Alizée et Chermont escrita por Velvet


Capítulo 8
Huit


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoas maravilhosas! Queria dedicar o capítulo à vocês que comentam e me dão amor, e também à minha amiga Mariela, que faz aniversário amanhã. Hm... Eu não tenho nada mais a declarar, me deem mais algum amor nos comentários, vale dar ódio também, se for o caso.



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Traguei longamente e deixei a fumaça escapar da minha boca, sentindo o gosto forte do Marlboro. Olhei irritado para Enzo jogado no sofá, falando com alguém ao telefone, ele estava marcando uma festa hoje em algum lugar com alguém.

Eu estava aqui alugando o sofá dele por puro tédio, Alizée ia sair, então achei melhor vir cultivar as amizades, mas isso se provou um erro, já que Enzo estava um saco hoje, eu não aguentava mais ouvir a voz dele. Então por que eu ainda estou aqui? Inércia, provavelmente.

Bloqueei sua voz ao telefone e traguei outra vez, desejando que o tempo passasse mais rápido ou que eu tivesse algo para fazer. Eu só queria ir pra algum lugar, fugir, dormir, esquecer tudo e ser livre.

Eu provavelmente teria me levantado e ido caminhar na beira do rio, fumando um maço de cigarros e desenhando turistas por uns euros, se o telefone não houvesse tocado. I Will Kill You In Your Sleep me avisou que era Amelie ligando, eu olhei para o celular em cima da minha bolsa, ao meu lado, e ponderei exasperadamente se valia a pena ignora-la, mas eu sabia que não.

Atendi ao telefone e fique em silêncio, esperando que ela começasse a falar.

– Olá, Chermont – ela me cumprimentou polidamente.

– Oi – falei simplesmente.

– Eu estava repassando a lista de convidados hoje com Blondelle e nós concordamos que sua acompanhante deveria vir para o chá de noiva – Amelia foi direto ao ponto, como era de seu feitio, e sua voz era maldosamente deliciada, ela parecia rir de uma piada que ninguém mais entendia.

E minhas mãos gelaram. Blondelle Poirier era a noiva socialite do meu primo, nós já havíamos nos encontrado duas vezes antes, ela era neta de uma amiga de Amelie e tinha um diploma em políticas sociais, além de participar de obras de caridade da igreja Católica. Eu odiava Blondelle.

Alizée iria comer o pão que o diabo amassou nesse chá, iria ser julgada da cor da sola do sapato, até o chapéu pequeno e fresco que se usa nesse tipo de coisa e não sei o nome, nem tenho a menor intenção de aprender.

E isso se eu conseguisse vaze-la ir.

– Eu pensei que esse tipo de festa fosse só para as amigas de Blondelle e pessoas da família – eu já maquinava jeitos de tentar fazer com que Alizée fosse, porque tinha certeza que evitar a situação não daria em nada, mas não custava tentar...

– Se ela é sua namorada, é da família, Chermont. A não ser que ela não exista, é claro – quase se acredita que Amelie seja capaz de colocar humor em sua voz, mas sinto informar que é mentira. As palavras foram arremessadas como duas facas de carne por um ninja.

– Pode pedir para o office boy mandar o convite para o nosso apartamento – despejei o “nosso” como quem não quer nada, sem fazer nenhum caso, com a mesma voz sem vida de sempre. Mas eu sabia que Amelie repararia e seria o suficiente para que ela ficasse com a pulga atrás da orelha, ela sabia que eu não ia inventar algo tão fácil de ser averiguado, então, consequentemente, meu relacionamento devia ter pelo menos algum fundo de verdade.

– O chá é na quarta-feira, no jardim da casa dos avós de Blondelle – o tom de Amelie era suficientemente frio para congelar nitrogênio líquido, então eu acho que fiz meus pontos nesse jogo.

