Somebody To You escrita por CarolHust


Capítulo 26
O Caso de Juvia Lockser. - Ridiculamente previsível.


Notas iniciais do capítulo

E aí? Prontos para um capítulo gigantesco? kkkkk
Esse é meio que meu pedido de desculpas pela semana que eu não escrevi nada. Enfim, eu sei que tem gente que adora e gente que se cansa com os longos, mas nunca dá para agradar todo mundo... ;b
Gostaria de agradecer a todos que comentaram, especialmente a Hoshii por estar acompanhando ;).


Sem mais delongas, boa leitura ;)



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− Azul?

Neguei com a cabeça.

− Vermelho? Com mangas?

Deixei de encarar o cabide que Ultear segurava e a olhei diretamente, revirando os olhos.

− Ul, essa roupa está horrível.

Ela suspirou, cansada, e se deitou ao meu lado na sua cama. Havia quase duas horas que nós estávamos naquele quarto, com ela me mostrando suas roupas antigas e perguntando qual delas deveria usar nas estaduais – sendo que todas eram obviamente pequenas demais para ela. A ideia fora da garota, que me arrastara para ali após o almoço.

− É difícil te animar, hein? – ela rolou pelo o mar de roupas que era a sua cama.

− Não, é difícil me fazer parar de pensar no fato que daqui a dois dias eu vou competir de novo, e com a Phantom. Vai ser bem mais difícil, tenho que me concentrar.

Ultear me olhou torto, enquanto brincava com uma blusa de lantejoulas.

− E desde quando se concentrar significa que você não pode fazer mais nada além de ficar com essa carranca no rosto?

− Está tão ruim assim?

Ela fingiu considerar algo, e levantou do colchão. Com uma de suas mãos, ergueu-me e me puxou para frente do espelho que ficava pendurado na parede do seu quarto, forçando-me a encará-lo.

− Fora as sobrancelhas constantemente franzidas, o fato de que você quase não riu de verdade recentemente e que está treinando como uma maluca, você está até normal. – ela ironizou.

Tentei relaxar um pouco, melhorando a minha expressão.

− E o que você sugere? – sorri levemente.

− Mirajane te dispensou do serviço, não é? Já que falta pouco tempo.

Eu concordei, e ela passou a andar de um lado para o outro no quarto, com o queixo apoiado sobre um dos punhos.

− Vá chamar os meus irmãos.

− Os dois?

Fiquei meio vacilante. Desde o dia das regionais, uma distância entre Lyon e mim tinha surgido. Vínhamos nos aproximando após o choque inicial, mas ainda não era como antes. Talvez ele só fosse tão próximo por ter alguma esperança de que pudéssemos ficar juntos, e, ao perceber que isso não ocorreria, resolvera dar atenção a outras coisas. A maior parte do tempo, ele passava com Chelia, exceto quando ela sugeria que eles se encontrassem com Sherry. Eu esperava que isso estivesse sendo bom para ele, e sabia que se afastar era uma reação natural, mas queria, mesmo assim, recuperar a fidelidade que tínhamos antes. Era triste pensar que poderia acabar perdendo parte do que tínhamos.

− É. Nós vamos ter um dia fora hoje. O fato de que a competição vai ser aqui em Magnólia só pareceu piorar essa tensão. Vocês são jovens demais para ficarem desse jeito, e prometo que, quando voltarmos, você já vai ter “feito as pazes” com Lyon. Além de... Passar um tempo com o outro.

Ela fez uma cara de desgosto que me causou risos. Ul estava um pouco revoltada pela “falta de ação” do irmão mais novo.

− Acho muito legal ele não ser do tipo “pegador”, mas você está bem aqui, sabe? Tipo, literalmente. Vocês dormem um do lado do outro. Parece que ele fica achando que garotas legais caem do céu. – ela insistiu no assunto ao notar que meu humor estava melhorando.

− Obrigada, Ul.

Ela sorriu docemente.

− De nada. Agora, vamos logo, se você não quiser chegar tarde demais.

