Já tentou imaginar ganhar de herança um prostíbulo? Pois é, nem eu. Eu nem queria aquilo, na verdade eu não queria nem morar naquele lugar. Agora eu entendia porque os pais não me deixavam dormir na casa das minhas colegas de classe ou elas dormirem aqui. Na certa todos os adultos sabiam o que realmente era o Mirrors e achavam que eu trabalhava nele. Não sei como minha mãe teve coragem de fazer isso comigo. Por que ela não abriu uma loja de roupa? Ou de sapatos ou de bolsas? Eu seria eternamente grata por receber de herança.

Naquela noite, antes de voltar para o quarto e tentar dormir decidi fazer um pedido para a minha mãe. Esperava que ela entendesse.

– Olha mãe, sei que isso é importante pra você, mas… Eu quero ir embora daqui.

– Mas sol... E você vai pra onde? Eu sei que é uma situação complicada e…

– Você não sabe mãe! - gritei - Todos me olham como se eu fosse a prostituta, eu não tenho amigas, eu n…

– E a Alison querida.

– A Alison mora com a avó, só por isso ela é minha amiga. Porque se os pais deles estivessem vivos com certeza eles também iriam proibir ela de vim na minha casa.

– E aquele tanta de gente na festa?

– Festa no Dreams. A senhora sabe que se fosse aqui ninguém viria, por isso nunca me deixou usar o salão.

– Eu não tinha ideia que você passava essas coisas… Ela disse abaixando a vista.

– E não tinha como você saber. Mãe, eu só quero tentar viver uma vida normal. Onde as pessoas não sabem qual é a propriedade da minha família.

– Eu entendo… Mas eu não tenho parentes… Em que eu posso confiar…

– Uma amiga, um tutor, sei lá. Só não me deixe passar o resto da minha adolescência sendo rejeitada.

– Vou pensar alguém sol.

Entrei no meu quarto e encharquei o travesseiro com as minhas lágrimas. Não queria magoar minha mãe, mas também não queria ser mais a garota que mora em uma casa de prostituição. Apesar da minha mãe tentar me convencer que ela estava fazendo uma coisa legal, eu não acreditava. Só de pensar que ela já foi prostituta muda tudo que imaginei sobre ela. Pra mim ela era uma grande empreendedora e meu pai um babaca, mas agora… Ela é a apenas uma ex-prostituta que deu um golpe.

Não me importava mais! Eu podia ir pra qualquer lugar, morar sozinha se for o caso. Mas não queria estar naquela mentira.

No outro dia, felizmente era sábado, acordei com um lindo café-da-manhã do meu lado e um bilhete da minha mãe.

Fiquei a tarde toda trancada no meu quarto, as empregadas, as verdadeiras empregadas, só entravam para me trazer algo para comer. Parecia que todo mundo do hotel sabia o que estava acontecendo. Escutei música, chorei, pensei em ligar para Alison, mas não sabia o que dizer. Nem pra ela eu queria contar. E se eu perdesse minha única amiga?

Outro coisa fez sentido, eu só era chamada para as festas e as pessoas só iam nas minhas festas por causa dela. Por causa da Alison. É lógico, eu era apenas a amiga rica dela. Mas se era isso, todos do colégio sabia do Mirrors… Não. Isso não fazia sentido, adolescentes são maldosos e se eles sabiam eu já teria sido zuada a muito tempo. Eu podia confiar na Alison…. Mas só depois que eu estivesse bem longe.

– Sol… - disse minha mãe abrindo a porta do quarto - Posso entrar querida?

– Claro mãe.

– Falei com uma amiga e ela aceitou você morar com eles até entrar pra faculdade.

– Sério?? - diz alegre de mais - E quando vou poder ir?

– Hoje mesmo. Já fiz sua matricula no único colégio de lá. Mas antes preciso te dizer mais algumas coisas.

– Claro.

– Você vai morar na casa de Ella Montgomery, ela trabalhou comigo na época do argentino. - meu semblante caiu - Trabalhou aqui no Mirrors cinco anos, se formou em contabilidade, se casou e se mudou com o marido para Rosewood. Hoje eles tem uma filha, Aria, mas ela não sabe do passado da mãe. Então, por favor, não comente nada.

– E o que eu vou falar se ela me perguntar porque me mudei para lá.

– Eu já cuidei disso. Disse que procurei referências de escolas boas, que cuidam para o filhos entrarem na faculdade e umas delas fica em Rosewood.

– Só mais um pergunta… - Ashley me encarou - Essa sua amiga, também trabalhou por vontade própria?

– Isso faz alguma diferença?

– Sim, faz.

– Não. O pai dela devia uma grande quantia de dinheiro para o argentino e para o pai dela não morrer, ele propôs a Ella trabalhar pra ele até quitar a dívida. Mas como era esperando, o argentino nunca dizia que a divida tinha sido quitada.

Minha mãe saiu do quarto e eu comecei a arrumar minhas malas. Mudaria alguma coisa eu deixar de morar com uma ex-prostituta que escolheu essa vida para morar com um ex-prostituta que foi obrigada? Só de sair do prostíbulo seria uma grande mudança. E como a tal Aria não sabe do passado da mãe ninguém da cidade deve saber também. Era perfeito pra mim, poderia seguir uma vida normal. Pelo menos até eu ter que tomar conta do Mirrors.

Assim que terminei de arrumar minhas coisas, um dos carregadores levou minhas malas para a limousine. Eu e minha mãe fomos para o aeroporto em silêncio. Eu sabia que ela estava triste, mas também sabia que ela faria qualquer coisa pra me ver feliz. Me despedi dela e embarquei no nosso avião particular em direção a Rosewood.