Ciclo relativo escrita por Dr Chopper


Capítulo 1
Ciclo relativo




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Acho que a melhor maneira de explicar desde o início é dizer onde foi que começou o meu gosto pela física. Archenhold-Sternwarte Berlin, foi onde tive o primeiro contato com ela. Havia viajado a Berlim nas férias de verão em 2004. Tinha apenas sete anos, eu sei disso, mas olhei uma vasta quantidade de informações sobre a matéria que tanto amo hoje. Foi lá que descobri o que me mantinha de pé. A gravidade é algo realmente mágico.

Voltei pra casa naquele verão sentindo algo diferente dentro de mim. Certa noite eu fiquei, como de costume, até as duas da manhã ao aguardo de meu pai, tinha a insaciável vontade de ouvir uma história sobre a segunda guerra e principalmente sobre Einstein. Quando ouvi meu pai se aproximar da casa, corri até a porta e fiquei parado, esperando. A porta se abriu.

—Einstein não era bom na escola? —perguntei, com a inocência de uma pobre criança.

Ele me olhou de cima a baixo, com olhar esgotado. Meu pai ficava até altas horas trabalhando e quando chegava em casa não tinha cabeça para suportar um pirralho falando em seu ouvido, porem ele era paciente.

—Eu li—falei, apontando com a cabeça para uma estante — em um livro que ele só se tornou alguém depois de velho.

—Einstein ficava acordado até as... seja lá qual for essa hora, esperando o seu pai para tagarelar em seu ouvido?—disse, abrindo um sorriso cansado.

—Boa tentativa pai, você já usou essa frase semana passada. —respondi.

Ele colocou a mão sobre meu cabelo e bagunçou-o.

—Muito bem, Aaron.—disse, colocando a maleta em uma poltrona e foi a caminho da cozinha.—Um garoto inteligente e esperto como você precisa de chocolate quente. Deve estar faminto, estou certo?

Ele sorriu de forma ainda mais cansada. Eu devia saber que meu pai estava cansado, que ele estava em seus últimos suspiros. Estava morrendo de tanto trabalhar e eu não notei isso. Devia acreditar quando ele brincava de estar dormindo enquanto bebia chocolate quente nos dias anteriores a este. Criança tem uma ingenuidade até que angelical, mas as vezes boba.

Neste dia ele colocou o copo nos lábios, fingiu um ronco e ficou na posição por alguns minutos. Até que despencou para o lado, caindo direto no chão. Dei gargalhadas disso, foi a melhor atuação dele em meses. Minha risada sessou e ele não levantou.

—Pai, não tem mais graça. —eu disse. Ele parecia me ignorar.

Depois de alguns minutos notei que ele havia dormido de verdade no chão da cozinha. Peguei e carreguei, arrastando-o, até a cama e o embrulhei com um cobertor. Fui dormir e na cama pensei em como meu pai estava trabalhando ultimamente, me senti um pouco culpado, e me pus a rezar.

Acordei cinco horas da manhã e corri até a cozinha. Daria tempo de ver meu pai indo trabalhar hoje. Mas quando cheguei lá ele não estava.

Fui até o armário, desviando da poça de chocolate derramado por meu pai no dia anterior e peguei dois pães, um pote com mel e uma fatia de queijo. Coloquei-os na mesa. Espalhei mel descontraidamente no pão e o joguei na boca sem nem mesmo saborear, em seguida comi o queijo com um pouco de nojo, eu não gostava muito.

Depois escutei a campainha tocar, fui até a porta e vi pelo olho mágico que era a senhorita Eveline. Ela cuidava de mim todos os dias quando meu pai não estava, ela era uma “Nanny” como os ingleses falam.

Abri a porta e a vi entrando ofegante.

—Olá. Aaron, acordado tão cedo? —perguntou ela. Entrou batendo os pés no tapete, colocando o casaco no cabineiro e sussurrando:—Está tão frio hoje, não é.

Ela ajeitou a roupa, em seguida respirou fundo.

—Onde está seu pai? —perguntou.

Abanei a cabeça em negação.

—Ele foi trabalhar mais cedo hoje.

—Eu perdi a chave da casa. —assumiu ela, com um sorriso decepcionado. —Então vim correndo para ver se dava tempo de chegar antes dele sair. Mas vejo que não foi necessário.

Depois disso, Eveline me mandou voltar a dormir. Fiz como ela pediu. Voltei pra cama, queria dormir novamente e recuperar um pouco do sono.

