Deusa Estelar escrita por Carlos Abraham Duarte


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Capítulo concluído e pronto para ser lido (e eventualmente comentado).



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"Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia."

I Coríntios 3:19

"O Universo não é apenas mais estranho do que supomos; ele é mais estranho do que somos capazes de supor."

John Haldane, biólogo inglês (1892-1964 A.D.T.T.)

 

Diário pessoal do Capitão

Data estelar: 92102.161

"Ao investigar o inusitado fenômeno do 'piscar cósmico' de alcance transgaláctico que ocorreu dois metrociclos atrás, centrado no Sistema Kepler-78, constatamos que a estação de pesquisas em Nifelheim, o planeta-anão na periferia do sistema, habitada por uma equipe de vinte androides pesquisadores, sofrera uma pane total de energia. Os computadores e geradores de energia deixaram de funcionar subitamente. Os androides responsáveis por manter o posto científico - todos, cidadãos da Federação - foram encontrados desativados, seus bancos de memória molecular foram apagados. Foi o que atestou o grupo de inspeção do Comandante Togo que teletransportou-se para o interior do posto, na superfície do planeta-anão. Agora, enquanto a nave segue em direção ao planeta mais interior do Sistema Kepler-78, Muspelheim, eu e meu oficial de ciências chefe, Tenente-Comandante Dal Gahud, e a Oficial de Patente Especial Líria Lemos, minha conselheira, nos reunimos com os representantes do Conselho de Segurança Interestelar na sala de conferências para avaliar a presente situação."

Sob vários aspectos, ponderou Ghowrid, a sala de reuniões da nave era sem dúvida um anacronismo herdado dos séculos anteriores à era das viagens interestelares e à própria tecnologia de telepresença 3-D. Pois, que necessidade havia em que estivessem presentes no mesmo recinto os seis representantes dessa entidade ad hoc denominada Conselho de Segurança Interestelar (e isto apenas os expoentes da F.E.U., sem a convocação daqueles oriundos dos Impérios Klingon, Romulano, Draconiano, Kadarita, Sorgalt e dos Mundos Livres da Aliança Teosita), além do capitão e dois de seus oficiais superiores? Por intermédio da holorrede, telerreuniões virtuais entre os oficiais e chefes de departamento da nave tornaram-se comuns e rotineiras - e isto há mais de cem stanrevs. A proximidade física sequer era necessária para Líria captar os pensenes da pessoa-alvo; as habilidades telepáticas da jovem garota da raça Homo sapientioris albus lhe permitiam captar e analisar o padrão das ondas cerebrais de qualquer ser vivente num raio de centenas de quilômetros.

Almirante Allysdair Scott... Comodoro Norival Lima... Tenente-Comandante Alxxyn Lewz... Dr. Karl Dharz... Dr. Sklar... Drª. Rebkka Woogong...

Ghowrid conhecia todos eles por reputação e holoimagens na Starnet. De mais a mais, contava com os talentos telepáticos e clarissencientes da Conselheira Lemos, no intuito de atualizar e suplementar a informação pessoal disponível em sua base de dados. (A comunicação privativa entre ambos se daria por seus complantes neurais.)

Protótipo do gentleman escocês dos velhos tempos, Allysdair Scott, almirante aposentado do Corpo de Engenheiros da Frota Estelar, Par do Reino, era um homem de estatura mediana (para os padrões solarianos do século VI d.V., ou seja, 1,80m), mas bastante encorpado, que tinha cento e setenta e cinco anos-padrão terrestres de idade e nascera no planeta Avalon, um reduto do "saudosismo europeu" no Sistema Beta Hydri, colonizado em 200 d.V. por cerca de cem mil tripulantes de duas naves-colônias multigeracionais que deixaram o Sistema Solar. Seus fartos cabelos cinza-aço estavam penteadíssimos e coroavam um rosto largo e corado, marcado pelo tempo, no qual se via um par de olhos castanho-médios expressivos e sonhadores, que já havia visto milhares de mundos, e um bigode chevron na cor grafite claro. Sob sua aparência de bonachão, bem humorado e apreciador de um bom uísque de malte avaloniano, havia uma das mentes científicas mais brilhantes da Galáxia. Junto com outro cientista e engenheiro astronáutico do Instituto Cochrane de Alpha Centauri, o Dr. Mordechay Ovadiah Ben-Tzion, o Almirante Scott fora um dos projetistas que criaram a classe Destiny, sendo considerado uma das maiores autoridades na ultratecnologia utilizada nos motores de hiperdobra e slipstream, além de possuir um profundo conhecimento em física de hiperdimensões.

Norival Lima, outro cientista e comodoro aposentado da Frota Estelar, não lhe ficava atrás. Era um homem grandalhão e corpulento de quase dois metros de altura, tez pardo-acobreada, barba curta e cabelos branco-prateados, boca de lábios carnudos, nariz pontudo e penetrantes olhos castanhos, que tinha cento e quarenta e sete anos-padrão. Terrano da Zona Residencial-Agrícola de Nova Guanabara, na Região Concentrada Federada do Grão-Brasil, e cidadão solariano, o Comodoro Lima fora citado como sendo um dos poucos xenobiólogos especializados em formas de vida nucleogênicas (originadas "de fora" do continuum einsteiniano através de fissuras interespaciais) da nossa Galáxia. Em contraste com o Almirante Scott (seu velho amigo e parceiro no "esporte" favorito de ambos, o levantamento de copos), ele era um tipo bastante rude, mas divertido, amigável, social e bastante tolerante.

Já o mesmo não podia ser dito da figura élfica do hiperfísico t'khasiano (ou "vulcaniano"), que fazia questão de passar a aura de rígido e insensível. Sklar, filho de Jarakk, filho de Zhevek, natural de T'Khasi ("Vulcano" para fins de consumo externo), o quarto planeta do sistema Beta Ceti, iniciado do Décimo Grau C'thia, membro do Birô de Ciências da Frota Estelar, era um típico expoente de sua raça: alto, magro e esbelto, mas na realidade um verdadeiro feixe de tendões, ossos e músculos moldados por milênios de evolução para funcionar sob uma gravidade de 1,3 G, com força e reflexos três vezes superiores aos de um terrano-solariano. Os cabelos negros, curtos e lisos emolduravam seu rosto fino, de tez verde-oliva, orelhas pontudas afiadas e olhos castanho-escuros amendoados, levemente saltados, encimados por sobrancelhas tão perfeitamente arqueadas para cima que pareciam desenhadas. Aos cento e quinze anos (pelo calendário terrano, já que o "ano vulcaniano" equivale a 2,71 anos-Terra), era ainda bastante jovem pelos padrões de uma raça humanoide cuja longevidade chegava a quatrocentos stanrevs, ou mais de trezentos e cinquenta anos-padrão terrestres. Apesar disso, o Dr. Sklar tomara parte junto com o Dr. Dharz e o Tenente Lewz no então secretíssimo "Projeto Aether", de importância capital para a vitória da "Coalizão da Galáxia Livre" formada pela Federação Estelar e os impérios de Klingon, Khaldan, Kadar, Sorgalt e Draconia contra os falsos deuses Prajâpatis e os agentes antivivos dos Primordiais, os terríveis e odiosos "Antigos".

