendeu a porta. Lena automaticamente simpatizou com ela.

–Madison, essa é Lena, sua nova colega de quarto. Pode mostrar o lugar para ela?

–Claro. – Respondeu a garota, olhando para Lena com olhos curiosos.

Doreah agradeceu e foi embora, deixando-as sozinhas. Madison fez sinal para que Lena entrasse no quarto e encostou a porta. Suas malas estavam ao pé da cama da direita, provavelmente entregues pelo garoto de cabelos escuros. Ao pé das duas camas havia um baú para guardarem seus pertences, e uma cômoda grande ficava encostada na párea. A parede da esquerda, onde estava a cama da outra garota, estava coberta de pôsteres, de filmes antigos, bandas e cantores, dos quais Lena desconhecia a maioria, e fotos da garota com outros jovens, provavelmente seus amigos. Lena reconheceu o garoto de cabelos escuros em algumas delas.

–Então, Lena, não é? Quer que eu te mostre tudo agora ou prefere descansar, desfazer as malas?

–Ah, não, acho que vou querer conhecer o instituto primeiro. – Não que Lena estivesse ansiosa para ver o lugar, ela só estava com preguiça de desfazer as malas.

As duas andaram pelo instituto, enquanto Madison lhe explicava o que era cada porta, fazia piadas sobre os dormitórios masculinos e os outros jovens da casa.

No primeiro andar estava a biblioteca, a sala de jantar, a cozinha, a enorme dispensa , a sala da psicóloga, a sala de Doreah e a enfermaria. Caminharam até a quadra de tênis, e Madison indicou-lhe o ponto de ônibus onde o ônibus da escola os buscava nos dias de semana. Ela era uma pessoa agradável, de sorrisos fáceis e piadas sujas, era difícil não gostar dela. Durante todo o tempo, Lena estava consciente da sensação de frio na barriga que tinha, mas tentava convencer a si mesma de que era apenas nervosismo, mesmo que ela não se sentisse assim.

Depois do pequeno tour, voltaram ao dormitório, onde Lena não pode fugir da tarefa de tirar seus pertences das malas e colocá-los no lugar.

–Eu vou descer para o almoço, você vem?

–Não, obrigada, não estou com fome. – Era verdade, Lena não sentia fome, mas também não queria descer e encarar todas aquelas pessoas, que ficariam apontando e se perguntando quem ela era e porque estava ali, mesmo que Madison prometesse que a apresentaria a seus amigos.

Madison – Mads, como ela preferia ser chamada - Deixou Lena no quarto e desceu. Vinte minutos depois o frio na barriga havia se transformado em uma dor, e seus olhos começavam a arder. “Agora não, por favor,” pediu ela silenciosamente, mas não adiantou.

Por alguns minutos, sentiu dificuldade de respirar. Mais dez minutos e suas mãos tremiam e suor frio escorria por sua testa. Ela pensara em ir até a enfermaria, mas não soube se conseguiria descer dois lances de escada sem cair, então apenas correu para o banheiro no lado oposto do corredor para vomitar. Suas pernas tremiam, Lena sentou-se no chão, respirando com dificuldade. Não podia ficar ali. Quando se levantou, manchas pretas dançavam em frente a seus olhos.

Cambaleante, seguiu até as escadas. Ela preferiu se arriscar a descer a acabar desmaiada lá em cima. Devagar, um pé após o outro, ela desceu, com as pernas bamboleantes. Parecia-lhe que as escadas eram feitas de gelatina, e os degraus mudavam de lugar, pelo simples prazer de ver seu nervosismo. Até o andar do dormitório masculino, tudo bem. O segundo lance de escada foi mais difícil, pois suas mãos não se firmavam no corrimão. Lá embaixo, ouvia as vozes dos adolescentes, que pareciam-lhe sirenes em sua mente. Em um momento, perto dos últimos degraus seus joelhos cederam e bateram dolorosamente nos últimos degraus enquanto suas mãos impediam-lhe de bater o rosto no chão. Pareceu levar uma eternidade até que conseguisse ficar de pé, com o apoio da parede. Agora suas pernas doíam, e sua visão estava embaçada.

–Lena? – Uma voz conhecida chamou. Era Madison, ela percebeu, com seu rosto cor de rosa... havia algo de errado naquilo mas ela não soube dizer o que. Ao lado dela estava um garoto, e sua cabeça parecia estar em chamas. Os dois ampararam Lena pelos ombros e caminharam com ela até a enfermaria, sob o olhar curioso dos outros jovens que apareciam para ver a cena.

–Vai ficar tudo bem. – A garota de rosto rosa sussurrou.

Lena sentiu suas costas em algo macio, e fechou os olhos, cansada.


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