Depois da recepção super calorosa da minha mãe, levei Andy para o meu quarto e ficamos por lá. É estranho ter um Andy quieto e triste por perto, levando em consideração que ele é um galanteador nato. A noite foi fria e sombria, e quando a manhã veio, fomos acordados pela minha mãe, que chorava muito, ela nos abraçou e apenas dizia que sentia muito, e foi o suficiente para eu entender que a mãe de Andy havia partido. Fiquei a tarde toda com Andy em meus braços, eu sabia que naquele momento eu teria que ser forte por ele.

– Dan... – ele chamou, com a voz rouca e chorosa.

– Sim?

– Promete que não vai me deixa? – ele perguntou com os olhos marejados e avermelhados.

– Você sabe que eu seria incapaz de te deixar Andy, por mais que me machuque. – eu disse, sincero. Afaguei seus cabelos macios, numa frustrada tentativa de passar-lhe calma e confiança.

– Me prometa Dani, por favor. – ele disse com os olhos fechados e a cabeça inclinada em direção a minha mão que o afagava.

– Eu prometo, meu bem. – então ele fez algo eu consideraria impossível.

Ele me beijou, foi um selinho tímido, quase como selinho de primos, sabe? Mas foi o suficiente para me deixar esperançoso. Depois disso ele finalmente se acalmou o suficiente para dormir um pouco.

Adormeci não muito tempo depois. Fui acordado pela voz do Ed Sheeran em meu celular, com muito cuidado para não acordar o Andy me levantei e fui até o celular.

Era uma mensagem da minha mãe dizendo que havia ido fazer compras e que não fazia ideia de que horas iria voltar e avisando que já havia deixado comida pronta na geladeira para não correr o risco de voltar e ver que eu explodi a cozinha. Travei a tela do celular e fui fazer minha higiene matinal, quando voltei ao quarto Andy estava sentado na cama.

– Dani? – Ele chamou, fui até ele e o abracei, sabendo que é disso que ele precisa nesse momento. – Quero ir para casa, pegar umas coisas da minha mãe para levar para o internato, você pode ir comigo? – Ele perguntou com a voz embargada por causa da vontade de chorar.

Logo estávamos em frente a casa dele, o clima estava bem pesado e ficou muito pior quando entramos, o pai de Andy estava no sofá, de costas para a porta, e olhou por cima do ombro quando entramos, vi o ódio em seu olhar.

– O que faz aqui criatura? – Ele perguntou com a voz carregada de raiva.

– Eu também moro aqui, velho bebum. – Andy respondeu no mesmo tom, sempre fora assim, desde que eu o conheci. Andy e o pai nunca se deram bem, sempre se odiaram muito, e apenas pararam de brigar por causa da mãe do rapaz, que tentava fazer com que eles vivessem em harmonia.

– Não mora mais, a casa é minha, sua mãe está morta, então seu lugar é no internato, nada aqui é seu! – O homem disse com mais raiva ainda.

– Ele só veio pegar umas coisas que ele havia esquecido, senhor. – Intervi, tentando evitar uma briga.

– Pois que ele pegue tudo que lhe foi dado, não quero mais nada dele aqui. – O homem avisou. Eu assenti vendo Andy fechar a mão em punho com força e o puxei escada a cima, em direção ao quarto.

Separamos roupas, fotos, e alguns objetos que achamos que ele iria precisar e pegamos uma correntinha que, segundo Andy, sua mãe havia lhe dado quando nasceu. Arrumamos tudo em uma mala e em uma mochila e voltamos para casa, não sem antes Andy e o pai discutirem mais um pouco.

Naquela noite minha mãe ofereceu moradia a Andy quando não estivéssemos no internato, estávamos tendo uns dias fora do mesmo por causa da internação da mãe do Andy e agora teríamos mais uns dias por causa da morte dela, e então teríamos que voltar para aquele lugar e seguir em frente.

Estávamos deitados na minha cama, de conchinha, senti ele me abraçando mais forte e ouvi alguns soluços contidos, me virei para ficar de frente para ele. Acarinhei seus fios ruivos e beijei-lhe na testa, mostrando a ele que eu estava ali para ele e por ele, sempre que ele precisasse.

Então ele fez a coisa que eu menos esperava que ele fizesse.

Ele me beijou, e não foi só um selinho. Foi um beijo de verdade e eu retribui, sentindo ele aprofundar o beijo, que tinha gosto de lágrimas com hortelã. Quando o ar se fez necessário ficamos nos encarando.

– Por que? – Quando percebi eu já havia perguntado.

– Porque se eu gostar de você, como você gosta de mim, você nunca vai me deixar, e eu não quero que você me deixe. – Ele disse.

– Mas você tinha me dado um fora. – Eu não conseguia ver muita lógica no que acontecia.

– Mas isso foi antes de eu perceber o quanto eu quero você comigo. Não estou dizendo que estou apaixonado por você, Dani, estou dizendo que desde que você se declarou para mim, e eu tento imaginar você com outro, eu não suporto essa ideia, então.... Eu quero tentar.

Eu ainda estava tentando entender o que acontecia, sabe quando uma coisa que você quer muito acontece e então você não consegue acreditar? Eu estou nesse momento. Ele me beijou de novo ao ver que eu estava pensando de mais.

– Não pense muito, só da merda quando você pensa muito.

– Você quer mesmo isso? Digo, ser gay é difícil, as pessoas não são legais com homossexuais e tals.

– Não vou virar gay, Dani, você vai ser o único cara da minha vida, não é como se eu fosse olhar para outros caras além de você, longe disso. – Ele disse, e eu dei um meio sorriso.

– Quer mesmo tentar? – Perguntei ainda receoso.

– Quero, muito mesmo. – Ele respondeu com um meio sorriso.

– Não vai ser mais um filho da mãe pegador? – Questionei.

– Não, serei fiel, prometo.

–Se você não for fiel, posso te castrar? – Perguntei mais para perturbar do que qualquer outra coisa.

– Sim, pode. – Ele respondeu e então nós dois rimos.

– Então acho que podemos tentar. – Eu disse e o beijei.

É, vamos ver no que isso tudo vai dar!