...

No fim das contas, o local para onde Ultear nos levara era um parque de diversões, o que me deixou extremamente empolgada. Nunca tivera muitas oportunidades de me divertir com coisas clichês, só havia visitado um parque temático uma vez. E não tinha terminado muito bem, apesar de eu ter gostado do local. Agradecimentos especiais a Gajeel por isso, que resolvera puxar briga com o contorcionista.

Como esperado, as cores dominantes eram vermelho, amarelo e azul. O espaço não era dos maiores, mas tinha todas as atrações tradicionais, entre artistas e brinquedos. Lonas de circo cobriam as cabanas de alimentos e palhaços andavam por toda parte. A maioria do público era jovem, da nossa idade para menos.

Nosso grupo – leia-se: todos menos eu − quis visitar, de primeira, a casa mal assombrada. Por fora, a estrutura não demonstrava nada especial, sendo apenas uma construção aparentemente velha de madeira. O passeio por dentro dela, também, foi meio medíocre. Ultear se frustrou com a minha falta de reação ao passar por lá:

− Você não se assustou, tipo, com nada? Tinham aranhas, corpos, zumbis, caras com serras elétricas que pulavam na gente... Nada?

− Até que o sangue falso estava razoável. – eu admiti.

− Juvia, você sabe ser bem sinistra às vezes.

Ela marchou então em direção à montanha russa, puxando os dois garotos pelos braços. Tinha sido um grande esforço convencer os dois a virem.

Ao contrário do que imaginávamos, os irmãos estavam relaxados até demais para dois capitães – principalmente quando até então vinham sendo tão... Centrados. Lyon e Gray estavam dormindo em suas camas quando fui chama-los, e não tinham a menor intenção de saírem delas. Só quando Ultear chegou ameaçando quebrar a TV de cada um deles que os garotos se levantaram de súbito. O tom dela parecia tê-los alertado de algo.

− Não seria a primeira vez que ela destruiria alguma coisa nossa para nos convencer a fazermos o que ela quer. – contou Lyon enquanto se apressava.

− Quando ela está assim, convencida de alguma coisa, o melhor é só obedecer. – Gray afirmou, relutante, ao se levantar.

Eles logo estavam prontos no andar inferior, e, assim, partimos. Eu pensara em chamar Chelia, mas ela tinha saído para encontrar a prima.

− E você já foi cumprimenta-la? – tentei puxar conversa com Lyon na fila.

O brinquedo talvez fosse o mais popular no local, o que fazia com que a espera fosse maior. Por pura sorte, não havia um grupo tão grande à nossa frente.

− Sherry? – eu concordei. – Consegui fazê-las esperarem até as regionais. Com sorte, já que a Blue Pegasus vai estar por aqui também, ela só olhe para o namorado.

Eu ri da sua situação, e procurei manter o assunto. Talvez forçá-lo a vir não tivesse sido uma má ideia. À frente, Gray estava muito ocupado discutindo alguma coisa com Ul. Quando chegou a nossa vez, e os garotos tentaram se sentar juntos, Ultear os impediu.

− Não, não. Gray, você vai comigo. – ela o conduziu à força para a fileira à frente.

Lyon ergueu uma das sobrancelhas enquanto se sentava e então abria espaço para mim no banco. Seu olhar variava entre encarar uma de nós duas e a outra, enquanto tentava buscar uma explicação. Já Gray, à frente, voltou a questioná-la, desviando sua atenção para Lyon e eu de vez em quando.

− Tem algum motivo especial para isso ou ela só quer provocá-lo mesmo? – Vastia sussurrou para mim. – Se eu estiver participando de uma armação, quero saber.

− Bem, a ideia era meio que... Aproximar-nos? – ele riu.− Mas ela parece estar gostando disso.

Era difícil não notar o quanto ela se divertia irritando o moreno. Mas não tivemos muito mais tempo para conversar, pois começamos a nos mover pelos trilhos, e me concentrei totalmente em me segurar na barra de segurança.

