Alizée et Chermont escrita por Velvet


Capítulo 7
Sept


Notas iniciais do capítulo

Oi? Sei que eu demorei, mas vocês acreditam que eu já tinha escrito essa capítulo faz eras e acabou que foi apagado?! Eu fiquei morta de raiva, repensei toda a minha vida, tentei reescrever e só agora ficou pronto. Sério, acho que eu não sei dizer como eu fiquei zangada, eu não sabia se chorava ou batia em alguém (quem, não me pergunte).
Então tá aqui, me amem lá nos comentários e, por favor, me avisem sobre qualquer erro e o que vocês tão achando. Eu não mordo, sou muitíssimo legal e tenho todas as vacinas em dia.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525826/chapter/7

Mordisquei a minha unha e depois parei, olhando para minha mão com reprovação por estar me entregando aos vícios da ansiedade. Prendi meu cabelo bem no alto, no topo da cabeça, sem paciência para os fios cobrindo meu pescoço, eu vinha cada dia mais chegando a minha cota capilar, mas talvez fossem só os últimos dias me fazendo transbordar nas pequenas coisas ao meu redor.

Vougan havia marcado o encontro para sábado – hoje, no caso –, e eu ainda não havia falado nada para Chermont. Levei meu mindinho até a boca mais uma vez, mas enfiei a mão no bolso das calças de pijama quando notei o que estava fazendo.

O.K... Eu havia complicado bastante minha situação saindo hoje com Vougan. Meu cérebro chilicava, ameaçando um aneurisma se eu procrastinasse um pouco mais para contar isso para o meu maldito companheiro de apartamento, companheiro com o qual eu quase não falava mais – só no café da manhã, e nosso assunto principal era o clima.

Chermont veio da antessala que separava os dois quartos e o banheiro, da sala, e eu parei de dar voltas. Fazia uma hora que estava assim, inquieta, nenhum episódio de Gossip Girl me acalmava e eu já estava a ponto de colocar o episódio em que o Chuck troca a Blair pela empresa – porque esse episódio arranca qualquer fé na humanidade de mim e me deixa por semanas tentando me recuperar, o que talvez tirasse da minha cabeça tudo isso.

Eu fui para a cozinha pegar a louça do café quando vi Chermont abrindo as portas da sala para a varanda. Enquanto colocava a caixa de suco de maça na mesa, matutava sobre minha situação: Chermont e eu havíamos transado, sim, havíamos, mas também havíamos brigado por causa dele, que havia mentido sobre o cartão (talvez eu não devesse ter pressionado tanto sobre aquilo, mas isso é outros quinhentos).

Desde então estávamos em clima ruim. Eu, por um lado, o evitava porque não queria ter que contar sobre Vougan e o maldito encontro, ele, por sua vez, devia estar amuado porque havíamos tido o arranca rabo naquele dia. A situação vinha ao meu favor, que tinha tempo para procrastinar livremente e manter meu pequeno segredo como tal.

– Nós precisamos conversar – eu disse depois de uma breve conversa sobre o verão chegando, já ter nascido e morrido, já a mesa do café. Clima não era um assunto que parecia render essa maravilha entre nós, então só havíamos nos largado no silêncio.

Ele levantou os olhos do chá e me olhou do mesmo jeito que vinha me olhando nos últimos três dias: preguiçosamente, varrendo cada patamar de um modo quase triste, cansado.

– Pode falar – sua voz era calma, grossa, do mesmo tom do meu personagem favorito de Gossip Girl, Chuck, e também com o mesmo calculismo.

– Um cara me chamou para sair hoje – fui direto ao ponto, porque mesmo sendo a procrastinadora mor, eu nunca fui de fazer muitas voltas na hora que me obrigava a agir.

Meu olhar abraçava o seu a cada palavra, tentando prever qualquer tipo de reação, mas assim que ele pegou o sentido das palavras, seu olhar fugiu para o horizonte, pousando no topo dos prédios que brilhavam na luz do fim da manhã ao redor de nós. Seu rosto não mostrava nenhuma alteração, nenhum músculo havia se movido, as feições ainda frias.

– Você dá pra quem você quiser, Alizée, não é da minha conta.

Toda a raiva que ele não havia mostrado no rosto, havia inundado sua voz, banhando cada letra com sarcasmo e aguçando as arestas das palavras, aprontando-as para machucar.

– Eu não pedi permissão, sei que eu transo com quem eu quiser, Chermont, o corpo é meu – minha voz estalou como um chicote, sem tolerar as palavras rudes. – Mas parece que qualquer tentativa de sinceridade é inútil com você – minhas palavras também iam afiadas, prontas para ferir, mesmo que a única mentira de verdade que eu tivesse ouvido de Chermont em um ano de convivência, foi sobre o cartão de aniversário.

– Não fale comigo como se eu fosse uma criança. E não precisa me pedir permissão nem dar explicações, eu não tenho nada a ver com isso – sua voz não soava mais calorosa que um iceberg, nem mais veloz, ele pronunciava cada palavra quase que de um jeito delicado, ofensivo, lapidando o gelo em sua língua.

