Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 29
Preso às Cinzas


Notas iniciais do capítulo

Boa Noite povo bonito, exceto uma pessoas ae. Tudo bem com vocês, kengas? Que bom, não tenho nada a dizer sobre o capitulo, eu iria embutir dois no mesmo, mas to com preguiça então fiquem com esse e o mais rápido possível posto outro já que não tenho nada a fazer devido a férias.
Beijos, tio Marco ama vocês.



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Estou à beira de voltar ou apenas fugir, estou me permitindo olhar de outra maneira e a parte mais difícil em tudo isso é que eu não acho que conheço o meu caminho de volta. Vale a pena a jornada ou eu posso deixar meu coração resolver nesse momento?
As regras eram tão simples, mas pareciam ser tão complexas. Alguém uma vez me disse que um bom soldado deve cegamente seguir regras, entretanto, porque não poderia ser um bom soldado?
Rua Bloemen, no cruzamento da terceira avenida, casa 647. Eu entraria na casa dos Dapper e só sairia depois que fizesse um estrago em suas vidas. Tão simples.
–– Patética. –– Disse Skie.
–– Não me chame de patética, estou fazendo algo bom, afinal. –– Retruquei.
–– Ah, óbvio que está. Caminhando para a casa de uma família pretendendo matar todos que ver pela frente, o que há de melhor que isso?
–– Não abuse de ironia comigo, Delavigne.
Virei à esquina, a primeira casa tinha por número 590.
–– Poderíamos fugir. Olhe quanto dinheiro Faith nos deixou! –– Disse a garota –– Poderíamos esquecer o plano de vingança, dar meia volta e reconstruir a vida. Fazer tudo diferente, mas por favor Hope, não se torne um monstro pior do que eles são.
Casa 612.
Quão frio eu me tornei? Eu não queria te perder pelo o que eu fiz.

–– Você não entende, não é mesmo? –– Perguntei –– Você não entende e nunca entenderá.
–– O que há para entender Hope? Esqueça isso! Apenas esqueça!
–– Você é real, Skie. Você existe, tem um corpo próprio e sentimentos, uma família brutal, mas que não deixa de ser sua família. Foi criada correndo atrás de pássaros, enquanto eu estava presa em algum lugar em sua consciência tendo que enfrentar demônios, vultos, medos... Coisas inumanas que você nem ao menos poderia imaginar. Você não é um complexo de personalidade, muito menos algo que não deveria estar aqui... É uma pessoa, e eu não sou.
Casa 623.
–– Não entendo. –– Disse Sky –– Não entendo qual o sentindo. Tudo isso está acontecendo por que você... Não existe?
–– Não Skie. –– Passamos pela casa 631 –– Isso está acontecendo por que fui criada para que isso aconteça. Você cresceu ouvindo sua mãe dizer que tudo tem um propósito e indiferente de todas as mentiras dela, isso é fato.
O corpo dela tremeluzia como um holograma prestes a desligar-se, sua voz parecia estar a quilômetros de distancia. Estava se perdendo.

Casa 647.
–– Nos vemos depois, Delavigne.
Seu corpo tremeluziu para depois desintegrar-se. Caminhei até o portão da pequena casa azul, simples, porém aconchegante. Quantos diabos poderiam habitar aquele lugar?

Passei pelo imenso jardim mansonário repleto de violetas, uma pequena palmeira crescia no meio dos lírios e pude ver duas belas borboletas se esbarrando em cima de lisses.
Borboletas Monarcas nos perseguiam.
Bati na porta de vidro, porém ninguém veio. Apertei a campainha, esperei alguns instantes antes, mas não havia ninguém.
Preso às cinzas.
–– Mate o palhaço, ele é tão falso!
Virei-me, mas nada vi. Sombras das palmeiras sobre a casa criavam vultos inimagináveis, a luz da tarde era forte como de vários sóis queimados, enquanto fantasmas de pássaros se erguiam acima de nossas cabeças.
–– Mate o palhaço! –– Disse o corvo.
Aves germinavam da terra, as folhas dos pinheiros tornavam-se penas negras de fixe. Dos espinhos das rosas surgiam garras, e seus frutos transformavam-se em bicos pontiagudos e afiados, o cheiro de suas pétalas fora substituído pelo odor de carniça e o verde se degenerou ao vermelho sangue.
–– Vão embora! –– Gritei.
As criaturas continuavam marcando o céu em forma de borrões. Multiplicavam-se como uma praga, até que um deles me acertou.
E conseguiram me irritar.
Não era mais possível ver a luz do Sol quando outro corvo voou para cima de mim, ameaçando com enormes olhos negros. Interceptei-o em pleno voo e depois arrebatei sua cabeça.
Uma nuvem deles se formou, batendo suas asas com tamanha força que meu chapéu foi levado pelo alento do vento. Senti que um havia arranhado minha coxa e outro minhas costas, iam e vinham o mais rápido possível, pois os mataria se demorassem em fugir. Um deles se lançou contra meu rosto, mas desviei antes, quando outro se ergueu e gritava meu nome.
–– Hope! Hope! Hope! –– Cantavam eles, e só agora percebi o quão irritantes pareciam.
A nuvem de pequenos demônios elevou-se cada vez mais, e já não estavam espalhados, e sim unidos na frente do Sol como num eclipse, que na mesma escuridão frívola ainda era possível ver a pouca claridade alva.
E as bestas pareciam se unir em um só corpo.
Tente se lembrar de quando comprou uma bala e a deixou cair e note que nos próximos minutos as formigas impregnariam o doce. Então pense, pois era isso que os corvos faziam. Como uma praga se envolvendo em plantações, como uma minhoca banhada em sal, as criaturas se contorciam em um embolorado junto.
Do aninhado surgiram asas formadas de corvos, mas eram como se os animais estivessem se tornando um liquido preto e se unindo numa única criatura. Dali brotava braços e em seus topos enormes mãos humanas com garras gigantescas, pernas de homem sem genital alguma e um abdômen definido. Em sua mão se erguia uma enorme espada prateada com uma pedra preciosa cor de sangue cravada em si. Seu rosto era belo e rijo de um jovem homem, mas não tinha cabelos ou nariz. Nem o olho direito.
–– Pelas graças dos demônios, vós não podes entrar neste recinto, Persona. –– Sua voz era como de vários trovões roncando, mas continuava áspera como de um animal.
Seu único olho era escarlate e me acompanha a onde quer que eu fosse.
–– Quem és tu? –– Perguntei.
Quem és tu? Eu jamais diria algo do gênero em sã consciência.
Eu não quero ter que olhar em seus olhos, você pode me mandar embora e não quero lhe dar a chance de me fazer permanecer.
–– Este não é seu lugar e esta não é sua vida, Persona! Vá e não voltes mais. –– Disse –– Ou por todos os teus pecados e por todos os teus crimes, serás tomada!
As árvores se ergueram mais alto e se moviam como se tivessem vida. As raízes de uma delas saiu do chão como um braço, e suas copas apontavam para mim como se me vissem. As asas do homem arrebatavam meu vestido preto como a famosa cena da brisa no metrô de Marilyn Monroe.
Uma das raízes se ergueu e voou contra mim, por alguns micrômetros não perdi minha cabeça. Corri enquanto o demônio entoava cânticos e as arvores me atacavam.
E a parte mais difícil disso tudo isso é que eu conheço meu caminho de volta. Eu não quero ir e te deixar, e ver tudo o que me tornei.