Outro veterano do "Projeto Aether", Alxxyn Lewz, agora promovido a tenente-comandante, era um robusto jovem solariano de 1,83m de altura que aparentava trinta e cinco anos-padrão terranos, tinha pele marrom-clara, cabelos crespos e pretos, nariz largo e olhos escuros. Seu elegante bigode mustache era tão negro e lustroso quanto o do Almirante Scott era grisalho. Oficial Técnico de Inteligência e ex-operativo do Serviço Secreto da Frota, o caráter enérgico e combativo do Tenente-Comandante Lewz caracterizava-se por certa implacabilidade e intransigência, que se manifestava, sobretudo em ação, sendo cuidadosamente mascarado por um exterior de veludo (o proverbial "lobo em pele de cordeiro", como ele próprio se autodefinia); o que não o impedia de tecer críticas e comentários que muitas vezes soavam frequentemente sarcásticos, mordazes, duros e rigorosos. Aos rumores sobre sua participação nas famigeradas Nigra-Operacioj ou "Operações Negras", feitas em surdina e que não eram reconhecidas nem pelo Comando da Frota Estelar nem pelo Conselho da Federação ou pelo Fórum Estelar, ele respondia com nada mais do que um sorriso indulgente.

Karl Dharz, que era solariano como Lewz, aparentava ter a mesma idade que ele, mas mais baixo - media 1,78m - mais esguio e mais magro, tinha pele morena cor de bronze, nariz aquilino e grosso, olhos castanhos, vasta cabeleira castanha encaracolada e barba rala. Membro da Universidade Terrana em Siderápolis e do Birô de Investigação Científica do Departamento de Pesquisa Científica e Desenvolvimento da Federação, o reconhecido brilhantismo do jovem cientista no campo da hiperfísica só era igualado por seu temperamento difícil e melindroso (dado aos acessos de raiva), bem como por sua intensa aversão à autoridade imposta e à hierarquia. Mas fora a sua teoria das invariantes hipergravitacionais que lhe valera uma vaga no "Projeto Aether", juntamente com o insondável Dr. Sklar e o então Tenente Lewz, seu velho amigo e parceiro, para libertar os povos da Via Láctea do jugo dos Prajâpatis oriundos de outro universo.

Por fim, havia ainda Rebkka Woogong, solariana, cientista do planeta Mercúrio (povoado por colonos espaciais selenitas no alvorecer do século II d.V.) e atual Chefe-Executiva do Diretório de Defesa Solar. Tratava-se de uma bela mulher de 1,77m e ascendentes lestasiáticos que parecia não ter mais do que quarenta anos-padrão (na verdade, tinha oitenta e oito anos terranos, ou cento e dez stanrevs mais ou menos), com uma bonita tez moreno-ambarina, rosto oval, grandes olhos castanhos mongólicos, tipo hitoe, e cabelos longos lisos escuros. Matelógica por profissão (e um dos mais capazes da União Solar), ex-membro da Fundação de Ciências da Federação, tendo sido transferida da Divisão de Exploração Espacial do Diretório de Ciências em 508 d.V. para assumir um cargo no Diretório de Defesa, a Drª. Woogong era bem conhecida por seu humor seco e seu charme terra a terra, bem como por sua paixão por café terrano (preto, sem leite nem açúcar).

A Drª. Woogong era a única dentre os seis participantes do C.S.I. que não se achava presente em carne e osso, porquanto as responsabilidades como comandante-em-chefe da Força de Defesa Solar e chefe-executivo do Diretório de Defesa (trabalhando em estreita simbiose com o todo-poderoso Conselho de Computadores) a impediam de deixar o Sistema Solar. Sua imagem holográfica, indistinguível da realidade (emitida a partir da cidade de Lucerna, no planeta-capital Terra, União Solar, irradiada através de miríades de milhões de transceptores de hiperondas suspensos no hiperespaço, por um hiper-relé da Starnet, e a seguir direcionada para os holorreceptores da Majorum, vencendo os 214,7 parsecs, ou 400 anos-luz, com uma velocidade milhões de vezes superior à da luz), parecia ocupar a cadeira à esquerda do Almirante Scott, sentado à cabeceira da mesa de plasteel semitransparente, quase losângica, da sala de reuniões. Para completar a ilusão, um robô ordenança colocara uma fumegante xícara de café - sintetizado - diante do holograma.

Por um breve instante, Ghowrid pensou em seus toscos ancestrais humanos inalterados geneticamente do passado pré-galáctico da Terra "bárbara" (antellurianos faziam o que podiam para não pensar em si mesmos como descendentes dos imperfeitos humanos solarianos, o que era sem dúvida um paradoxo em face do costume de dar aos filhos nomes de semideuses e grandes heróis da Mitologia e da História da Terra), aprisionados pela gravidade sobre seu miserável mundo primitivo, agrilhoados pelas "leis de ferro" da física de seu tempo, como a Teoria da Relatividade, e ignorantes por completo das realidades superiores das hiperdimensões, para quem as modernas conquistas da ultratecnologia como a holocomunicação hiper-subespacial se afigurariam como meros contos de fadas. Não somos tão melhores assim do que eles. No fundo, somos todos prisioneiros da cosmovisão fornecida pela ciência de cada época.

Líria tentou auscultar a mente de Sklar, mas deparou-se com um hipnobloco. A seguir, cautelosamente sondou os pensamentos de Lewz e Dharz (que não estavam bloqueados como os de Sklar), e constatou que cada um deles trazia um detector de eco, aparelho desenhado para detectar a ação de telepatas, hipnossugestores e afins (baseado no princípio de que ésperes, mesmo que inconscientemente, estão sempre sondando as mentes alheias e, deste modo, acabam produzindo "ecos" característicos, captáveis pelos detectores psi-gamma). Tendo sua própria mente blindada por um hipnobloco e sabendo que não corria o risco de ser flagrada espionando os pensamentos dos dois solarianos, a garota sapiencior pôs-se a trabalhar no plano mental. Também monitorou os cérebros de Lima e Scott, que não ostentavam hipnoblocos, nem detectores de ecos.

(Fascinada pelo comportamento emocional humano, Líria pertencia a uma raça desprovida de compaixão e amor ao próximo - criaturas frias e insensíveis com dons psiônicos que entre si formavam "pares monádicos". Ela era uma das exceções: aquele que deveria ser seu "par monádico" nascera natimorto; e tendo crescido sob os cuidados de uma família humana devido à morte prematura de seus pais, Líria chegou a desenvolver emoções genuínas. Daí todo o seu interesse pelo controle e estudo das emoções humanas.)

Havia um clima de tensão controlada predominante na psicosfera da sala, como Líria podia atestá-lo por seus poderes empáticos e telepáticos (exceto a Drª. Woogong em versão holográfica e o Dr. Sklar, que ostentava um hipnobloqueio, o que tornava sua mente impenetrável). Até porque a luta de dois stanrevs das potências lacteanas contra os Prajâpatis e seus seguidores kharis estava fresquíssima na cabeça de cada um. Dois stanrevs de uma encarniçada guerra de guerrilha cósmica que obrigara inimigos seculares a se unirem para enfrentar a ameaça dos "deuses" do planeta Nekkar, uma vez libertos da prisão multimilenar de seu universo de bolso e desejosos de centuplicar seus superpoderes elementais abastecidos pelo vril gerado por seus bilhões de súditos e devotos - com suas vajras ou "moinhos de oração" portáteis - através da conquista de zilhões e zilhões de novos adoradores escravos em nosso universo, em nossa galáxia. Dois stanrevs de embates sangrentos e heroicos contra um inimigo extragaláctico, extrauniversal, aparentemente imbatível, porquanto seu poderio residia em seu psiquismo superior.

