Somebody To You escrita por CarolHust


Capítulo 34
O Caso de Juvia Lockser. - Eu te odeio!


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos ao maior capítulo da história de SoTY '-'.
Não vou falar muito, gente, porque estou cansadona: passei o dia todo ontem escrevendo, mais o dia de hoje até agora. Sério, preciso de comentários por causa disso, dessa vez tenho que dizer que mereço kkkkk.
Acho que o que tem aqui é parte do que vcs vêm esperando faz muuuuiiito tempo ;). Como estamos passando pelo ápice, quero adiantar as coisas.
Enfim, gostaria de agradecer a todos os que comentaram, e especialmente a Snow, LucyGomes,Nina e Pri, por favoritarem/acompanharem a história. Bem-vindas!
É de se esperar e é claro que eu tenho de agradecer a YamiVermilion (sua linda!). Eu não sei como fazer agradecimentos, mas adoro você ter adorado as shortfics e a história kkkk Não vou abandonar mesmo não! Muito obrigada, e espero que continue gostando.

Sem mais delongas... (dessa vez literalmente, mereço uma veneração kkkkk)

Boa leitura ;)



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O dia da nossa viagem à Crocus pôde ser considerado bem agitado (ao menos para o meu emocional). Por mais que eu já tivesse usado aviões como meio de transporte em outras ocasiões, o evento ainda era considerado especial por mim. Quando se é uma criança sob os cuidados de um determinado colégio ou uma adolescente que mora “sozinha”, não existem muitas oportunidades (ou dinheiro) para se fazerem viagens caras. Isso já me fez ficar excitada pela ideia de irmos ao aeroporto logo no início da manhã. As nacionais seriam o dia seguinte, e Ur decidiu que era melhor termos um tempo para descansar ou passear pela cidade para relaxarmos antes da competição.

Tentei levar o mínimo de bagagem, considerando que ficaríamos três dias na capital, e acabei com uma mala pequena cheia. Ao descer a escada, vi Chelia arrastando duas sacolas enormes. Perguntei-a então o que ela estava levando, enquanto íamos até a entrada do Casarão, e a garota começou a citar todos os problemas que poderiam ocorrem com ela ou com Lyon, e porque, por exemplo, ela precisava levar um espanador de pó.

− Imagine se alguém tem um ataque de rinite?! – ela exclamou.

− Chelia, são só três dias. E o hotel para o qual nós vamos é escolhido e pago pelo colégio, então ele vai ser bom, esqueceu?

Ela suspirou e colocou as sacolas no chão, uma de cada lado seu. Como já sabíamos, ainda levaria certo tempo até que o táxi viesse buscar a todos nós, então voltamos para o lado de dentro.

− Eu sei, eu sei. – ela admitiu. – É mais terapêutico do que qualquer outra coisa. Assim eu sinto que não importa a adversidade que apareça, eu estarei sempre preparada.

Eu concordei, entendendo seu ponto. Gostaria de ter algum hábito desestressante como aquele, principalmente considerando tudo que iria ocorrer nos seguintes dias.

Mas nem sempre é possível se preparar... – eu sussurrei a frase, distraída, sem nem notar.

− O que?!

Inventei uma desculpa:

− Ah, nada. Eu disse que acho que vou comer um sanduíche antes de sairmos, você quer também?

− Não, obrigada, acho que vou ver se não me esqueci de nada.

Ela riu ao ver minha expressão impressionada/assustada e correu escada acima. Eu estava muito feliz que, depois de tudo que ocorrera com Lyon, ela não parecia me considerar tanto uma “ameaça”. Apenas em alguns momentos resistia a ser simpática comigo, mas eu estava trabalhando nisso.

Fui andando até a cozinha. Por mais que eu tivesse respondido à Chelia sem pensar, eu realmente estava com fome. Já tinha tomado café da manhã, na verdade, mas o nervosismo me deixava inquieta, e comer era uma das poucas coisas que me relaxava e na qual eu ainda conseguia me concentrar.

Parei, no entanto, ao ouvir meu nome ser citado em um conversa. Eu sabia que Natsu estava por ali, mais especificamente conversando com Gray, porém não esperava que eles tivessem tocando no assunto, que, depois descobri, estavam. Tentei espiá-los sem ser percebida ao ficar uma posição que me permitia ver parte da cozinha, mas tudo o que consegui foram alguns relances de Gray, que parecia ter parado de preparar sua comida para se concentrar na sua fala.

− O que você quer dizer com isso, Natsu? – ele mantinha um tom acusatório.

Eu não tinha a visão do rosado, mas sabia que ele provavelmente tinha noção, pelo modo como Gray tinha respondido ao que quer que ele tenha dito, que o assunto era complicado.

− Você nunca considerou... Você sabe... Namorá-la? Ou ao menos pensou nela nesse aspecto?

− Juvia?

Comecei a suar frio, a ansiedade me fazia ter que me controlar para não entrar no local para ver tudo de perto ou andar de um lado para o outro esperando a resposta. Estranhei a dúvida ou interesse de Natsu pelo assunto, e não sabia se deveria agradecê-lo ou bater nele por ter questionado Gray a respeito de algo que eu desejava saber havia muito tempo.

Eu tinha um pouco de medo da resposta.

− Quem foi que te mandou perguntar isso? Lucy?

Natsu suspirou pesadamente. Era difícil para ele, ao que parecia, insistir tanto.

− Na verdade sim, foi por insistência dela que estou perguntado. Mas todo mundo quer saber isso, idiota. Vocês estão o tempo todo juntos... – ele fez uma pausa antes de continuar, e deduzi que Gray tinha tentado interrompê-lo com algum protesto. − Por mais que isso não seja opcional, eu sei, já que vocês moram na mesma casa. Mas nunca vi você reclamando quando Juvia vem para perto de você. Lembra como você ficou quando ela foi ameaçada?

Lembrei-me de quando pedi que chamassem ele, e ficamos abraçados e silêncio. Aquele foi o único momento memorável (no bom sentido), de um dia desastroso. Me inclinei mais para frente, a fim de ouvir melhor a declaração final do moreno.

− Natsu, eu não estou interessado por ela, entendeu? Nem ela em mim. Sim, nós estamos nos dando bem, e sim, eu fiquei preocupado com ela, mas Juvia é... – ele não terminou a fala, mas o tom seco dava a entender muito bem o que ele pensava sobre mim.

− Uma amiga? Por acaso você está vendo alguma garota, Gray?

− Não. Não é como se eu precisasse estar saindo com alguém para saber que não estou a fim de uma garota.

Senti uma pontada no peito. “Você podia ter sido mais sutil, ’querido’ .”.

− Bom, é uma escolha sua, eu só acho que...