Eu adorava a sensação do vento batendo no meu rosto quando alcançávamos alta velocidade. Diferentemente da maioria dos visitantes, em certos momentos eu preferia não gritar, e apenas me concentrar no frio que eu sentia na barriga e em como tudo parecia meio borrado. Não era o mesmo que nadar, mas era extremamente prazeroso.

Quando o carrinho parou e saímos, nem precisei me olhar no espelho para saber que meu cabelo estava uma bagunça total. Os três irmãos tentavam disfarçar seus olhares em direção à minha cabeça, e tudo que eu pude fazer foi ir ao banheiro tentar arrumar aquilo com um pouco d’água. Eu deveria tê-lo penteado antes de sair.

Deparei-me com Gray ao sair do banheiro. Ele tinha as duas mãos enfiadas no moletom preto e mantinha os olhos semicerrados devido ao sol. Só a visão dele ali me deixou afobada. Eu definitivamente tinha muita sorte de viver com o garoto do qual gostava, estudar com ele, treinar com ele. Ah, não me esquecendo de ser amiga da irmã adotiva dele, que o forçava a sair comigo no meio de uma semana importante.

− Melhor? – perguntei.

− Menos parecido com um ninho de passarinho. – ele tentava prender o riso.

De brincadeira, dei-lhe uma pancada com a mochila que eu segurava.

− Nem todo mundo tem cabelo liso. – resmunguei. – Ou curto.

Caminhamos em silêncio até as barracas de tiro, onde Lyon conseguira pegar um coelhinho de pelúcia branco. Ao me ver, ele estendeu-o para mim, e eu abracei o objeto com força.

− Ok, hoje foi divertido. – ele falou. – E Ultear meio que conseguiu me convencer de que provocar o Gray é terapêutico, então...

Ele estendeu seu braço direito para mim, e eu não hesitei em me apoiar nele. Pelo resto da tarde, rimos, comemos muito, brincamos, e, principalmente, assistimos certo alguém ficar vermelho em diversas situações. Coisas como ver Gray distribuindo balões coloridos com nariz de palhaço eu nunca iria esquecer. Até por que...

− Ultear, será que dá para parar com as fotos? Eu já fiz o que você pediu, só porque você está de TPM...

Ele foi impedido de terminar de falar quando ela pôs um dedo sobre seus lábios. Ela sorriu, lhe direcionando um olhar mortal:

− Gray, eu não tenho TPM. Eu tenho dias ruins. Agora, fique quieto para que eu possa continuar a te fotografar.

...

Novamente, nos encontramos no colégio para pegarmos o ônibus da equipe. Não houve o menor risco de eu me atrasar, uma vez que eu nem conseguira dormir direito. Antes mesmo que os outros descessem para tomar café, eu já estava pronta, esperando na sala de estar.

A tensão tomava o ambiente. No Casarão, no ônibus, no ginásio. Simplesmente era diferente, principalmente para mim e Gajeel, que fizera questão de vir assistir e observar nossos antigos colegas. Para a maioria dos outros, a Phantom eram apenas alvo de raiva por terem implicado com uma amiga.

− Eu vou ficar de olho. Se eu perceber alguma coisa...

Ele me disse após me interceptar na entrada. Gajeel chegara mais cedo que a maioria dos espectadores, juntamente com Levy, e me esperara. Ele girava uma chave entre os dedos e a todo o momento parava para olhar a baixinha.

Ainda que eu notasse o quando ele estava tenso pelo encontro que ocorreria, não parecia ser apenas aquilo. Já fazia algum tempo que eu notara que ele escondia algo de mim, o que era estranho: os únicos assuntos que ele evitava falar comigo eram seus rápidos casos amorosos e lutas. Quando eu lhe interrogara, perguntando se isso tinha algo a ver com o modo como ele vinha fugindo de Levy, ele pedira que eu tivesse paciência.

Eu nem sei se eu realmente tenho um motivo para estar preocupado. Quando isso se resolver, você saberá do que se trata.”, fora o que ele me dissera.