Na tentativa de voltar a ter vontade de dormir fiquei ouvindo Eveline trabalhar pela casa. Escutei pegando um pano úmido e jogando no chão, provavelmente para limpar o chocolate que meu pai deixara cair na noite anterior. Lavou o pouco da louça que estava na pia. Pegou outro pano e começou a passar pelo piso usando um rodo.

Ouvir a melodia do cantarolar de Eveline enquanto trabalhava era como pular em uma banheira de água morna no inverno, era extremamente confortante, como abraço quente de quem amamos num dia frio.

Entretanto uma hora ela parou de cantarolar, e escutei o seu caminhar se enrijecer pelo piso de madeira, eu reconhecia o som daquela madeira em questão, era a do quarto do meu pai.

Tudo ficou em silêncio. Meus olhos começaram a se serrar, pisquei forte várias vezes e eles se fecharam de vez.

Acordei com um grito estourando meus tímpanos, assustado, levantei e corri até onde Eveline estava.

Meu pai não havia saído para trabalhar, estava deitado na cama. Morto.

No dia seguinte eu coloquei a roupa mais preta que tinha e me pus a caminhar ao lado de um caixão de madeira. Havia no máximo uma dúzia de pessoas no enterro no começo. No final sobrou apenas eu e Eveline, debaixo de um guarda-chuva branco contrastante. Chovia.

—Eveline—Virei para fitar seus olhos—, Einstein era inteligente na escola?

Ela balançou a cabeça.

—Não sei, Aaron.

* * *

Me mudei para a casa da senhora Eveline e morei por lá cerca de cinco meses, tive que me mudar para a casa da minha avó pois ela não aceitava o fato deu morar no lar de pessoas que não fosse da família. Eu preferia viver com Eveline, mas pra mim nada tinha mais a mesma importância.

Minha vó morava em Hamburgo, cidade natal dela e do meu falecido pai. Morava no subúrbio, o Blankenese. Um ótimo lugar, gente pacata, casas simples e tudo mais que um subúrbio simples tem.

Comecei a estudar em uma escola muito conhecida da região. Me tornei um garoto recluso, não tinha amigos e odiava conversar. Ironia do destino, se é que ele existe, pois o garoto tagarela agora é semimudo. Com o passar dos anos os professores começaram a notar o quanto eu era inteligente, colocavam-me em torneios científicos em nome da escola. Quando alcancei os quinze anos, em 2012, já estava competindo contra estudantes de universidades. Era tão inteligente que todos os especialistas da área começaram a me chamar de “O novo Einstein”. Ao ouvir isso algo me ocorreu.

Os anos foram se passando e a morte do meu pai ainda não fora apagada de meu peito. Minha vida era uma verdadeira merda, não tinha amigos, apanhava as vezes na frente de todos no corredor e minha avó era uma velha ignorante que não ligava pra mim e nem me ouvia. Eu fazia o papel de corpo vagando que fazia contas complicadas sobre física, é o que me rotulava. Mas isso mudou nesse dia.

—Ideias são para gênios—explicou o professor, escrevendo algumas coisas na lousa e continuou:—Einstein desenvolveu a Teoria da relatividade, que diz que o tempo e o espaço são relativos.

Ao escutar isso sai da sala no mesmo instante. Meu corpo se inundou de pensamentos. Era possível.

Fiz várias e várias pesquisas, os graus dos meus olhos aumentaram de tanto ler. Fiquei ao todo dois anos tentando desenvolver uma série de cálculos que comprovassem o que eu tinha em mente. Sim, eu consegui.

Já estava no terceiro ano do ensino médio, minhas notas na escola começaram a cair como dominó, só queria saber sobre minhas pesquisas e o que era passado na escola pra mim não importava. Com isso fui chamado até a diretoria para me retratar.

—Aaron, o que está acontecendo? —perguntou o diretor. —Seu boletim está quase todo vermelho.

—Sinto muito. —respondi, com sinceridade.

Senti muito, é? Moleque idiota! —sua voz elevou—Esta estragando a visão da nossa escola. Os investidores acham que estragamos você nesse último ano.

Senti meu sangue começar a ferver. O diretor me xingou de vários nomes possíveis. Mas fui educado e apenas respondi:

—Einstein não tinha notas boas na escola.

O diretor parou e ficou com olhar morto em cima dos meus olhos, respirou e abanou a cabeça.

—Não ouse comparar-te com ele. —disse friamente o diretor, já carregando sua fala com um sotaque estranho. —Tu és apenas um órfão delinquente.