Natsu parou de falar quando ou dois foram interrompidos por um alto barulho. O barulho que eu fiz ao tropeçar, entrando na cozinha, e me segurar em uma das bancadas, quase indo ao chão. Eu tinha me inclinado demais, me concentrado demais em ouvir e menos em ser notada. E a última fala de Gray me fizera buscar apoio em uma pilastra não existente, me colocando em uma situação extremamente desconfortável.

Juvia? – os dois questionaram simultaneamente.

Eu teria que ser o mais convincente possível, principalmente ao notar que não faltava muito para eu não aguentar mais o nó formado em minha garganta e o desejo de sair dali.

Oi... – eu cantarolei.

− Você... Hun... Ouviu sobre o que nós estávamos falando? – Gray indagou.

Eu fui até a geladeira, peguei um pote de iogurte, respirei fundo e coloquei no rosto a expressão sorridente mais falsa que tinha.

− Não, acabei de chegar. Por quê? Era um assunto interessante?

− Na verdade não. Só estávamos falando sobre o novo carro do pai de Natsu. Não é, Olhos Puxados?

Natsu estivera observando minha feição desde que me notara ali. Implorei, com o olhar, que se ele tivesse percebido situação, fingisse que não sabia de nada. O modo como Gray parecia querer esconder tudo o que falaram, como medo de que de algum modo isso me machucasse, só piorava tudo. Natsu pareceu entender a mensagem:

− Isso mesmo. A propósito, ele pediu que eu o encontrasse daqui a pouco no café aqui por perto. Vem. – o rosado puxou Gray pela gola da camisa para fora da cozinha. – Você vai me levar até a porta.

Os protestos do mais alto não foram ouvidos, mesmo quando ele gritou que o outro provavelmente passava mais tempo no Casarão do que na própria casa, logo não precisava dessas formalidades. Antes de ir embora, Natsu virou-se para mim, que estava parada ao lado da porta da cozinha, e deu uma piscadela compreensiva. Eu sorri de volta, tristemente.

Era deprimente mais uma pessoa ter descoberto sobre meus sentimentos, quando a cada momento Gray parecia mais impossível de alcançar.

...

Me sentei ao lado de Ultear no avião. Coincidentemente, ela e Ur tinham conseguido comprar passagens para o mesmo voo que nós, e convencemos Freed, que ficaria comigo, a se sentar na cadeira de Ul, mais próxima da de Chelia.

Sim, toda a equipe da Lamia estava no mesmo avião que a gente. Meredy estava com uma de suas colegas do primeiro ano, uma garota que nadava uma das modalidades femininas de peito. O resto do grupo se encontrava espalhado entre o centro e a parte fronteira da aeronave. Ul estava quieta, ouvindo música, quando notou que eu a observava.

− Quer conversar? – ela pausou qualquer que fosse a música que ouvia.

− Não, na verdade... Posso ouvir com você? Esqueci meus fones em casa.

Ela respondeu em um meneio de cabeça e me estendeu um dos fones. Durante o resto da viagem, mantive os olhos fechados e tentei não pensar sobre Gray − minha tristeza, raiva por ele ser tão lento e principalmente a ameaça iminente sobre ele −, não pensar sobre o que eu faria em Crocus, não pensar sobre o envolvimento de outros nisso. Tentei pensar em Mirajane e Laxus, que eram o casal mais engraçado que eu já conhecera; em Erza, que nos contara um pouco mais sobre o seu passado (o suficiente para eu saber que ela já passara por muito mais do que eu) e sua atual felicidade; no “cara misterioso” de Ultear; na melhora de Ur.

No final, me prendi ao último tópico. Os melhores momentos dos dias anteriores àquela viagem foram ver Ur conseguir melhorar o controle sobre a perna danificada e seu nado. Eu ainda não sabia muito sobre o acidente, mas isso não importava. De um modo ou de outro, ela me pedira para não comentar desnecessariamente sobre o que vínhamos fazendo tarde da noite ou simplesmente quando não havia ninguém por perto. Concordei, sem nem pensar, deduzindo que ela tivesse o desejo de transformar aquilo em uma surpresa para os filhos e alunos.

A verdade era que Ur estava tão animada com a sua melhora que mal conseguia conter a animação. Claro que de vez em quando ela tinha seus momentos melancólicos, quando relembrava o que já fora e comparava isso com as pequenas conquistas que estava tendo, mas em geral ela tinha noção da sorte que estava tendo ao melhorar tanto e tão rápido. Estávamos sendo, inevitavelmente, cúmplices, por mais que ela não tivesse a mínima noção dos detalhes meus planos e talvez fosse os considerar burrice.

A sensação foi que o voo foi rápido, que o tempo para fugir da realidade não tinha sido suficiente, ainda não estava preparada para agir. Toda a equipe foi, imediatamente após o pouso, em direção ao hotel, liderada por Aquarius e acompanhada por Ur. A Lamia não ficaria conosco, no entanto. Ao lá chegarmos, fomos divididos em quartos de dois: Freed e um garoto mais velho, eu e Meredy, Cana e uma novata, etc. Havia uma exceção, no entanto, que eu particularmente achei ridícula: Gray, por ser capitão, tinha direito a um quarto privativo. Ok, tenho de admitir que eu e todo o time só considerávamos a medida “besta” por não estarmos incluídos nela, mas a inveja ainda era válida.

Depois de subirmos até nossos quartos, eu me joguei na cama enquanto Meredy me encarava com um olhar preocupado. Diversas vezes ela me perguntou se eu queria alguma coisa ou visitar algum ponto turístico, mas eu neguei. Eu só queria mesmo dormir, dizia. Seu olhar entristecido mostrava o quanto ela estava machucada por eu não ter lhe contado o que estava acontecendo, o que quase me fazia ser tentada a falar sobre o que me angustiava e acabar a envolvendo no perigo. Depois de cerca de uma hora no quarto, ela finalmente desistiu e saiu com suas colegas, batendo a porta com força e dizendo que e deveria ligar para ela se quisesse que ela trouxesse comida.

Esperei alguns segundos. Ao ouvir o barulho da porta do elevador se fechando, levantei-me rapidamente e busquei meu telefone dentro da bolsa. Meu corpo poderia estar um pouco adormecido, mas a mente trabalhava rapidamente. Durante a estadia de Meredy, eu estivera relembrando tudo que precisava checar. Assim que tinha nas mãos o smartphone, tirei do bolso de trás da minha calça o número que eu fora indicada para telefonar. Acima dos dígitos, eu rabiscara as mesmas iniciais da carta que recebera.

Alô? Com quem deseja falar? – a voz masculina do outro lado da linha questionou-me.

− Bom dia, aqui quem fala é Juvia Lockser.

− Ah, olá Juvia! – o tom do homem mudou de cansado para interessado. – E então, novidades?

− Bem, − eu suspirei. – na verdade eu gostaria de conversar com você sobre...

...