E psiquismo superior não poderia ser combatido com frotas de astronaves equipadas com escudos energéticos e armadas com canhões phaser, torpedos quânticos ou bombas solares. Em uma cabal demonstração de força e poder da "tecnologia (ou tecnomagia) de matriz" dos nekkarianos, alguns planetas habitados foram desintegrados pelo "fogo negro" de KALI - a mais terrível arma de destruição final Prajâpati, uma superinteligência artificial "negativa" potencializada pelos campos de energônio ou vril de milhões de tecnomagos kharis e capaz de interfacear com o núcleo ucrônico deste Universo - , arrancados da estrutura espaço-temporal de quarta dimensão, arremessados para fora do Universo ordenado, para dentro de uma das locas abissais dos Primordiais em cujas profundezas metacósmicas da mais plena e abjeta escuridão aninhavam-se uma ultrainteligência cristalina e uma maldade fria e absoluta. A ativação à total carga de KALI teria representado o fim do próprio Universo, nada mais, nada menos - o Mahâ-Pralaya, a dissolução universal, a morte do Cosmos, a destruição de todas as formas de vida orgânica. Sem a ajuda da renegada Ushas, que perdera seus poderes divinos, e a providencial intervenção de Aditi, a "mãe de todos os deuses" de Dnyan, a (agora desfeita) "Coalizão Galáxia Livre" costurada às pressas jamais teria sido capaz de sacudir o jugo dos pseudodeuses e seus prepostos kharis, e assim libertar a Via Láctea da opressão espiritual dos mesmos. Não foi senão depois disso que o Qi Mu*ur, do Hipercontinuum Q, resolveu intervir - Deus ex machina - para tanger os invasores super-humanos geneticamente melhorados de volta a seu universo-bolha semidestruído, e logo a seguir lacrar os túneis dimensionais e portais multiversais entre o nosso Universo e Dnyan, prendendo novamente o gênio na garrafa.

E agora, com a F.E.U. e o resto das nações galácticas ainda a lamber as feridas, eis que algo aconteceu que literalmente abalou toda a Via Láctea e arredores.

— O.K., o que é que nós temos até este momento? - questionou retoricamente o Almirante Scott com sua voz rouca e forte. - Primeiro, um efeito gravitomagnético que produz um fenômeno de "apagar" o Universo num raio de cerca de três megaparsecs a velocidades bilhões de vezes superiores à da luz, fazendo explodir todos os rastreadores estruturais daqui até M-33, a Galáxia do Triângulo. E agora, a destruição das matrizes positrônicas de vinte androides num inofensivo posto científico, juntamente com o gerador de múons. E tudo centrado neste mesmo sistema planetário.

— É inegável que esse misterioso distúrbio cósmico que causou o "efeito de piscadela" também foi responsável por vitimar o posto da Federação em Nifelheim - disse Ghowrid. - O cronômetro da sala de controle estava parado na mesma unidade de tempo em que o fenômeno irrompeu. A mais, o Especialista-Chefe Qwor'ka é selkiano e como tal possui psicometria visual. Pôde checar os rastros psíquicos do que aconteceu, apenas olhando in loco os corpos dos androides e as máquinas da instalação e, assim, constatar que foram todos inutilizados por um pulso intenso de energia desconhecida, n-dimensional, que distorceu as leis da física numa escala imensa.

Os selkianos, sedops volumosos de corpo anelado com aspecto de couro irisado, dotados de oito membros atarracados e oito olhos, que lembravam vagamente um tardígrado superdimensionado, eram considerados os melhores psicômetras da Federação Estelar, podendo perceber e captar imagens do passado num local específico. (O planeta Selkis, outrora denominado de "Gliese 667 Cc", o terceiro orbitando a estrela anã vermelha Gliese 667 C, pertencente a um sistema estelar triplo localizado a apenas 6,8 parsecs da União Solar, era uma "Superterra" classe N2 que possuía 4,5 vezes a massa de Terra, uma gravitação na superfície de 1,4 G, uma atmosfera vaporosa vinte vezes mais densa que a terrestre e uma rotação travada, com uma face eternamente voltada para a estrela-mãe e a outra na completa escuridão.)

Ghowrid ouvira o relatório do Chefe Qwor'ka (que usava como todos os tripulantes um broche-micrompo quântico e tradutor universal que vertia os sons de sua fala para o esperanto) e sabia o que o inumano suboficial técnico de 1ª classe de manutenção robótica vira mediante suas habilidades psiônicas - j'ppaak, impressões indelevelmente gravadas no campo quântico do planeta anão captadas nos mínimos detalhes pelo seu "sensor radar" de psicômetra ou ÿ'giwyja: as paredes da cúpula subitamente tornando-se transparentes para revelar o fulgor das miríades de estrelas no espaço negro enquanto um infernal estrondo de estática invadiu brutalmente o cosmos a seu redor e as profundezas do corpo físico foram atingidas por um impacto inenarrável. Tudo numa ínfima fração de microciclos. Como se ocorresse uma descontinuidade momentânea na existência do continuum quadridimensional - ou decadimensional.

A não-existência, nada mais, nada menos.

— Os dados armazenados nos picochips moleculares que foram apagados e perdidos, mas recuperados através de nossos eficazes softwares de recuperação de hipervolutos subespaciais, corroboram integralmente as impressões psicométricas coletadas in loco pelo Especialista Qwor'ka - reportou Dal Gahud, que sentava-se ao lado do capitão numa poltrona superdimensionada especialmente para um quodariano. - Na data estelar 92060.119 os sensores subespaciais e de estrutura espacial de Nifelheim acusaram - por duas vezes seguidas e em fração de microciclos - súbita irrupção de violentos fluxos de energia 5-D que se fizeram acompanhar de distúrbios nos campos magnéticos e gravitacionais deste sistema estelar e fortes distorções de dobra temporal. De acordo com eles, a fonte da tormenta de radiação 5-D que irrompera abruptamente estava no interior do sistema, mais precisamente no espaço compreendido entre a estrela Kepler-78 e a órbita do planeta mais interno, mas irradiando em todas as direções. No exato microciclo depois desse distúrbio, os androides e as máquinas da base deixaram de funcionar.

— Resumindo, a neutralização de nossa base nesse sistema estelar não resultou de um ato deliberadamente hostil e sim de uma espécie de efeito colateral da "piscada cósmica" que abalou momentaneamente a estrutura espaço-temporal - retrucou o Tenente-Comandante Lewz, com seu jeito pragmático e objetivo.

— Essa é a nossa opinião também - Ghowrid declarou, de modo lacônico. Líria e Gahud assentiram suas cabeças em concordância com o capitão.

— Pessoalmente, acho que "soluço cósmico" ou "espasmo cósmico" seria uma definição mais apropriada - comentou o Dr. Karl Dharz num tom irônico, fazendo Lewz sacudir-se de riso silencioso (como era seu costume). Sklar limitou-se a soerguer o sobrolho esquerdo num gesto de desdém. (Era um t'khasiano, devotado à lógica e à razão; a irresistível tendência de alguns humanos para gracejar de qualquer situação, não importando quão séria fosse, estava além dele.)

