Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 32
Antes Que a Noite Morra, Uma Vida Desaparecerá


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi gente! Então, estória acabando, vocês perceberão por esse capitulo. Meu PC tava estragado e não deu pra escrever, I'm Sorry.



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O Sol estava se pondo em manchas com cores quentes, a temperatura caia e as ruas se esvaziavam rapidamente, o som dos meus passos em contato com as poças d’água feitas pela garoa que acabara de cair. Estava em um bairro comum com pequenos prédios se erguendo e casas simples de dois ou um andar com várias flores em seus jardins e sacadas e seria uma bela vista, mas eu estava correndo rápido demais para aprecia-la.
Alguém estava atrás de mim e eu podia sentir, estava fugindo disso tudo. Onde estava Hope? Onde estava Alaska? Eu já não conseguia mais ouvi-las nem senti-las, eu experimentava a solidão absoluta, o vento esboçando o enorme casaco que vestia e descia aos meus joelhos. Não consigo entender por que Hope usa saltos tão altos e vestidos tão curtos para matar gente.
A porta do hall de entrada do Bloomer abriu abruptamente fazendo com que alguns dos empregados e recepcionistas me encarecem. Acenei para alguns deles e caminhei depressa ao o elevador vazio, apertei os botões 1 e 3 para o meu quarto, o mesmo que Hope alugara durante a estadia nessa cidade.
As portas metálicas do elevador abriram-se com barulho, voltei à pose, tentei ficar calma. Peguei a chave que milagrosamente não caiu da minha bolsa durante a briga com aquela mulher, abri a porta do quarto para depois tranca-la.
Eu iria embora, eu precisava fazer alguma coisa.
No enorme malote vermelho estavam notas de dinheiro de todos os tipos, identidades falsas e peças de roupa que Faith preparou antes de ir. Ai meu Deus Faith, como eu queria você aqui agora.
Me dirigi ao banho; a água quente fazia com que a dor aumentasse, mas precisava me lavar, continuei torcendo para que nenhum dos empregados tenha visto o sangue.
As palavras da mulher de vermelho continuavam na minha mente.“Simples, minha cara: Reprogramação Monarca. Até onde eu saiba as Crianças Cristal reagem de forma diferente à programação e simplesmente não podem ser controladas. Bem, com você não foi diferente.”
–– Por favor, não dê ouvidos à ela Skye –– Alaska surgiu ao lado do Box de vidro e mesmo com vapor consegui distingui-la nitidamente. –– Ela é uma mentirosa... Todos eles são.
Seu cabelo sempre perfeito agora estava sujo e desgrenhado, sua pele macia e rosada se degenerou ao pálido e imundo, o vestido branco estava sujo de lama e seu corpo sangrava.
–– Eu deveria estar surpresa por te ver assim? –– Perguntei.
–– São tempos difíceis para todos nós, mas você não pode...
–– Não posso o quê? Cortar meus pulsos com o barbeador ou rasgar minha garganta com uma das facas de cozinha do hotel? Pois eu quero isso, eu quero muito, mas não sei se devo.
–– Você não deve! Nem deve ou precisa... Essa coisa na sua mente... Esse demônio que quer que você se mate, ele não é real. Você pode enfrenta-lo, nós podemos enfrenta-lo...
–– Você não entende, vocês nunca entenderam. Eu nunca vi saída, nunca vi uma solução para todo esse Inferno que a minha vida se tornou, nunca entendi o porquê da sua existência ou da Hope, das visões com o palhaço e com os corvos... Mas agora eu entendo e vejo uma saída. –– Eu digo –– Eu sou fruto de um projeto de alguém, um protótipo ou sei lá. Tudo isso pelo fato de que eu sou... Eu nem ao menos sei quem eu sou.
–– Você só precisa seguir sua consciência.
–– Todas as vozes e todas as pessoas sempre disseram que precisava seguir minha consciência, mas quando a nossa consciência se quebra em um milhão de pedaços qual deles deve ser seguido?
–– Skye, por favor não...
Eu não queria ouvir o que ela tinha a dizer, eu precisava ficar sozinha comigo mesma não com um complexo de personalidade, não com alguém que não existia.
Alaska tentou vir até mim, mas bateu em alguma coisa.
–– O que é isso? –– Ela exclamou.
–– Eu não te quero aqui. –– Digo –– Isso é o que vai te manter longe.
A garotinha atacou a barreira com socos e chutes, mas era inútil. Não sei como a criei, não sei como a destruir, mas ela as manteria longe.
–– Skye...
A sua voz estava abafada como se estivesse debaixo d’água, seu corpo ondulava como nas velhas visões ópticas que já havia me acostumado. Ela começou a tremeluzir como um holograma e esperei que dissolvesse no meio do ar como sempre fizera, mas ao invés disso seu corpo derreteu como água encharcando o piso para depois desaparecer. Não me abalei apesar de tudo.
Me embrulhei na toalha e voltei pro quarto, peguei uma calça jeans e jaqueta preta e me olhei no espelho. Olhos heterocrômicos, pele pálida como se estivesse morta e cabelos louros e secos... Não era eu, simplesmente não poderia ser.
–– Quem você é? –– Perguntei para o reflexo –– O que você é?
A imagem moveu levemente sua cabeça para a esquerda como se tentasse entender o que eu quis dizer.
–– Você está morta. –– Eu digo serena.
Peguei o espelho com as duas mãos e com força o arranquei da parede, lançando-o contra o chão, vários pedaços espalharam-se pelo quarto e chegaram a me acertar. Minha mão sangrava, mas a cor do sangue não me dava mais náuseas nem parecia mais me fazer mal.
Pela primeira vez na minha vida o escarlate brotando das minhas veias me parecia doce.

