Beacon People Story escrita por Guga673


Capítulo 12
Capítulo 12 - Trancada




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Ruby é carregada nas costas de um dos agentes mas ela está dopada demais para perceber o local em que ela está ou por quantos lugares diferentes a carregaram. Sua cabeça gira por completo e seus sentidos estão embaçados mas sua audição ainda consegue captar alguma coisa.

— Levem-na para o andar de cima.

Ruby ouviu como um eco profundo e distorcido dentro de sua cabeça.

— Essa daí não vai nos causar problemas até a próxima lua cheia. Diferente dos que vão parar no andar de baixo.

— É. Sem dúvidas essa não dura até uma próxima lua cheia.

Ruby se esforçava mentalmente a se mexer mas seu esforço era completamente em vão, ela estava totalmente debilitada, provavelmente drogada. Estão levando-a novamente para algum lugar qual ela não tem noção e não terá até o dia seguinte. Tudo volta a girar e ficar embaçado quando ela sente bruscamente a frieza do chão, o impacto de seus braços caindo no mesmo e portas metálicas sendo trancadas. Ela fora arremessada em algum tipo de cela e o barulho da porta sendo fechada ecoa arduamente. Ruby não está sozinha, há mais um prisioneiro.

— Ela é só uma jovem seus desgraçados!

Resmunga o prisioneiro. Ele a ajeita em um dos colchões da cela e pressiona os dedos em seu pescoço para sentir sua pulsação. O prisioneiro fica aliviado ao perceber que ela ainda respira apesar de ser lentamente. Ruby tenta se mexer e recupera seus movimentos aos poucos mas a sensação de exaustão a toma conta, quando Ruby ouve um uivo vindo de algum canto da cidade e sua respiração acelera, ela tenta responder mas só consegue rosnar até que ela desmaia de uma vez.

~~

O dia virou e Ruby ainda se sente muito zonza. Sua visão está embaçada mas está voltando aos poucos, se acostumando com a iluminação do lugar. Ela se ajeita num canto e levanta cambaleando. Não há ninguém na cela além dela apesar de lembrar que havia mais alguém ali ontem de noite. Ruby põe suas mãos contra a porta, tenta empurrá-la e socá-la sem o menor sucesso.

A sensação de estar aprisionada era sufocante. Para todos os lados que ela olhava, as cores acinzentadas da parede a desnorteavam deixando-a um pouco claustrofóbica. Algo que é possível considerar proposital. Sua respiração acelerava enquanto sua vontade de derrubar aquela porta com seus próprios punhos ficava mais forte, porém nada do que ela fizesse a tiraria dali. Ela não possui a força de Scott ou de Malia. Ruby desiste de tentar, apoia suas costas contra a parede e desliza até sentar no chão enquanto põe suas mãos em seu rosto para abafar o choro. Ruby ficou naquela posição por muitos minutos a mais.

Um barulho forte vem da porta, ela se assusta e levanta desesperada para checar se conseguiria sair. Um homem é empurrado para dentro da sala. Ele se desequilibra, tropeça e caí no chão tentando se mexer logo que ela vai ajudá-lo quando a porta é fechada. Ele aparentava ser de meia idade, tinha olhos claros e uma espessa barba por fazer. Mesmo assim ele não seria o tipo de cara que perderia uma boa luta sem dar uns três nocautes. Ela o ajuda a virar com o rosto para cima.

— Você está bem? — Pergunta Ruby.

— Sim. — Ele geme ao tentar se ajustar para sentar e quando consegue, leva ambas as mãos para coçar sua cabeça. — Eu lembro de você de ontem. Quem é você?

— Eu sou Ruby. E você?

— Christopher Argent. Mas pode me chamar de Chris.

— Onde estamos?

Chris para um pouco para se recompor. Ele balança a cabeça negativamente.

— Fui capturado por esses bastardos faz pouco tempo. Mas ninguém nunca sabe aonde estamos realmente pois eles teleportam para cá. Nada de meios físicos.

Ruby suspira em um desabafo decepcionado.

