Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 11
Além do Véu


Notas iniciais do capítulo

Oe gente, to com sono, vou dormir... Mas comentem, okay? EI, VOCÊ QUE FAVORITOU/SEGUIU, COMENTE PRA QUE EU SAIBA DA SUA EXISTÊNCIA, OU SE ACHA QUE ESSA FIC SOBREVIVE DE VISUALIZAÇÕES?
E vocês que comentam, tratem de recomendar. Obrigado, beijos.



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Corri do banheiro, encontrei meu iPod jogado no chão tocando Big Girl Don’t Cry, desliguei-o e sai correndo nua pelo corredor.
Subi as escadas para o térreo e imediatamente fui atingida pelo frio. O relógio da Catedral de Chepit marcava 19h33min e a lua imponente se erguia no céu, várias estrelas iluminavam a noite nerfoniana como milhares de helicópteros nas sombras. Sentia-me desorientada pela cena que presenciei, mas por algum motivo me parecia ser tão normal.
Uma sensação de Deja Vu fez meu corpo desabar, senti que algo puxava meu pé enquanto tentava me arrastar pelo asfalto. Uma mão imunda e cheia de garras brotava do solo, agarrada ao meu calcanhar, me forçando a regredir. Comecei a me arrastar, porém a mão parecia ter a força de mil homens. Outra igual surgiu e agarrou meu pulso. Comecei a me debater, mas eram poderosas demais para mim.
As luzes da rua piscavam freneticamente, olhei para o céu e as estrelas se moviam como insetos. Vagalumes.
As garras apertavam meus membros fazendo-os sangrar. Vagalumes desciam serenamente sobre as árvores ao redor, omissos ao que estava ocorrendo.
Tentei gritar pois era a única coisa que sabia fazer bem, porém mais uma das mãos humanoides subiu a superfície e tapou minha boca. Ventos frios sopravam mais fortes e meus cachos tremulavam como uma fogueira, mas as folhas das arvores ao redor continuavam as mesmas como se não houvesse vento nenhum. Vagalumes pousavam sobre os muros, omissos ao que estava ocorrendo.
Meus pulsos doíam, meu calcanhar sangrava, a mão em minha boca agora tentava me sufocar e senti meus pulmões sendo drenados. O gás carbônico neles iria me matar e junto com o vento frio, sentia-me como se estivesse me afogando no Lago Nigthmare. Vagalumes ficavam sob as flores ao redor da rua, omissos ao que estava ocorrendo.
Meu peito comprimia e suprimia o gás, a pressão no meu corpo aumentava e minha visão curvava, me debatia, ou pelo menos tentava. Primeira fase do afogamento: A laringe se tranca para que a água não inunde os pulmões.
Olhei para o asfalto... Apenas esperava o fim, as trevas, o sono profundo, o coma eterno. E como por mágica o solo pareceu virar vidro e pude ver meu próprio reflexo nele. Eu estava sorrindo. Em meio à morte, por algum motivo eu estava sorrindo. Meu reflexo desapareceu, dando lugar a um rosto deformado. Um pequenino homem com boca pequena, pescoço seco e face carbonizada estava logo abaixo de mim, impedido por uma barreira de cristal. Olhei ao redor e vários outros como ele estavam logo abaixo e as suas mãos conseguiam passar pela barreira, mão pequenas, imundas e com garras fendidas como de corvos estavam me puxando para junto deles. Pelos crimes que cometi eu iria pro Inferno.
Fechei os olhos com força, esperando pior, porém pequenos pontos de luz me rodeado me fizeram abri-los.
Vagalumes. Vários e vários vagalumes piscavam em minha volta como se fossem estrelas cadentes. Um deles pousou na mão que me sufocava, se iluminando como uma tocha para depois explodir em chamas.
Todo ser abaixo do Céus arde como uma pequena fagulha do Fogo Celestial.
O ar voltou aos meus pulmões e o grito que estava preso em minha garganta enfim pode sair. Esgoelei-me como um leão na savana caçando suas presas. Meu grito saiu selvagem, feroz e acima de tudo nenhum pouco humano.
Outro vagalume pousou sobre a mão que agarrava meu pulso, desta vez não esperei que ela desaparecesse, puxei meu braço com toda força, vi gotas de sangue voar em frente aos olhos antes de passarem por todos os tons de ouro e desaparecerem em pleno voo. Todas as que me seguravam regrediram pra pura luz enquanto as arrancava como Sansão destruindo o castelo filisteu.
Eu já não era humana e os vagalumes já não eram apenas vagalumes. Nós ardíamos como um incêndio do fogo celestial.
As criaturas gritavam e grunhiam, mas seus sons chegavam abafados como se fossem gritos debaixo d’água.
Uma voz ecoou pela minha mente mais uma vez, mas essa era diferente da outra. Doce, melodiosa e infantil... Uma menininha.
“O que vencer será revestido de vestes brancas.” – Apocalipse 3:5.
Os vagalumes me rodaram como formigas em doces, pousaram sobre meu corpo e fui cegada por luz, muita luz... Várias estrelas. Senti como se estivesse sendo preenchida por algo inimaginável, senti calor, senti coragem, senti como se tudo pudesse acabar bem afinal.
A claridade se foi e abri meus olhos. Estava usando um vestido branco com pontos luminosos como se várias estrelas estivessem sido bordadas, meus cachos longos desciam limpos até meus seios e senti que todo o sangue e toda sujeira estivessem sido limpos. Eu me sentia leve. Sentia-me pura.
As árvores já não eram apenas árvores e eu via mais potencial nos morcegos. Eu vi a Mana subir e descer sobre os corpos dos pernilongos e a aura de tudo ao meu redor. Deixei meus olhos humanos e agora atravessei o Véu... Via tudo com olhos espirituais. Eu via tudo o que estava além do Véu.
Olhei para baixo e vi os Pretas se contorcendo. Sim, de algum modo eu sabia que tipos de criaturas eram. Ergui meu pé lentamente, sentindo o medo e o ódio que se aprofundava nos coração que já não mais pulsavam. Bati meu pé e brechas das cores do Arco da Promessa se ramificaram sobre o vidro, cresceram como veios que cegariam os humanos despercebidos se o Véu não os protegesse. As luzes se ergueram como uma parede e os demônios voltaram para os fundos dos Infernos e a barreira se tornou um lago translúcido.
Olhei para o céu que já não era negro e sim dourado. Homens altos sem rostos e com asas negras voavam em círculos como corvos, pois na verdade quando o Véu se reerguia era isso que realmente víamos. Demônios menores.
Eles não poderiam me ferir. Jamais poderiam ferir uma força da natureza, a energia humana... Fogo fluía pelas minhas veias... Jamais poderiam confrontar Esperança.
“Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas não chegará a ti.” – Salmos 91:7.