♫ POV Alice Lidell ♫

Pousamos a aeronave com segurança dentro de uma mata fechada em algum lugar da cidade e Anthony Gottes age como um rato de sarjeta com seu medo idiota, não faço a mínima ideia de como prosseguir com um completo covarde. Liz deveria ter usado um pouco mais de seu cérebro, contudo ela sempre foi uma completa acéfala.
–– Então... Alice? Pra onde a gente vai agora?
Gesticulei que ficasse quieto e peguei o pequeno localizador via satélite que trazia na bolsa, se parecia com um celular encontrado em qualquer loja da esquina, mas graças a ele conseguiríamos encontrar Skye.
–– Que diabo é isso? –– Anthony pergunta.
–– Um localizador via satélite –– Respondi ligando a máquina, nela estava um pequeno mapa com um ponto vermelho e um amarelo –– Está vendo esse ponto amarelo? Somos nós e esse vermelho é a localização da Skye, de acordo com o GPS está há meia hora daqui se formos a pé e 10 minutos se nos locomovermos com alguma coisa mais rápida.
–– Espera ai... Como você está conseguindo localiza-la?
–– A mala que Faith Deveux deu estava com um localizador caso ela surtasse.
–– Faith quem?
–– Uma conhecida que eu e Skye tínhamos em comum e que Liz nem desconfia da existência –– Respondi –– Liz caia no sono eu saia à noite para recuperar as bonecas, numa dessas andanças acabei parando em Azazel e a conhecendo. Hoje ela está morta e tenho uma pequena suspeita de quem a matou.
–– Mas...
–– Não temos tempo a perder garoto, vamos encontrar um carro e ir atrás dela antes que se distancie.
–– Não temos um carro, então como...
Não ouvi o que ele disse, simplesmente arranquei o chapéu ridículo da minha cabeça e desabotoei o vestido, deixando uma grande decote a mostra, rasguei a parte debaixo dele até que minhas coxas estivessem visíveis e tirei a maquiagem de vagabunda que Liz insistia em usar.
–– O que você...?
–– Siga a minha deixa. –– Exclamei.
O solo da mata era íngreme, desci escorrendo pelas folhas mortas até sair correndo, pulando por cimas dos troncos e alguns cadáveres de animais, tive a impressão de ouvir Anthony caindo três ou quatro vezes no trajeto até que enfim enxerguei a estrada logo a frente. Conseguia ouvir o motor de um carro se aproximando, a mata era fechada e escura graças à noite que se aproximava, era agora ou nunca. Lancei-me na estrada com braços estendidos para que o carro parasse.
Era enorme, um caminhão monstro com farol alto há quatro metros de distância que buzinava para que eu saísse do caminho, mas não ia. Três metros, dois metros e meio e contando... Dois metros e as luzes me cegavam.
–– Liz...! Quero dizer, Alice! –– Anthony gritou.
Um metro de distancia e o carro freio subitamente com meu coração acelerado.
–– Mas que diabo você...? –– Exclamou o motorista que saia da máquina.
–– Oh my God! –– Exclamei simulando sotaque norte-americano –– Ainda bem que o mister parou, I and my cousin estamos perrdidas, please, nos ajude!
O homem parecia confuso, coçava sua cabeça como se tentasse entender o que eu disse. Tinha uma enorme barba ruiva e um lenço com uma caveira na cabeça, sua jaqueta era de couro e seus dentes eram podres e não deveria tomar um bom banho há muito tempo.
