Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 30
Eu te Convido a Entrar na Minha Cabeça


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeei gente! Sentiram minha falta? Creio que não. Bem, eu estive meio ocupado ultimamente (mentira, tava com preguiça), mas quero dizer que não, eu não vou desistir de Hope, principalmente por que ela ta acabando. Sim, faltam pouquíssimos capítulos pra fic acabar (tipo uns 4,5). Bem, voltarei a postar com frequência e desculpinha de novo.



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As janelas da casa eram feitas de cristal e pareciam ser invisíveis, mas estavam ali. As suas paredes eram cinza e seguiam o mesmo padrão arquitetônico grego que Skye lia em Percy Jackson, com desenhos de deuses e monstros, heróis mitológicos e criaturas fantásticas, com diversas pilastras se espalhando pela casa mesmo que não fosse tão alta e não precisasse disso.
O primeiro cômodo para que fui levada era a sala de estar, que nem sequer possuía uma TV. Em seu centro havia um enorme pilar com uma serpente de concreto escalando.
Do lado de fora várias nuvens negras carregadas de água e eletricidade acobertavam o céu azul e o Sol do meio-dia.
–– Sente-se, por favor. –– Disse a mulher, assentando-se numa poltrona e indicando-me o sofá ao lado. –– Quem você disse que é mesmo?
–– Hope Lichtbringer, trabalho para a Organização DIE, órgão do governo que trabalha com pessoas que ganham suas vidas sozinhas, geralmente com o próprio negócio. –– Me sentei –– Pelo que diz sua ficha, a senhora é autônoma e dona de sua própria floricultura, certo?
Ela me encarava e parecia estar gesticulando a resposta mais plausível para a questão. A palavra mentirosa era quase visível em sua testa.
–– Si... Sim, eu tenho uma floricultura. Mas por quê? Eu fiz algo errado?
–– Não, não... Quero dizer, creio que não. Bem, eu só tenho que ver sua...
–– Tia Florence, quem está aí? –– Gritou alguém da cozinha.
–– Heitter, é apenas uma mulher do Governo para falar sobre a flori...
–– Manda ela ir pastar!
–– Heitter, isso é jeito de tratar uma visita?
A anfitriã se ergueu abruptamente e foi à cozinha comigo atrás.
–– Heitter, não seja tão imbecil!
–– Posso ser imbecil com quem quiser!
Era um garotinho, deveria ter 13 anos de idade. Seus olhos eram azuis, cabelos castanhos e possuía um longo nariz com tubos de oxigênio ligados a uma máquina de respiração. Estava numa cadeira de rodas com uma mulher vestida de vermelho ao seu lado.
–– Bridget, você deu os remédios dele hoje? –– Perguntou Florence.
–– Não! Não quero remédio algum! –– Retrucou o pequeno.
Seus olhos eram tão azuis que em dado momento se confundiam com o branco de suas córneas, sua pele era translucida como se estivesse morto ou, no caso, doente.
Sem tirar as mãos das costas do garoto, a enfermeira pegou uma seringa enquanto Florence segurava a criança. O garotinho gritou em sinal de desconforto quando Bridget lhe deu a injeção que o fez se acalmar... Em alguns instantes caiu num sono induzido.
Fiquei pasma observando a cena.
–– Ah, perdão pelo inconveniente. –– Disse Florence –– O estado dele vai de mal à pior.
–– Mas... O que ele tem? O que aconteceu?
–– Sofreu um derrame. –– Respondeu enquanto limpava suas mãos no pano de louça.
–– Um derrame?! Mas ele me parece tão...
–– Jovem? Foi uma surpresa para todos nós.
A enfermeira verificava algo na máquina respiratória do garoto, mas em momento algum me olhou nos olhos.
–– O que você é dele? –– Perguntei a Florence.
–– Tia. –– Respondeu –– Kaleb, seu pai, não aparece a mais de duas semanas. Estou ligando, mas ele nunca retorna as ligações... Estou preocupada que algo ruim possa ter acontecido.
Desaparecido? Ninguém me disse nada sobre o desgraçado ter desaparecido. O diário de Faith era claro sobre Kaleb Mason e sua irmã Florence Dapper, mas em momento algum se referiu a uma criança.
–– Onde paramos? –– Perguntou minha anfitriã.
–– Na parte em que eu precisava conhecer sua floricultura.
–– Ah, sim! Bem, infelizmente está fechada.
–– Acho que não custa abri-la por alguns minutos, não é?
–– Bem... Acho que não. –– Respondeu –– Quer um copo suco?
–– Dispenso, obrigada, é melhor eu ver sua...
–– Ah, mas é o melhor de toda a região! Você não pode sair sem provar! Sente-se no sofá que irei trazer quando estiver pronto.
Florence estava me empurrando para fora da cozinha quando resolvi aceitar. Retornei a sala, investigando por entre seus moveis quando encontrei um móvel com um pano negro por cima.
–– Senhorita Dapper? O que há embaixo desse pano?