– E o convite se estende a mim? Ou é uma coisa exclusivamente feminina? – Por favor, por favor, que eu possa ir. – Seria desagradável que vocês conhecessem minha namorada sem mim para intermediar, não acho que ela vá se sentir confortável indo para uma festa cheia de desconhecidos – da onde eu desenterro essa desenvoltura na norma culta? Fazia cinco natais que eu passava bêbado em festas em uma republica qualquer, cheia de estudantes que não foram passar os feriados em casa, eu não sabia como eu ainda era tão eloquentemente polido.

– Infelizmente, sua presença seria inconveniente no chá – como tudo mais que você faz, eu podia vê-la completando mentalmente. – Mas eu liguei para chama-los para nos acompanhar em um jantar aqui em nossa casa, somente entre vocês, Pierre e a mim, assim nós conhecemos sua namorada e evitamos qualquer tipo de constrangimento.

Eu estava tão ferrado. Eu podia sentir camada sobre camada de mentira encimando meus ombros.

– Claro – respondi com a garganta seca e os pensamentos pesados –, nós vamos estar aí às seis.

Amelie se despediu e eu também, ainda atônito com como o tempo fechou para mim. Eu ainda acreditava ter três semanas para amaciar Alizée, e agora meu prazo era até amanhã.

Eu poderia desmarcar sob qualquer falso pretexto, mas seria bem pior para Alizée no chá de noiva de Blondelle ou mesmo no casamento.

– Cara, eu estou tão ferrado – descartei a bituca do cigarro no cinzeiro na mezinha de centro e olhei com os olhos arregalados para Enzo, minha boca seca e com gosto ruim.

Enzo concordou com a cabeça, ele não sabia da missa metade sobre mim, mas entendia que eu tinha um relacionamento precário com a minha família, e eu havia contado sobre Alizée e o plano mirabolante de enganar minha avó para não me arrumar uma namorada sem ficar na miséria.

– Parece que é hora de ir às compras – pensei apertando os olhos com força e me perguntando por que eu só não desistia da minha herança logo.

[...]

Alizée parou em frente à loja e olhou para mim, por um segundo deixando a cara amarrada de lado e deixando escapar um pouco de estarrecimento.

Eu quem estava estarrecido: Alizée havia aceitado tudo, desde ir ao casamento e a todos os outros eventos, até comprar roupas novas. Ela não parecia nenhuma flor radiante, mas veio. A cara amarrada e o mau-humor não deixavam margem para imaginação, mas ela estava assim desde ontem à noite, e hoje de manhã, quando soltei a bomba, ela só me olhou como se quisesse me incinerar e disse um “Tanto faz”.

Pelo visto o encontro não deve ter sido bom, eu sorri malignamente, empurrando levemente Alizée para dentro da loja, que ainda insistia em olhar pra mim como se eu fosse pagar a conta da loja assaltando um banco.

– E você é rico? – Ela olhou outra vez para o nome “Marchesa” em metal na parede, a vendedora elegante se aproximando de nós com cara de cu, como se já tivesse tido sua cota diária de maltrapilhos.

– Eu nunca disse que não era – murmurei sem dar atenção a mais um olhar fulminante que ela me lançava. – Mas meu cabelo nunca foi muito aristocrático, não daria para você adivinhar.

A vendedora chegou antes que Alizée respondesse a provocação.

– Nós temos um casamento para ir em algumas semanas, e minha namorada aqui – dei umas palmadas nas costas de Alizée, que sorriu como uma maníaca pra vendedora e depois me olhou como se me odiasse – precisa de um vestido longo novo. E talvez uns vestidos de coquetel.

– É claro que vocês precisam – as sobrancelhas erguidas e o sorriso fino deixavam transparecer um fio de deboche. – E qual o nome do senhor e da senhorita?