O Comodoro Norival Lima cofiou a barba aparada e torceu a boca numa paródia de sorriso - Doktoron - ele resmungou, numa voz grave e macia - não estamos aqui para discutir questões semânticas. - (Entretanto, conforme podia ser constatado por Líria, à medida que escaneava rápida e discretamente os pensamentos do velho oficial, estava bem claro o quanto ele se divertia com aquilo, apesar da aparência de cômica sisudez que ostentava.)

A mente telepática - ou "telempática" - de Líria mostrou à jovem sapiencior que o Comodoro Lima nutria um sentimento quase paternal por Dharz e Lewz, não obstante o uso de títulos formais entre eles. (Por uma interessante coincidência, todos os três eram solarianos e nativos terranos, mais precisamente da Z.R.A. de Nova Guanabara, Região Concentrada Federada do Grão-Brasil; e todos os três exibiam na cor de sua pele e suas feições uma amálgama dos três ou quatro grandes grupos "raciais" da Velha Terra, conhecida como "raça morena".)

— Falando sério, gesinjoroj - principiou Dharz após a pausa para descontração. - Para mim também resta pouca dúvida de que o que sobrecarregou o gerador da base em Nifelheim e avariou os computadores moleculares e as redes positrônicas dos androides não foi aquele fenômeno de "apagar" do Universo, o efeito magnético propriamente dito, mas sim a torrente irresistível de energia n-dimensional, não-identificada, que jorrou no instante da ruptura do espaço-tempo. O pulso hiperenergético deve ter sido poderoso o bastante para desativar toda e qualquer tecnologia moderna que trabalha com energia pentadimensional, de modo análogo ao que, por exemplo, no século I, um pulso eletromagnético causado pela explosão de uma ogiva nuclear primitiva, ou uma bomba eletromagnética, ou até uma tempestade solar, inutilizaria tudo quanto era aparelhagem eletroeletrônica em uso naquele tempo. - E acrescentou: - Só que nesse caso foi um pulso de energia 5-D. Do hiperespaço pentadimensional. Ou, se preferir, do hiperespaço undecadimensional, já que a Teoria das Cordas nos ensina que vivemos num cosmos com dez ou onze dimensões.

— Lógico, muito lógico - interveio Lewz com sua voz macia de veludo. - Nossos equipamentos ultratech e computadores moleculares, com seus picocircuitos selados de puro hiperespaço e ligações subespaciais, são tão sensíveis às radiações 5-D quanto os biotrônicos e biochips à radioatividade artificial ou natural. Está de acordo, almirante?

— De acordo, Comandante Lewz - disse Scott. - A hipótese do Dr. Dharz é plausível, contudo eu faria um pequeno adendo a ela. Por um lado, sabemos que toda estrela é uma fonte irradiadora de energia 5-D gigantesca, e por outro, que no âmbito deste sistema estelar houve um evento cósmico de tal ordem de grandeza que por microciclos distorceu o espaço-tempo e as leis da física que conhecemos...

— Seu "soluço cósmico" ou "espasmo cósmico" - Lewz disse zombeteiramente para Dharz, usando a transmissão de som dirigido (que não foi ouvida por ninguém mais além do hiperfísico solariano). De sua parte, o Almirante Scott continuou a falar ininterruptamente:

— Sendo assim, nada impede que uma distorção tão radical do espaço-tempo tenha feito a estrela Kepler-78 sofrer um surto de instabilidade, com um súbito e brutal aumento na irradiação 5-D, um "super flare" pentadimensional - ou undecadimensional - que provocou o colapso de tudo quanto fosse ultratecnologia molecular e subespacial na base em Nifelheim.

— Falou a autoridade no assunto - resmungou o Comodoro Lima, meio irônico, como era do seu feitio. Tinha o hábito curioso de se referir a outrem como "autoridade". (Lendo seus pensamentos, Líria constatou que ele preferiria estar num dos laboratórios de pesquisa do deque 6, onde mantinha, num campo de contenção multifásico, o mais novo objeto de suas experiências com a comunicação interespécies, um ser ultradimensional de estrutura nucleogênica ao qual dera o nome de "Xena" e com o qual aprendera a se comunicar de maneira inteligível através de interfaces neurais.)

Dharz deu de ombros com desinteresse. - É só um mero detalhe... Almirante!

— Por mim, apostaria duas garrafas do melhor uísque avaloniano na validade desse mero detalhe, doutor - respondeu Scott bem-humorado.

— E eu - atalhou Lima - aposto duas garrafas de cachaça jarmabiana da boa, artesanal de alambique, como uma análise em escala picométrica da variância multiespectral em 5-D da Kepler-78 mostrará que o Dr. Dharz está certo e você errado.

O holograma da Drª. Woogong pigarreou elegantemente, chamando a atenção de todos à mesa, e adquiriu uma expressão desafiadora. - Parece-me, sinjoroj, que essa questão é tão irrelevante quanto acadêmica na presente situação. É preferível nos concentrarmos no que realmente importa, ou seja, o "rompimento" localizado da métrica espaço-temporal no âmbito deste sistema estelar que é o epicentro das anomalias espaço-temporais... A "falha" em nosso universo a que aludiu o Dr. Dharz.

Ela conhecia Dharz e Lewz indiretamente, através de um amigo comum dos dois: o terrano europeu Manuel Holding, que dirigia a agência central do Serviço Secreto Solar, cujo superior imediato era o chefe do Diretório de Segurança Solar. (Fora graças à dupla Dharz e Lewz que Holding lograra impedir um atentado à vida da Drª. Woogong, planejado por uma insana e violenta jovem neumana da sub-raça mutante molecular, mas isso é outra história.)

— O "tecido" do espaço-tempo einsteiniano foi rompido, pra usar uma expressão coloquial, daí resultando a produção de uma singularidade gravitacional quântica, e em seguida efetuou-se uma colagem - Dharz declarou tranquilamente.

— Está aventando a hipótese de um hipercubo, Dr. Dharz - observou Ghowrid.

— Isso mesmo, capitão. Um tipo de dobra espacial muito peculiar que configura uma zona do espaço-tempo deformada , na qual não funcionam nossas leis físicas estabelecidas por Deus na natureza para governar o continuum quadridimensional.

— Ah, a persistente crença dos humanos em um Deus morto - o nietzschiano dirigiu-se a Líria por transmissão de som dirigido. Mas então a voz quase infantil da sapiencior fez-se ouvir, através do ciberáudio de seu complante:

— Capitão, o Dr. Dharz sabe mais do que fala. A respeito do hiperfenômeno.

Ghowrid não demonstrou reação visível. Daquele momento em diante decidiu prestar uma atenção especial ao hiperfísico solariano.

— O resultado é, ou foi análogo ao que se esperaria para a formação momentânea de uma negasfera, uma área do cosmos onde as leis naturais não têm mais validade e impera o mais puro caos - concluiu Dharz, como se estivesse fazendo uma preleção na Universidade Solar, em Siderápolis, capital planetária de Terra.

— O Conselho de Computadores e o Diretório de Ciências concluíram com uma alta dose de probabilidade que o fenômeno tenha resultado de uma leve intersecção de duas p-branas, ou seja, a 3-brana que constitui nosso universo e alguma outra - reportou Woogong. Sorriu. - Logicamente, nada que se comparasse nem de longe à presumida colisão de duas p-branas oscilando na 11ª dimensão que teria dado origem ao nosso Universo, pela Teoria-M de Hawking. Mas o nível de probabilidade de acerto é de 80%, com uma margem de erro máximo em torno de 1%, sendo essa a hipótese estatisticamente mais provável.