Senti meu corpo perder chão, a raiva de vários anos após a morte de meu pai rasgou a minha consciência. Meu corpo entrou em estado de fúria.

Apertei um botão do meu relógio novo.

O ponteiro de segundos foi parando lentamente, os pássaros que voavam na vista da janela começaram a desacelerar o voo, papéis da mesa que escapuliram e estavam caindo no chão de repente pararam no ar. O diretor ficou imóvel como pedra.

Levantei da cadeira. O ar era denso. Um ronco leve soava nos meus ouvidos, esse era o som do tempo parado. A fumaça do café da caneca estava estática no ar.

Essa foi a minha primeira vez sob o efeito do relógio.

Sai correndo e fui a caminho de casa. Quando cheguei apertei o botão novamente e as coisas voltaram a se mexer. Vi a televisão da sala voltar a "rodar" as imagens, voltei a ouvir o som do tempo em movimento. Nesse momento o diretor devia estar aos berros, não só porquê eu simplesmente desaparecera na sua frente, mas também por culpa do café quente que eu jogara em sua face.

Todos têm curiosidade em saber como consegui esse feito, um relógio que freia o tempo. É um pouco difícil de explicar.

É possível “parar” o tempo de várias maneiras, como, por exemplo, acelerar seu corpo até que chegue na velocidade da luz, fazer o tempo desacelerar a sua volta ou fazer seu corpo ignorar a curvatura.

Tempo e espaço são relativos, e tudo tem uma curvatura, um efeito que molda o espaço-tempo. Por isso temos a gravidade, pois o planeta curva o tempo-espaço e faz com que sejamos empurrados para baixo e não puxados, como alguns professores ensinam.

O que eu fiz foi, apenas, “ignorar” o espaço. Meu corpo não sofreria curvatura, então o tempo-espaço sincronizaria comigo. É como se eu estivesse na velocidade da luz mas não estivesse ao mesmo tempo.

Depois que isso acontece o tempo para.

* * *

O meu objetivo ainda não havia sido concluído. Voltei a estudar minhas descobertas.

Para ter mais tempo utilizei o relógio para passar mais tempo pesquisando. Para mim passaram-se semanas, mas na verdade foi apenas uma hora no tempo normal. Isso prova que eu não usei todo o potencial do relógio, quer dizer que o tempo não havia parado, mas sim desacelerado. Mesmo finalizando minhas pesquisas ainda faltava algumas coisas para concluir o meu objetivo. Resolvi começar minha busca no dia seguinte, fui dormir para tentar repor minhas energias.

Ao acordar cedo no dia seguinte, ainda com muito sono, decidi voltar à escola.

E acredite, um dia foi o suficiente para que os boatos de “um garoto teletrasportador” se espalhasse por todo a Alemanha, a Europa e o Mundo. Entretanto boatos são boatos, ninguém acreditava numa bobagem dessa, era história de louco.

Eu cheguei a faixada da escola depois do início das aulas, entrei pela porta da frente. O corredor estava vazio. Tão vazio que tive a ilusão de ver um feno bailar pelo corredor —claro que foi apenas uma peça pregada pela minha cabeça, estava morto de cansaço. A verdade é que minha concentração havia se atiçado muito durante as pesquisas, um palhaço podia estar pegando fogo na minha frente e eu não o notaria, então se alguém estava me vendo no corredor eu não sabia. Minha visão se limitava apenas ao corredor e onde meus pés iriam me levar.

Fui com passos ligeiros até a sala de física aplicada da escola. Era o lugar com a maior quantidade de equipamentos na região, isso graças aos concursos ganhos por mim que rendiam prêmios à escola. Olhei sorrateiramente pela janela de vidro da porta para saber se havia alguém dentro, a sala estava cheia. Fiquei extremamente furioso.

Fui para o banheiro e aguardei, escondido, o sinal para a próxima aula. Quando o sinal tocou esperei uns cinco minutos e fui novamente para a sala para ver se os alunos haviam saído. Fiquei furioso novamente, eles ainda estavam lá.

Voltei ao banheiro para esperar, mas ao passar dez minutos fiquei impaciente. Sai de lá.

Eu não queria usar o relógio, havia feito alguns ajustes e tinha medo de que ele não funcionasse como devia, mas a situação pedia.

O tempo pausou, tudo parou, o corredor ficou mais silencioso que o normal, escutei apenas o ronronar no ouvido do tempo parado. Tirei uma chave de roda velha da minha bolsa, que não tinha certeza se estava pesada devido o tempo parado ou a minha fraqueza naquele dia.