–– Apenas uma poltrona velha. Está há tanto tempo sem ser usada que deve estar cheia de pó. Espere um minutinho que já chego com o suco.
Fui ao sofá e peguei o diário de Faith que esqueci. Obviamente não beberia do suco de uma Monarca, mas precisava encontrar pistas sobre qualquer coisa antes de mata-la. Meu atual problema agora eram Bridget, que deduzo ser a enfermeira, e o garotinho, pois não poderia descartá-los com tanta facilidade.
–– Você já foi melhor nisso, Hope. –– Disse Alaska, que aparecera sentada na poltrona ao lado –– Matar uma enfermeira e uma criança não era tarefa difícil para você até algumas semanas atrás... O que houve? Seu coração está amolecendo agora?
–– Olha quem resolveu dar as caras! –– Simulei falsa euforia –– Você tem noção do que ela pode está fazendo com aquele garotinho, não tem? Ou acha que eu realmente acreditei nessa estória patética de “derrame”? Isso está mal contado, mas preciso de provas.
O primeiro relâmpago da tempestade caiu do lado de fora, nesse ponto o céu já estava negro e a temperatura caiu. Vi quando uma borboleta monarca entrou planando pelo hall, suas asas eram alaranjadas e amarelas, seria bela se não fosse a marca do Mal em nossas vidas.
–– Quem sabe poderíamos capturar Florence e tortura-la, ela pode contar tudo. –– Sugeriu Alaska.
–– Hey! Desde quando você se tornou uma assassina em potencial? Essa função é minha!
–– Você não entende?! –– Alaska ficou de pé, seus cabelos negros se movimentavam como se a tempestade lá fora estivesse nela, seus vestidos pareciam ser feitos de nuvens problemáticas e seus olhos escureceram como o tempo –– Skye está morrendo lentamente, e se isso não parar... nós duas seremos jogadas na cova com ela.
–– Você tem que deixar de ser tão teatral. A saúde de Skye está perfeita e...
–– Não estou falando de nada físico, Hope. Foca em mim. O psicológico dela está ruindo, você não vê por que não é sua tarefa, mas o corpo psiquiátrico dela se tornou um mausoléu numa tempestade. Uma pessoa não pode viver quando existem mais três dentro de sua cabeça e isso está a levando a insanidade remota, sua personalidade está se perdendo.
–– Você está exagerando. –– Retruquei.
Alaska segurou meu braço com força, uma descarga elétrica percorreu meu corpo, seus olhos eram como neblina de tão escuros e cabelos estavam ganhando vida.
–– Já não podemos mais ter escrúpulos, Hope. Precisamos encontrar um jeito de reverter a programação monarca, caso contrário nossas cabeças irão para o buraco. Leve em consideração que Skye não sabe sobre a reprogramação, apenas que foi torturada... Lembre-se o que pode acontecer se ela descobrir... Mesmo sendo uma Cristal, não iremos nos arriscar.
–– Me solta! –– Arranquei meu pulso de suas mãos –– A sua tarefa aqui é ter certeza que ela não vai surtar ou descobri. Você é o intelecto, se vira.
–– O suco está pronto! –– Gritou Florence.
–– Estou fazendo o possível, mas tente agilizar isso por que não estou afim de morrer.
–– Você não existe Alaska, e o que não existe não pode morrer.
–– Não mesmo, mas quando um sapo está prestes a ser lançado ao mar, reza aos deuses que nunca tivesse nascido do que provar a dor de ser afogar ou derreter graças ao sal. Só faça o que deve ser feito, você sempre foi muito boa nisso.
Seu corpo não tremeluzia como das outras vezes, mas ondulava como neblina. Alaska desapareceu numa nuvem de fumaça e pude ver o Mausoléu tempestuoso ao qual se referia... Sombras vagavam pela imensidão, como castelos de cartas sendo arrebatados por um furacão e relâmpagos escarlates explodindo nos céus do psicológico dela.
Estávamos indo pro Inferno.
Florence surgiu do outro cômodo trazendo consigo uma bandeja com seis copos com líquidos avermelhados, neles pequenos guarda-chuvas estavam colocados.
–– Aqui está. –– Disse ela, pegando para si um dos copos e lançando um sorriso lisonjeiro.
Aquela mulher realmente pensara que eu era uma retardada mental.
–– Vamos fazer um jogo? –– Sugeri, voltando à minha personagem doce e educada.
–– Um jogo? E o que propõe?
Sorri lisonjeiramente, peguei o copo de sua mão e o coloquei de volta na bandeja.
–– O que você...?
Florence Dapper não concluiu sua frase, pois comecei a girar o recipiente com os copos. O que estava no norte pode ter parado no noroeste, e o que estava no leste pode ter parado no Sul, mas quem poderia dizer? Quando a bandeja parou de girar, a ofereci.
–– Escolha. –– Digo.
Dapper me fitou com seus grandes olhos castanhos que mostravam certo pânico. Voltou sua atenção para os copos, como se sua vida dependesse disso.