–– Mas o que...?
–– Oh my God, Mimoza! Você conseguir carona para nós!? –– Exclamou Anthony, entrando no teatrinho.
–– Yeah! –– Exclamei –– Esse bom homem disse que vai nos levar até o hotel Bloomer, não é wonderful?!
–– Yap!
–– O quê...? –– Perguntou o homem –– Quem são...?
–– Ah, perdoe nossa completa ausência de educação. Eu sou Darth Vader e essa é minha prima Mimoza Slut, somos novos na cidade. –– Disse Anthony –– Acabamos de chegar de uma viagem dos States e precisamos de ajuda para chegar ao Hotel Bloomer!
–– Yap! Please good man, você poderia nos ajudar? –– Exclamo, apertando bem meus seios até que fiquem à mostra para o homem –– Porr favorr?
Ele nos olha confuso, fitando-nos de cima abaixo até chegar aos meus peitos.
–– Ah! Será um prazer acompanhar uma bela família até... O hotel! –– Exclama o homem –– Por favor, por favor entrem!
Dou uma rápida piscadela para Anthony e corro até o banco do carona. O carro fede a cerveja velha e animais mortos, mas no momento não temos tempo para pensar em conforto.
O motor do carro vibra e os faróis são acesos, pelo retrovisor vejo a cara de nojo de Anthony e estava prestes a rir quando o homem colocou sua mão na minha coxa e sorriu com seus dentes podres.
É falta de cordialidade querer vomitar na boca de alguém?

▲ POV Harley Queen ▲

–– Baphomet! Me ajuda aqui seu cão estúpido! –– Gritei –– Quantos quilos essa garota pesa?!
Estávamos em frente da Residência Dapper tentando colocar o corpo de Raven Enders no porta-malas do carro, não sei o motivo de pesar tanto e eu e meu companheiro passamos maus bocados até conseguirmos. Chequei sua pulsação e não havia nada.
–– Okay, está tudo pronto! –– Exclamei para meu animal –– Vamos Baphomet, temos que encontrar Skye!
Meu amado malamute do Alaska late com euforia e sobe no banco do carona quando meu celular começa a vibrar.
–– Alô?
–– Harley Queen, você está atrasada! –– Edgar grita –– Onde está ela?
–– Ain coroa, sem stress okay? –– Respondi docemente –– A essa hora a presa deve estar em Bloomer, já coloquei gente em seu encalço, daqui a pouco estará em nossas mãos...
–– Se apresse, pois estamos cansados demais dos seus joguinhos! Por que a demora?
–– Matei a wicca... A tal da Raven e...
–– Você o que?!
–– Ah, nada! Que diferença faz? Vocês por um acaso...
–– Tínhamos planos pra ela também, eu não acredito que você...
–– Então na próxima é melhor especificar o serviço, por que se têm três coisas que não sou é vidente, tuas negas e obrigada.
Sirenes de policia tocavam, estavam se aproximando. Alguns dos vizinhos saiam nas janelas e os postes de luz se acendiam, a qualquer momento vários repórteres e bombeiros estariam aqui e eu não estava nenhum pouco afim de conhecê-los.
–– Nos falamos depois. –– Desligo o telefone e entro no carro, dou ignição e tiro do ponto morto –– Está na hora Baphomet!
Os olhinhos brancos do animal ardiam em brasa, quase como se soubesse que iríamos comer carne humana.