Quando todos da equipe retornaram, já tinha passado de oito da noite. Eu acabara jantando na lanchonete do hotel e logo fui para cama, afinal teria que acordar cedo o dia seguinte. Meredy não demonstrou ter muita disposição para conversar comigo, mas eu me segurava à esperança de que, depois que tudo se resolvesse e eu pudesse lhe contar que havia uma razão para eu estar agindo de tal modo, ela me entendesse e perdoasse. Bem, não só ela. Esperava que todos conseguissem me perdoar por ter escondido tanta coisa por tanto tempo, e, principalmente por, em um caso especial, ter colocado um deles sob ameaça.

Acho que a rosada não acordou quando, um pouco mais tarde, eu me levantei e fui até a janela. Abri o aplicativo de mensagens do celular diretamente na minha conversa com Gajeel só para digitar: “Tudo pronto?”. Em menos de um minuto, lá estava a resposta: “Agora é só esperar. Boa sorte e não seja idiota.”.

Eu ri, estranhamente, enquanto relembrava o porquê de estar fazendo tudo aquilo. Em uma última busca por relaxamento, abri o arquivo de uma foto de Gray que eu tirara em segredo. Sorridente e aparentemente confiante, ele não tinha a menor noção do que ocorrera nas estaduais. Bem, no fundo, não importava o quão friamente ele me tratasse ou a rejeição a meus sentimentos que indiretamente ele fizera: ele fazia parte da minha nova família, e, na Fairy Tail, ninguém que ameaçasse sua família podia sair impune.

...

Favor, todos os nadadores que são devem se dirigir às áreas designadas para suas equipes. Devem permanecer nos vestiários apenas os que estão se preparando para competir ou indo ao banheiro. – os autofalantes emitiram o aviso.

Eu não me lembrava muito bem de todos os detalhes das nacionais, visto que não competira nelas no ano anterior, mas de uma coisa eu sabia: sua organização era totalmente diferente das outras fases. Logo nas beiradas da piscina olímpica havia uma área apenas para repórteres, e, na arquibancada, uma fileira de olheiros de grandes faculdades. Isso, somado aos três comentaristas que eram especialistas no esporte, como o repórter Jason, e a organização do local, dava aos nadadores uma sensação de profissionalismo. Bem, de profissionalismo e de pressão. Mas vamos esquecer essa parte.

Uma pequena multidão se formava pelos nadadores que desejavam subir para a área das arquibancadas. Alguns, irritados, reclamavam da inesperada demora para o início das competições. Ninguém sabia o motivo daquilo, o que não os impedia de criticar todos os setores de organização e o próprio ginásio, uma as construções mais incríveis que eu já vira.

Quando finalmente alcançamos a área demarcada como “FT”, todos se sentraram em volta de Aquarius, que deu um cascudo em cada um de nós.

− É para isso que nós treinamos durante meses. Não importa quem vai realmente nadar ou não, saibam que isso é fruto do esforço de vocês.

A frase inesperada foi seguida por um “own” coletivo, que fez com que a treinadora risse.

− Tudo bem gente, eu sei que a maioria foi meu esforço... Não estraguem tudo, seus pirralhos. – a frase ameaçadora pareceu combinar muito mais com ela e com o momento.

− Boa sorte. – eu ouvi Gray, ao meu lado, falar.

Sorri de lado para ele. A raiva do dia anterior ainda estava ali, mas não consegui não sorrir para ele, corada.

− Para você tam...

Finalmente vamos iniciar essas provas! “Cool”, não? – a voz de Jason me interrompeu, reverberando por todo o local. – Desculpem a demora, mas devido a uma ligação anônima inesperada feita ontem, fomos avisados da possibilidade de uma possível alteração proposital no material de marcação ou na água, e tivemos de verificar. Não se preocupem, está tudo bem agora! E, sem mais delongas...

− Você estava sabendo disso? – Gray indagou, e Meredy, do outro lado, me lançou um olhar inquisitório.

− Não, estou tão surpresa quanto vocês. – eu exibi uma expressão confusa e observei a reação da equipe da Phantom.

Ele franziu as sobrancelhas e voltou a conversar com um dos garotos sentados atrás de nós, enquanto eu contive a satisfação e me voltei para Meredy.

− Será que a gente poderia conversar?

Ela parecia me perguntar: “Sério?” . Eu me levantei e puxei-a pelo braço até a escada que descia para os vestiários. Eu odiava o que eu ia fazer, mas era a única opção: ela era a única confiável o suficiente e que não estaria nadando.

− Meredy, você poderia me fazer um favor?

− Diga. – ela estava estática, esperando uma resposta minha.

Eu olhei à minha volta, com receio de estar sendo observada.

− Você poderia ficar perto da entrada de nadadores para a piscina? Preciso que você não deixe ninguém exceto os verdadeiros nadadores passarem. Se alguém tentar distrair os organizadores que checam essas coisas ou oferecerem para alguém da nossa equipe algum “presente”, você tem que...

− Juvia... – ela parecia estar cansada daquilo. – Isso tem alguma coisa a ver com os segredos que você vem guardando recentemente? Ou com você ficando sozinha ontem?

Eu segurei os braços dela e olhei-a nos olhos, implorando.

− Eu prometo que depois de hoje, depois que isso acabar e a gente voltar para o hotel e tudo estiver bem, eu te conto tudo. Você vai saber o porquê de tudo. Eu só não posso falar agora, e necessito que você faça o que eu estou te pedindo sem perguntar e com a maior cautela possível. Ok?

Ela pareceu entender a seriedade da situação.

− Não deixar ninguém passar e nem ninguém da equipe aceitar “presentes de grego”, não é?

Eu assenti, e ela se virou para correr escada abaixo.

− É bom que me conte tudo mesmo!

...

Eu imaginava que depois de tantas mentiras consecutivas era bem capaz que minha língua realmente caísse. Como quando me perguntaram sobre porque eu não saí no dia anterior, ou como eu me sentia competindo novamente com meus antigos colegas, ou simplesmente quando Gray me indagara se eu sabia sobre a ligação. Quando as provas começaram e nossa equipe foi com toda força, vencendo initerruptamente por um longo período, tudo que eu conseguia fazer era sorrir de satisfação toda vez que um aluno na Phantom que olhava com ira. Naquele momento, eu tinha acabado com o jogo deles e não havia nada que eles pudessem fazer a respeito disso.

Eu sabia muito bem que Meredy não teria uma “utilidade” efetiva exceto no momento em que Gray descesse para se trocar, mas estava contando com ela para qualquer imprevisto. Enquanto internamente eu me preocupava, no exterior eu parecia apenas uma garota feliz gritando cada vez que descobria que algum colega seu iria ganhar uma medalha de ouro.