–– Mas...
–– Escolha. –– Interrompi amargamente.
Seu olhar dedurava seu receio, contudo lentamente a anfitriã escolhera seu copo e estava levando lentamente aos lábios, mas suas mãos tremiam e o deixou cair.
–– Ah, Deus! Como sou desastrada! Eu vou lá à cozinha pegar algo pra limpar isso e...
–– Algo pra limpar isso? –– Me coloquei de pé –– Na verdade, creio que pretenda pegar qualquer coisa afiada e cravar em mim, não é?
–– Mas...
Não escutei o que ela disse, as únicas palavras que estavam na minha cabeça eram as de Alaska. Só faça o que deve ser feito.
Senti descargas estáticas em meus pulmões, como um nervo reagindo a um soco eu sabia o que deveria ser feito.
Interrompi todas as suas mentiras com um chute na boca do estomago, pude sentir seus pulmões liberando ar. Ela colocou a mão sobre a barriga e peguei seu cabelo e a joguei contra a mesa de vidro no centro da sala, seu corpo se projetou no ar e caiu no alvo. Vários cacos gravaram em seu corpo que agora sangrava como uma cascata.
–– O que fez com ele?! –– Gritei –– O que fez com o garotinho, e não me conte mentiras, Dapper!
Florence agarrou com firmeza um grande caco e se ergueu como uma máquina. Não consegui acreditar quando vi seu rosto: Seu olho direito estava fora de orbita, e o que deveria estar ali não passava de uma pequena bolinha de gude no chão.
Não possuía um dos olhos, como o demônio corvo que enfrentei antes de entrar.
–– Vá embora, Persona! –– Sua voz estava transformada, como um robô defeituoso. Não era humana, não era real.
Florence investiu contra mim e tentei impedir, mas parecia ter ganhado força sobre humana, com brutalidade cravou a lamina de vidro no meu ombro direito fazendo-me gritar.
–– Já mandei ir embora!
O vento da tempestade colidiu contra as janelas da casa, quebrando-as. A água da chuva entrava no recinto como se as nuvens estivessem nele.
O móvel coberto com pano negro se movia agora, e o capuz que o escondia voou quando a brisa colidiu contra ele.
Uma garota de longos cabelos negros, olhos cor de noite e pele de café estava algemada numa cadeira repleta de espinhos, sua pele sangrava e gotas de suor caiam por seu corpo.
–– Raven? –– Gritei quando Florence quebrou o cabo da vassoura nas minhas costas.
A boca da garota estava tampada, o que deveria estar dificultando sua magia ou sei-lá-o-quê, ficou obvio quando o lustre de cristal se converteu a água e caiu sobre nossas cabeças, acho que não era isso que ela pretendia.
–– Maldita seja, Persona!
Florence puxou meu rabo de cavalo e projetou meu corpo no ar, lançando-me contra a parede mais próxima, destruído um dos pilares da casa.
Minha cabeça doía e tudo girava, contudo pude pegar um dos fragmentos do pilar e esconder atrás das costas.
–– O que você é? –– Perguntei.
–– Alguém como você, minha querida Hope. –– Disse alguém.
Aquela voz me atingiu como uma bola de demolição e não pude acreditar quando ouvi, por isso me virei para ter certeza.
–– Mas o quê...?!
–– Surpresa, Hope?
Seus olhos eram azuis e seus cabelos castanhos, estava na mesma cadeira de rodas que antes o vi.
–– Heitter? –– Perguntei.
–– Olá, tudo bem? –– Disse o garoto.
–– Mas você...? Como...? Não estou entendendo mais nada.
–– Eu posso responder isso se você conseguir sair daqui viva. –– Disse o garotinho –– Titia Florence? Mate-a.
Florence se ergueu mecanicamente e marchou como uma máquina, seu único olho fitava-me com desdém, eram como se a resposta estivesse estampada em sua testa, mas não consegui ver...
Não era Florence quem estava reprogramando Heitter... Era o contrário.
Dapper não passava de mais uma escrava deles.
–– Eu não acredito que eu quis te salvar, seu filho da... –– Gritei no exato momento em que Florence me empurrou contra a parede, comprimindo meus pulmões.
O ar era rarefeito, meu peito ardia. Suas palavras se perdiam como se nunca chegassem aos meus ouvidos. As lâmpadas explodiam em nuvens de labaredas graças á Raven que continuava presa e desesperada... O branco de seus olhos foi completamente consumido pelo negro de suas íris.
Reuni o misero de forças que ainda me restava, não para combater Florence, mas para afasta-la. Meus pés estavam acima do chão, e minhas costas grudadas às paredes quando chutei seu peito com toda a força que restara, lançado-a para trás, fazendo-a tropeçar e cair nos cacos.
–– Raven... se puder agilizar seus abracadabras, preciso de ajuda aqui! –– Gritei recuperando fôlego.