– Chevalier, Chermont Chevalier – dei ênfase ao sobrenome e ela ergueu as sobrancelhas mais um pouco, com expressão astuta, ela talvez soubesse quem eram meus avós, bastava abrir o jornal para ver meu sobrenome estampado no caderno de economia e nos tabloides de socialites –, e essa é Alizée Boulanger – dei tanta ênfase ao seu nome quanto ao meu, como se tentasse mostrar que ela era a verdadeira granfina, mas a vendedora olhou-a dos pés a cabeça e seguiu caminho sem uma palavra, nós só a seguimos.

Nós passamos por um salão cheio de vestidos suntuosos, que pareciam pesar bastante, todos impregnados de umas pedras brilhosas e muitos tipos diferentes de tecido, alguns leves e fluidos, outros pesados como se trabalhados a ouro.

A mal-encarada da vendedora nos deixou em uma sala pequena, com duas cadeiras e um sofá pequeno desconfortavelmente elegante, com uma porta branca no fundo e uma espécie de pódio, à lá Say Yes to the Dress – sim, eu havia assistido uma tarde inteira daquilo com Alizée uma vez – e depois saiu, sem dizer uma palavra.

– Acho que ela foi buscar os instrumentos de tortura – Alizée me surpreendeu sorrindo timidamente, sem querer mostrar que seu mau-humor havia ido embora, mas sem resistir à piada. Tomando um assento em uma das cadeiras, e eu me sentei ao seu lado, me apoiando nos joelhos.

– Quem sabe ela não é da máfia russa? Hoje em dia não dá para generalizar – comentei compartilhando um sorriso com ela, mas seus olhos encontraram com os meus e eu não consegui deixa-los vagar, eles pareciam presos aos dela, ancorados em alguma coisa profunda.

Ela soltou o ar entre os dentes e arrastou seus olhos para longe dos meus, o clima ficando tenso, o ar subitamente denso demais para ser respirado.

E então o silêncio. Talvez cinco minutos, talvez mais. Eu não sabia o que falar, Alizée deveria preferir assim, porque nem uma palavra saiu de sua boca, assim como da minha. Eu queria perguntar sobre o cara de ontem, eu queria saber por que ela não havia nem pestanejado antes de aceitar aquilo tudo, mas eu não tinha nem ideia de por onde começar, nem cara de pau suficiente.

– Quem são eles de verdade, Chermont? – Ela disse encarando os pés, os lábios crispados, quebrando o silêncio – Por que você inventou uma namorada para sua família?

– Por dinheiro; por liberdade; você sabe – murmurei, cruzando os braços e encarando a parede, meus pés batendo no chão ritmicamente, a impaciência se fazendo aparecer. – Pode fumar aqui?

Alizée me olhou por um segundo e eu pensei que fosse dizer alguma coisa, mas ela simplesmente deu de ombros, desviando o olhar. Tirei o cigarro de dentro da cigarreira e o isqueiro de um dos bolsos.

– Te incomoda? – Perguntei para Alizée, o cigarro começando a fumaçar, o cheiro forte do Marlboro se desprendendo nos espirais.

– Me dá um trago – ela pediu, e eu passei. Geralmente ela não fumava, só em festas ou quando estava muito estressada, eu sabia que ela não gostava da ideia de depender de tragadas.

Ela me ofereceu o cigarro ainda retendo a fumaça nos pulmões, e começou a soltar assim que eu coloquei-o na boca, aspirando através do filtro.

– Não é permitido fumar dentro da loja, senhor – a vendedora avisou monotonamente, provavelmente já devidamente convencida de realmente poderíamos pagar pelas roupas.

Ela trazia vários vestidos em sacos pretos e dourados equilibrados no seu braço esquerdo, ela foi até a porta no fundo da sala e abriu-a, acendendo a luz e colocando os vestidos em uma arara desocupada lá dentro.

– Queira entrar, por favor, mocin.. senhorita – ela cortou o pronome de tratamento e emendou com alguma coisa mais polida.