O homem alado gritava, de sua boca foram expelidas revoadas de corvos. As aves me cercavam e me cegavam, senti que um deles havia me pego e arrancado parte da carne da minha panturrilha, outro alcançou meu pescoço e agora bicava minha nuca.
O resto da revoada planava ao meu redor tentando me abater, me confundir. A situação seria simples de driblar se não tivesse ouvido a voz de Tess.

–– Maria Madalena! Arrependa-se de seus pecados! –– Disse a voz.
Senti a mesma dor de quando a mãe de Sky a chicoteava para manter orando. Mas dessa vez foi mais forte, e foi mais intensa e mais real.
–– Pelo homem que ousaste furtar, tu vais pro Inferno! –– Disse ela.
Os pássaros me perseguiam, suas voltas me davam dores de cabeça. Suas garras e bicos fincados em meu corpo como de um Cristo sendo crucificado.
Eu era o filho de Deus.
Eu deveria saber, eu deveria saber, mas não tive a chance.

A voz de Tess se erguia pelos meus tímpanos como unhas arranhando uma lousa, até que percebi que eram eles. Os corvos.
–– E pelas palavras vãs que tentaste contra o criador, seu corpo será lançado na merda enquanto estamos no trono!
Quão frio eu me tornei? Eu não queria te perder pelo o que eu fiz. Preso às cinzas.

–– Chega! –– Gritei, porém estavam me consumindo viva, meu corpo apodrecia enquanto me devoravam.
–– Chega! –– Gritei –– Chega! –– Meus pulmões ardiam, e estava com medo –– Chega! –– Como um porco dos quais os homens querem distancia –– Chega! Chega! Por favor, chega...
Incendeio por um momento, mas em seguida isto lhe adormece, o leva e deixa apenas preso às cinzas.

Até que a verdade me atingiu como uma bola de canhão e pude notar meu erro, e perceber o mundo invisível: Nada daquilo era real.
Os corvos eram fruto da imaginação de Sky, da mesma forma que as vozes intimidadoras de sua progenitora, da mesma forma que as arvores não possuíam vida. O homem era de lata, sem coração, sem cérebro, sem coragem, sem liberdade como Oz.
Tudo era uma ilusão.
Você me diz: “Na sua dor mais profunda, em seu momento mais fraco, na sua noite mais escura tu és amável.”

E então me coloquei de pé enquanto os demônios fincavam suas unhas contra meu corpo pútrido. Ergui minha cabeça aos céus, como quando aprendi a orar, mas não queria ajuda divina.

Meu corpo liberava energia na forma de luz e calor, e minha força vital consumia o oxigênio. Os gases em alta temperatura liberavam CO2.
Eu era formada de fogo.
As aves se afastaram com receio de se queimar, tudo ao meu redor girava como uma poça d’água evaporando. E como Savanah Barnes, eu consumiria a alma das pútridas com minhas chamas. Estava ardendo em flamas e me destruindo, enquanto perecia o mundo a derredor perecia comigo.
Gritei de novo, mas não pedia socorro. As folhas das arvores eram devoradas pelo meu inferno particular e suas raízes degeneravam ao pó, os pássaros se convertiam às cinzas e quase pude ver a paisagem de medo se dissolvendo e tornando a realidade.
São todos mentirosos, querido.
Na sua dor mais profunda, em seu momento mais fraco, na sua noite mais escura tu és lindo.”

O homem alado fitou-me com seu único olho escarlate, gritou como se espinhos perfurassem sua pele até ser consumido pelo fogo junto com toda a paisagem.
–– Você é louca?! –– Exclamou uma mulher loura que saia pela porta da casa –– O que está fazendo em cima das minhas flores?
Olhei para meu encalço e me vi esmagando um montado inteiro de rosas brancas, mas virei-me para ela, deveria ter uns 40 anos de idade.
Minha cabeça doía, meu corpo tremia devido à visão, mas ainda pude sorrir.
–– Senhora Dapper? –– Perguntei.
Estou à beira de voltar ou apenas fugir.


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