♥ POV Raven Enders ♥

Meu corpo dói como se estivessem enfiando pregos em mim... Mas acho que realmente estejam.
Droga! Deram-me alguma coisa, minha cabeça roda, meus olhos piscam, o pano em minha boca não me deixa fazer nada. Hope e Florence estão se pegando há alguns metros, com sorte talvez o lustre caia na cabeça de uma delas... Oh! Ele já caiu.
A droga que me deram não me permite pensar direito, estou tentando destruir a cadeira com telecinese ou qualquer coisa parecida, minhas mãos estão presas ao ferro nas algemas da cadeira.
Ferro queima as bruxas.
O trono de madeira é rodeado por sal, que deveria anular meus poderes, mas posso focar Energia do Caos no clima e criar tempestades para nos livrar... Ou um tornado para nos matar, quem sabe.
–– Não era assim que você planejou, não é mesmo Hope? –– Debochou o garoto na cadeira de rodas –– O que você pensou? Que poderia entrar na minha casa, matar meu pai e o resto da família e sair impune? Melhore suas táticas de ataque, queridinha, melhore muito.
O rosto de Hope Lichtbringer estava encharcado de suor, seus olhos azuis que sempre demonstravam segurança e superioridade agora eram preenchidos por pânico. Seus cabelos colados ao crânio graças ao suor lhe davam uma aparência mais psicótica do que o normal. Florence Dapper havia caído no chão, mas parecia estar prestes a se recompor e revidar, seus cabelos cor de brasa pareciam intocáveis e sua pele encharcada de sangue, mas era como se ela mesma não pudesse ver isso.
Pobre mulher, não passava de mais uma serva nas mãos desses demônios.
–– Titia Dapper... Creio que está na hora de mostrar para essa garotinha mal-educada a doce e velha hospitalidade holandesa.
Florence se reergueu num salto mutante, segurava um pedaço irregular do pilar na mão direita, o que era uma vantagem, pois Hope estava desarmada. A escrava voou contra ela e tentei impedir com telecinese, entretanto doía. Sob a minha pele, dentro do sangue, parecia que alguma coisa circulava e me impedia de usar meus poderes.
E a pior parte é que sabia que essa coisa estava viva, e tentava se comunicar.
Você será nossa!; gritavam as vozes na minha mente.
–– Não! –– Exclamei –– Saia, saí da minha cabeça!
Os ventos do lado de fora sopravam para dentro. As brisas violentas já não estavam mais nas nuvens, e sim na casa... Não conseguia mais enxergar Hope, Florence ou a criança com sua enfermeira, e também não queria, pois aquela briga já não era mais minha.
O tornado agora era eu.
A garotinha tinha apenas oito anos de idade, seus olhos tão escuros quanto seu cabelo ou sua pele cor de café. Permanecia no parquinho da sua escola com crianças subindo em brinquedos ou rodando neles, se balançando em balanços e se lançado deles. A garotinha às invejava, aquele não era seu mundo e aquela não era sua vida feliz de um conto de fadas e brinquedos giratórios.
Aquilo tudo não a pertencia ela.
Ajoelhada na grande caixa de areia solitária, a então pequenina Raven Enders não poderia fazer nada quanto sua condição sozinha. Brincando com uma pequena lagartixa que então aparecera, a menina a nomeou de Cristo, sedenta por sua companhia e sua ajuda... Sentia-se sem nada.
–– Hey, Raven! Você parece um ET com pele verde e estranha, você não deveria estar aqui! –– Caçoavam as crianças, lançando montes de areia em sua cabeça.

–– Ah, Raven, você é tão engraçada. –– Disse outra –– É ridícula e seus dentes parecem os do Pernalonga.
As pessoinhas debochavam-na, elas puxavam seu cabelo, tiravam sua cadeira, não a deixavam jogar. Ninguém sabia o quanto Raven chorava quando chegava em casa, seu velho espelho presenciou orações mais sinceras do que as missas assistiu, os pedaços de granizo batido de seu banheiro foram atingidos por lágrimas mais verdadeiras que qualquer funeral que já foi.
E dói, ainda dói.
–– Eca! Olhem, a Raven Nojenta está com uma lagartixa nas mãos! –– Exclamou a pequenina Fletcher.
–– Ela irá amaldiçoa-la como seu pai fazia com todo mundo! –– Gritou Johnny.
As crianças do Colégio Yelp jogavam grandes montes de terra em sua cabeça, misturados com água e cola do kit escolar. Raven chegaria em casa naquele mesmo dia de aula e teria que explicar para sua mãe como caíra dezessete vezes consecutivas na caixa de areia até o ponto de degradar completamente seu vestido pérola recém comprado. Sua mãe a colocaria de castigo por não ter nenhuma condição financeira de comprar outro... Recolher-se-ia ao seu quarto e embaixo da coberta derramaria seu pranto.
Mas não, não dessa vez.
–– Cristo... Você pode me ajudar? –– Perguntou à pequenina lagartixa, já com seu cabelo sujo de terra.