Antes que Karl Dharz pudesse se manifestar, Sklar se adiantou (para frustração do solariano, como Líria pôde constatar por contato empático):

Doktorinon, com todo o respeito pela opinião do seu Diretório e do seu Conselho de Computadores, mas discordo integralmente dela. Existem dados de antecedentes que levam a considerar a fortíssima probabilidade de que estejamos diante de uma incursão transdimensional, de um gênero inusitado e até então jamais experimentado em nosso Grupo Local de galáxias. Refiro-me à probabilidade de uma incursão em pequena escala, originária de um antiuniverso, de uma antibrana. De pura antimatéria.

A declaração do vulcaniano produziu o efeito de uma bomba gravitacional na sala de reuniões da Majorum. Imediatamente os olhares dos oito oficiais e cientistas fixaram-se em Sklar, eivados de perplexidade e mudas interrogações. (Líria intimamente lamentou o escudo mental que a impedia de devassar os pensamentos e emoções do hiperfísico de Beta Ceti.)

Ghowrid foi o primeiro a romper o silêncio. - Dr. Sklar, com certeza sabe que nas inforredes galácticas não existem quaisquer registros alusivos a um fenômeno análogo ao que estamos discutindo, conforme, aliás, o atestou meu oficial de ciências aqui presente. - Ele trocou um rapidíssimo olhar com Gahud, sendo do conhecimento de ambos que Sklar possuía um indutor psicocibernético do tamanho de uma cabeça de alfinete implantado no cérebro, com o qual acessava uma conexão subespacial diretamente com as redes interestelares de dados, a uma velocidade superior à da luz. (Ultratecnologia vulcaniana e logudiana, mais "esperta", porém menos segura e sujeita a hackeamento, do que o cabeamento neural direto que Gahud empregava.) - Pelo menos não nesta galáxia, ou qualquer outra galáxia do Grupo Local, durante os últimos sessenta mil stanrevs. Devo deduzir que o senhor está aludindo a algum evento cósmico ocorrido no universo paralelo visitado pelas missões Magellan I e II, e do qual tomou conhecimento, não é assim?

Sua alta capacidade de reação exemplificava o que se convencionou chamar de "reator psíquico instantâneo", um dote precioso do patrimônio genético nietzschiano. Isto fazia dos indivíduos dessa subespécie geneticamente alterada tripulantes, oficiais e capitães ideais das missões estelares, muito superiores aos seus primos humanos na capacidade de rapidamente se adaptar a novas situações.

— O senhor está correto, Capitão Ghowrid - Sklar respondeu com a costumeira impassibilidade vulcaniana, sem mover os lábios esverdeados, sentado mantendo as costas rigidamente eretas e tendo sua privacidade mental protegida por uma série de barreiras telepáticas. - Presumo que seja do conhecimento da maioria aqui que na data estelar 87613.000 comandei a missão Magellan II, a segunda missão conjunta entre o Império Klingon e a Federação Estelar totalmente dedicada à exploração científica de um universo paralelo no "Multiverso de nível 1", para tanto usando a experimental Unidade Geradora de Singularidade Sorbo. Foi onde e quando descobri, ao ter acesso aos bancos de dados da Aliança Interestelar dos Povos Livres da Via Láctea, que é a contraparte da Federação nessa realidade alternativa, a ocorrência de um evento similar ao que aconteceu em nosso continuum espaço-tempo na data estelar 92060.119, porém há cerca de vinte décadas do tempo do universo local. Foram registradas praticamente as mesmas distorções das leis da física, distorções temporais e espaciais de alcance megapaesequial verificadas no nosso próprio cosmos, por duas vezes em frações de unidades de tempo equivalentes aos nossos microciclos. Logicamente que o fato de a fenda ou dobra espaço-temporal que causou o efeito gravito-magnético ter sido localizada não dentro do espaço da Aliança da Via Láctea, mas sim em um setor até então inexplorado a vários parsecs de distância de suas fronteiras, é de todo irrelevante para nós.

— Algum extravasamento de energia n-dimensional, "de fora" do Universo? - indagou Gahud. - Nesse outro universo paralelo, quero dizer? Também consta dos registros computadorizados deles?

— Afirmativo, Sinjoro Dal - Sklar confirmou lacônico.

A exploração interdimensional dos muitos universos paralelos que constituíam o Multiverso de Nível 1, empregando o novo e revolucionário dispositivo criado pela F.E.U., a Unidade Sorbo - que cria um buraco-de-minhoca cortando o tecido espacial, com "matéria exótica" de massa/energia negativa para estabilizá-lo - , encontrava-se ainda em seus primórdios no século VI d.V. (comparável, por analogia, aos primórdios da exploração espacial quinhentos stanrevs atrás, principiada por uma humanidade desunida e semicivilizada, retalhada em nações e facções que engalfinhavam-se com unhas e dentes pela posse dos recursos minguantes de um planeta Terra cada vez mais congestionado, faminto e dilapidado), mas já havia rendido bons frutos. Os acordos de cooperação comercial e científica com a Aliança da Via Láctea - uma confederação de mundos independentes e civilizações do universo paralelo mais próximo, tendo entre seus membros fundadores até mesmo uma "cópia" da Terra e da Humanidade Solar - representavam rica e inesgotável mina para os habitantes da Federação Estelar: hiper-rádio, drives FTL ou de hipersalto quântico, sensores estruturais, motores gravimétricos, portais ID, novas ligas policristalinas e bioblindagens podiam ser encontrados um pouco por toda parte. Sem falar do intercâmbio cultural que trouxera novas concepções cosmológicas e novas filosofias espirituais, da parte das raças humanoides, inumanas ou heteromorfas originárias daquele universo - como, por exemplo, as sete realidades espaço-temporais, o Conflito Eterno entre as Forças Kosmokratoras da Ordem e do Caos, a Terceira Senda dos Dançarinos de Escuridão e Luz, os Precursores (leia-se antivivos) do Terceiro Espaço, o Poço das Almas no Supremo Vazio, a Nave-Fantasma e outras concepções mais e menos bizarras.

A Drª. Woogong fixou seus olhos holográficos nos do vulcaniano (através de 214,7 parsecs do espaço) e disse: - Dr. Sklar! O senhor tem certamente evidências para validar uma suposição tão ousada quanto essa... ou não? Que me conste, vulcanianos não têm o hábito de defender suposições sem uma base de dados concreta.

Se Sklar percebeu a ironia embutida na interpelação da matelógica solariana, não o demonstrou. (Na realidade os vulcanianos eram mestres do sarcasmo e da fina ironia, mas os extraplanetários não-vulcanianos ou mqsehn'hai tendiam a ignorar o fato.)

— Caso esteja se referindo ao evento cosmofísico ocorrido no Universo paralelo adjacente ao nosso, Drª. Woogong, os dados armazenados nas hiper-redes de computadores moleculares da Aliança da Via Láctea confirmam que há cerca de vinte décadas, tal como contam o tempo, houve uma sequência de distorções das leis da física em grande escala, que foi causada pelo constante "saltitar" interuniversos de dois seres idênticos, exceto que um deles era constituído de matéria e o outro, de antimatéria. - respondeu inabalável o rebento da superfamília Arghandil, família racial Shaygorean, cujos remotos antepassados humanoides há centenas de milênios foram devidamente "engenheirados" por manipulação cosmogenética e "plantados" no 4º planeta de Beta Ceti pelo povo de Laudhargo ou pelos anunnakis. - Cada um deles possuía sua própria hipernave de translado interdimensional, com a qual atravessar pela falha ou túnel magnético, onde o Universo e seu respectivo Antiuniverso se encontram. Assim consta dos bancos de dados e redes de computadores-holotecas da Aliança.

