Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 13
Deixe as Luzes Acesas


Notas iniciais do capítulo

Gente! Cheguei com mais um capitulo semanal de Hope.
E hoje trouxe comigo duas enquetes: 1) O que acharam da nova capa de Hope? Sério gente, eu preciso que me respondam se gostaram mais dessa ou da antiga. 2) Leriam uma fic onde a Raven Enders é a protagonista e eu abordo mais o futuro dela logo após os eventos de Hope?
Bem gente, fico por aqui, então por favor me respondam.
Dedico a leitora Lady Scarllat Champoudry



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Quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017.

Eu estava vendo tudo, porém não estava. A “tela” estava embaçada, se movendo, tremeluzindo, como uma visão debaixo d’água. O áudio era abafado pelas marés, mas eu quase podia distinguir as frases.
Parecia ser um quarto, os borrões não permitiam a distinção de detalhes, mas pude ver uma grande cama, as paredes eram brancas e vermelhas, com um grande espelho no teto, junto á um ventilador. No centro do quarto era possível distinguir o desenho do corpo de uma mulher, usando o que parecia ser uma lingerie vermelho rubro. Um homem sentava na cama com pernas abertas, sua camiseta social desabotoada permitia ver seu peito e abdômen definidos, suas mãos estavam nas costas e um grande sorriso malicioso estampava seu rosto.
A música erótica começara a tocar e a mulher tirava as poucas peças de roupa que ainda possuía. Soltou seu rabo de cavalo, deixando cair longas madeixas cor de fogo. Começou a dançar sensualmente como uma meretriz, pegou um pequeno chicote e montou no colo do rapaz, dando pequenas chicotadas em seu peito nu.
A prostituta tirou o sutiã, ficando somente com a minúscula calcinha, mostrando em suas costas um grande desenho de asas negras que iam desde os ombros até a cintura.
O homem começou a fazer um movimento com a cabeça nos peitos da moça, parecia lamber suas mamas enquanto a “dama” gemia como uma cadela no cio, dando pequenos ataques com o instrumento em suas costas.
– Vem garotão... – Gemia a mulher.
Por um momento juro que vi as asas se moverem, quase como se batessem pedindo pra sair. Quase como asas de corvos.
– Piranha me mostre o que sabe. – Provocou ele.
Os olhos azuis da dominatrix brilharam em tons escuros, claros e principalmente selvagens. Eu soube em instantes que já não havia mais uma humana naquele corpo.
Ela pegou e o deu contra o peito do homem, liberando uma pequena linha de sangue. O homem parecia estar lancinado.
– Ai, gatinha, vai devagar, amor. – Disse ele.
Mais uma vez a meretriz o chicoteou, dessa vez com mais força.
– Mas o que...
– Você o ajudou. – Disse ela, e por alguma razão eu soube que já havia ouvido aquela voz.
– O quê...?
Ela pegou uma fita isolante e tapou sua boca, ficou em pé na cama atrás dele.
– Você já fez demais, Valesquez.
E com isso o chicoteou.
O homem tentou correr, mas estava algemado tanto pelas mãos quanto pelos pés. Por isso suas mãos estavam nas costas desde o inicio.
– Cale sua boca, nós podemos ser um pouco mais piedosas.
Tentei de toda maneira ver seu rosto, porém a “água” em minha vista impedia. O homem chorava de dor.
– Onde você estava quando aquele desgraçado nos matou!? – Gritava ela, dando-lhe mais um ataque.
– Onde estava enquanto ele entrava na sala de espelhos e destruiu a nossa vida?
Mais uma, e mais uma e mais outra.
O sangue do homem respingava nas partes brancas da parede, e como uma arte pré-histórica sodomita deixava ainda mais a aparência macabra.
Lágrimas de sangue vertiam os olhos azuis dele, isso eu podia distinguir. Ela desceu da cama, dando passos curtos e lentos como os de um gato. Entre as linhas turvas distingui um sorriso demoníaco. Um sorriso de satisfação. Parabéns, vingança concluída.
– Te vejo no inferno, amor.
Com isso tirou uma adaga de suas longas meias de dominatrix e a jogou contra o peito do homem.
A risada jesábita dela foi à última coisa que ouvi antes de retornar à superfície.