Paciência eu não sei se teria, mas com certeza teria de esperá-lo ficar confortável para tocar no assunto. Nós respeitávamos os limites um do outro.

− Eu também vou ficar.

Era muito improvável que, se eles resolvessem fazer algo, outra pessoa além de nós dois fosse capaz de notar. Tentava não me lembrar do que ocorrera no ano anterior. Só quem estava (ou já estivera) do lado de dentro poderia entender.

−Tenho que ir. – me despedi, ao notar que toda a equipe já tinha entrado pelo portão lateral.

No subsolo, me juntei às garotas, evitando entrar em contato visual com as estudantes da Phantom que me olhavam. Na saída, estavam Chelia e uma garota estranhamente parecida com ela.

− Sherry? – indaguei, segurando Meredy pelo braço e a parando.

Ela se virou, balançando o rabo de cavalo longo, e me estendeu sua mão.

− Você deve ser Juvia.

Eu concordei, notando que ela me dirigia um olhar levemente irritado.

− Apesar de eu entender que você percebeu que é o destino de Lyon entrar para a nossa família... Não compreendo como preferiu o Gray.

Sua fala e sua expressão de desgosto me deixaram sem palavras. Não tinha noção de que até estudantes de outros colégios sabiam sobre mim. Chelia, ao lado dela, tentava não rir.

− ...Eu...

− Brincadeira! – ela me soltou e exibiu um sorriso.

Recuperei o ar, e me forcei a sorrir quando Meredy me deu uma cotovelada, chamando minha atenção. Ela também parecia não entender nada, mas tentava ser simpática.

− Ah, claro. – eu disse. – Soube que você também vai competir no nado borboleta.

− É. Eu não nadava quando estudava na Lamia, mas depois que conheci Ren...

Deduzi que ela falava do namorado.

− O amor prega peças, não é? – Chelia falou alegre, enfatizando a última palavra.

− Talvez fosse para ser assim mesmo. Eu com Ren, Chelia com Lyon... Mas isso não me impede de continuar o achando incrível. − ela arregalou os olhos.

Então as duas começaram a discutir sobre “amor” e o quanto Lyon ficava lindo ao sair da piscina, e eu e Meredy aproveitamos para fugir, subindo para a área onde a equipe se reunia.

− Eu acho que comecei a entender um pouco o porquê de Lyon ser traumatizado. – a rosada ironizou.

− Com certeza... Imagino como vai ser no espaço reservado para a Lamia. Ela vai dar um jeito de entrar.

Verdadeiramente, senti um pouco de pena de Lyon.

Sentei-me entre Gray e ela, e esperamos a narração começar e o primeiro de nós ser chamado.

Bem-vindos a mais um ano de estaduais, dessa vez aqui em Magnólia. Eu sou Shitou Yajima, e estarei narrando as competições de hoje. – pudemos ouvi-lo engolir em seco antes de continuar. – Com destaque para a volta da Phantom Lord, que promete ter boas colocações apesar de não ter conseguido alcançar as nacionais no ano passado.

Não sabia exatamente a razão dele ter tocado no assunto – apesar de que, por ele ser amigo de Makarov, provavelmente não estar em bons termos com o colégio −, mas isso apenas me deixou mais nervosa.

Antes que Cana e os outros nadadores da modalidade peito tivessem que se preparar, Aquarius nos chamou em um canto.

− Lembrem-se de que as colocações que vocês tiverem hoje não garantem uma posição nas nacionais. Por isso, se esforcem ao máximo. Melhor, além disso.

Eu sabia ao que ela se referia. Por haverem competidores demais nos diferentes estados e apenas oito vagas para cada modalidade na fase seguinte, a classificação não dependia de colocação, mas sim de tempo. Apenas os oito mais rápidos, espalhados pelo país, seriam convocados a participarem. Por isso, os nadadores só sabiam se iriam para as nacionais dias depois das estaduais.