— Sem que tivessem aniquilado um ao outro instantaneamente? Matéria e antimatéria? - questionou Lima, que não escondia seu ceticismo.

— Afirmativo, comodoro. Se formos dar crédito aos registros nos bancos de dados da Aliança, ambas as naves interdimensionais eram feitas de uma liga à base de positrônio, um interelemento entre matéria e antimatéria. Teoricamente, uma nave feita de nanotecnologia baseada em positrônio poderia se deslocar por qualquer ponto deste Universo e de seu correspondente Antiuniverso.

— Dr. Sklar, a estabilização do positrônio está além da capacidade tecnológica atual das civilizações da nossa Via Láctea, com exceção dos Nomak, dos Céticos, dos canopianos e dos cylons, sem esquecer, é claro, dos anunnakis. Também está além da capacidade das raças da Aliança do outro Universo, que estão no mesmo patamar de tecnologia que o nosso, se os dados coletados pelas missões Magellan estão corretos.

— Mas isso é lógico, comodoro. Exigiria um nível tecnológico mínimo de A21, de acordo com a Escala Palmer-Yoshida. A Federação e outras nações estelares da Galáxia possuem um nível médio de A19+, assim como os membros da Aliança do universo paralelo. Ainda segundo os mesmos registros computadorizados, o viajante do Universo de matéria proveio de uma civilização humanoide desconhecida e possuidora de tecnologia mais avançada do que a da Aliança Interestelar. A conclusão lógica é que o antiviajante, do Universo-espelho de antimatéria, pertencia a uma civilização de desenvolvimento científico e tecnológico equivalente, senão idêntico, àquela de seu duplo especular.

O.K, O.K., autoridade - replicou Lima, erguendo as mãos num gesto de paz, meio zombeteiro, meio sério. - Rendo-me incondicionalmente aos seus argumentos. Nossos vizinhos cósmicos no Multiverso nível 1 receberam visitantes de outro universo paralelo - mais especificamente de um Multiverso de Antimatéria, ou Antimultiverso - centenas de stanrevs antes das missões não-tripuladas e tripuladas Hugh Everett e Magellan. Mas, cientificamente falando, ainda quero ver as evidências de que a mesma coisa ocorreu aqui, neste Universo e nesta Galáxia.

Antimundos, antiuniversos... A teoria da antimatéria de Paul Dirac, proposta há quinhentos e tantos stanrevs já fora cientificamente admitida desde que a Teoria-M tinha sido provada matematicamente. Tal havia sido o golpe de misericórdia na pretensão do Homem de ser o centro da Criação. Extrapolando o raciocínio, para cada universo paralelo - o nosso, inclusive - haveria um antiuniverso absolutamente idêntico, espécie de espelho invertido, mas constituído de antimatéria, com antiplanetas, antiestrelas, antigaláxias e até mesmo um "antitempo", indo em sentido negativo, do futuro para o passado, a uma velocidade fixa. Sistema e Antissistema! Até então, nenhuma civilização lacteana visitara o Antimultiverso e, pelo que se sabia, nenhuma espécie sapiente do Antimultiverso alguma vez visitara a Via Láctea ou outra galáxia do Grupo Local.

Até então...

— Pelo Aleph-Nulo no centro da Galáxia! Eu não acreditava que o Sklar teria coragem, mas teve - Dharz subvocalizou, comunicando-se com Lewz através do complante intracraniano. - Esperou até agora, guardando silêncio durante tanto tempo pra expor essa hipótese maluca.

— E eu suponho que você já tenha sua própria hipótese, ainda mais maluca, escondida na manga - Lewz retrucou meio irônico, subvocalizando também por intermédio do complante. - Por que não a contrapõe à do Sklar e deixa que o staff julgue qual deve ser mantida e qual deve ser excluída?

— Porque não tenho nenhuma evidência pra corroborar as minhas alegações, ao contrário dele. Pelo menos por enquanto.

— Capitão Ghowrid, o Dr. Dharz acredita ter uma explicação mais correta sobre o hiperfenômeno - avisou-o a conselheira via complante. - Ele pensa intermitentemente em "Astroengenheiros" e em alguém chamado "David Zero". E, capitão... Eu sinto nele uma grande ansiedade. Agitação. Desacordo e impaciência para com o Dr. Sklar.

— Que o Dr. Dharz está impaciente e ansioso é visível - respondeu Ghowrid (de modo inaudível para qualquer um exceto Líria) através de seu complante. Atestavam-no os gestos da linguagem corporal do hiperfísico terro-solariano, que, mexendo-se inquieto, cruzava e descruzava os braços e as pernas, esfregava o dedo ao lado do nariz, em contraste com a postura despreocupada e tranquila de seu amigo Lewz. Por outro lado, Ghowrid estava curioso por conhecer o que Dharz sabia e pensava a respeito do fenômeno que estavam discutindo e seus pontos de divergência em relação a seu colega alienígena. Astroengenheiros? Uma supercivilização cósmica extinta nesta galáxia há dez milhões de stanrevs e que deixara para trás uma série de impressionantes megaobras, tais como as luas esculpidas de Hahod, o mundo-anel de Galahad, Dana, o planeta oco das Plêiades, Gasha, o planeta de patamares no sistema de Capella H, o planeta "troiano" Vulcano/Caco/Céculo, ou Ghar Land, o disco de Alderson? E quem ou o que seria David Zero?

— Então, Dr. Sklar, sua conclusão é que estamos às voltas com exploradores avançados procedentes de um universo "espelho" paralelo, virtualmente idêntico ao nosso, porém constituído de antimatéria - disse Scott, que o encarou com uma expressão tão firme quanto a que ele mantinha (Líria podia sentir toda a incredulidade nos pensamentos do velho e experiente engenheiro astronáutico). - Dimensionalistas do "lado negativo" da faixa de Moebius, por assim dizer. Usando de um veículo de translado composto de um elemento artificial híbrido de matéria e antimatéria que a nossa ciência ainda não conseguiu sintetizar e estabilizar.

— Afirmativo, almirante. As circunstâncias não são iguais, mas existem analogias que não se podem descartar. E é minha opinião que seja quem ou o que for que tenha atravessado a fenda vibracional para chegar neste Universo, ainda se encontra no interior deste sistema estelar. Não entrou em dobra ou hiperdobra, nem utilizou FTL, correnteza quântica, hiperdireção ou hipersalto para evadir-se, pois do contrário teria sido imediatamente rastreado pelas grades de sensores estruturais e de subespaço.

O rosto de Karl Dharz crispou-se, porém o terrano não falou nada.

— Muspelheim - disse Lewz pensativo. - O planeta mais interno de Kepler-78.

— Teremos a oportunidade de testar sua hipótese, Dr. Sklar - sentenciou o Almirante Scott. Em seguida virou-se Ghowrid. - Capitão...

Ato contínuo, Ghowrid acionou o intercom da mesa. No mesmo instante a cabeça de Rhadamanthys Togo surgiu nítida e real, em três dimensões, no cubo trivídeo. - Imediato, a que distância estamos do planeta Muspelheim?

O primeiro-oficial, que ocupava a cadeira de comando na ponte, rapidamente consultou o astrogador e respondeu: - A cerca de duas unidades astronômicas, capitão.