– Atenção senhores passageiros, por favor, dirijam-se ao portão nove para viagem à
Amsterdã. Atenção senhores passageiros, por favor, dirijam-se ao portão nove para viagem à Amsterdã.
Minha cabeça doía um pouco mais do que deveria. Minha visão estava turva e um pouco negra, não conseguia me mover direito, possivelmente por causa da paralisia do sono.
Comecei a piscar freneticamente para espantar a escuridão, minha visão voltou ao foco, mas as cores eram obstruídas por marrom. Óculos escuros.
Tirei-os do rosto e pisquei novamente, ouvindo os murmúrios de cidadãos que passavam com suas grandes malas, sendo perseguidos por suas crianças.
– Atenção senhores passageiros por favor dirijam-se ao portão nove para viagem à Amsterdã. Atenção senhores passageiros, por favor, dirijam-se ao portão nove para viagem à Amsterdã.
Fiquei de pé enquanto uma família, possivelmente alemã, passava correndo com seus filhos seguidos de um enorme Pastor*.
– Mas o quê...?
– Senhora, precisa de alguma coisa?
A jovem usava um uniforme azul de aeromoça, combinado com a saia da mesma cor. Seus olhos eram azuis, mas obviamente eram lentes, e tinha cabelos castanhos, deveriam ter uns vinte anos de idade. Em frente ao seio esquerdo levava um crachá escrito Rayanne Seara, com o logo da KLM Linhas Aéreas.
– Senhora?
– Hum... Oi?
– Posso ajudar? – Perguntou ela.
– Não... Quero dizer, sim. Sei lá.
A moça me olhava com ar de “Meu Deus, o que essa vadia faz aqui?”. Mas obviamente não era isso que diria.
Escadas rolantes colocadas estrategicamente pelo perímetro, várias imagens de pontos turísticos no mundo todo, pessoas correndo com suas malas, seguranças e policiais, detectores de metais. Era obvio onde estávamos.
– Que horas são? – Perguntei.
A moça olhou-me debaixo pra cima, puxou seu relógio.
– 15h56min, senhora. – Respondeu ela.
Meu sangue gelou. Até alguns minutos atrás eram quase oito da manhã. O que fiz nesse meio tempo?
– Meu Deus do Céu, você tem algum telefone que eu possa usar? – Perguntei apavorada.
– Sim senhora. – Respondeu ela, apontando para um telefone publico há alguns metros de onde estávamos.
Saí correndo e acabei me desequilibrando no salto.
Salto?
Em meus pés usava um lindo Dark Rivera 14 centímetros, e como toda garota que se preze, sabia que aquele sapato custava mais que minha alma.
Tirei-os e voltei ao telefone. Com brutalidade comecei a digitar o número particular de Anthony. Começara a chamar.
Por favor atende.
O bip do outro lado da linha continuava.
Tony, seu idiota, atenda!
– Alô? – Disse ele. Parecia estar com a voz abalada, frágil, cansado como se não dormisse há dias.
– Tony? Ai meu Deus, me ajuda!
Alguns segundos de silêncio se passaram do outro lado, nos quais só ouvi sua respiração. Isso antes dele surtar.
– Sky, sua vagabunda! – Gritou – Como você fez isso e nem me avisou? Eu vou te matar! Eu tava preocupado com você e nem davas noticias! Por que você fugiu sem me avisar?
– Oi? Fugir? Anthony, eu não faço a mínima ideia do que estou fazendo aqui. Eu estava saindo da casa da Raven há cinco minutos, pisquei e vim parar nesse aeroporto. Anthony me ajuda.
– Que aeroporto você está?
– Num tal de KLM, nem mesmo sabia que havia um aeroporto na cidade.
Segundos de silêncio, pude ouvir meu amigo engolindo a saliva do outro lado da linha. Quão grande era a encrenca que havia me metido desta vez?
– Por que você fugiu sem mim, Sky? Eu poderia ter te ajudado.
– Ah, perfeito! Eu já disse que não fugi e se insinuar isso de novo, juro que irei cremar seus pôsteres do Batman! Agora me ajuda, vem me buscar, pegue um ônibus!
– Como eu vou te buscar em Haarlerm?
– Harleem?! – Gritei
Harleem era uma pequena cidade a três horas de Nerfoni, conhecida por sua longa idade e pontos turísticos tradicionais. Pai, o que eu to fazendo nessa merda?
– Senhora! Você esqueceu sua mala! – Gritou a aeromoça, trazendo consigo um enorme malão vermelho felpudo com rodinhas. Onde eu comprei aquilo?