− Nós nunca precisamos de muitos motivos para querermos acabar com a Phantom, mas agora que temos um... Nós devemos destruir os desgraçados. – disse Cana, olhando para mim.

Sorri, enquanto o resto da equipe começava um grito de guerra.

...

Não foi nenhuma surpresa que o fenômeno das regionais se repetiu, e na maioria das modalidades a Fairy Tail estava tendo vantagem. Meu antigo colégio não ficava muito atrás, sempre em segundo ou levemente à frente. De todo modo, a competição estava acirrada.

Foi em uma das piores provas que Meredy estava. Ao sair da água, notei o quanto ela estava abalada. Ela se sentou ao meu lado, apoiando a cabeça sobre o meu ombro, assim que chegou às arquibancadas.

− Quarto lugar não é o suficiente, né?

Sua voz estava chorosa e senti a necessidade de confortá-la. Passei meus braços em volta dela. Realmente, seria difícil uma novata conseguir vencer Chelia, Sherry e a competidora da Phantom. As três haviam ficado à frente de Meredy por significativos segundos.

− Mas você já foi muito longe para uma...

− Novata, eu sei. – ela não permitiu que eu continuasse. – Eu só queria tentar vencer eles por você. Mas... Sempre tem um próximo ano. – ela deu de ombros.

Ela levantou o olhar em minha direção e pude vê-la limpando suas últimas lágrimas. Estava impressionada com a sua maturidade diante da situação.

− Que bom que você entende isso.

− Na verdade, eu não entendo. – ela se levantou saltitante, e eu franzi as sobrancelhas. – Eu encontrei com um tal de Eve Tearm quando estava subindo, o que venceu no borboleta masculino. Enfim, devido à fama da Blue Pegasus, não sei se ele disse isso só porque eu sou uma garota e estava com poucas roupas, mas o que importa é que ajudou.

O jeito alegre como ela disse aquilo me convenceu de que estava bem, então deixamos o assunto de lado e voltamos a observar aqueles que nadavam.

Talvez por que nada fora do normal estivesse acontecendo, eu tenha relaxado um pouco. As únicas pessoas que circulavam pela beira da piscina além dos nadadores e os observadores encarregados de interceptar qualquer tentativa de trapaça eram alguns ajudantes. A intenção da Phantom naquele dia poderia ter sido apenas me intimidar. Podiam ter aprendido a lição e não fariam mais nada “por debaixo dos panos”. Eu continuei atenta, porém mais tranquila.

Quando Gray foi nadar é que, mais uma vez, eu me animei. Gritei por Lyon, para compensar o outro dia. A equipe parecia convencida de uma vitória iminente. E era no que eu acreditava também.

O moreno começou com vantagem, sendo seguido de perto pelo irmão. Na primeira e segunda volta, eles venciam de disparada, à frente de todos os outros. Toda vez que Lyon se aproximava, Gray aumentava a velocidade.

O perigo começou a surgir, para os dois, quando o garoto de uma raia próxima começou a se aproximar.

Phantom. – eu sussurrei.

Já tinha parado de torcer havia algum tempo, me concentrando apenas em observar todos os detalhes. No meio da terceira volta, um sentimento estranho começou a tomar conta de mim. Não sei se eram os sorrisos macabros que eu notava nos rostos da equipe da Phantom, como se a vitória estivesse garantida, mas um sentimento de insegurança me tomou.

O nadador da Phantom se aproximou o suficiente para ultrapassar Lyon, ficando entre ele e Gray, e logo empatando com ele. Eu já não sabia quem venceria. Apesar de estar claro que o garoto não conseguiria manter o ritmo, eles já estavam na última volta. Como em um último esforço, Gray se impulsionou para frente, conseguindo uma vantagem mínima. Eu estava pronta para gritar de alegria quando ele tocou em sua placa, tirou a cabeça d’água e o resultado foi exibido:

1º. Totomaru. 1 minuto e 54 segundos.

2º. Gray Fullbuster. 1 minuto e 57 segundos.

3º. Lyon Vastia. 1 minuto e 58 segundos.

