Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 7
Fadas & Corvos


Notas iniciais do capítulo

Hey, peoples! Chegay gente bonita, vamos melhorar nossos dias com mais um capitulo!



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Vou balançar ao ritmo do lustre, do lustre, vou viver como se não houvesse amanhã! Como se não houvesse amanhã! Vou voar como um pássaro pela noite. Vou sentir minhas lágrimas enquanto elas secam! Vou balançar ao ritmo do lustre, do lustre!
Chandelier fora interrompida na melhor parte quando um exemplar de Game of Thrones se jogou na mesa, seguido de uma garota se sentando.
Olhei estupefata quando ela abriu o livro e mexia seu cereal.
–– Hum... Oi? –– Perguntei.
–– Aiya. –– Respondeu.
–– O quê?
–– Aiya. –– Repetiu –– Quer dizer “olá” em élfico.
Primeiro a garota senta sem permissão, joga um livro cheio das safadezas na minha mesa e depois começa a fazer macumba élfica. Não sou obrigada.
–– Com licença, essa mesa é minha. –– Eu disse, o menos ríspida que consegui ser.
Ela deixou seu livro para me dar atenção. Seus olhos eram tão azuis que em um dado momento se confundiam com o violeta, iguais aos da Elizabeth Taylor e se destacavam mais ainda graças à maquiagem roxa em suas pálpebras e lápis de olho. Olhos de fada. Seus cabelos louros eram extremamente lisos e desciam até a cintura, dando voltas de caracóis no final. Tinha pele e maçãs do rosto tão rosadas como de uma boneca de luxo, abaixo do seu olho esquerdo existia um desenho de um floco de neve que destacava ainda mais o seu batom ultramarine. Parecia uma guerreira alada saída dos contos de fadas.
–– Teoricamente, essa mesa é patrimônio publico. –– Sua voz era rouca, muito rouca –– E também não tem seu nome.
Dito isso, retornou a sua leitura.
–– Escuta aqui, queridinha, quem você pensa que é? – Perguntei, deixando um pouco da educação de lado.
–– Primeiro: Fofa, não me chame de “queridinha”. Segundo: Sou Diane Scott.
– Ah, amada, não me chame de “fofa”, isso é muita falsidade.
– Amada? Amada é sua mãe, amiguinha, não me chame assim! – Retrucou.
– Amiguinha? Amiguinha? Amiguinha tu vai ver quando eu enfiar a minha mão na sua cara, sua poser lixosa.
– Oi? Poser? Fique sabendo que até autógrafo do Martin eu tenho, coração.
– Me chame de “coração” de novo e o seu vai parar de bater, linda.
– Coração.
– Flor.
– Linda.
– Diva.
– Amiga.
– Feia.
– Idiota.
– Metida.
– Kenga.
– Loira falsificada.
– Falsificada? – Indignei-me – Fofa, meu loiro é natural.
– Huff, natural? – Disse ela, começando a cair na gargalhada – Natural como o nariz da Liz, só pode.
Eu ri.
–– Gente que nariz mais falso é aquele, gente? Porfa, até Michael tem um nariz mais verdadeiro que aquilo!
Caímos na gargalhada enquanto o resto do refeitório ficava em silêncio, olhando-nos com cara de que estavam prestes a chamar o manicômio, mas nos não ligamos.
–– E qual é seu nome? – Perguntou, limpando uma lágrima que caiu do olho direito.