O reptil fitava-lhe com grandes olhos escuros, sua língua sibilante saindo de sua boca e sua grande calda movendo-se como se tivesse vida.
–– Mate todos, Enders! –– Exclamou o animal.
Após isso a garotinha não soube, viu ou ouviu qualquer outra coisa. Sua consciência fora arrebatada para algum lugar e a ultima coisa que lembrara era de ter ouvido Fletcher gritando por sua professora.
Está lembrando-se desse dia, não é? Tu não estavas lá, mas sabe o que aconteceu depois disso.
–– Foi um acidente, eu juro! Eu não queria, eu não queria! Saia da minha cabeça!
Acidentes não são planejados, acidentes não são previstos e acidentes nunca dão certo. Mas esse acidente em questão deu, não deu? Uma turma inteira de criancinhas mortas, sem seus corações e com marcas de violência sexual... Mas você foi a única que sobreviveu e todos se perguntaram como.
–– Eu não sei, eu já disse, eu não sei!
Sim, tu sabes! Não és humana, não és deste mundo, demônio! Cria de Satã, noiva de Asmodeus, você as matou, não poderia ter o que tinham, não poderia ter sua humanidade. Por mais humana que pareças, sabes que não é!
–– Chega! –– Gritei pela ultima vez e tudo passou a girar.
A força do vento ao redor, os gritos de Hope e Florence, os pedaços quebrados sendo lançados aos céus junto com tudo que lhes restava.
Eu conseguia sentir, sim, eu conseguia. Tudo ao meu redor, como uma porta giratória, desde Hope e Florence brigando no escuro até as moscas nas paredes e à Enfermeira... Poderia simplesmente atacar o garotinho com a sua própria força vital, mas não o encontrava, deveria estar ao lado de Bridget, mas não estava.
Ao não ser que...
Ao não ser que ele não estivesse vivo.
Eu conseguia ver tudo o que tinha vida naquela casa, como com olhos infravermelhos isolados, desde as aranhas tecendo suas teias no porão até os cães selvagens no canil da família. A enfermeira, Florence, Hope... Tudo, menos a criança.
–– Você matou meu bebê! –– Gritou Heitter.
Abri meus olhos em tempo de ver Florence Dapper ajoelhada com sua cabeça sangrando graças a uma estaca de madeira que a atravessou, e fora Hope quem a apunhalou.
–– Isso termina por aqui, pirralho! –– Grita Hope.
Os ventos chicoteavam com tamanha força que moveis se moviam vagarosamente, arrastando-se pelo chão como forças invisíveis. Meus cabelos soltos em cachos tremulantes, a voz na minha cabeça me atormentara até o ponto que não consegui ver que o pano em minha boca havia caído.
Não faça nada estúpido, Raven!
–– Você não estava dizendo até agora que eu era estúpida? –– Ironizei.
Bridget, a enfermeira, se apoiava com as mãos nas costas do garoto incessantemente, como se não o fizesse ele poderia cair.
Hope se aproximava com passos soturnos, ma será possível ver o ódio queimando em seus olhos azuis e em sua mão trazia a mesma estaca que usara para matar Florence.
–– Afaste-se! –– Gritou Heitter –– Estou avisando... eu mandei se afastar!
A boca de Bridget se movia junto com a do garoto. Não era ele que falava, e sim ela.
Agora eu me lembro. Lembro-me de ter entrado e Srta. Dapper ter me nocauteado para que Bridget injetasse algo em mim.
Era ela a mente por trás de tudo.
–– Hope! –– Gritei.
Por alguns segundos consegui chamar sua atenção, havia uma fina linha de sangue caindo por sua testa. Seus olhos tornavam-se vazios e um deles havia se degenerado para o verde.
–– Skye? –– Exclamei.
A estaca havia caído de sua mão e seu olhar era confuso, não sabia o que estava fazendo ali.
–– Raven? –– Disse ela –– O que... Eu fiz?
Suas vestes sujas com seu próprio sangue e o daquela que matou. Lágrimas vertiam de seus olhos, talvez por causa da dor ou do medo, da culpa ou da raiva por ter perdido o controle sobre Hope de novo.
–– Ele é um boneco. –– Cochichei a mim mesma, sabendo que não fazia mais diferença.
Você perdeu de novo.
Instantes de silencio se passaram, era possível ver a tensão no ar. Skye ajoelhada sobre o cadáver de Florence em prantos, possível distinguir poucas frases de suas preces.
O silencio se quebrou com o som do impacto do corpo de madeira de Heitter caindo no chão e sua enfermeira gargalhando.
–– Seria simples demais, não é mesmo? –– Disse ela.
A mulher trazia consigo uma selvageria no andar e certa feminidade nos olhos. O modo de se mover lembrava-me as serpentes venenosas que assistia no Animal Planet.
Bridget caminhou para uma pequena mesa de aço, nela várias seringas e embalagens de remédios estavam espalhadas, ela pegou uma das seringas e encheu com um liquido transparente.