Como assim?! – Aquarius parecia querer destruir algo, enquanto um conjunto de expectadores ficava boquiaberto.

Um urro de vitória da Phantom começou. Enquanto eu tentava entender o que ocorrera, a maioria do público deixou o evento passar, ou, assim como meus colegas, ficou confuso.

− Mas parecia tanto que Gray estava vencendo... – Meredy lamentava.

Talvez porque ele estivesse. Além disso, a distância entre ele e Lyon foi, com certeza, maior do que um segundo.” , pensei, para então afastar o pensamento. Como eu poderia estar desconfiada se eu não tinha visto nada estranho? Isso apenas me deixava mais inquieta. Quando procurei por Gajeel na multidão, ele me transmitiu o mesmo sentimento. “Coisas estranhas não aconteciam naturalmente com a Phantom. Elas eram provocadas.”.

Estava tão tensa que não dei muita atenção para Gray, o mais afetado por aquilo. Ele estava carrancudo. Não por ter perdido, explicava, mas por ter achado que estava vencendo.

Não demorou muito para que ele viesse sentar ao meu lado.

− O que foi? – indagou.

Eu balancei a cabeça, me forçando a mudar a expressão. Ele não precisava saber das minhas desconfianças. Já estava envolvido demais.

− Nada. Eu...

− ... Vai chutar a bunda deles? – a frase parecia mais um pedido.

Eu concordei, sorrindo. Só esse contato com ele fora o bastante para que eu me concentrasse o suficiente para vencer.

O que eu fiz. Fiquei em primeiro, ainda que não tivesse me esforçado tanto quanto nas regionais. Isso era estranho.

Minha cabeça estava em outro lugar, e ficou ainda mais confusa quando percebi que a minha vitória não havia desanimado meus principais oponentes em nada. A equipe da Phantom parecia querer que tudo acontecesse exatamente como havia ocorrido.

Meus amigos me parabenizaram, assim como a todos que ficaram em primeiro ou que provavelmente se classificariam. Entre eles, estava Gray: ainda que tivesse ficado em segundo, seu tempo – assim como o de seu irmão – praticamente deixava óbvio que eles teriam uma boa posição.

No meio daquilo tudo, eu forçava sorrisos e só pensava em encontrar Gajeel o mais rápido possível. Quando nos retiramos do ginásio, procurei-o no meio da multidão. Alguns de nós éramos parados por observadores ou fotógrafos, e não demorou muito para que fosse a minha vez. Ainda que tivesse pressa, conversei com o garoto que gritara meu nome.

Ele era baixo demais para alguém que parecia ter a minha idade, tinha cabelos loiros e pequenos olhos castanhos. Seu olhar, assim como o modo que ele se dirigiu a mim, expunham admiração.

− Você foi incrível. – ele disse, com um sorriso.

Ele ficou me segurando ali, enquanto a maioria da equipe já tinha entrado no ônibus. Eu estava tão lisonjeada que nem percebi o tempo passando. Por fim, restava apenas eu do lado de fora, e pude ver Meredy e Cana me chamando.

− Olha, eu sinto muito, mas eu realmente tenho que ir. – tentei puxar o meu braço, que ele segurava com força suficiente para doer.

Eu tentava dizer para as garotas que estava indo, quando notei que a expressão do garoto mudava.

− Eu também sinto muito pelo seu namoradinho. – ele riu com escárnio.

Minha atenção foi automaticamente atraída pelo seu rostinho até então adorável. Meu coração disparou, o corpo tomado pela adrenalina.

− O que você disse?

O menino soltou meu braço, e se afastou o suficiente para que eu não pudesse mais tocá-lo.

− Não há resultado que não possa ser alterado, não é? Ou, quem sabe, uma colocação. – ele estava, obviamente, sendo irônico.

Meu sangue gelou. Eu tinha me forçado a esquecer do quão profissionais eles eram naquilo. Eu não estava enganada. Tive certeza disso quando vi Jose me observando no meio da multidão.