A voz de criança continuava falando e diferente da outra que era amarga, fria e arrogante, esta era doce, sutil... Angelical.
Sai correndo como um bebê que acaba de descobrir o que é andar. Sentia-me jovem, sentia-me livre.
Passei pela Rua Nomadeh.
E parecia que aquela cena no banheiro nunca havia acontecido.
Pulei a rótula da esquina com a segunda.
Como se eu fosse intocável... Ah, sei lá por que, mas eu já não era mais Eu.
Você precisa voltar.
Mas eu não quero.
Ninguém quer Sky, mas é preciso.
Por favor, não me faça voltar pra lá. Lá é frio, é escuro.
Saltei por cima de um carro que se dirigia em minha direção. O motorista nem pareceu se importar.
Vá Sky.
A voz era tão doce, mas parecia segurar tanta amargura. As palavras estavam ferindo.
Desci a Rua Mode. A minha rua.
Por favor, não.
Fechei meus olhos, suspirei e respirei. Senti frio, muito frio. Abri eles e lá eu estava: Em frente à minha casa, sozinha e nua. Olhei para baixo e não vi o lago, olhei pro Céu e não vi o dourado, corvos eram apenas corvos e as arvores já não emanava o mesmo brilho. Senti como se algo do meu corpo estivesse faltando.
Virei-me e vi os vagalumes voltando aos seus lugares, continuando sua caminhada celeste para iluminar a noite, omissos ao que tinha acontecido.
O que acabou de acontecer?


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