–– O que temos aqui? –– Disse ela –– Skye Delevingne e Raven Enders, não é mesmo? Uma Criança Cristal e uma Wicca, esse deve ser meu dia de sorte.
–– Eu não sei do que você está...
–– Ah, cale a boca Raven! –– Interrompeu-me –– Já não é mais hora de se fazer inocente! A Nobreza ficará bem satisfeita de saber que eu peguei uma Cristal! Eu posso até ser promovida!
–– Promovida para quê? –– Exclamei –– Sequestrar crianças, arrancar seus membros e cordas vocais até torna-las bonecas sexuais?!
–– Oi?! Meu Deus garota, acho que as redes sociais infectaram seu cérebro, é obvio que eu não faria isso! Sou uma neurocirurgiã rebaixada a ventriloquia por Eles, mas agora, ah! Agora posso mostrar meu verdadeiro potencial e me tornar uma Controladora!
As risadas dela ecoavam pela casa. Era assustadora, mesmo sendo uma bela mulher.
–– Do quê ela está falando?
Skye deixara de chorar, mas continuava ajoelhada no corpo de Florence. Seus olhos estavam vermelhos graças às lágrimas e nos encarava confusa. Esqueci sua presença.
–– Quem são ‘Eles’? O que é um Controlador? –– Perguntava a garota com ar ingênuo, mas ainda triste.
Bridget virou seu olhar para encara-la, demonstrava pena por seus olhos, porém a admirava como um animal raro.
–– Venha comigo, criança. –– Disse Bridget, estendendo a mão que não estava com a seringa.
Skye ficou de pé, mas não saio do lugar. A encarava como se pensasse se seria uma boa escolha.
–– Não vá, Skye, é uma armadilha. –– Eu disse.
–– Não escute ela, minha cara, eu tenho as respostas que você quer.
–– Não minta pra ela! –– Gritei.
Minha amiga trazia com sigo um ar de insegurança e medo, mas estava tentada a ir, eu sabia. Ela se abraçou como se sentisse frio e fechou seus olhos.
–– Você fez muito por mim, Raven, e eu agradeço. –– Disse ela –– Mas tudo o que você fez te levou para uma cadeira cheia de pregos –– Eu não me lembrava disso, sua voz fez a dor retornar. Eu estava perdendo muito sangue e precisava sair dali –– Eu quero me desculpar por tudo, mas eu estou fazendo você, Tony, Gaby e Di... Bem, ela está morta. Estou me afastando para não matar vocês.
Skye se aproximou da enfermeira e estendeu a mão.
–– NÃO! SKYE, O QUE FIZEMOS FOI POR VOCÊ, NÃO PRECISA SE DESCULPAR! VOCÊ NÃO ENTENDE!
–– Não... Ela não entende. –– Disse Bridget –– E eu vou mostrar a ela tudo o que precisa ser mostrado.
A mulher agarrou a mão dela e com um grito injetou a seringa em meu pulso. A dor lactante subiu por ele e tentei segurar o grito, mas era mais forte que eu e ele saiu. Alto e claro.
Ela se entregou, e eu também.

♠ POV Tony Gottes ♠

Eram 16h37min da tarde quando eu e Liz chegamos ao aeroporto. Minha companheira deu um salto bruto do carro, já dando ordens ao motorista para levar nossas malas.

Ela usava um enorme chapéu negro e um vestido cor de vinho colado ao corpo, seus saltos plataforma rubros e um par de luvas da mesma cor. Eu me vesti com a primeira coisa que encontrei no armário.
–– Vamos Anthony, não temos tempo! –– Ela exclamava, correndo o mais rápido que eu já vi com um salto.
–– O avião pra Amsterdã sai daqui a duas horas, não adianta ter pressa!
Liz estava agitada desde a noite anterior, quando fizemos os preparativos para a viagem. Estávamos em busca de Skye em algum lugar de Amsterdã, e ainda não conseguia crer na história que havia me contado.
–– Foda-se que ele só chega em duas horas! Pessoas ricas não ligam pra tempo, Tony.
Entramos em disparada pelas portas do aeroporto, tendo um motorista soterrado por malas em nosso encalço. Todos os futuros passageiros fitavam-nos com olhos curiosos, como a atração principal do circo.
–– Pra que tanta pressa? Vai devagar! –– Gritei.
–– Não temos tempo a perder! O jato particular da minha família está nos esperando no Portão Nove, é agora ou nunca Anthony!
Tropecei no meu cadarço e dei de cara no chão, pude ouvir risadas de algumas garotas sentadas a uns metros de distancia.
–– Jato particular!?
–– Obvio! –– Exclamou Liz –– Qualquer Devonne que se preze tem seu jato particular! Agora se recomponha.
–– Não até me explicar o motivo de tanta pressa! Eu sei que estamos indo atrás da Skye, mas você não...
–– Ela vai morrer! Você não entende!