♀ POV Skye Delevingne ♀

Eles não podem lhe fazer nada, eles não podem me fazer nada. Esta é a vida que escolhemos, esta é a vida que vivemos, então ponha seus pulsos no ar, saia, saia se você se atreve! Essa noite mudaremos tudo para sempre!
Você já teve a impressão de estar sendo observado?
Reuni tudo o que eu tinha e coloquei na mala, vesti o enorme casaco com um vestido casual preto por baixo, desci pelo elevador direto para o hall, pois queria ir embora o mais rápido possível, ainda não tinha um plano, mas precisava encontrar Anthony e Gaby em Nerfoni. Deixei Raven para trás e se não estou errada já deve estar morta, ou fugiu das pessoas que me perseguiam. O que querem comigo? Eu não sei e também não quero saber.
–– Senhorita, por favor, você deve dar baixa no hotel para poder ir embora. –– Disse o porteiro, indicando-me a recepção.
–– Mas... –– Não retruquei, apenas segui até os recepcionistas desocupados.
–– Boa noite senhorita. –– Disse a recepcionista com um pequeno sorriso falso no rosto –– Os documentos, por favor.
Peguei a identidade falsa que Hope usou para alugar o quarto, nela estava minha foto com o nome Rayanne Edward e idade de 21 anos de idade.
A recepcionista pegou a identidade e digitava códigos no computador, mas pude notar que suas mãos tremiam e encarava a tela com certa cautela.
–– Há algum problema? –– Perguntei.
–– Pro.. Problema? Não, não há problema algum, mas infelizmente a senhora terá que nos acompanhar.
Mãos surgiram pelas minhas costas e agarram meus braços forçando-me para trás, tentei recuar e me debater, mas eram pesadas.
–– Mas o que...?
–– Desculpa Skye, estamos seguindo ordens. –– Disse a recepcionista enquanto picotava o documento.
–– Ordens de quem!? –– Exclamei –– São eles, não são? Os tais Monarcas que a enfermeira me disse... Eu só quero que me deixem em paz!
–– Paz? Todos nós queremos paz, garotinha. Mas, infelizmente, são pessoas como você que irão nos impedir de alcança-la... Você não passa de uma aberração da natureza e não deveria estar aqui!
–– É por isso mesmo que estava tentando ir embora, por favor me soltem!
–– Você pode sair... Mas só quando eu permitir. –– Debochou.
Eu estava ficando impaciente, a força que o homem exercia em mim ficava cada vez maior, estava me sufocando e tirando minha consciência. Se não poderia ser por bem, seria por mal.
Ele estava exercendo força para meu corpo cair, eu apenas o ajudei me jogando no chão com ele por cima de mim. O homem se desequilibrou, dando-me tempo o suficiente para chutar seu rosto no chão, ouvindo o barulho da sua mandíbula se deslocando.
–– Isso é um tchau tchau, vagabunda. –– Chuto a barriga da atendente, lançando-a contra o computador. Aparentemente estava inconsciente.
–– Ninguém se mexe! –– Pego a coisa mais próxima de mim, um guarda-chuva com estampa florida e bico de aço –– Eu tenho um guarda-chuva e não tenho medo de usar! Eu sou maldita, eu to avisando e vocês não sabem o que consigo fazer com uma ama letal como essa.
Se funcionou eu não sei, mas ao menos algumas pessoas deram passos para trás, o porteiro recuou e deixou livre a minha passagem. Contei até três lentamente, saí em disparada com minha mala e atirei minha “arma” no rosto do homem, não fiz questão de olhar para trás e ver se me perseguiam. Precisava voltar pra Nerfoni e falar com Anthony.
Se eu não me matar no processo.

