Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 22
Borboletas Num Aquário


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, eu não to bem. Esse capitulo está, sei lá, um pouco forte demais, porém não liguem. Bem, recebi quatro fanarts das divas da Lilith, Duda e Ane. Entrem no meu Tumblr (que está na minha descrição de perfil) e vejam lá. Eu só não coloco aqui por que a net ta lenta e não ta abrindo.
Não se esqueçam da surpresa dia 31, bae.



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O que é isso? Para onde está me levando?
Meus pensamentos ecoavam pelas paredes da minha mente como um grande eco, um som multiplicado e fraquejando, indo e se degenerando para uma direção ao qual não sabia dizer onde.
Tudo estava escuro como se estivesse com pálpebras fechadas, contudo me sentia como se estivesse numa montanha russa que ia cada vez mais rápido, como se estivesse num carrossel desgovernado e meu estomago estivesse prestes a sair do corpo.
Porém após ver aquelas cenas, eu preferia que realmente estivesse.
O barulho de gostas d’água caindo sobre poças e ecos de vozes que nunca soube de onde vinham. Pelo menos não até agora. Correntes sendo arrastadas e gritos sendo soltos, ratazanas gigantescas passavam por todo o lado e o corredor frio ganhava a aura cada vez mais sinistra. E eu o reconheci. Frio e úmido com várias poças d’água refletindo a luz fantasmagórica.
Por vezes chamado de A Sala do Pesadelo. O mesmo lugar em que o Palhaço a matava. Porém dessa vez eu podia ver as cenas claras como cristal, e pela primeira vez em minha vida, preferi que meus olhos saltassem das orbitas e meus tímpanos parassem de funcionar.
Celas, várias celas e masmorras espalhadas por todo o lado. Crianças nuas presas em correntes e vários palhaços distribuídos por todo lugar, dando-lhes chibatas e obrigando-as...
Uma garotinha negra de cabelos pretos e olhos verdes estava ajoelhada ao lado de três Deles em sua cela. Estava sem roupa e deveria ter nove anos de idade, um deles pegou um saco com um liquido amarelado e com pedaços marrons e colocou no tubinho na garganta da garotinha, obrigando-a a beber.
Sim, merda e urina. A garota estava bebendo merda e urina.
Tentei ajuda-la, porém uma mão me segurou, impedindo-me de ir ao auxilio da criança.
– Não tenha pena dos mortos, Sky. Tenha pena dos vivos, e principalmente daqueles que vivem sem amor. – Alaska estava citando Dumblendore enquanto segurava meu pulso.
– Não! – Gritei mais alto do que meus pulmões e cordas vocais me permitiam – Eles vão mata-la! Eles vão! Eu preciso ajuda-la, me solte, por favor me solte!
Alaska usava a habitual roupa branca, cabelos castanhos escuros perfeitamente lisos e uma touca na cabeça e um guarda-sol branco que combinava com as luvas. Mesmo sendo uma criança, a garota era forte. Muito forte.
– Você não pode ajuda-la. – Disse ela – Não pode ajudar nenhum deles. Eles estão mortos de certa forma. Todos eles estão. Estamos tendo um vislumbre de cenas que aconteceram há 10 anos, Skie.
Eu não estava me sentindo bem, fechei os olhos para que a cena fosse embora. Porém tive que conviver com o que vi pelo restante da minha vida.
– Venha comigo agora. – Ordenou Alaska.
Passávamos por eles como se não estivéssemos ali. Atravessávamos objetos sólidos e áugures cruéis, paredes pareciam não estar ali quando sobrevínhamos sobre elas. Na verdade aquilo não era real, de certa forma não era.
– Onde estamos? – Perguntei.
– Bem, isso depende. – Respondeu Alaska – Esse lugar deixou de existir há algum tempo, mas mesmo assim continua de pé e você o visita sempre que pode, mesmo eu te mandando embora. Garota insistente.
Entramos por um corredor estreito onde um pequeno cartaz estava pendurado, nele os grandes dizeres estampados: “Bem-Vindo à Azazel Circus, onde todas as luzes podem te ofuscar e fazer cair.”
Cair. Uma bela apologia à queda dos anjos que se tornavam demônios devido à luz das mentiras de Lúcifer.
– Ai meu Deus... – Sussurrei.
Entramos por outro corredor e outro, parecia ser uma cidade subterrânea abaixo do circo.
– Esse lugar sempre te fascinou. Você pode não se lembrar, mas aqui estão mais lembranças do que sua fragilidade te permite lembrar. E sim, existem motivos para você não se lembrar.
Chegamos a uma enorme sala circular feita de tijolos, uma enorme escada estava posicionada em seu centro.
– Agora subimos? – Perguntei.
– Não. – Respondeu Alaska – Apenas olhe para o buraco.
Olhei para cima a tempo de ver o buraco que deveria levar ao circo. Olhei de novo e pisquei, parecia que ele estava se aproximando, descendo. E descendo e descendo.
Gritei quando, de alguma forma, havíamos parado no térreo.
Olhei para Alaska que estava bela como sempre, entretanto minha cabeça doía.
– Quando irá me ensinar essas paradas maneiras? – Perguntei.
Ela riu, mas pareceu uma risada obrigada, forçada. Falsa como de um palhaço.
O cômodo era grande e possuía espelhos. Vários espelhos distribuídos por todos os cantos, porém nenhum reflexo.
Vários homens usando ternos e óculos escuros estavam espalhados por todos os cantos, no centro uma garotinha loira de pele pálida e olhos heterocrômicos estava amarrada em uma mesa.
Eu. A garotinha do sonho era eu.
– Acho que esta na hora do show. – Disse um deles que sorria sadicamente, parecia ser o chefe e estava sentado em uma espécie de trono. Em seu terno branco, no lado esquerdo do peito havia uma crachá escrito Keizerlijke Prins.
O Príncipe Imperial.
Um palhaço surgiu detrás de um dos espelhos e a garotinha começou a gritar.
– Alguém faça essa criatura calar a boca! – Gritou o Prins.
Um dos homens pegou um pedaço de pano e amarrou minha boca.
– Faça seu trabalho. – Disse o Prins ao palhaço.
O palhaço se direcionou a mim e começou a rir, se ajoelhou entre minhas pernas e começou a lamber meu clitóris enquanto me debatia e tentava chutar sua cara, porém de nada adiantava.
E de certa forma seu rosto pintado parecia ser familiar.
A garotinha, ou melhor, eu chorei quando ele posicionou seu órgão na entrada do meu órgão e forçou a entrada, vi meu reflexo no espelho, distorcido, estranho, feio.
– Para! Para! – Gritei.
Queria sair dali, queria deixar de ver aquilo. Queria voltar a ter o sonho com o palhaço e fazer com que aquela cena se dissipasse voltar à sala escura e correr atrás da garotinha para que o palhaço não a pegasse. Eu nunca soube o que acontecia com ela depois que eu acordasse... Pois bem, agora sei. Sei, sei e sei, contudo preferia não saber.
– Eles não podem te ver. – Disse Alaska, enquanto olhava vidrada aquela cena – Você não pode impedir o futuro ou alterar o passado.
Ela citou Os 13 Porquês. O que ela queria? O que todos queriam?
– Você não se sente mal? – Gritei. Não sei direito pra quem, apenas gritei – Pare! Me solta, solte ela! Alaska me ajude!
– Eu não posso Skie. – Respondeu ela – Isso é uma lembrança que podemos acessar. Não se pode mudar o passado, eu te disse.
Não. Aquilo não estava acontecendo. Várias crianças corriam e gritavam de dor enquanto estavam presas. Como borboletas. Borboletas presas em aquários, tendo sua beleza drenada e perdendo o dom de voar.
Borboletas Monarcas.
– Está doendo! – Eu disse e agora me ajoelhei, senti que as lágrimas iriam descer. Não, elas não iriam. Não hoje, não agora.
Minha versão menor gemia de dor enquanto sua genital sangrava.
– O que eles são? – Perguntei á Alaska – O que são e o que querem? Responda-me!
– Eram deles que eu, Hope e Glass tentávamos te salvar. Hope está os matando. Um por um e começou isso há cinco anos, matando o palhaço. Ele era tão falso, Skie, tão falso.
O palhaço. Aquele que me estuprou, aquele que estava fazendo aquilo na frente de meus olhos agora mesmo.
– Quem é ele? – Perguntei – Você disse que Hope o matou há cinco anos, porém não me lembro disso. – Fiquei de pé e me recompus – Quem é ele?
Alaska apontou para as costas do palhaço.
– Veja por si mesma.
Sim, ele me parecia familiar de certa forma. Peruca vermelha e muito pó branco, era isso que vi quando me aproximei. Tirei meus olhos da garotinha e do ato e foquei em seu rosto. Eu reconheceria aqueles olhos verdes em qualquer lugar. Reconheceria o sorriso do homem que era meu herói e suas covinhas que sempre admirei.
– Papai? – Perguntei.
O palhaço desapareceu, os homens desapareceram, os espelhos desapareceram junto com Alaska.
Eu estava de volta no manicômio, com a mesma roupa e vestes sujas de sangue, ajoelhada, com medo e com frio, minhas pernas haviam fraquejado e os seguranças me cercavam.
– Peguem-na com cuidado. – Disse Callum que os acompanhava.
Dois deles me puxaram pelos braços com força. Bem, Hope deve ter se ocupado enquanto tinha a visão.
Tudo fazia sentido agora. Tudo!
Meu Deus, como não vi a verdade na minha frente esse tempo todo?
Glass. Essa era a terceira delas.