O aeroporto inteiro parou. Os empregados levando malas pararam, os beijos de amantes apaixonados pararam, as vozes conversando pararam e as pessoas nos encaravam.
Pela primeira vez vi Liz sem graça.
–– Hum... Ehhhh... É suicídio social! –– Ela exclamou –– Ela vai morrer socialmente se usar aquelas botas horríveis que não têm nada haver com a bolsa! É ridículo!

Algumas pessoas deram gargalhadas e outras suspiravam, achando que não se tratava de nada demais além de uma patricinha ridícula e escandalosa.

Liz caminhou lentamente e se ajoelhou, falando em um tom tão suave que somente eu poderia ouvir.
–– Ela pode morrer se não a encontrarmos.
–– Por que você acha isso? –– Perguntei –– Quero dizer, eu entendi toda a parte de tripla identidade e tals, mas creio que não é tão extremo ao ponto de...
–– Somos programados para o suicídio. –– Disse Liz.
–– O quê?
–– Suicídio. –– Repetiu –– Quando um Escravo Monarca descobre que está sobre programação ele deve se matar. É algo incontrolável.

–– Mas... Liz... –– Não consegui falar, a ideia parecia-me ser tão repulsiva e inacreditável –– Você... Sabe. Você sabe, então...?
–– Está ficando cada vez pior, Tony. Você não entende, mas é uma voz na minha cabeça me dizendo que talvez se eu me atirasse da escada... Ou talvez se eu quicasse numa faca...
–– Não repita isso! –– Exclamei –– Você tem que se controlar! Você pode vencer isso!
–– Estou tentando... Eu estou, eu juro. Acho que, devido ao fato de eu ser uma Índigo, ainda consigo controlar isso, mas não sei por quanto tempo... A ideia da morte me parece algo tão... –– Liz parecia estar buscando a melhor palavra quando se trata de suicídio –– Doce.
–– Mas a Skye é uma... Criança Cristal, não é? Isso quer dizer que ela pode resistir, não é mesmo?
–– Não sei ao certo. Talvez sim, talvez não... Talvez seja o ponto fraco dela, mas não quero descobrir.
Liz Devonne ficou em pé, acenou para o motorista seguir viagem e me estendeu a mão.
–– Ela está no ninho de cobras. –– Disse –– E às vezes a verdade nos feriu como um veneno aos nossos olhos e ouvidos. A verdade é necessária, mas às vezes pode ser simplesmente atirada pela janela. Você vem?
Desta vez não havia o que pensar, o que fazer, o que perguntar ou exclamar. Definitivamente minha amada Skye estava correndo risco de vida, e eu não sabia quem ou o quê eram os Monarcas aos qual Liz se referia. Mas eu iria enfrenta-los, custasse o que custasse.
Respirei fundo, peguei sua mão e me deixei levar.

♦ POV Skye Delevingne ♦

Raven Enders convulsionava devido à coisa que a mulher lhe injetou, seu corpo tremia e salivava pela boca como um cão feroz.
–– Ai Meu Deus do Céu, o que você deu pra ela? –– Gritei indo em direção á minha amiga, dando-lhe dar tapas, mas ela não saia daquele estado –– O que você fez com ela?
–– Absolutamente nada, Skye. –– Respondeu –– Apenas dei algo que irá mantê-la calada. Agora vem comigo.
Ela me segurou pelo pulso, mas eu não queria ir, entretanto era mais forte que eu. A mulher jogou-me contra o sofá e me forçou a sentar.
–– Você não queria respostas? Então as terá. –– Disse –– Seu pai... Qual era o nome dele mesmo? Ah! Robert Delevingne, não é? Bem, não importa. De acordo com o que eu ouvi, seu pai fora convocado pelos Monarcas ainda jovem e seu primeiro papel era invadir e matar uma pequena família texana... Qual era o nome da família mesmo? Mercury? McCurdy? Bem, eu realmente não me lembro.
A mulher foi até a mesinha de aço e pegou um livro de couro marrom cheio de pó e o soprou.
–– Acontece que os Monarcas encontraram um grande potencial em um dos membros da família. –– Disse, abrindo um livro e mostrando-me a fotografia de uma criança –– O nome dela era Divine... Ou seria Jennette? Creio que fosse Stella... Mas bem, não vem ao caso também. Essa daí é você pirralha, a tal Jennette-Divine-Stella-Seiláoquêmais. Linda, não? Você era heterocrômica desde pequena graças a sua mãe, Carrol, que tinha a mesma mutação.
A garotinha, quero dizer, eu estava com fraudas e rindo para a câmera. A imagem era ruim, típica de uma câmera texana do ano 2000.
–– Você foi identificada como uma criança Cristal... Pra ser sincera eu nem sei que demônio é isso, só sei que você é, e daí, após matarem sua família decidiram que você seria útil.
Deixei o livro cair no chão, minha testa suava frio enquanto Raven ainda convulsionava.
–– Matar... minha família?