~~

Algum dos guardas tinha colocado duas bandejas de comida para os dois. Ela tinha desconfiado da comida achando que talvez estivesse envenenada para que eles morressem aos poucos mas Chris disse que se ambos estão vivos ainda é por que são considerados úteis para o Ultra. Por enquanto.

— Com úteis você quer dizer?

— Eles me levaram para uma telepata extremamente forte, ela vagueia por sua mente explorando todo o seu conhecimento e suas memórias. No caso eles perceberam que eu sei como caçar lobisomens muito bem.

Ruby sente um arrepio ao perceber que está trancada numa cela com um caçador de lobisomens, mas ela percebe que se ele está preso provavelmente ele está do lado dela.

— Então você caça criaturas como eu?

— Não mais. Digamos que muitas coisas mudaram desde os meus tempos de caçador. Mas isso não quer dizer que eu apaguei da minha cabeça todas as minhas habilidades e aí...

— Eles vão e roubam tudo o que você sabe e usam contra os outros.

— Sim. Ah então você conheceu todos eles?

— É eles me acolheram. Qual a sua história com eles?

Chris olha para o chão enquanto bate os dedos na perna.

— Uma longa história. Cruzamos nossos caminhos por lados opostos. Minha mudança foi por causa da minha filha. Mas eu também devo muito a eles. E a sua história? Você disse que é uma lobisomem. Eles não trancam as criaturas com os humanos.

— Peguei o caminho errado de casa, e vim parar aqui. Mas o que você quis dizer com trancar as criaturas longe dos humanos?

Chris expira profundamente e olha para os lados como se alguém pudesse ouvi-los.

— Esse complexo apesar de eu não saber a localização, sua estrutura é baseada em diferentes níveis de prisões. Os humanos eles colocam por aqui e os sobrenaturais que eles capturam, se estiverem vivos eles mantém no andar de baixo.

Ruby arregala os olhos.

— Se estiverem vivos? Que ótimo. Quanto tempo até me matarem ou te matarem? E eu não sou como os outros. Eu sou... Complicada. Não me transformo como os outros.

— Que pena. Seria legal sair daqui com a ajuda de um lobisomem.

Ruby fica apreensiva. Ela não sabe exatamente por quanto tempo ficará presa e ela pensa no que acontecerá se ainda estiver ali na próxima lua cheia. Ela torce para que a tirem dali ou tirem Chris antes pois é capaz dela matá-lo e não controlar. Ruby decide contar para Christopher do perigo que cai sobre ele se eles não saírem dali o mais cedo possível. Ele apenas acena com a cabeça ao ouvir e Ruby entende que ele já não tem mais para onde ir e é uma questão de tempo até matarem ele, então Chris não aparenta estar assustado.

~~

Ficar isolado ali pode fazer alguém surtar completamente. A cela era fechada com exceção de um estreitíssimo espaço com barras de ferro de aproximadamente um palmo de altura no topo de uma das paredes. Sair dali era apenas pela porta metálica. Ruby estava exausta de não fazer nada ali dentro. Ela e Chris haviam conversado sobre suas vidas por bastante tempo.

— Como que é a sensação de alguém invadindo sua mente?

Chris para e reflete um pouco.

— Depende de que nível. Pelo nível mais superficial você quase não percebe que eles estão lendo o que você pensa.

— Mas você não deixou fácil para eles entrarem na sua cabeça. — Conclui Ruby.

Chris com seu olhar vago na parede levanta um canto da boca em um semi-sorriso e balança a cabeça negativamente. Ruby levanta e abaixa as sobrancelhas num tom quase que impressionada.

— E os níveis mais profundos?

— Estes? Eles te seguram na cadeira e pelo contato físico vagueiam por suas memórias e ideias até acharem o que querem.

— E como você conseguiu bloqueá-los?

Chris para um pouco para refletir na resposta.

— Não é fácil. Algumas pessoas usam de mantras. Como se fosse uma meditação. Mas eu usei apenas da força de vontade e montei o meu bloqueio. As pessoas não conhecem o verdadeiro poder da mente. Não conhecem o poder que ganham quando fecham os olhos e se concentram no que querem.

— Tá aí uma coisa para treinar.