Fui até a porta e remexi a maçaneta. O professor que estava dentro da sala devia ter trancado a porta. Golpeei o trinco com a chave de roda, que na terceira vez cedeu e me deu passe livre pra dentro da sala.

Dentro da mesma havia os alunos, quinze no total, e um professor que não me interessei em ver qual era. Os alunos eram grandes e fortes, provavelmente um grupo de jogadores de futebol fazendo recuperação.

Atravessei toda a sala e fui até um dos armários. Como eu já desconfiava, estava trancado com cadeado. Usei a chave de roda para golpear o cadeado que deu um pouco mais de trabalho para quebrar comparado com o trinco da porta. Depois de quebrá-lo, dei um grunhido de felicidade e abri a porta do armário. Você deve estar pensando que eu devia ter procurado a chave, mas era um armário bem seguro, quase um cofre, demoraria horas para descobrir o dono das chaves. Então quebrei-o mesmo.

Dentro dele havia o que eu precisava, uma pedra esmerilhada e cristalizada de quartzo. A melhor peça de quartzo que eu conhecia. Joguei-o dentro da minha bolsa surrada.

Olhei mais ao lado no armário e vi um livro de cálculos mais intensos e menos superficiais. Estiquei meu braço esquerdo para pegar e sem querer esbarrei-o na porta.

Essa foi a pior atitude que tomei, eu devia apenas pegar o que precisava e sair. Mas fui irresponsável e tentei levar mais, acabei esbarrando o relógio e liberei o tempo por engano.

Notei que o ronronar do tempo pausado havia parado de soar no meu ouvido, foi quando me dei conta que o tempo não havia parado devido ao esbarro do relógio, mas sim por uma falha do mesmo. Todos os da sala me fitavam atônitos.

—Eu disse que ele podia se teletransportar...—rosnou o professor com voz familiar. Quando me virei para olhar, tive a certeza, era na verdade o diretor falando. —Dou “A+” para o que pegar esse fluch.

Realmente, eu era uma maldição para ele.

Os alunos saltaram pra cima de mim. Tentei parar o tempo novamente, o relógio falhou. Senti pegarem no meu braço e me puxarem.

Com a chave de roda na mão direita golpeei com toda força o que tinha me segurado, bem no rosto. O mesmo deu apenas um gemido e hesitou um pouco, veio para cima de mim novamente e me deu um soco extremamente forte na minha cara. Senti cheiro de sangue, estava escorrendo pelo meu nariz.

Alguns jogadores de futebol são burros outros muito inteligentes, os que são burros acabam sendo obrigados a fazer testes de recuperação e quando surge alguma oportunidade de repor a nota sem ter que passar por um teste eles vão com mais garra que em dia de jogo. Mas uma coisa é querer nota outra é ser golpeado na cara por um nerd magrelo, vira pessoal, eles lutam não mais pela nota e sim pelo orgulho.

Apenas um estava na minha frente, os outros se afastaram para não se meter, é assim que funciona aqui na Alemanha.

Fiz força para golpear novamente o meu inimigo na cabeça, mas ele apenas levantou o braço e segurou a chave com a mão. Puxou a barra fazendo meu corpo avançar sobre o dele e depois disso senti apenas o punho dele estourar um golpe na boca do meu estomago.

Minha visão ficou turva, cuspi sangue.

Neste instante o tempo parou sem eu ter feito nada.

Curiosamente notei que tudo parou menos meu sangue que havia respingado que caiu normalmente no chão. Entretanto pude ver um chuvisco de saliva, flutuando, frente a boca do sujeito.

O corpo dele estava tapando a passagem, ele era muito pesado para empurrar. Então tive uma ideia.

Com aumento da velocidade se tem força. E foi o que eu usei.

Quando eu faço o tempo voltar ao normal há um aumento gradual da velocidade ao meu redor. Eu podia usar isso ao meu favor.

Mexi no relógio e fiz com que ele fizesse o tempo voltar ao normal. No momento em que ele entrou no aumento gradual de velocidade eu batei a chave com toda força na cara do jogador.

Essa não foi a melhor ideia que tive.

Quando a chave de roda bateu na cabeça dele, ouve uma explosão e minha visão escureceu. Lembrei nesse instante, no meu inconsciente, que havia um problema ao golpear com base na velocidade.

A bala de uma arma só faz estrago pois atinge o alvo com muita velocidade. Esse foi meu erro. Golpeei o jogador mas numa velocidade extremamente alta, provavelmente na velocidade do som.