– Sky Delevingne. – Respondi.
Houve um minuto de silêncio e eu a analisava. Seu canino direito tinha uma pequena carie, e só agora notei que havia uma mecha cor de rosa e outra azul em seu cabelo.
– Hum... Você é de onde? – Perguntei.
– Sydney, Austrália. – Respondeu, tomando um gole de sua Coca-Cola.
– Austrália? Nunca conheci ninguém da Austrália! – Exclamei – Você gosta de cangurus? Já foi pra Ópera?
– Sinceramente? Acho que sou a única Australiana que odeia cangurus e ópera.
– Mas o que te trouxe pra esse fim de mundo?
– Meu pai. Somos donos de conjuntos de lojas e nossos administradores disseram que deveríamos investir em cidades pequenas, e cá estamos. Quer? –– Me ofereceu um gole de sua coca, mas recusei –– E você? Como veio parar aqui?
– Nasci aqui. Não, não me pergunte como meus pais vieram param esse lugar, não faço à mínima.
Ela riu.
– Ei, e qual é dessas lentes? – Perguntou.
Meu sangue gelou.
– Lentes? – Eu disse, soltando uma risada falsa, fingindo que não sabia do que ela falava – Que lentes?
– Se sabe... Essas verdes ai nos seus olhos – Ela disse, apontando pro meu olho direito – Confesso que é bem realística, mas ainda são lentes.
Como ela sabe? O que faço?
– Qual é? Sou cosplayer, conheço bem lentes de contato.
– Ah! São sim. – Eu disse, tendo uma ideia brilhante – Mas você também usa!
– Não, não, não! Sério, são meus mesmos! – Ela retrucou.
– Claro que são: Se você comprou, são seus... Ao menos que tenha roubado.
Rimos um pouco, antes de senti um arrepio. Um ar gélido subia do meu pé até minha coluna, fazendo meus pelos se ouriçarem... A temperatura parecia ter descido dez graus, minhas pernas tremeram, coração acelerou e senti meu ar sendo drenado dos meus pulmões.
– Hope! – Disse Diane.
– Oi? – Respondi.
– Hope! – Disse Alex Sandres, que estava há duas mesas de distancia.
– Como? – Respondi.
– Hope! – Disse alguém perto de mim.
– Hope! – Disse outro alguém.
Em instantes o refeitório todo entrou em uníssono macabro... Um coral entoando a mesma palavra, quase como um culto satânico invocando um demônio.
HOPE!
HOPE!
HOPE!
– O que esperança tem haver com tudo isso? – Gritei, tendo minhas palavras abafadas pelo coral. Ajoelhei-me e tapando os ouvidos, curvando minha fronte, sentindo enquanto o vento devastava tudo ao meu redor.
HOPE!
HOPE!
HOPE!
Olhei para Diane, que agora estava de pé, e senti que meu espírito estava prestes a deixar meu corpo. Seus olhos agora estavam completamente negros, já não havia mais córnea, Iris ou pupila. Seus cabelos agora eram tão escuros quanto a noite sem luar, que ficavam mais horripilantes com o auxilio das luzes se acendendo e apagando.
Ela se tornara um corvo.
– Minha cara Sky – Disse Diane, com voz demoníaca, distorcida – Esperança tem haver com tudo.
Olhei-a de novo, e senti que minhas células passaram do sólido pro liquido. Ele estava lá.
Logo atrás dela havia um homem alto, com rosto pintado de branco e cabelos cor de fogo. Seu sorriso era macabro, combinado com o canibal que sempre fora. O palhaço que me perseguia há dez anos.
– Mate o palhaço! – Ele disse, com a mesma voz que antes Diane usara – Ele é tão falso.
Em suas mãos estava um machado e seus olhos eram como os de Lúcifer caindo do paraíso.
E eu gritei, gritei para que ele fosse embora, me deixasse em paz, que qualquer força divina me livrasse do pesadelo.
Gritei implorando morte indolor.


– Sky! SKY! – Alguém gritava.
Abri meus olhos, ainda estava de fronte. Tirei minhas mãos dos ouvidos e ergui minha cabeça.
O refeitório era o mesmo. Sem palhaços, vento ou pessoas com olhos de corvos. Mas todos fitavam-me como louca.
– Skye... Você está bem? – Perguntou Diane, se ajoelhando.
– El... Ele estava aqui. Ele estava aqui. – Respondi.
– Ele quem, Skye?
Verifiquei por trás se suas costas. Sem palhaços.
Seus olhos eram tão violetas cujo o único negro eram suas pupilas.
Engoli a saliva e fiquei em pé.
– Ninguém. – O sinal tocou.
Observei enquanto todos pegavam suas mochilas e me encaravam com ar de desdém. Cheguei a ouvir um ou outro “louca” e “retardada”, mas nada alarmante.
– Bem... Eu vou nessa. – Disse Diane, pegando sua mochila e me encarando. – Tem certeza que está bem? Eu posso te levar a enfermaria.
– Não... Quero dizer, sim, eu estou bem. Mas obrigada.
A garota deu um sorriso tímido, com uma expressão que mostrava que não acreditava em mim.
– Okay. – Disse ela, antes de me dar um beijo na bochecha e se retirar.
Fique ali plantada, olhando pro vazio, como se as paredes pudessem me dar uma resposta.
Liguei meu iPod e coloquei a musica Fireflies, da Leona Lewis.
Estou flutuando na água, voltando a olhar para a noite.
O que esperança tem haver com isso tudo?


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