– Anthony... – Eu disse, mas já era tarde. A ligação caiu.
Maldita seja, Tim!
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Rondei o aeroporto por vinte minutos atrás de um banheiro, tendo que carregar aquela mala comigo. Não me atreveria abri-la em publico, pelo menos não depois de saber que as últimas horas da minha vida tinham sido apagadas.
Entrei no toilette vazio e olhei-me no espelho.
Usava um vestido blood-red justíssimo que descia até minhas cochas, dando mais volume aos meus seios graças ao espartilho. Estava usando luvas cor de vinho, destacando ainda mais minha pele branca. Meu cabelo era um rabo de cavalo jogado no ombro direito com um pequeno chapéu da mesma cor do vestido, parecido com aqueles da nobreza britânica do século 19. Minha maquiagem era pesadíssima, composta por um batom tão vermelho que parecia que alguém havia socado minha boca, bochechas rosadas como se tivesse ganhado um tapa e olhos tão azuis quanto os da Avril Lavigne.
Aproximei-me para ter certeza de que não eram lentes. Pois bem, não eram.
No meu pescoço, junto com o habitual crucifixo, estava um colar com uma pequena letra incrustada em joias. H.
Rezei com todas as forças que as pequenas pedrinhas envolvidas nele fossem apenas vidro.
Hope.
Ajoelhei-me e abri a mala. Papel dobrado. Havia somente várias bolas de papel dobrado.
Saí do banheiro levando-a junto, rumo á qualquer banco onde pudesse sentar e pensar. O que havia de errado desta vez?
Peguei uma mesa na praça de alimentação, compraria um milk-shake se tivesse dinheiro.
A Televisão estava ligada no canal de noticias, onde Bonner Williams dava as últimas informações.
Famílias e mais famílias passavam correndo, rumo aos seus aviões em viagens familiares que dariam certo. Pais, mães e seus filhos... Os protótipos de famílias perfeitas viajariam o mundo, se apaixonado por suas crias e seus parceiros dia após dia para depois voltarem às suas cidades, suas belas vidas, seus belos empregos. Lares cheios de amor e paz. Ah, inveja, o primeiro pecado... Aquele que destruiu tudo.
– Foi encontrado hoje no Hotel Asmodéh o corpo do empresário Isaque Velasquez, morto com uma facada no coração. – Disse o ancora do jornal.
Pedi para que um funcionário aumentasse o volume da TV, ele pegou um pequeno controle universal e o fez.
– As autoridades não sabem ainda quem foi o autor do crime, porém algumas testemunhas que trabalham no lugar afirmaram que ontem o homem entrou acompanhado de uma meretriz ruiva. Os policiais já iniciaram suas buscas pela mulher que desapareceu sem deixar rastros. A esposa do empresário, dono das Indústrias Skyfall, afirmou que está chocada. Voltaremos em breve com mais informações.
A data do programa aparecia logo abaixo do repórter: 16 de fevereiro.
Eu havia esquecido os últimos dez dias da minha vida.
O programa entrou em intervalo, sendo substituído por um anuncio de Shampoo Tio Nacho Clareador.
– Você já fez demais, Velasquez.
Meu Deus, a situação estava saindo do meu controle. O que eu fiz, ou melhor, o que deixei de fazer?
Senti o cheiro de carniça invadir minhas narinas, olhei pra frente para me deparar com uma criatura humanoide comendo um cadáver de ratazana em cima da mesa.
O demônio olhou-me com seus olhos negros e gritou. Parecia ser a mistura de uma mulher com um corvo. Na realidade, se assemelhava muito com Rayanne, a aeromoça que me atendeu.
– Mate o palhaço, Sky! – Gritou ela, com a mesma voz de aeromoça, só que mais selvagem, demoníaca – Ele é tão falso!
A criatura se jogou contra mim, levantando voo e mostrando suas garras. Senti meu crucifixo arder como ferro quente. O humanoide guinchou de dor e literalmente partiu pra cima, levantando voo para o alto como se uma força magnética á levasse, atravessou o vidro no teto como se não houvesse nada ali pra depois se desmaterializar em sombras.
O mais bizarro é que parece que mais ninguém além de mim a viu.

