A voz do silêncio escrita por Juh Viana


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

Problemas reais relacionados ao Implante Coclear já foram relatados.



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Finalmente sábado chegou. Acordo com a maior disposição do mundo, quem sabe a aula me ajude a esquecer essa semana nebulosa.

Depois que tomo banho, fico um tempo olhando meu guarda roupa decidindo qual roupa devo vestir. Será que devo vestir uma roupa que me deixe com cara de mulher ou de garotinha? Penso em pedir ajuda para a especialista: Larissa. Porém me lembro que ela já bagunçou muito comigo, então decido que é melhor pedir ajuda para outra pessoa.

– Ah! Já sei. Sophie! – digo para mim mesma.

Saio correndo até perceber que estou só de toalha. Volto para meu quarto torcendo pra que ninguém tenha visto. Visto a primeira roupa que encontro e vou direto ao quarto de Sophie. Encontro-a penteando o cabelo.

– Você pode me ajudar? – pergunto.

Ela assente com a cabeça sem mesmo saber do que se trata. Foram poucas às vezes em que Sophie entrou no meu quarto. Então ela observa cada detalhe com olhos graúdos vidrados.

– Ok, vou vestir uma roupa e você me diz se ficou boa ou não. Espere sentada aí.

– Tá bem.

Pego uma regata branca com varias coisas escrita e visto-a com um short preto. Saio do banheiro e pergunto:

– Ficou bom?

– Não – diz Sophie com a maior sinceridade do mundo.

Volto novamente ao banheiro vestindo um vestido listrado em tons de coral e um salto vermelho meio empoeirado.

– Esse?

Sophie faz uma careta de reprovação, e volto para o banheiro sorrindo.

Antes de vestir outra roupa me pergunto o porquê de eu estar fazendo isso. Tenho medo de admitir a mim mesma que é por causa de Arthur, mas não consigo encontrar outra desculpa racional. Afasto essas questões inquietantes. Visto um vestido azul, jogo um cardigã nos ombros, e calço meu All Star azul marinho.

Quando saio Sophie imediatamente me olha sorrindo e faz um gesto de aprovação.

●●●

Hoje chego à ASAPS um pouco mais cedo. Ana e Larissa já estão aqui. Elas acenam para mim e dirijo na direção delas.

– Oi – dizem as duas simultaneamente.

– Oi – respondo.

– Você está bem? – pergunta Larissa talvez preocupada com minha ida ao médico.

– Bem estou melhor.

– E sua mãe? – diz Larissa.

– Ela já aceitou o fato de que eu vou ser surda para sempre – digo com um sorriso sem graça e Larissa retribui com outro.

– Sabe eu também não quero um. Não quero ter minha cabeça explodida só pelo simples desejo de querer ouvir. – diz Larissa ironicamente. Mas ninguém sorri de sua piada nem mesmo ela, afinal essa é mais pura verdade.

– E ninguém quer ser uma Karla Merlins da vida – argumenta Ana se referindo a surda que depois do IC nunca mais foi a mesma. Ela nem se quer dá as caras para seus amigos surdos. Fico imaginando como a presença de um sentido pode transformar alguém – gosto dos meus amigos – conclui Ana nos abraçando.

– Olha aquela desgraçada que deu em cima do Henrique – diz Larissa apontando para Luana Baldini.

– Não acredito que foi ela que deu em cima do seu namorado! – exclama Ana.

– Foi ela mesma – concorda Larissa – para piorar ela ainda fez isso numa rede social para todo mundo ver. Agora os amigos de Henrique não param de pegar no meu pé.

– Mas a Luana sempre foi tão...tão... – digo procurando as palavras certas – certinha, puxa saco de professor.

– Só a capa. A verdade é que ela não passa de uma safada enxerida – diz Larissa com os olhos tão semicerrados em Luana que se fossem um laser a mataria em instantes.

●●●

O professor Tomas fica de pé olhando para a porta enquanto aguarda o outro professor que dará a aula hoje. Os surdos estão comentando que ele é bem experiente e que veio de outra cidade. Enquanto todos aguardam procuro por Arthur. Observo em cada rosto, até ter a certeza de que ele ainda não chegou.

O Professor Tomas decide começar a aula. Como de costume ele liga o projetor, mostra figuras e pergunta o sinal delas. Depois inicia uma aula sobre a historia da língua de sinais, quem começou, onde começou, a antiga estrutura gramatical, os problemas que tiveram, em fim é tão chato que prefiro não prestar atenção. Sento-me de maneira confortável na cadeira com os pés esticados e apoiando meu rosto na mão.

Olho em direção à porta me perguntando se Arthur ainda viria, como se isso fosse um pedido alguém abre a porta. Minha mão gela ao reconhecer o rosto de Arthur. Ajeito-me na cadeira. Ele anda com cuidado para não fazer barulho apesar de a sala estar repleta de surdos. Quando ele percebe que a aula começou ele cerra os dentes e senta-se rapidamente perto da porta. Ele está com uma camisa cinza de botão, uma calça jeans e um magnifico All Star de couro marrom. Ele observa cada rosto da sala até que seus olhos encontram os meus, então ele acena com um sorriso meigo e eu faço o mesmo. Fico sorrindo para as paredes por um tempo, até perceber que Jonas olha para mim, envergonhada decido me concentrar na aula.

Tomas decide chamar atenção da turma para Arthur, Larissa me olha porque até então não havia percebido que ele chegara.

– Finalmente chegou! Turma este é o Professor Arthur que dará aula para vocês.

Fico congelada por instantes. Como um garoto tão novo pode ser Professor?

Thomas pede para Arthur tomar frente da aula. Ele levanta se posiciona no centro da sala e com sorriso meigo começa:

– Oi tudo bom? Meu nome é Arthur e meu sinal é ###. A partir de agora estarei dando aula para vocês. Espero conhecer a todos.

Ele olha para o Professor Tomas que assente para prosseguir. Ele parece nervoso, talvez seja sua primeira aula. Então ele prossegue:

– Hoje faremos uma atividade. Quero que se dividam em três grupos.

Fico no mesmo grupo de Ana, Jonas e infelizmente de Luana Baldini que já fez questão de se apresentar para Arthur. Essa garota me enoja ao ponto de querer pular em cima dela.

Nosso trabalho é anotar todos os sinais que sabemos interpretar para o português. Por isso acabo fazendo a maior parte do trabalho. Arthur circula entre os grupos, até parar no meu.

– Pare Laila. Agora você não precisa dizer mais nada – diz Arthur com firmeza – quero ver o resto do grupo trabalhar também.

Concordo com a cabeça agradecida porque já estava cansada de datilografar sinais.

Professor Tomas anuncia o inicio do intervalo. Caminho em direção a saída quando Arthur me para.

– Desculpe por aquilo, tinha que fazer os outros trabalharem também.

– Tudo bem, entendo.

– Você vai lanchar? – pergunta ele.

– Sim – repondo. Ele permanece em silêncio olhando para mim, o que de certa forma é constrangedor, finalmente Arthur diz:

– Queria saber onde vocês compram lanche aqui.

– Ah sim você pode vir lanchar comigo – digo sorrindo pensando que assim poderia conhecer melhor Arthur.

– Ok, vou junto com você.


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