☼ POV Anthony Gottes ☼

–– Você realmente precisava ter desacordado ele? –– Pergunto.
–– Ele tava passando a mão na minha coxa, o que esperava que eu fizesse? –– Ela responde –– Além do mais, ele não deixaria a gente sair sem receber algo em troca pela carona, conheço esse tipo de gente, acredite.
Caminhávamos por uma viela qualquer em Amsterdã, indo até o hotel que Skye se hospedou. Era tarde e o céu ainda estava coberto de nuvens de chuva, impossibilitando a visão da Lua ou das estrelas, o que acabou deixando toda situação o mais sinistra possível.
–– O que vamos fazer se encontra-la? –– Perguntei –– Tipo, a gente não faz noção do que aconteceu com ela e... E se não houver cura? E se ela se matar antes? E se...
–– Pensamentos bons atraem borboletas, pensamentos ruins atraem dragões. É um velho provérbio chinês. –– Ela diz –– Quando a acharmos iremos para a América. Lá existem pessoas que podem nos ajudar... Eles se autodenominam de Dorothy’s.
–– Dorothy’s?
–– É uma apologia, entende? Os Monarcas criam os Espantalhos por causa de O Mágico de Oz, já que o Espantalho não tinha cérebro. Se você já ouviu a estória, sabe que quem o ajudou nisso foi...
–– A Dorothy. –– Interrompo –– Faz sentido.
–– Sim. Eu não exagero quando digo que os líderes dos Monarcas só não dominaram o planeta devido a outra organização secreta formada por famílias ricas que os impedem.
–– Que outra organização?
–– Eles se intitulam... Savior. Eu não sei muito a propósito, apenas que são comandados por humanos exóticos, não apenas Índigos e Cristais... Outras espécies de seres humanos guiados por justiça e benignidade. –– Ela diz sombria –– Eles me acharam e me contataram, eu não sei bem, mas há alguns meses uma tal de Pixie Klatte abordou Liz em frente à Thade e contou toda a estória... Foi ela quem a incentivou a procurar mais sobre o passado da sua família.
–– E essa tal de Pixie disse o que era? O que mais sabe sobre ela?
–– Ela tinha sotaque irlandês e era de uma raça que começava com B. Apenas.
–– Isso não vai nos ajudar muito. –– Resmungo.
–– Quando chegar a hora eles irão nos contatar novamente... Eu acho.
–– E se isso não acontecer?
–– Borboletas, pensamento positivo. Dragões, negativo. Deu pra sacar?
–– Acho que pelo que lemos até agora, prefiro ver um dragão a uma borboleta.
Já era possível ver a enorme e piscante-multicolorida placa do hotel Bloomer, e junto com ela as sirenes policiais.
–– Foi ultrajante! –– Gritou uma senhora com sotaque britânico –– Eu só queria passar as férias com my family quando aquela garotinha insolente nos ameaçou com um guarda-chuva! Ela disse que ia introduzir aquela arma no meu...
–– Ela tá falando da...
–– Skye, com certeza. –– Alice diz –– Não é do feitio da Hope usar guarda-chuvas como armas, deve dar mais prazer arrancar as costelas de alguém com as próprias mãos, sei lá.
Nos aproximamos soturnamente de uma viatura próxima e nos agachamos para ouvir o escândalo da mulher.
–– Sen... Senhora... Senhora, por favor se acalme! –– Disse o guarda.
A mulher pegou sua pequena bolsa e bateu com ela no pobre homem.
–– Não fale assim comigo! Eu sou apenas uma senhora de idade galesa que não pode nem sair do próprio país sem ser ameaçada com um guarda-chuva enorme por uma garota de olhos estranhos! Eu posso ser tudo meu bem, mas se tem algo que eu não sou é obrigada!
A multidão começava a crescer, vários e vários fuxiqueiros brotavam dos bueiros e esquinas aos montes e brevemente a rua estaria lotada. Não creio que era comum policiais num bairro como aquele.
–– Senhorita, vamos repassar mais uma vez, sim?
–– Ai meu Pai, eu já disse! –– Exclama a galesa –– Eu estava indo passear com meu lindo cachorrinho Pennywise quando aquela garota louca atirou a pobre empregada do hotel contra o computer e ameaçou a mim e a todos os outros funcionários e hospedes com um guarda-chuva! Eu pensei que fosse morrer! Pobre Pennywise, deve estar traumatizado, meu bebezinho, nada nem ninguém vai te ferir enquanto a mamãe estiver aqui. –– Dizia docemente enquanto massageava a cabeça de um pinsher em seu colo.
–– E você saberia me dizer pra onde ela foi?
–– Desculpa, não tive tempo de perguntar por que ELA ESTAVA APONTANDO UM GUARDA-CHUVA PRA MIM E PARA MEU BEBÊ!
Acho que o guarda preferiu ficar calado ao dar um tapa no rosto daquela mulher. Alice segurou minha mão com força e desespero e me levou ao beco há alguns metros a frente.
–– O que foi?
–– Xiu! To procurando meu celular. –– Disse ela, tirando da bolsa um grande e moderno iPhone 9S com capa com orelhas de coelho cor de rosa –– Alô?
Não consegui distinguir muitas palavras além da frase “coloque no viva-voz”.
–– Ta no viva, quem é?
–– Liz? Ai meu Deus, que bom que está tudo bem com você, sou eu, a Pixie.
–– Pixie?
–– Pixie Kettler, a enviada da Savior. –– Disse a voz –– Estou ligando pra perguntar se você está bem... Olha, isso não vem ao caso, você simplesmente precisa abandonar essa missão e vir para a América. Não temos mais tempo.
–– O quê? Como assim? Do que você está falando? Aqui é a Alice, a alter da Liz.
–– Alter? Ai meu Deus, a doença está se espalhando, Henri. –– Disse ela, era possível ouvir murmúrios masculinos em outra língua junto a ela –– Olha, Alice, eu não quero te fazer mal algum e como você é a alter de um Índigo, creio que também não nos fará. Skye está morta, ela foi julgada e sentenciada pelo Destino... Não há mais nada que você possa fazer. Deixe Anthony em Nerfoni e aborte o resto.