— Pois bem, imediato - disse Ghowrid. - Eis o que faremos. Ordene uma varredura completa do sistema estelar interior, englobando a órbita de Muspelheim, usando os sensores multifásicos e todos os conjuntos padrões de sensores científicos: espectrometria de partículas, parametrização de stress em campo subespacial, análise de formas de vida, detecção de antineutrinos, mapeamento de distorções gravimétricas. Ordene também o lançamento de um esquadrão de sondas de telemetria classe 4, equipadas com espectrômetros e espectrofotômetros especialmente programados para análise molecular do interelemento positrônio.

Togo assentiu. - Sim, capitão. Togo desliga.

— Se for mesmo um ser de outro universo, de um universo de antimatéria, poderá haver perigo em potencial - Gahud especulou preocupado. - Aniquilação total! Ou, quando muito, restaria apenas um bilionésimo da matéria que existia antes. Que o digam nossos reatores contraterrenos e nossos arsenais de bombas de antimatéria.

— O senhor tem um talento imenso para falar o óbvio ululante, Sinjoro Dal - replicou Lewz, dando uma ênfase maliciosa à palavra "imenso".

Matéria e antimatéria, idênticas, mas com cargas elétricas opostas, aniquilavam-se mutuamente quando se encontravam, gerando pura energia com 100% de eficiência. Tal fato era do conhecimento de todos os povos galácticos situados em um estágio de desenvolvimento técnico e científico acima de A16. Ainda no século VI d.V., a grande maioria dos povos e planetas das Nações Estelares da Galáxia utilizavam-se de usinas contraterrenas e naves superluminais impulsionadas por reação matéria/antimatéria.

— Se houver outrincons neste sistema estelar, feitos ou não de antimatéria, então poderei rastreá-los usando minhas habilidades telepáticas, projetivas e de visão remota, rastrear seus pensenes, e até comunicar-me com eles telepaticamente antes de uma abordagem direta - retrucou calmamente Líria, que até aquele momento se mantivera em silêncio (público). - E se forem mesmo "antis", evitaremos qualquer contato físico.

— Se os cálculos e simulações computacionais do Conselho de Computadores e do Diretório de Ciências Solar estiverem corretos, os senhores não encontrarão nada além de gás magnetizado e partículas de poeira cósmica - retrucou secamente Rebkka Woogong.

Ghowrid olhou para o holograma feminino de esguelha. - Caríssima doutora, cabe aos senhores e senhoras cientistas fazer conjecturas do que pode ou não ter acontecido nesta parte do Universo, assim como cabe a mim e à minha tripulação investigar a validade de tais conjecturas.

— Tanto quanto sabemos, por exemplo, o megaefeito magnético que causou o "apagão cósmico" pode não ter sido resultado de uma tecnologia alienígena avançada, mas sim de um fenômeno natural, como quer a Drª. Woogong - retrucou Lewz. - Algo assim como uma superposição entre o universo normal, nosso espaço-tempo relativista, quadridimensional, ou de dez dimensões, e um "universo-sombra", que pode ou não ser formado por antimatéria. Tipo um ligeiro roçar entre brana e antibrana, por que não?

Dharz gargalhou e meneou a cabeça. - Esqueça. Pra encurtar a história, Alxxyn, você e a Drª. Woogong estão redondamente errados, e o Dr. Sklar está parcialmente certo e parcialmente errado. Pronto, falei.

Sklar ergueu uma sobrancelha. - Seja mais específico, Dr. Dharz.

— Serei. Sklar, você está provavelmente correto em sua suposição de que o fenômeno do "apagão cósmico" não é natural, mas artificial, provocado mecanicamente, ou paramecanicamente, por seres avançados oriundos de outro Universo que ainda estão por aqui. Mas está provavelmente errado em supor que se trata de "antis", de seres de antimatéria vindos de um Antiuniverso. Ou, em uma comparação com o Gato de Schrödinger e de acordo com a física quântica teórica, você está ao mesmo tempo certo e errado.

— Evidencie - exigiu Sklar, sem se alterar.

— Sim, Dr. Dharz - Ghowrid insistiu, suavemente. - Exponha-nos suas ideias.

— Gostaria de poder fazê-lo, mas admito que ainda não possuo evidências conclusivas. Basta dizer que eu também tive minha própria experiência de exploração para além da curvatura do espaço-tempo. De qualquer modo, isso é irrelevante, uma vez que as leituras dos sensores da Majorum e das sondas de telemetria poderão determinar a veracidade ou não dessas alegações. Aguarde o resultado das sondagens espaciais, capitão. Tenho certeza de que se for encontrada alguma nave interdimensional, constatarão que a mesma não é feita de positrônio. Se veio de algum universo do Multiverso de nível 1, ou nível 2, ou nível 3, ou nível 4, não faço ideia, mas com certeza não foi de algum Antiuniverso. Pronto, falei!

O hiperfísico de Vulcano estreitou os olhos oblíquos, que ficaram ainda mais duros e frios que o normal. - Dr. Dharz, o senhor expõe frivolamente umas poucas e vagas assertivas para as quais não oferece sequer a mínima evidência científica, ao mesmo tempo em que descarta, arbitrária e levianamente, quer a hipótese da Drª. Woogong quer a minha própria, ambas embasadas em argumentos lógicos. Creio que não preciso lembrá-lo de que tal atitude é totalmente anticientífica e ilógica.

— Karl, eu acho que ele ficou ligeiramente melindrado - confidenciou Lewz ao amigo, com um meio sorriso divertido, através da transmissão de som dirigido.

— Ui, que peninha - replicou Dharz em seu tom mais irônico, usando o mesmo sistema de comunicação inaudível para terceiros. - Não... Que medinho!

— Neste pormenor, concordo com o Dr. Sklar - disse Woogong. - Dr. Dharz, sem querer ofender, mas o senhor está... como se dizia mesmo na era pré-galáctica? Ah, sim, o senhor está "chutando"?

Dharz suspirou audivelmente e soltou o ar com força (Pensou: Até que ela é bonita e atraente, pra uma reles humana "vida-curta"). - Não, honorável Doutora, eu não estou "chutando", mas tenho cá minhas razões para falar o que falei. Como eu disse antes, vamos aguardar o resultado das sondagens. Se nada for encontrado, como a senhora pressupõe, retirarei minha especulação e lhe darei razão. Se for encontrado algum veículo cujo casco seja composto de liga metálica de positrônio, metade matéria, metade antimatéria, como quer o Dr. Sklar, então darei razão a ele. Mas se for encontrado um veículo construído com qualquer outro material exótico que não seja positrônio, aí sim, eu falarei do que sei. - Ele fez uma pausa e correu os olhos por cada um dos rostos dos presentes em torno da mesa. - E acreditem-me quando digo que é uma longa história.

— Essa, sim, é uma atitude bastante prudente - observou Lewz, com a calma de sempre. - Do que precisamos é de evidências objetivas que nos permitam solucionar o enigma com o qual estamos lidando. O Comando da Frota Estelar, o Fórum Estelar e o Conselho da Federação esperam uma resposta.

— Fale pouco e faça muito - contrapôs Dharz, como se monologasse em voz alta. - Isso está no Talmud, a milenar sabedoria judaica. Da Velha Terra.

— Conselheira? - inquiriu Ghowrid, falando subvocalmente, por complante.