Alizée levantou da cadeira e olhou com um pedaço do mau-humor com que estava anteriormente, dessa vez só por tê-la arrastado para uma loja de alta costura, mas com as suas roupas normais ela não agradaria nem ao mais humilde dos assessores de Amelie, e Deus sabe como eu precisava que ela agradasse a todos.

Não havia relógio nenhum nas paredes da sala, mas meu celular já tinha marcado cinco minutos de espera quando a porta da sala de vestir abriu-se, eu só vi um mar de tecido se derramando, ondulando na luz artificial.

O vermelho parecia sangue, sangue vivo, que por algum motivo corria sobre a pele, movimentando vida e parecendo morte. Alizée estava vestida para matar. Eu não entendia muito de roupas, mas aquele parecia um vestido muito fino, com um ombro só, com a saia fluida.

Meus jeans apertaram e eu arregalei os olhos, horrorizado, mudando de posição desconfortavelmente. Alizée me olhava tentando parecer entediada, mas eu via o rubor na sua face e o brilho nos seus olhos.

Ela devia saber que estava linda, só não o quanto.

– Você está... Hm... Muito bonita – desengasguei algumas palavras e tive vontade de me estapear, porque aquilo não era, nem de longe, o que eu realmente queria dizer. Eu parecia ter doze anos falando daquele jeito!

A vendedora pegou-a pelo cotovelo e fez com que ela viesse até o pequeno pódio no centro da sala, dando uma volta completa, me mostrando a parte de trás do vestido. Eu só concordava com a cabeça. E depois de mais uns trocentos vestidos experimentados, eu pedi que embalassem tudo e passei o cartão.

Nós ainda fomos a várias outras butiques e ateliês, e no fim do dia nós estávamos cheios de caixas de sapatos, vestidos, joias, bolsas e outras coisas que eu não me atrevia a adivinhar do que se tratava, mas que as vendedoras diziam ser essencial.

Alizée não parecia nem um pouquinho incomodada com a quantidade de dinheiro que eu estava gastando naquilo, como ela mesma havia dito: “Bem feito, tá enganando tua família porque quer”, e eu só podia concordar.

Meus ombros ardiam de tanto carregar toda aquela tralha por Champs-Elysées, Montaigne, Saint Honoré e Sevres, e quando nós finalmente chegamos em casa, com o taxi completamente lotado de pacotes grandes e pesados, eu só queria deitar no sofá e dormir.

– Que horas é o jantar nos seus avós? – Alizée disse tirando a sapatilha e jogando no outro lado da sala, se esparramando no sofá com tanta vontade de viver quanto eu.

– Quem liga? – Eu disse enfiando minha cara em uma almofada, mas depois me dei ao trabalho de lembrar a hora. – Seis, eu acho.

– Seis horas?! Vamos, Chermont, levanta essa bunda mole daí, a gente só tem meia-hora pra se arrumar! Ai, como eu vou arrumar o que vestir, me banhar, e me maquiar em meia-hora? – Ela pulou do sofá e gritou tudo isso preocupada, falando rápido o suficiente para eu não me dar ao trabalho de tentar entender, já que normalmente ela já fala como se estivesse de boca cheia, imagina quando está nervosa – E levanta logo! – Ela jogou uma almofada em mim, e eu juro que nunca uma almofada doeu tanto.

Me arrastei para o banheiro, conformado em me limpar rapidamente e me meter em alguma roupa feita sob medida, quem sabe eu até penteasse de verdade meu cabelo hoje. Alizée parecia uma maluca procurando dentro de todas aquelas caixas alguma coisa para vestir.

Quando eu liguei para o táxi, passando o endereço de Amelie e Pierre, foi que a bola de ansiedade começou a se formar no meu estômago, era uma coisa completamente estúpida o que eu estava para fazer.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Comentem o que vocês acharam, e, se for o caso, recomendem para os seus amigos. Ah, eu tenho uma conta no Polyvore e eu fiz alguns sets dessa fanfic, quem quiser me pede nos comentários o link. :)