Estilhaços, concreto caindo, gritos.

Quando consegui abrir os olhos, com a visão um pouco turva, tive uma visão horrível. As paredes todas cobertas de sangue, os outros alunos jogados no chão também encharcados do líquido vermelho. Os vidros das janelas estavam ao estilhaços, parte das paredes no chão.

Fiquei extremamente atônito. Procurei o jogador por toda a sala, não encontrei.

Foi então que a ficha caiu: Eu havia feito o corpo dele explodir e se desfazer com o meu golpe.

Desatei a num choro fino. Parei o tempo novamente.

—O que eu fiz? —gritei comigo mesmo, em total desespero.

Corri dali, queria ir pra casa. Entretanto o relógio falhou novamente e o tempo voltou a caminhar. Continuei correndo pelo corredor, distraído com o relógio acabei tropeçando num pedaço de madeira que estava atravessada no corredor e cai.

As pessoas que estavam na porta prestes a sair, continuaram o movimento e foram até o corredor. Enquanto eu, caído, me debatia tentando fazer o relógio funcionar novamente.

As pessoas no corredor acabaram me vendo com cara de culpado e com o diretor gritando para que me pegassem, acabaram se sentindo obrigados a partir pra cima de mim. Os jogadores ficaram dentro da sala junto do diretor, morrendo de medo, eles sabiam realmente o que havia acontecido.

As pessoas me cercaram e só então o relógio parou novamente. Olhei pra frente e vi uma dezena de caretas e de mãos se estendendo para me segurar. Novamente estava preso entre pessoas.

Tentei empurrar, não consegui. Desatei num choro incontrolável. Tentei por inúmeras vezes sair daquela muralha de pessoas.

Passei cerca de uma hora preso entre as pessoas, até que tive que tomar uma atitude drástica. Fiz com que o relógio deixasse o tempo normal.

E no finalzinho do aumento de velocidade gradual do tempo-espaço, dei uma batida com os antebraços causando uma explosão sonora.

As pessoas foram jogadas com força para longe de mim, algumas bateram com toda força contra a parede e acabaram desmaiando, o estrago tinha sido claramente menor ao feito por mim anteriormente.

Meus esforços foram por água a baixo.

O relógio não funcionou mais. Me pegaram. Me prenderam. Não pude terminar meu relógio.

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—Terminar seu relógio? —um dos interrogadores perguntou.

—Sim—admitiu Aaron—, queria aumentar o poder dele. Fazer com que ele me colocasse além da velocidade da luz.

O interrogador parou com olhar penetrante a Aaron.

—O que tem depois da velocidade da luz? —perguntou.

—O passado. —respondeu.

A resposta ficou no ar. Mal sabem eles que Aaron conseguiu sim viajar para o passado. Sua história foi verdadeira, mas não completa. Aaron não falou o que fez, após convencer as autoridades de que se tirasse o relógio um colapso no espaço-tempo se instalaria.

Aaron, tinha pego o quartzo para aumentar a força do seu relógio e fazê-lo atingir o ponto além da velocidade da luz. Após chegar acima da velocidade da luz ele ficou mais rápido que o próprio tempo e fez com que o mesmo andasse para trás, para o lado contrário.

Somente ele viu os dias e noites passarem como o bater das asas de um beija-flor. O sol e a lua passarem pelo céu formando um cinturão branco de luz, o céu cinza no fundo.

Somente ele viu seu corpo se diminuir, tornando-se criança novamente, e um relógio se fundir ao seu corpo. Somente ele viveu novamente até os dezessete anos... Mais de um bilhão de vezes, maior que qualquer número.

Sendo amaldiçoado a ficar vivendo as mesmas coisas para o todo sempre por tentar alterar o tempo por puro egoismo. Sempre iria ver seu pai morrer, se tornar um ótimo aluno, criar um relógio que controla o espaço-tempo, matar uma pessoa, ser preso, interrogado até contar sua história, fugir da prisão, voltar no tempo e viver novamente todas as desgraças de sua vida.

Aaron agora estava preso no espaço-tempo, trancado para sempre no seu ciclo relativo espaço-temporal amaldiçoado e sem fim.


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Notas finais do capítulo

Tive ideia para essa história a alguns meses atrás, mas não encontrava tempo nem motivo para escrever. Então como tinha Alemanha no meio resolvi aproveitar e fazer desse o meu propósito.

Muito obrigado aos que leram e até mais!