Cana já chegou gritando após sua vitória, se jogando em cima de Gray e afirmado que ela que deveria ser a capitã, enquanto Freed, que por pouco vencera, chegou sorridente e quieto e simplesmente assim ficou, até que alguém finalmente perguntou como ele estava se sentindo por ter ganhado. Percebemos então que ele estivera o tempo todo esperado por essa brecha para falar. E ele falou. E falou. Muito. Até que ninguém aguentava mais e alguém teve a brilhante ideia de puxar um grito de guerra e não foi mais possível ouvi-lo graças ao barulho.

Quando Gray foi chamado para descer, eu o parei, perto das escadas, e relembrei-o da necessidade checar todo o seu material, como touca e óculos, antes de nadar. Não que eu exatamente soubesse de alguma trapaça que pudesse ser feita através de tais objetos, mas precaução nunca era demais naquele tipo de situação. Principalmente quando (e isso eu precisava me relembrar a todo o momento) eu não estava mais do lado de dentro. Eu tinha uma imensa vantagem por saber o modo de pensar deles, mas muita coisa poderia ter mudado desde que eu saí. No final, ele disse que faria o que eu solicitei, com uma expressão confusa, mesmo quando pedi que ele não falasse com nenhum “estranho” no andar inferior.

− Ah, e boa sorte de novo! – eu acenei ao vê-lo sumir de vista e virar à esquerda no andar inferior.

Corri de volta para o meu lugar, nervosa, e comecei a tamborilar meus dedos na beirada da cadeira. Toda a confiança que eu acreditava ter foi por água abaixo: eu só poderia confirmar que tinha feito todo o necessário depois daquela prova. Aprumei-me assim que o nome dele e de Lyon foram chamados, mais atenta do que durante o resto da competição.

Quando o sinal soou eles começaram a nadar, senti um frio na espinha e comecei automaticamente a ficar insegura. Gray não podia ser sabotado e perder oportunidades no meu lugar de novo. O competidor da Phantom, Totomaru, por quem eu nutria algo semelhante a asco, estava em segundo lugar. Se eu não o conhecesse, poderia considerar que ele estava sendo manipulado pelo colégio, mas a expressão em seu rosto quando “venceu” de Gray nas estaduais comprovava que ele sabia e concordava com tudo.

Lyon se aproximou dele, rapidamente, e tudo que eu fiz foi comemorar silenciosamente quando passou para sua frente. De todo modo, o Vastia também tinha sofrido pela trapaça, e o confronto, ali, deveria ser entre ele e o irmão. Eu notava a tensão entre os dois, que batiam os braços com tanta força que provocavam mais respingos do que normal.

− Quem você acha que vai vencer? – Cana sussurrou para mim.

− Eu...

Não respondi, vidrada demais e não querendo desviar os olhos. Vinte metros. Dez. Cinco.

Gray Fullbuster vence! Por meio segundo, expectadores! Acho que tal proximidade de tempos entre o primeiro e o segundo colocado nunca ocorreu em uma competição escolar, principalmente sendo os dois familiares! Cool!

Eu gritei em plenos pulmões. Sim, cerca de metade era pelo fato deles terem vencido e serem então, novamente, os melhores da categoria. A outra metade, é claro, foi por causa do funcionamento de parte das minhas armações. E ainda que eu dividisse essa felicidade em dois aspectos, cada um deles seria o suficiente para que eu fizesse o que fiz sobre a influência dos cem por cento: pular em cima de Gray antes mesmo que ele tivesse tempo de cumprimentar o grupo. Despreparado, ele tentou me segurar enquanto ainda estava no ar, mas isso não foi necessário, já que eu passei meus braços pelos seus ombros e isso já seria o suficiente para me sustentar.

− Juvia? – ele tinha um tom bem humorado, mesmo sem entender muito a situação e tendo me colocado no chão.

Eu ri, em parte pela vergonha ao tomar consciência da cena que criara. Afastei-me, devolvendo a ele seu “espaço pessoal”, e tentei dar uma de Mirajane, fingindo esquecer todas as minhas ações estranhas anteriormente:

− Parabéns! – eu arregalei os olhos e voltei a rir, enfatizando a minha animação.

Ele sorriu também, semicerrando os olhos e me analisando por alguns segundos. Parecia tentar entender o que exatamente estava se passando na minha cabeça naquele momento. E fez isso até que a plateia atrás de nós o chamou mais uma vez.

− Estou indo!

Gray me deixou para trás, indo falar com os outros, porém não sem antes passar a mão na minha cabeça e então dizer:

− Agora é a sua vez.

...

Quando eu, finalmente, me joguei na água, senti a tensão se dissipar. Soltei um suspiro de alívio quando a líquido gelado refrescou minhas costas doloridas e suadas devido a tudo o que se passara, e então me deixou mais acordada do que eu estivera em muito tempo. Finalmente, eu poderia nadar sem pensar em Gray, sem pensar em tudo que poderia acontecer. Ignorando todos os meus desejos mais comuns, como o de simplesmente nadar e relaxar, ao me lembrar da garota da Phatom, duas raias ao lado, notei que eu só queria mesmo vencer. Sim, e preferencialmente com uma enorme distância de tempo.

Eu batia as pernas com um ritmo definido, meus braços se resfriando cada vez mais ao se lançarem para frente a cada nova braçada. Era outono, eu tinha que me lembrar. A piscina poderia até ser aquecida, mas inevitavelmente as temperaturas iriam baixar.

Respirar, bater, braçada, respirar, bater... Tocar na placa.

Tirei meus óculos assim que levantei a cabeça e procurei o telão de tempos. Demorou algum tempo até que meu nome ali aparecesse.

1º Juvia Lockser.

Comemorei silenciosamente, batendo os braços na água, logo saindo da piscina e abrindo um sorriso para a multidão. Até ali, meu dia estava sendo maravilhosamente bom.

A jovem que competira comigo me lançou um olhar ameaçador, mas uma das coisas que eu lembrava da Phantom é que uma das piores infrações era puxar briga com alguém de outro colégio sem que o diretor soubesse, ou, pior, publicamente. Jose iria matá-la se ela tentasse algo.

O grupo da arquibancada me recebeu de braços abertos, e por alguns minutos eu me permiti apenas apreciar aquilo. Meredy finalmente voltara, mas não demonstrava urgência em saber de tudo naquele momento, o que era uma boa coisa.

− Vai ter uma festa no hotel da Blue Pegasus, estão sabendo? – ela perguntou. – Parece que todos os competidores estão convidados. Você vem, Juvia?

Ela fizera o anúncio para todos, mas parecia mais preocupada com o que eu faria.

− Na verdade, eu tenho umas coisas para fazer, mas podem ir e se divertirem. – eu afirmei e todos concordaram, exceto a rosada e Freed.

“Eu prometo.”, balbuciei para Meredy, o que não pareceu deixa-la lá muito mais alegre.

− Bem, é uma pena. – Gray disse, passando seu braço direito pelos ombros dela e então a puxando para longe com uma intimidade e expressão que me deixaram um pouco confusa.