–– O quê? Quem é Destino? E por que essa mulher está falando que a Skye está morta? –– Pergunto exasperado –– O que você é pra dizer algo com tanta certeza?
–– Eu lamento tanto Anthony... Isso é tudo o que podemos fazer. –– Diz Pixie com tristeza, antes de gritar.
Sim, gritar. A sensação foi perturbadora, parecia que alguma coisa pontiaguda estava sendo enfiada nos meus tímpanos, senti minha cabeça indo ao espaço e retornando num milésimo de segundo. No instante seguinte, o telefone celular de Liz/Alice caiu no chão com baque surdo e tela completamente destruidora.
Alice estava de joelhos com ouvindo tapados, se balançando no chão como uma criança assustada.
–– Eu falhei com ela, Tony. Eu falhei de novo. Eu falhei como sempre, burra, burra, burra! –– Dizia a garota com lágrimas nos olhos –– Acabou Anthony. Acabou tudo.
–– Alice... Alice por favor, me escuta. –– Digo, erguendo o rosto dela para manter contato visual –– Nada acabou ainda. Eu não sei a que vozes ela se referia, mas ela não tem como saber disso. O jogo não terminou, talvez os Monarcas estejam...
–– Ela é uma banshee, Tony. –– Disse por fim. –– Ela sabe das coisas e...
–– Okay, ela apenas sabe que a Skye está correndo perigo, Alice! Nós temos que salvá-la!
–– Você não entende, não é mesmo? –– Ele diz amarga, com ar sarcástico –– Você não entende nada. É só mais uma criança metida a super-herói que não sabe da magnitude da situação, não é verdade? Então escute o que tenho a dizer antes de te mandar embora: Banshees não preveem o perigo... Elas preveem a morte.


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Notas finais do capítulo

Lydia O/ ♥



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