Desisti de continuar aquela conversa nociva e joguei meu guardanapo sobre a mesa, entrei na sala encostando a porta da varanda atrás de mim. Eu estava com a cabeça muito quente para falar, nada bom sairia daquilo. Caminhei para o meu quarto rápido quando ouvi a porta para a varanda sendo aberta, não olhei para trás, mas eu ouvi as pisadas de Chermont no piso de madeira, entregando que ele me seguia a passos rápidos.

Antes que eu pudesse fechar a porta do meu quarto na sua cara, ele colocou metade do corpo entre a porta e o umbral.

­­– Eu falei pra minha família que você era minha namorada e que você iria para a festa de casamento do meu primo comigo – as palavras foram tão fora de contexto que eu fiquei encarando seu rosto, a centímetros do meu, sem piscar.

– O quê? – Eu provavelmente tinha entendido errado, às vezes eu escuto frases completamente diferentes do que a pessoa originalmente disse, uma vez isso me custou um mês de salário do meu primeiro emprego. Por favor, que dessa vez eu tenha entendido errado.

– Eu inventei que você era minha namorada para a minha família.

Eu não soube o que responder inicialmente. O que ele pretendia exatamente me contando aquilo com aquela voz tão misteriosa, tão cuidadosamente vazia de emoção? Afinal: o que ele pretendia com aquilo?

– Você anda se drogando, Chermont? – Eu perguntei, sinceramente curiosa para saber o que havia dado na cabeça daquele garoto. – Por que você fez isso?

– Eu... Eu... – Eles deslizou entre a abertura da porta e eu não fiz nada para impedi-lo, só encostei a porta do quarto quando ele sentou na ponta da minha cama. – Eu tenho uma relação complicada com a minha família, nós não nos damos muito bem – seu rosto se contorcia, tentando encontrar uma feição inexpressiva e a sua voz tão baixa que eu tive que apurar meus ouvidos e ler seus lábios para entender. As palavras pareciam simples, sobre um problema de separação ou um tio usuário de drogas, mas eu sabia que seus pais já haviam morrido, que era algo irreversível e findado. Eu não gostava de pensar muito sobre isso, porque talvez em breve eu não tivesse uma mãe, então entenderia um pouco mais da sua dor.

– E onde eu entro em tudo isso? – Minha voz já tinha perdido a raiva, restando somente a casca do que foi alguns minutos atrás. Eu via Chermont como nunca havia visto antes, não que eu conseguisse ver muito dentro dele naquele momento, era só uma rachadura, uma fresta que deixava escapar um pouco dele mesmo.

– Minha avó queria que eu fizesse algumas coisas que eu não quero fazer, então eu menti e disse que você era minha namorada, porque era o que me salvaria da situação – ele pousou o queixo sobre as mãos, com os cotovelos nas coxas. Ele havia conseguido sua postura indiferente, seus olhos envernizados não deixavam escapar nenhuma sensação mais conturbada que o tédio, se eu não tivesse visto seus rosto e ouvido sua voz um minuto antes, seria perfeitamente capaz de acreditar que ele só estava entediado com a festa de família.

Eu não sabia que tipos de coisas que a avó dele pretendia que ele fizesse, porque se até de uma namorada falsa ele precisava para escapar disso, talvez eu só preferisse não saber. Lembrei do seu rosto perdido e desolado, e tive certeza de que não era hora de perguntar aquilo, ele não falaria, só se fecharia com mais alguns cadeados. Então perguntei outra coisa:

– Por que eu? Você sabe, você poderia ter dito qualquer nome, qualquer um – não é como se ele não tivesse opções, metade de todas as classes dele nem piscaria antes de aceitar um convite para sair, e não devia ser tão difícil arrumar um namorada que fosse efetivamente namorada dele para apresentar pra família. Não sei que tipo de conservadores eles são, mas nem todas as garotas na faculdade tem dreadlocks no cabelo.

– Nós moramos juntos, Alizée, é muito mais fácil convencer eles de que nós estamos namorando se dividimos o apartamento. E com um vestido de grife, você vai ser o tipo perfeito dos meus avós.

As palavras me mortificaram um pouco, havia veneno em sua voz, não era como eu, ou qualquer outra pessoa que conheça, falaria dos avós, por mais que haja mágoas. Outra vez, preferi não pensar muito sobre a parte do vestido, a parte em que eu estava conspirando para enganar os avós do meu colega de apartamento já era chocante por si só. Pelo visto, estava deixando muita sujeira debaixo do tapete.

Mordi o canto do meu dedo mindinho e olhei pela janela, o vidro azul fechado não me deixava ver muita coisa do lado de fora, só um contorno azul de alguns prédios e o sol chegando perto do ápice.

Por um lado, eu não queria mentir e enganar ninguém, até porque o único motivo que Chermont me deu foi a relação complicada dele com a família, mas eu sabia que devia ser tensa e . A ideia de fingir ser namorada de Chermont parecia tão louca que até teria sorrido um pouco senão parecesse tão insencível, aonde isso iria parar?