Ele chamou o grupo para longe, e se despediu com uma aceno de mão, ao qual eu respondi com uma careta. Ele estava estranho, mas isso era algo que eu poderia verificar em outra hora.

Logo, todos já tinham ido embora e eu estava sozinha, do lado de fora do ginásio, com o celular nas mãos e à espera de uma mensagem que eu sabia que viria:

“Remetente: (**) ****-****

Mensagem:

O que? Acha que acabou agora? Gostaríamos de conversar com você, garota d’água. E é melhor vir sozinha.”.

Quando o celular vibrou com a mensagem do número supostamente desconhecido, eu já tinha uma boa ideia de quem a tinha enviado. Eles estavam irritados e queriam ter uma “conversa”. Bem, então eles teriam essa “conversa”. Quando eu sugeri um local, uma rua relativamente vazia e com apenas alguns prédios antigos perto do ginásio, eles pareceram desconfiar, de primeira. Mas, sinceramente, o que eu poderia fazer contra eles? Se houvesse mais alguém comigo, era só uma questão deles fingirem não terem passado para ali para fazer o que realmente iriam. Esse, eu acreditava, era o pensamento mais racional, e foi o que eu tentei explicar a quem quer que estivesse falando comigo.

“Remetente: (**) ****-****

Mensagem:

É bom que você não tente nenhuma gracinha. Esteja lá às duas horas.”.

E, assim, tudo estava acertado.

Eu iria me encontrar com a Phantom.

...

O local estava deserto quando, um pouco antes do horário marcado, nele cheguei. Novamente, eu estava suando frio e respirando pesadamente apenas por estresse. Fiz questão de checar se não havia ninguém circulando fora dos prédios, saindo ou chegando ou algum carro parado. Em relação ao último caso, havia apenas uma minivan prateada parada logo no início da rua. Olhei pela janela do motorista: aparentemente vazia. Ótimo.

Escolhi esperar encostada na parede dos fundos de um prédio, um local onde, caso eu quisesse, eu pudesse gritar para ser achada. Sim, essa era a intensidade do meu medo em relação à Phantom. Minhas pernas tremiam, minhas mãos suavam, e tudo isso só piorou quanto eu vi cerca de uma dúzia de pessoas surgirem na curva que levava à rua onde eu estava.

Por mais que não tivesse competido, Sol ainda sim estava entre eles, como que para marcar seu local entre “os maiores idiotas e ameaçadores”. Totomaru vinha logo ao lado, e eu não tinha nenhum sinal de Aria. O resto das pessoas eram alunos conhecidos de vista, entre eles a garota com a qual eu nadara, mas que, por mais que não fossem os “líderes”, estavam ali com o mesmo espírito destrutivo.

− Juvia Lockser. – Monsieur Sol se pronunciou. – Muito bem. Eu não sei se acho bom ou simplesmente burrice o fato de você realmente ter cumprido com a sua promessa e ter vindo sozinha.

− Vocês pediram que e-eu viesse sozinha.

Ele se aproximou de mim o suficiente para eu sentir o cheiro mais do que forte da sua colônia masculina e ter vontade de espirar. O cabelo, sempre espetado, parecia que a qualquer momento poderia desmanchar em gel. Ele se apoiou na parede a um dos meus lados enquanto Totomaru me fechava pelo outro. O grupo formou um semicírculo, me prendendo no meio.

− Exatamente. E que bom que agora você resolveu obedecer. Mas tenho a impressão que você não entendeu uma coisa, Juvia.

− As estaduais, − Totomaru falava com um tom intenso e ameaçador. – foram um sinal mais do que claro para o que você deveria fazer. Afinal, acha o que? Você não deu certo com a gente e vamos deixar que leve a outra equipe à vitória? Na verdade... – ele segurou meu braço com força. – Não é que você não tenha dado certo na nossa equipe, não é mesmo? O que você fez foi detonar nosso colégio mesmo.

− D-do que vocês estão falando?

Minha posição defensiva e meu tom inocente parecia os estar irritando, exatamente o que eu queria. Por mais que eu não acreditasse que eles fossem capazes de me bater, tremi quando uma das garotas veio até mim e socou a parede o meu lado.

− O seu amiguinho, Juvia. Não diga que não se lembra disso ou que não entendeu o que aconteceu, porque você quase socou aquele garoto. – a menina cuspiu as palavras, mas logo foi afastada por Totomaru.

− Ele riu da derrota de Gray! – eu escandalizei.

Sol avançou sobre mim, prendendo meus cabelos, com uma das mãos, acima da cabeça. E estava começando a doer. Tinha que terminar aquilo logo.

− Só porque vocês venceram...

Oh, não se faça de cega, Juvia, que isso sabemos que você não é. O que é que você tem aí? Um gravador? Uma câmera ligada? Você achou realmente que era a primeira pessoa a tentar fazer uma coisa dessas?

Eu me encolhi um pouco mais para trás, mas mesmo assim um dos garotos arrancou minha mochila de mim com violência e a esvaziou no chão. Realmente, meu celular estava ligado no gravador de voz.

− Nossa, eu não te imaginava tão previsível. Juvia, você está sozinha. Fosse antes ou depois da nossa conversa terminar, nós poderíamos fazer isso – ele pegou o meu celular e o partiu em duas partes. – e todo o seu planinho iria falhar.

Senti lágrimas nos olhos, mas talvez não pelo motivo que ele imaginava. Eu estava mais era com raiva. O medo ainda estava ali, mas era encoberto por camadas de nojo.

− E aí vocês podem fazer tudo de novo?

− Nós podemos perseguir você o quanto quisermos. Podemos fazer com que aquele garoto ou você percam no próximo ano, podemos fazer com que nenhuma universidade os aceite... Aquela placa não foi nada.

Quando Sol finalmente parou de falar, eu nem me esforcei para responder. Bem, se tudo não estivesse organizado exatamente como estava, ele estaria certo. Mas, ao ouvi-lo citar o termo “placa”, tudo o que fiz foi desmanchar minha expressão de medo e substituí-la por uma presunçosa.

− O que?! Você tem mais alguma coisa na bolsa, alguma câmera na rua? A gente pode quebrar essas coisas também!

Eu ri, ajeitando a postura e tentando enxergar por cima das cabeças deles a materialização da minha “salvação”. Sim, eu iria respondê-los com todo o remorso e felicidade, exatamente como em filmes, e explicar tudo o que eu tinha pensado. Acontece que, antes que eu pudesse fazer isso, fui interrompida:

− A verdade é que, seu francês infeliz, ela não está exatamente sozinha.

Eu arregalei os olhos quando o grupo na minha frente se abriu e eu pude ver toda a equipe de natação, que supostamente teria ido à festa, parada logo atrás do tumulto entre eu e o “francês infeliz”, todos com posições ameaçadoras. À frente deles estava ninguém mais ninguém menos que Gray, o mesmo que pronunciara a frase e que imediatamente tentou se meter no meio do grupo de alunos da Phantom, sendo impedido.