☺☻☻☻♥♦♣♠☻☻☻☺

Mamãe e Anthony apareceram para me buscar cerca de duas horas depois. Os olhos dela estavam vazios como os de uma dama de ferro, porém pude ver seu ódio ao ver minhas roupas. As roupas de Maria Madalena, a prostituta.
Não ousou me tocar, afinal Anthony e seu pai, Cezar, estavam conosco. Porém, sabia que algo muito pior que o rito de purificação estava me esperando.
Chegamos a Nerfoni ás 20h34min. Mamãe sorriu para o senhor Gottes e seu filho, Anthony não queria me deixar ir. Ele era o único que sabia. Sabia dos rituais e das orações, da agressão gratuita e do ódio. Principalmente do ódio.
A tirana me puxou pelo braço, obrigando-me a entrar. Jogou-me contra o sofá entes de me dar um tapa.
– “Está escrito: ‘O final muito perto está! ’ – Orava ela, citando passagens bíblicas – “Pois muito em breve tudo chegará ao seu fim.”
Agarrou-me pelo cabelos e levou-me para o “altar”; Arrancou meus sapatos e minhas meias, quebrou o vazo de porcelana no chão e me forçou a ajoelhar. Trouxe consigo um chicote que deveria ser parecido com o que deram contra as costas do JC original. Eu me senti como Velasquez antes de morrer.
– “O que irás fazer quando esse dia chegar? Se continuares assim: Sem Cristo.” – Disse ela, arrancando a parte detrás de meu vestido, arrancando o pequeno chapéu e me dando uma chicotada. Pude sentir o sangue escorrendo.
– “Os problemas são tantos e o homem só pensa em si, miséria e guerras têm assolado as nações.”
Gritei o mais alto que pude quando me atacou mais uma vez. Toda vizinhança ouviu, disso eu tinha certeza. Mas eles não fizeram nada. Eles nunca faziam. Isso desde 17 anos atrás.
– “Está escrito, mas não iras acreditar? Que é vazio um coração sem Jesus?”
Ela amarrou minhas mãos com cordas ásperas, obrigando-me a curvar a fronte enquanto meus joelhos estavam sobre os cacos de porcelana. Rebaixava-me como um animal.
Ela me batia e eu contava, continuava citando textos bíblicos, me chamando de Babilônia. A dor era tão grande que me perdi na conta. Parei no 42.
Quando enfim se sentiu satisfeita da minha humilhação, se retirou. Fiquei em pé e fui até o banheiro do meu quarto. Parei na frente da pequena estátua de JC pregada na porta, arranquei-a e a joguei pela janela.
Tonta fui para o chuveiro e sentia como se cada gota d’água fosse um prego em minha coluna. Senti o sangue escorrendo, sendo levado pela água, mas algo pegajoso também estava ali.
Sem meus sentidos saí do Box para ver o estrago no espelho.
A última coisa que me lembro antes de desmaiar foi de ver um desenho negro que ia desde meus ombros até minha cintura.
Uma tatuagem de asas de corvo.


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Notas finais do capítulo

Pastor: Se refere ao cachorro mesmo.