Eu não pensei muito antes de agir, me lançando para cima do garoto. Não sabia o que faria depois: eu não tinha prova alguma de que eles tinham feito algo. Talvez só quisesse bater nele. Só não fiz isso porque Gajeel me agarrou pela cintura antes que eu pudesse alcançá-lo.

− Calma Juvia! – ele me ergueu e carregou-me para longe do grupo de pessoas que parara para observar a cena.

Mas foram eles! Ele estava aqui!

O grandalhão me colocou no chão, e notei que tinha perdido o garoto de vista. Bufei de irritação.

− Feliz? – questionei-o. – O perdemos.

Por acaso você esqueceu que a penalidade para um atleta que comete agressão física comprovada é a desclassificação? Acha que eles não queriam isso?

Me forcei a acalmar-me. O que ele dizia era verdade, por mais que eu não quisesse admitir, e agir sem um plano não me levaria a nada. Gajeel ligou então para Gray e o avisou que eu voltaria com ele. Não demorou muito para que o ônibus da Fairy Tail partisse.

Sozinhos, caminhamos até a casa de Levy e ele me levou para seu quarto, onde lhe contei tudo o que eu vira e ouvira.

...

“ – O que você acha que foi? Suborno? – Gajeel perguntou.

− Não sei... Só se muito bem planejado. – eu admiti. – Eles são bons nisso, e desde que o competidor concorde...

− As opções são infinitas. Você... – ele se aproximou. – Quer chorar, sei lá? Eu não entendo muito bem as garotas.”.

Depois de horas de conversa com ele, não tínhamos chegado a conclusão nenhuma. Eu estava devastada, e sabia que esse fora exatamente o objetivo de Jose. Minhas impressões de que estava sendo observada no café, no colégio, nas ruas... Não estavam erradas. Eles sabiam o suficiente para notarem que o melhor alvo era Gray.

Eles poderiam ter me desclassificado, me derrotado, mas isso não me deixaria com tanto medo e receio. Escolher atingir a meus amigos era muito pior. O suficiente para me fazer considerar agir como eles queriam: fosse me retirar da competição, o que eles pedissem. Eu não poderia prejudicar Gray ou o futuro dele. E sabia que a Phantom poderia ser bem mais baixa do que aquilo.

Não, eu não chorara. Se eu o fizesse e fosse consolada, poderia voltar a acreditar que estava tudo bem, que iria passar. Mas aquilo fora um aviso de que não iria ficar tudo bem. Eu tinha que agir de algum modo.

Quando cheguei ao Casarão, tentei ser discreta ao entrar no meu quarto. Não queria conversar com ninguém naquele momento. Na hora do jantar, o clima não estava dos melhores, e Lyon tentou me animar ao jurar que tentaria acabar com meu antigo colégio também, uma vez que o assunto havia se tornado “pessoal”. Não ajudou muito.

Durante toda a noite, pude sentir o olhar de Ur sobre mim, até que ela me chamou quando todos os outros haviam subido para dormir.

− Eu quero falar com você. Poderia vir... Para a piscina à meia noite?

Eu assenti, sem a menor noção do que se tratava. A expressão dela demonstrava quase certeza de que conseguiria me animar, e não queria estragar seu entusiasmo. Talvez até fingisse estar melhor para alegrá-la.

Esperei até o horário marcado no meu quarto, sem saber se deveria descer com roupa de banho ou não. Na dúvida, coloquei o maiô por debaixo do vestido velho que usava.

Do portão de metal, pude ouvir o barulho de pés batendo na água, o que era estranho: eu não esperava encontrar ninguém além dela por lá. Espiei da beirada da entrada e vi Ur sentada na beira da piscina. Pela primeira vez, eu a via pessoalmente com todo o aparato de natação.

− Olá Juvia. – ela disse, logo antes de se jogar na piscina.

Ur!

Eu entrei em pânico, me preparando para me jogar atrás dela e resgatá-la. Rapidamente, tirei toda a roupa que usava. Desde que eu chegara ali, entendera a informação implícita de que ela não mais podia nadar.