— Capitão - respondeu a sapiencior (também por complante), que lia as mentes das pessoas presentes na sala (exceto Sklar e, naturalmente, o holograma de Rebkka) como quem lê um holotablet ativado. - O Dr. Dharz pensa mais intensamente no tal do David Zero... De alguma forma, não entendo... Os Éticos, que habitam Andrômeda, abriram uma fenda interdimensional jamais vista anteriormente, e Dharz acabou sendo tragado pela fenda... Através das paredes do tempo e do espaço... Ele foi parar em um passado alternativo, separado do nosso continuum espaço-temporal... Num outro nível quântico do espaço de Hilbert de universos paralelos ou alternativos que constitui o que ele chama de "Multiverso de Nível 3"... Naquela linha temporal alternativa ele encontrou a versão da Terra onde David Zero existia... De alguma forma, eu não sei como, David descobriu um modo de devolver Dharz à nossa linha temporal e a este período de tempo. Não, espere! Há mais uma coisa... Dharz usou de inteligência para ajudar David a obter conhecimento suficiente para chegar aonde ele queria... Em "Ekoplex, no Universo Skyler", seja lá o que isso signifique... E então por isso David deu algo de presente a Dharz, algo de muito valioso. Dos Astroengenheiros. Dos Construtores de Universos. É isso que o doktoro espera encontrar neste sistema estelar.

Ghowrid premiu os lábios. Estaria a Conselheira Lemos querendo dizer que o acervo ultratecnológico da mais misteriosa e poderosa civilização galáctica pré-humana encontrava-se em poder de um simples humano terráqueo do passado pré-astronáutica interestelar, mesmo que em uma Terra paralela do Multiverso de nível 3? - Nada disso faz sentido - subvocalizou. - Qual a relação com o que aconteceu no Sistema Kepler-78, na data estelar 92060.119?

— Acho que "Ekoplex" e "Universo Skyler", seja qual for o Multiverso em que existam, foram criados pela superciência dos Astroengenheiros, e daí que David Zero, conhecendo o que representava para o Dr. Dharz a aquisição da mesma - seu "Santo Graal pessoal" - , resolveu usá-la para presentear o novo amigo que o ajudara a chegar aonde chegou. O Dr. Dharz pensa ter motivos para acreditar que o "rasgo" no tecido do Universo foi causado pelo surgimento de uma nave através do espaço-tempo: o presente de David Zero contendo TODOS os segredos do Multiverso, de todos os universos e dimensões, e em particular dos construtores de mundos chamados Astroengenheiros.

A boca de Ghowrid caiu alguns milímetros, mas imediatamente ele se recompôs. Seu intelecto geneticamente superior trabalhava freneticamente com todos os possíveis, inúmeros desdobramentos e impactos de curto, médio e longo prazo daquela hipótese fantástica, se fosse verdadeira. - E quanto ao Comandante Lewz?

— Não sabe absolutamente nada a respeito. Eu o sondei. De todo modo, ele considera que o mais provável é que o rasgo interdimensional se deva a um fenômeno natural, como "uma casual aproximação entre duas 3-branas paralelas, uma de matéria e outra de antimatéria". Admira a genialidade do amigo, o Dr. Dharz, mas discorda dele e do Dr. Sklar, estando mais propenso a dar razão à interpretação do hiperfenômeno proposta pela Drª. Woogong. Estranhamente, o Comandante Lewz pensa no Dr. Sklar... como um "poço de recalque", característica que, em sua opinião, é extensível a todo o povo de Vulcano.

Ghowrid riu mentalmente (e Líria sentiu a risada mental). - Vulcano é a cultura do superego e da repressão, ou recalque, aos impulsos primários. O povo do Dr. Sklar aprende a reprimir os sentimentos e as emoções por meio de uma rígida disciplina mental desde a mais tenra idade. A total ausência de emoções humanoides, sentimentos ou paixões, que é a característica inata da sua raça, conselheira, é a condição mais almejada por muitos vulcanianos. O que eles pelejam toda uma vida de austeridades mentais para conquistar, você e seu povo já possuem desde o nascimento.

— O senhor sabe que nesse pormenor sou diferente de todos os meus irmãos de raça, capitão.

— Sim, conselheira, eu sei.

********************

Flutuando imerso nos esplendorosos e infernais domínios da coroa estelar de Kepler-78 - em meio a temperaturas da ordem de 1.500.000 K e gigantescas ejeções de massa coronal, formada por nuvens de escaldante plasma magnetizado - , ALGO inconcebivelmente exótico e atemporal, mergulhado num sono sem sonhos ou pesadelos, apenas esperava o momento de ser despertado novamente para a vida. ALGO de transcendental magnitude, perante o qual todo o poderio hipertecnológico das maiores civilizações guerreiras da Via Láctea pareceria tão tênue e inócuo como os gases coloridos que formam as nebulosas planetárias originadas das camadas gasosas externas expelidas pelas estrelas gigantes vermelhas nas derradeiras fases antes do seu colapso final.

ALGO que até mesmo os Antigos (asquerosos avatares mecatrônicos - nesta dimensão - dos ainda mais terrificantes Primordiais, ultrainteligências na forma de nuvens supercondutoras de matéria quark, autistas, xenofóbicas, inimigas declaradas da vida protoplasmática e de toda luz, cada uma enfurnada em sua bolha-universo de trevas orbitando inconcebivelmente além da curva do espaço-tempo) e a tétrade dos Transfinitos (quatro entidades transdimensionais compostas de mente e energia, virtualmente indestrutíveis, que por eras sem conta cometeram atrocidades em uma escala galáctica, mas foram finalmente expulsos desta dimensão de tempo e espaço) fariam bem em temer.

E então, o tão aguardado momento chegou...!

É o momento do Despertar!


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Notas finais do capítulo

Mesmo com os cortes feitos por mim, a fim de eliminar "excedentes" (que deverão ser incluídos nos próximos segmentos), o presente capítulo saiu maior do que inicialmente planejado. No entanto, pretendo manter como limite a atual média de oito mil palavras e não mais que isso; talvez até menos.
Aos fiéis leitores e comentadores (estou falando contigo, "Antix"), já estamos mais próximos do momento mais aguardado, que é o da aparição iminente daquela personagem que amamos tanto (xD).
Como deve ter ficado óbvio, o Almirante Allysdair Scott foi baseado no saudoso Comandante Montgomery Scott (leia-se James Doohan, que descanse em paz), de Star Trek. Já o Comodoro Norival Lima existe REALMENTE, embora sua patente seja (caso ainda esteja vivo, o que ignoro) Capitão-de-Mar-e-Guerra Norival Lima, meu ex-chefe na FI/Deltanave Engenharia Naval e um bom amigo. É assim que presto minha homenagem a ambos.
Por seu turno, a Conselheira Lemos foi inspirada tanto na pequena Allie (Dakota Fanning) da minissérie ufológica "Taken" (do Steven Spielberg) quanto no jovem adolescente-prodígio Dr. Zee do spin-off "Galactica 1980" (meio-humano/meio-ultraterrestre) e nas crianças híbridas de alien-humanos de cabelos prateados e olhos brilhantes (em particular o David, que é mais "humano") de "Village of the Damned". E a Drª. Woogong, a meu ver, tem o visual da atriz chinesa Michelle Yeoh, porém seu perfil psicológico lembra mais a Capitã Janeway de "Star Trek Voyager".
E até o próximo capítulo! Coisas interessantíssimas vão acontecer!