– Me dá um tempo para pensar – me virei para ele de supetão, que estava só me assistindo roer a unha e encarar o vitral.

[...]

Passei minhas mãos pela blusa listrada de mangas compridas que usava e tirei algumas bolinhas do tecido. Olhei para o visor do celular e encarei a última mensagem de Vougan, pedindo que eu o encontrasse no campus oito da noite. Já eram sete e meia e eu estava quase terminando de me arrumar, não havia conseguido inspiração divina suficiente para passar mais que rímel.

Peguei meu chapéu de feltro em cima da cama e a bolsa pendurada no cabideiro atrás da porta antes de sair do quarto. Chermont estava fora desde a nossa conversa pela manhã, ele ficou meio áspero quando notou que eu ainda tinha intenção de ir ao meu encontro, mas não disse nada idiota e só saiu, dizendo que ia encontrar com Enzo. Chermont sabia que seu caso ainda estava sendo julgado.

Tranquei o apartamento e fui caminhando até a estação de metrô, mandando uma mensagem para Vougan, dizendo que já estava a caminho. O bairro Saint-Germain-des-Prés não era longe, logo após o rio, eu teria que trocar de trem uma vez, mas a viagem inteira me tomaria uns vinte e cinco minutos. Quando cheguei em frente do imponente prédio da universidade, olhei em volta com admiração.

Eu tinha um caminho de cem metros ou coisa assim até a escadaria e a grande entrada, a cúpula do prédio ainda era bem visível de onde eu estava, e cada detalhe da fachada era tão impressionante, que eu me perguntava por que eu não andava mais naqueles lugares.

Havia combinado de me encontrar com Vougan nas escadarias em frente do prédio, havia uma pá de pessoas sentadas nos degraus, ou em pé, conversando em animados grupos. Vougan estava encostado em uma coluna, checando o visor do celular. Sua beleza mais uma vez me estupefou, e eu fiquei encarando-o um pouco, antes de ir falar com ele. Parecia impossível alguém ser tão bonito, tão bonito que te fazia querer parar para encara-lo o dia todo.

– Eu queria ter trazido minha câmera, para fotografar... – eu suprimi no último momento o “você”, porque achei que iria ficar parecendo uma cantada barata, então a frase terminou como um ar de pergunta, quando mordi minha língua e fiquei calada de súbito.

Ele sorriu pra mim e guardou o celular no bolso de trás da calça jeans, e se aproximou de mim, descendo os degraus até onde eu estava.

– Você está linda – o galanteio foi respondido só com um doce obrigada, porque eu não estava exatamente certa se queria pegar ele ou não, mesmo ele sendo absurda e injustamente bonito. – Eu guardei nossos lugares, vamos?

Ele caminhava ao meu lado para o courtyard, onde a apresentação aconteceria, com proximidade suficiente para nossos braços roçarem. Vougan falou uma ou outra coisa sobre o sistemas de compartilhamento das universidades e nós engatamos em uma conversa sobre aquilo, não foi preciso muita dificuldade para a conversa vingar.

Tenho que dar o braço a torcer: Vougan era um exímio conhecedor das artes do flerte. Ele sempre tocava meu braço ou minhas mãos, mesmo que ponteando para alguma coisa, e seus olhos se penduravam nos meus alguns segundos além do normal, mas não o suficiente para ficar desconfortável. Ele sempre parecia interessado e replicava com ideias inteligentes quando eu estava falando, mas sempre encarando meus lábios e soltava uma ou outra insinuação leve.

Vougan havia nos arranjado um lugar na grama a uma distância boa do palco, o chão coberto por uma manta, havia mais quatro pessoas conosco, colegas dele que conversavam entre si, sem prestar muita atenção em mim. Quando o concerto começou, e as únicas luzes que ficaram acessas foram as do palco, Vougan pegou minha mão e levantou, movendo-se, só para apoiarmos as costas no tronco da árvore a uns dois metros da toalha, eu vi dois dos seus amigos deitando na manta e se aconchegando do vento frio nos braços um do outro.

Música vai, música vem, e Vougan – que já vinha brincando com meus dedos e cultivando uma tensão sexual – se inclinou para mim, pegando uma mexa do meu cabelo negro pousando no ombro, com minha cabeça coroada pelo chapéu de feltro.

Deslizei os olhos do palco para a sua mão, e depois para seus olhos de abismo, que se fixavam aos meus. Sua pele bronzeada estava fracamente iluminada, e o rosto se aproximando do meu. Meu coração acelerou, mas eu continuei o encarando, parada, esperando. Sua respiração se misturava a minha e os centímetros que separavam um rosto do outro eram ínfimos. E cada vez mais perto.

– Posso? – Ele perguntou, e eu desci meu olhar até sua boca e depois subi até seus olhos. Pode?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ah! Quase esqueci: estrelinha na testa da Alaska, lih e Nanda Mason! Obrigada, pessoas, vocês são ótimas, todas conquistando seu pedaço de terra no céu. Desculpem pelo capítulo tosco, como sempre, o do Chermont vai ficar melhor.