Quando já estava na beira da piscina, vi-a voltar à superfície, para então nadar lentamente, de um modo que lembrava peito, até onde eu estava.

− Eu... Achava que você não nadava. Digo, tinha desistido, desaprendido.

Eu estava impressionada, e ela demonstrava gostar disso. Observei o seu sorriso enorme.

− Eu também. Agora, desça aqui para me ajudar.

Antes que eu pudesse responder, ela desajeitadamente me puxou para dentro da piscina. Não demorou muito para que me pedisse para segurá-la, dar-lhe uma boia ou prancha, etc. Não conversamos muito, mas em certo momento eu passei a notar exatamente da ajuda que ela precisava e quando precisava.

Ur não podia mais ser uma campeã olímpica, mas tinha a determinação de uma. Toda fez que a perna a atrapalhava, ela compensava dando braçadas mais fortes ou se movendo mais rápido. Não estava em forma perfeita, porém mostrava estar muito além do que eu imaginava que ela poderia fazer.

Ao fim daquilo, ambas estávamos ofegantes. Dei-lhe apoio para que saísse da piscina e nos sentamos em um dos bancos enquanto nos secávamos.

− Não entendi. – disse. − Eu achava que você iria...

− Eu sei que aconteceu alguma coisa errada ali. E sei que foi obra da Phantom. – ela afirmou, séria. – Eu já vi muito disso ao longo da minha carreira, provavelmente eles mexeram na placa de marcação de tempo do Gray, deixando-a menos sensível.

Soltei a toalha que segurava e franzi as sobrancelhas.

− Por que você não falou nada?

− Por que eu sei que esse é seu assunto. – ela apontou seu dedo indicador para meu peito. – Aconteceu algo ruim. Ok. Mas e agora: você vai desistir? Vai fazer o que eles querem?

− Eu não tenho provas de que foi trapaça.

Ur segurou minhas mãos.

− Juvia, no dia que aqueles garotos pararam você na rua, você chorou, mas alguns dias depois já estava treinando normalmente, não é? – assenti. – Por que todo mundo te apoiou. Desde que você tenha seus amigos do seu lado, vai ficar tudo bem. Ver você, e essa sua paixão por nadar me motivaram. Eu percebi o quanto foi besteira parar de nadar. Eu amo isso, mesmo que não vá competir. E não posso ficar me lamentando o tempo todo: eu tenho que me levantar, seguir em frente e honrar a todos que me ajudaram e se importam comigo.

− Mas a questão é que não importa o que eu faça, eles não virão atrás de mim. Virão atrás dele.

−Então... – ela enfatizou. – Você tem duas opções. Ou conta tudo para Gray, a equipe, etc, e pede ajuda. – eu neguei antes que ela pudesse terminar, o que a fez rir. – Ou pode, e é o que eu acho mais provável, protegê-los. Como, não sei: você conhece a Phantom bem melhor do que eu. Sabe que seus colegas te ajudaram para que você os encarasse, não entregasse o jogo. Os impeça, os denuncie, vença-os.

Ela esperou por uma resposta, coisa que não veio. Eu estava concentrada demais pensando. O que ela falava era verdade. Eu tinha saído da Phantom Lord para deixar de ser covarde, e recebia lições sobre isso quase todo dia. Estava na hora de tomar uma atitude.

− Obrigada, Ur. – eu me inclinei e lhe dei um beijo estalado na bochecha, coisa que fez nós duas corarmos.

Ela era como uma mãe que eu nunca tivera. Quando me perguntou se eu poderia continuar ajudando-a, eu aceitei sem pensar duas vezes.

− Mas... Teve alguma ideia?

Eu sorri, retomando a confiança perdida.

− Acho que sei exatamente o que fazer.


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Notas finais do capítulo

*0* E agora??? Podem surtar kkkk.

Não falei que estava chegando? Por favor, comentem. Esse deu um trabalhão (sério, estou esgotada kkk). Quero saber de que cena mais gostaram!