Vocês não deveriam estar aqui. – tentei fazer com que eles lessem meus lábios, mas Gray pareceu ignorar a minha mensagem.

Eu estava tão surpresa pela presença deles ali quanto Sol.

− Você sabe que isso só piora as coisas, não é, Lockser? Agora seus coleguinhas estão mais envolvidos, menos protegidos... Mas, na verdade, eles nem sabem de tudo, não é?

Cala a boca.

Sol apertou mais o puxão em meu cabelo, e eu verdadeiramente senti a dor. Quanto estava fechando os olhos para tentar não chorar, Gray perdeu toda a paciência que tinha, empurrando todos na sua frente, veio até onde eu estava e me arrancou dos braços do outro garoto. Foi então ele tentou dar um soco em Sol e eu tive de impedi-lo. Se ele fizesse aquilo, provavelmente perderia a medalha de ouro.

Eu puxei Gray para fora, e ninguém do grupo pareceu resistir a isso. Uma vez que eu supostamente chamara meus amigos até ali, eles sabiam que eu não iria “colaborar” e então fariam todo o prometido. Mas não naquele momento. Não de um modo que fosse possível provar.

− Nós não estamos nem aí para o que quer que aconteceu na Phantom. Juvia é da Fairy Tail agora.

− Boa sorte, então, na defesa dos “frágeis”. – Totomaru me lançou um sorriso malicioso, como se duvidando que eu fosse aguentar por muito tempo quando eles decidissem que iriam acabar comigo. – Vocês ainda pensariam sobre ela desse modo de soubessem que ela é capaz de destruir todas as chances de uma equipe propositalmente?

Eu tive vontade de me lançar sobre o garoto naquele momento. Definitivamente a história não era só aquilo. Mas ainda tive medo da reação doa meus colegas. Gray, ainda respirando pesadamente e com o corpo tenso, segurava minha cintura por trás com força, como se preparado para atacar quem quer que fosse se aproximar. Meredy, que avistei um pouco atrás, estava quase chorando e se prendia a uma barra de metal como se ela fosse lhe salvar caso a situação piorasse. Eles nem cogitavam duvidar de mim naquele momento, não moveram um músculo.

Ninguém relaxou quando o grupo que estivera conversando comigo começou a ser afastar.

− Se vocês tentarem qualquer coisa, podem apostar que a Fairy Tail também vai vir com tudo o que tiver! – berrou Freed.

A ameaça foi respondida por um riso coletivo.

− A questão é exatamente essa: quando as coisas ficarem feias, nós possuímos um arsenal muito maior de armas para usarmos. – Sol respondeu, logo antes de virar a rua e sumindo junto com o resto de seus colegas.

Eu olhei para o grupo à minha volta: a maioria parecia irritada, chorosa ou aliviada, mas três figuras reagiram bem peculiarmente. Freed desatou a chorar e me puxou para um abraço, Meredy largou a barra e se se sentou no chão, e Gray simplesmente surtou:

Você é idiota?! – ele puxava os próprios cabelos para enfatizar o que dizia.

− O que?

− Realmente, brilhante ideia essa de vir aqui sozinha, Juvia, sem que ninguém soubesse e pudesse te ajudar...! Não é assim que a Fairy Tail funciona! Você tem que pedir ajuda! Nós somos...

Gray-sama! Quem mandou vocês aqui? – eu questionei-o.

Meredy se aproximou, também de cara feia.

− Gajeel. Ele sabia que você podia estar fazendo uma burrice. Por mais que você não quisesse, era melhor ter alguém por perto.

Suspirei pesadamente. Não é como se eu não entendesse o ponto do Redfox, mas o fato dele ter entrado em contato com os outros nadadores sem que eu soubesse poderia pôr tudo por água abaixo, além do colocá-los em perigo. Gray ainda estava irritado, e todos pareciam esperar que eu dissesse algo.

− Eu nunca estive sozinha. – enfatizei.

Eles franziram as sobrancelhas. Bem, ao que parecia, Gajeel tinha dado a entender que eu fora para ali acreditando que, com sorte, eu iria sair ilesa. Só que não era bem assim.

Andei até o início da rua, sendo seguida por eles de perto, e parei em frente à minivan que eu checara mais cedo. Dando duas batidinhas na porta e com um sorriso no rosto, eu esperei que ela fosse aberta. Em poucos segundos de lá de dentro saiu uma figura muito bem conhecida por todos os presentes:

− Jason? – Cana indagou.

− Boa tarde a todos. – o loiro se voltou para mim. – Tudo bem, Juvia?

Eu assenti, ainda que estivesse meio nervosa.

− Quando a reportagem sai? – indaguei.

Achava melhor terminar tudo com ele logo, para então poder sair daquele local e finalmente relaxar.

− Acho que por volta da sexta que vem. – ele respondeu após ponderar um pouco.

− Do que vocês estão falando? Reportagem? O que ele está fazendo aqui? – Meredy perguntou.

Me virei para os meus amigos e, formalmente, apresentei o homem ao meu lado:

− Como vocês sabem, esse é Jason, o editor-chefe da versão esportiva do The Weekly Sorcerer Magazine, ou simplesmente TWSM. Ele...

− Estive aqui durante toda essa confusão, gravando. A ideia foi de Juvia, que entrou em contato comigo por meio da revista. Como dissemos, na próxima semana um artigo sobre o que acabou de ocorrer irá sair na revista.

A maioria do grupo ao meu lado ficou de boca aberta. O combinado feito por mim e Jason era que ele ficasse escondido durante todo o conflito, não importasse o que ocorresse naquela rua, e o compromisso dele com esse condição era algo no qual eu sabia que podia confiar (ele podia ser inconvenientemente preso ao desejo de adquirir e exibir todas as informações que desejava). Por isso, ele pegara a van e ficara dentro dela escondido com gravadores e câmeras profissionais. O celular havia sido apenas um disfarce.

− Ok, essa foi boa. – Meredy admitiu. – Mas quais seriam as consequências caso os organizadores soubessem disso? Digo, isso realmente vai ter um efeito bom para você, Juvia?

Jason nem chegou a precisar responder, já que Gray parecia entender o plano apesar de ter acabado de descobri-lo:

− Com o histórico deles... A pena pode ser de participação supervisionada, além da anulação das vitórias desse ano, a... Expulsão permanente das competições? – ele arregalou os olhos.

− Quando ficarem sabendo do que aconteceu, vão querer investigar, e com certeza vão achar mais... Você pensou nisso tudo, Juvia? – Cana perguntou, ao que eu respondi com um meneio. – Você foi mais inteligente do que pensei.

Jason riu, retirando da sua maleta outro cartão com seu número pessoal. Ele me entregou o pedaço de papel, dando uma piscadela.