–– Sim tolinha! –– Disse ela pegando um copo de suco avermelhado numa bandeja no sofá que ainda estava inteiro, já que toda a sala havia sido destruída –– Não me pergunte o porquê, mas mataram sua família e te levaram, você foi criada como filha de Teresa e Robert. Quer suco.
Fiquei de pé, minha cabeça doía. Não conseguia acreditar.
–– Eles mataram... Mataram minha família e você fala isso com essa naturalidade!? Você é doente!?
–– Claro que não, bobinha! Acontece que no meu trabalho aprendemos a lidar com esse tipo de...
–– Por quê? Responda-me só isso: Por que eu? E por que Robert? O que querem comigo?!
A mulher ainda degustava seu suco e parecia não se importar se estava abalada ou não.
–– Simples, minha cara: Reprogramação Monarca. –– Respondeu –– Até onde eu saiba, as Crianças Cristal reagem de forma diferente à programação e simplesmente não podem ser controladas. Bem, com você não foi diferente.
–– Reprogramação...?
–– Monarca. M-O-N-A-R-C-A! Estupro, tortura psicológica e física... Coisas do gênero! No fim temos um escravo pronto para seguir regras cegamente, acontece que crianças cristal não reagem da mesma forma e acabam gerando Múltiplas Personalidades, ou Alter-Personas. É o seu caso com a Hope e, se não me falha a memória, provavelmente existem mais pessoas vivendo dentro da sua cabecinha. –– Disse ela batendo levemente na minha testa como se fosse uma porta –– Alô? Tem alguém aí? Toc toc!
Dei um tapa em sua mão e me coloquei de pé. A ideia me parecia tão absurda que só queria pegar a mão de Raven e ir embora, procurar Callum, meu psiquiatra, e me tratar. Essa mulher era louca.
Minha cabeça doía e tudo parecia girar como nas outras vezes.
–– Eu vou embora. –– Eu digo –– Tire Raven dessa cadeira agora ou...
–– Saí da minha cabeça! –– Raven gritou.
Seu corpo que havia relaxado agora voltava a ter espasmos, sua boca estava branca de saliva e seus olhos fitava-nos como um animal selvagem.
Corri em seu auxilio.
–– Raven?! Raven, minha amiga, se segura, eu vou te ajudar! –– Digo, forçando as algemas em seus pulsos, mas não quebravam. –– Me ajuda! Tire-a daqui agora mesmo!
A mulher deixou escapar uma risada animal que fez gelar minha espinha. Aquela risada lembrou-me a risada do padre que exorcizara Josh.
–– Sua cabeça está doendo, não é mesmo Skye? Isso tem relação com sua programação, mas não se preocupe, deve passar. Você é uma Cristal, provavelmente agora que sabe, não irá fazer o que é programada.
–– Saia! Saia da minha cabeça! –– Gritou Raven.
Eu não precisava que aquela vagabunda me contasse para o que eu era programada, pois eu sabia. Era como uma voz interior, como se minha consciência estivesse falando e me dando instruções.
De repente a ideia de cortar meus pulsos não me pareceu tão ruim.
–– Sai! Sai da minha cabeça! Eu não vou ouvir vocês, saiam! SAIAM!
Um forte vento tornou a soprar dentro da casa e as portas se fecharam.
–– O que está acontecendo?! –– Gritei.
–– Eu não sei! Não era pra isso acontecer.
Uma nuvem de fumaça negra surgiu no forro da mansão me se contorcia como se tivesse vida. A nuvem começou a lançar relâmpagos e a ventania piorou, logo estava chovendo lá dentro.
Raven abriu seus olhos, estavam completamente vermelhos.
–– EU MANDEI VOCÊS SAIREM DA MINHA CABEÇA!
Senti que algo me acertara, meu corpo foi lançado contra a parede por uma força invisível, mas a mulher de vermelho permaneceu no mesmo lugar.
–– Ah, Enders, os arquivos me trouxeram o quão esquentadinha você poderia ser. –– Disse a mulher, indo em direção à mesa de aço –– Acontece que eu estou preparada para pessoas como você.
Ela estava prestes a colocar as mãos em outra seringa, mas a mesa foi arrebatada contra o vento e todo o seu conteúdo se espalhou.
–– Oh, não. –– Cochichou.
–– OH, SIM! –– Gritou Raven –– VOCÊ NUNCA MAIS VAI ENTRAR NA MINHA CABEÇA!
As taboas da casa se soltavam e rangiam, os pilares caiam no chão coma força do vento e os cacos de vidro se erguiam como em gravidade zero.
Os pulsos de Raven ficaram livres quando as algemas voaram magicamente. A mulher de vermelho tentou, porém parecia que mãos invisíveis a seguravam quando seus pés saíram do chão.
–– Na minha cabeça você não entra. –– Disse Raven.
A mulher gritou como se laminas a atravessassem e uma nuvem de pó se ergueu... A ultima coisa que me lembro foi da enfermeira sendo fulminada no meio do ar e a dor do impacto do meu corpo com o chão.


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