Hope representava o ódio e a sede de vingança, a esperança de uma vida melhor. Alaska se isolava da mesma forma que o Estado do Alasca na América, sozinha de certa forma, era a minha certeza e meu orgulho, representava a criança bela e normal que nunca pude ser, que eu nunca poderia. E Glass. Era a garotinha. Representava meus medos e inocência perdida naquele dia, e mesmo que não me lembrasse, fora ela a primeira que conheci. Conheci no pesadelo. E era com ela que ficavam todas aquelas lembranças, e era por isso que sempre que a vi estava chorando. Representava minha inocência... E minha inocência estava morta.
Papai. Meu papai, que sempre me carregou nos braços, que fora meu herói e me ensinara a andar de bicicleta. Papai, o membro mais fiel da igreja e amado por todos, fingia ser o que não era. Ele era mau, muito mau.
Hope o matou. Naquele dia de chuva ela se manifestou pela primeira vez e saiu em meio aos raios e à água, por isso que meu quarto estava molhado na manhã seguinte, foi de encontro com meu pai e soltou os cães nele.
Os policiais haviam dito que encontraram mordidas humanas em seu corpo.
Minha mordida, os meus dentes. Meu primeiro canino estava mole n dia seguinte.
Meu pai era o palhaço, e o palhaço foi morto. Era sínico e cruel.
Era tão falso.


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