− Foi ótimo entrar em contato com você de novo. Qualquer coisa, já sabe.

Sob o olhar inquisitório de meus colegas, guardei o objeto. Meredy, especialmente, parecia estar impaciente.

Depois disso, o que se passou foi basicamente uma despedida de Jason, e logo “marchávamos” em direção ao hotel. Ao lá chegar, fui recebida por um abraço desesperado de Ultear, que soubera de tudo por mensagens, e logo fui conduzida ao quarto de Ul, juntamente com ela, Meredy e Gray, para finalmente explicar as coisas. Aquela conversa iria durar muito.

...

− O que Gajeel contou para vocês? – perguntei-os.

− Basicamente que você estava indo tentar resolver algumas coisas com a Phantom sozinha. O resto, ele disse que deveríamos questionar a você.

Eu suspirei pesadamente. Seria bem mais fácil se Gajeel tivesse feito o estrago de vez.

− Perguntem, então.

− O que aquele cara quis dizer com você tendo acabado com as chances da equipe? – Meredy começou. – E porque Jason indicou já ter feito algo parecido com você antes?

− O que aconteceu naquele dia em que você foi abordada na frente do Casarão? – Ultear interviu com o pouco que sabia.

− De que placa eles estavam falando? E o que aconteceu na Phantom?

Olhei para Gray diretamente nos olhos. Ele exalava uma aura de irritação, tristeza, e ao mesmo tempo um pouco de compreensão. Da poltrona onde eu estava, (eu era a única pessoa sentada no cômodo) observei a todos e respirei fundo antes de começar a falar:

– Lembra, Gray-sama, quando Aquarius me perguntou se eu não tinha ido para as nacionais e você questionou porque não se lembrava de mim? Lembram dos supostos “falsos boatos” que a Phantom criou no ano passado, sobre um grande nadador? – Meredy e Ul, ainda que não tivessem competido nessa época, pareciam saber sobre o que eu estava falando. – Lembram que a Phantom não foi às finais do ano passado?

Eles assentiram em conjunto.

− O boato era real. Ele era sobre mim. Eu estava conseguindo os melhores tempos que o colégio já tinha tido, e acabei sendo eleita para a posição de “melhor nadadora”. Só que, na Phantom, isso não é necessariamente uma boa coisa. Significa pressão e obrigação de vencer. E eu não estava aguentando isso.

Durante o treino, meu treinador me chamou em um canto, pedindo-me que não ligasse para as conversas particulares com o diretor ou para os meus colegas, que cantavam a minha vitória quando eu mal sabia com quem iria competir.

− Largue de besteiras, essa garota vai nos levar ao ouro. – Jose me segurava por trás e me lançou um sorriso que disfarçava sua intenção de ameaçar. – Não é, Juvia? Todos estão contando com você.”.

− Eu passava noites sem dormir, tinha o hábito de tremer de nervosismo. Só quem sabia disso era Gajeel. Mas até aí tudo bem. – eu observei as expressões das pessoas à minha frente. – Nas regionais, eu estava muito insegura. Antes de ver o resultado, eu achava que tinha ficado em segundo, terceiro. Foi aí que descobri que tinha vencido. Quando fui comemorar e contar isso para a equipe, Jose... Disse para eu não mais vacilar, porque ele odiava “dar um jeito” para consertar as minhas falhas.

− Ele...? – Ul seguia a linha de raciocínio.

− Modificou o resultado sem que eu ao menos soubesse. Até esse momento, eu não acreditava em todos os boatos a respeito da Phantom: sim, eu odiava a filosofia do local, mas não sabiam que eles eram tão baixos. Os outros alunos ofereceram-me de tudo para que eu melhorasse o meu físico e minha performance. Tudo mesmo. Foi então que eu implorei para que ele não fizesse mais isso, prometi que não falharia mais. E ele concordou, sob a condição de que eu ficasse mais rápida. Achei que cumpriria a promessa, que não forçaria um aluno a se envolver com trapaça. Quando chegaram as estaduais, eu realmente venci. Mas, não sei se vocês lembram, a garota que nadou comigo, da Blue Pegasus, saiu da piscina meio atordoada.

“− Você está bem? – eu ajudei a menina, que se apoiava nas paredes ao andar em direção ao vestiário, tonta. – O que aconteceu?

− Eu não sei. – ela riu. – Um francês me deu uma bebida muito boa antes de eu nadar, sabe? Ele disse que era o meu prêmio de consolação.”.

− E foi então que eu me toquei: meus colegas tinham dado a mim uma “margem de erro”, ou ao menos foi assim que eles denominaram o ato de terem drogado a garota. Eu não quis fazer um escândalo no ginásio, então tudo o que fiz foi, ao achar Jason, informa-lo sobre o ocorrido e pedir para que ele retirasse a minha colocação. Preferia perder a ficar com aquele peso na consciência. Só que ele ou não entendeu o que eu pedi ou simplesmente não quis cumprir com a promessa de inventar uma desculpa para me desclassificar, e acabou contando para a diretoria do envolvimento do colégio com trapaças. O diretor chefe, na época, conseguiu ser controlado por Jose, mas quase aconteceu um escândalo. Com promessas e um pouco de propina, o que conseguiu como acordo de paz foi...

− A desclassificação da equipe de natação inteira. – Gray completou.

− Além de uma condição: caso os organizadores soubessem de um novo caso de trapaça, o colégio seria banido de todas as competições esportivas.

Eu liberei o ar e me inclinei para trás. Com a adrenalina que passava, estava começando a ficar difícil falar sobre tudo aquilo. Deixei-os raciocinar por algum tempo, para chegarem à conclusão que eu desejava: o que a reportagem de Jason iria significar. Podia parecer algo muito radical da minha parte, além de definitivamente presunçoso, provocar a expulsão permanente do colégio das competições, mas eu tinha chegado a um acordo com Gajeel: eles mereciam aquilo. Talvez fosse o receio de “prejudicar” os outros, por piores que eles fossem, que tivesse me parado de fazer isso no ano anterior.

− Na Phantom, não existem segundas chances. É pior que a máfia: se você falha com o grupo uma vez, você não é expulso, mas vira capacho coletivo. Eu comecei a receber mensagens de ódio, fui submetida a diversas condições, e...

“− Uma vez traidora, sempre traidora. Você é repugnante, Juvia Lockser.”.

− Eu vim para cá. – eu sorri quando a primeira lágrima caiu, mostrando minha imponência diante a situação que ocorrera.

Eu não falei muito mais. Bem, nem eles. Deixamos as outras respostas para depois, nos calando. A resposta de Meredy não foi um grito, ou a de Gray revolta, como eu imaginava. Eles tinham expressões de nojo em seus rostos, sim, mas não externaram essa raiva. A primeira a se mover for Ultear, que fez carinho em minha cabeça quando eu me curvei para frente e cedi às emoções. Meredy me abraçou pelas costas, sussurrando que tudo estava bem, que tinha acabado. Não deixava de ser verdade aquilo, mas acho que eu só me sentiria segura novamente depois de alguns dias.

