Discar o número de telefone. Esperar pelo “alô”. Falar.

Ali, deitada no chão frio daquele banheiro sujo, Lena Harber não foi capaz de pronunciar as palavras que passavam por sua mente. Fazê-las saírem de sua boca seria como tornar a situação ainda mais real. Sentia ainda o gosto de álcool em sua boca misturado com algo ainda mais amargo, enquanto lágrimas lutavam para sair de seus olhos.

No telefone, seu pai ainda falava, perguntando por ela, mas ela simplesmente desligou o telefone. Sua cabeça girava quando se sentou, e por alguns segundos sua visão ficou nublada e ela pensou que fosse desmaiar. Ela fechou os olhos respirando fundo, até se sentir bem o suficiente para abri-los de novo e olhar em volta. O lugar era nojento. Os cubículos onde ficavam os sanitários estavam em sua maioria sem portas, uma água suja e fedida se espalhava pelo chão, manchas suspeitas e frases e desenhos obscenos cobriam as paredes. Poucos metros de onde ela acordou havia uma pia suja com um espelho meio quebrado pendurado na parede, e foi pra lá que ela se dirigiu quando conseguiu ficar de pé.

Suas pernas fraquejavam quando ela se apoiou na pia e encarou seu reflexo no espelho. Seus pensamentos se confirmaram quando olhou para si mesma. A maquiagem escura sobre os olhos estava manchada e agora escorria pelo seu rosto junto com suas lágrimas, seu cabelo castanho estava sujo, molhado e embaraçado, e sua pele poderia muito bem ser feita de giz.

Relutante, Lena olhou para o pequeno ponto em seu braço que latejava. Havia uma pequena gota de sangue coagulado no local onde ela havia enfiado a agulha. Ela perdeu o controle.

Pela segunda vez, digitou o número do pai no celular.

-Lena? Lena, onde você está?

Respirou fundo.

-Eu perdi o controle.