Levaram minutos até que elas dessem a desculpa de que estavam indo buscar água e me deixaram a sós com Gray. Eu não sabia o que se passava na cabeça dele, qual a motivo (além de eu estar apaixonada) que ele criou em sua mente para explicar eu ter olhado para ele, esperando por algo, e quando ele chegou perto de mim e me abraçou eu ter me agarrado à sua camisa e chorado desesperadamente em seu pescoço.

Eu os odeio. Eu os odeio. – a meus sussurros, eles respondia franzindo cada vez mais as sobrancelhas e me apertando (de um modo que estranhamente me incomodou). – Eu odeio você.

− O que?! – Gray se afastou com um olhar confuso, colocando as mãos sobre os meus ombros.

Enxuguei as lágrimas nas minhas bochechas com as mangas do moletom que Meredy me entregara mais cedo. Por mais que na hora eu não visse o sentido de eu ter puxado o assunto, hoje atribuo a razão daquele desabafo ao cansaço relacionado a esconder o que eu sentia e à sensação que eu finalmente tivera de falar a respeito disso. Todos têm um limite de tempo que conseguem guardar um segredo para si, e o meu foi a resolução do meu passado.

− Você não devia me ajudar Gray-sama. Não deveria ser gentil, me abraçar, me salvar, me chamar de idiota e depois me confortar. – eu andava de um lado para o outro. – Não depois de dizer o que disse ontem. É injusto.

Gray ainda não entendia, e tentou se aproximar novamente, ao que eu respondi com um empurrão.

Qual é o problema, Juvia?!

− Você é retardado?! – eu peguei uma almofada em algum canto e atirei nele, que se defendeu. – Você não devia agir assim se quer que as coisas continuem como estão. Se não quiser ser perseguido por mais uma garota. – em baixei o tom de voz quando ele agarrou meus pulsos.

− Por que eu não deveria?!

Eu me soltei dele, fui até o outro lado do quarto e me deixei escorregar até que sentasse no chão. Então, em uma mistura de tosse, urro, e liberação de choro, eu lhe respondi:

− Porque eu te amo, seu idiota! E porque agora que eu disse isso provavelmente você vai ter que se afastar, e isso não vai ser legal para ninguém, e se você continuar sendo legal... Eu vou ter esperanças.

Eu baixei minha cabeça, com vergonha, e deixei que os soluços viessem. Vi, pelo canto do olho, as pernas de Gray caminharem até a porta, e esperei que ele saísse para me deixar, finalmente, sozinha.

Só que ele não saiu. Mas também não disse nada.

A resposta do moreno foi se abaixar, colocando sua cabeça na mesma altura da minha, limpar minhas lágrimas com os dedos e então me abraçar novamente. Aquilo não era uma promessa, não era um “talvez aconteça”, porém não era uma negação. Até hoje, eu não compreendo o que se passou na mente de Gray naquele momento. O que importa é que, depois daquilo, ele ficou comigo por mais de meia hora, me ouvindo chorar e repetir a mesma frase:

Eu te odeio!

...

Amor não correspondido dói. É como se houvesse um peso em cima do seu coração e não houvesse como tirá-lo de lá, exceto pelas mãos de uma pessoa que reluta em fazê-lo. Só que o que eu sentia, ao voltar para Magnólia, não era exatamente isso: a dor estava lá, mas de algum modo a minha declaração raivosa parecia ter nos aproximados. Como não havia mais nenhum grande segredo, ao menos da minha parte, que ele não soubesse, as conversas conseguiam fluir muito mais naturalmente, e minha vida passou algumas semanas em uma estranha tranquilidade. Estava quase monótono. Parecia que ninguém mais tinha problemas em Magnólia além de mim, e com a resolução de tudo, não haveria mais conflitos que nos fizessem crescer ou desenvolver a “nossa história”.

Só que isso não era verdade.

Depois das comemorações pela nossa e outras vitórias, a saída do artigo sobre a Phantom e o término das ameaças sobre mim (seria burrice eles tentarem algo), e das minhas incessáveis explicações sobre o passado, voltamos aos estudos e treinos. No ano seguinte haveria mais, e tínhamos de estar melhores.

Foi após um desses treinos que eu estava conversando com Gray em seu quarto. Nossa relação de “amigos” estava bem mais aprofundada, e eu tentava não imaginar o que isso significava. Lá no fundo, no entanto, a cada vez que ele sorria eu imaginava se estava um pouco mais perto de despertar algum sentimento nele.

Para além disso, ele havia “permitido” que eu fizesse algumas perguntas sobre o seu passado: se ele sentia tanta saudade dos pais como eu, apesar de no meu caso eu mal me lembrar da figura deles, como ele arranjara algumas de suas cicatrizes, como fora a adoção dele. Eu tinha recebido, também, seu consentimento para olhar algumas de suas fotos, inclusive os porta-retratos de sua bancada.

− Essa foto foi retirada antes do acidente? – eu indiquei a fotografia em que Gray era carregado por Ur.

Ele não respondeu. Nunca tinha tentado tocar esse assunto anteriormente, apenas contorná-lo. Talvez tivesse me precipitado em tentar iniciá-lo.

− Eu... Me desculpe, mas eu só achei que... Agora que Ur está nadando novamente...

Gray, que estava de olhos fechados encostado na parede, abriu-os subitamente, surpreso.

Ah, não. Eu revelara a surpresa de Ur.

− Como assim nadando?

Inesperadamente, Gray não parecia muito feliz, mas sim perturbado. E meio irritado comigo.

− Você está brincando com isso Juvia?! Porque se estiver...

− Não! E-eu, venho a ajudando a melhorar, Gray-sama.

Era perturbador como a situação dava a entender que eu fizera algo errado. Mas era isso que Gray parecia pensar.

− Ela não pode... – ele respirava pesadamente, andando de um lado para o outro.

− Gray-sama, por que você...?

Ele se voltou para mim, logo antes de sair e bater a porta com força, e vociferou:

Fique fora disso.

E, então, notei que era cedo demais para comemorar por qualquer avanço.


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Notas finais do capítulo

E aíííí??????? Comentem, por favor....
(gente, a veneração era brincadeira kkkk)
Passou pela mente de alguém que era isso que tinha acontecido? *0* Quais são seus sentimentos agora?


Outra coisa: gente, eu sei que não sou das melhores com agradecimentos, eu fico com medo de ser muito melosa quando eu tento... Quem me conhece sabe que eu não sou muito a fim de sentimentalismo exagerado. Mas, sério, muitos de vocês tem sido incríveis, principalmente com as recentes recomendações e tudo mais, os comentários motivadores, etc. Espero estar sendo tão boa assim para vocês também.
Beijos e até o próximo ;)



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