— Hm, cuidado. Se você resistir, esse processo se torna extremamente doloroso. Mas essa não é a pior parte.

— Não?

Chris responde a Ruby balançando a cabeça negativamente.

— A pior parte é que suas memórias ficam mais vivas para você. Como rever um filme novamente. Percebemos aqueles mínimos detalhes. Inclusive nossos piores erros.

Ela vagueia seu olhar pela sala. Talvez um pouco preocupada.

— Você não teme a morte? — Pergunta ela quebrando um certo silêncio.

— Eu já perdi muito por todo esse tempo. Não restou muito da minha família, por exemplo. Mas não é por isso que eu continuo a lutar. Eu luto em nome de um código. Sou um soldado em uma guerra qual você só pode escolher lutar. Ou deixar que a morte venha. E eu prefiro lutar.

Ruby acena com a cabeça admirada pela perseverança de Christopher. Neste instante a porta metálica é aberta acompanhada de um estrondo. Dois agentes entram e um joga Chris com a telecinése contra a parede.

— Você. — Diz o outro agarrando Ruby pelo braço. — Vem conosco.

Ruby sente a adrenalina subir em seu corpo, logo começa a se debater e tenta atingir um deles mas eles utilizam a telecinése para forçá-la a ir.

— Deixem-na em paz, agora! — Grita Christopher.

—Cala a boca, idiota!

Ruby não conseguia se mexer direto e então, já exausta de lutar ela cede e deixa que a levem. A porta da cela se fecha e Christopher soca a porta de frustração.

Ao saírem da cela os dois agentes a levam por alguns corredores numa sequência de direita e esquerda que ela tentava decorar. Ruby não tinha exatamente desistido de lutar naquela hora, só percebeu que aquele não era o melhor momento para enfrentá-los. O complexo não era algo muito extenso e Ruby deduz que é por uma questão de ser mais reservado e mais fácil de proteger.

— Vocês tratam suas garotas assim num primeiro encontro? — Diz Ruby mas ninguém a responde. — Qual é? Até parece que eu vou me soltar agora, precisam me apertar assim?

Os dois a carregaram até um ponto onde dois corredores cruzavam-se. Antes que eles escolhessem um caminho, Ruby aproveitou que ambos o seguravam e ela se apoiou o suficiente para subir o joelho e acertar o nariz de um, que com a pancada soltou o braço direito dela qual ela girou e acertou com o cotovelo na altura da nuca do segundo agente.

Ruby aproveitou o nocaute e correu na direção oposta que ela estava vindo antes e entra em um dos corredores escuros que ela havia passado. Ela se abaixa e espera o movimento passar. Ambos os agentes passaram correndo e não a viram dentro do corredor. Ruby se espreitou para ver se ninguém estava esperando por ela e seguiu os corredores que os guardas a levavam. Ela chegou no cruzamento e não sabia por qual caminho seguir. Ruby fecha os olhos inclina a cabeça para trás e escolhe um caminho.

Após um minuto e meio de corrida Ruby esbarra brutalmente no peito de John, o agente loiro que a observara dormir uma vez e ajudou os que atacaram-na quando estava com Scott. Ela leva um susto ao finalmente o ver sem a bandana cobrindo a região abaixo dos olhos e ele a joga contra a parede usando telecinése. Hillary aparece logo em seguida.

— Você não achou realmente que não a rastrearíamos dentro de um complexo tão pequeno, achou?

Ruby tentava se soltar mas era em vão.

John nunca falou uma palavra ele só agia. Havia algo em seu olhar. Um vazio, como se não houvesse mais alguém vivo ali dentro e Ruby sentiu um arrepio ao notar aquilo. John era apenas um robô para o Ultra.

— Leve-a para a sala 4. — Diz Hillary.

John a agarra pelo braço e teleporta.

~~

— Me soltem. Agora! — Gritava e se debatia Ruby, mas as correntes em seus braços não a deixavam sair. John a encarava do canto da sala. Ele permanecia intacto e imóvel, como se sua presença e sua agitação não existisse no ambiente. O que de certa forma atingia Ruby nos nervos.

Natalie entra pela porta junto com um cara de aparência séria e de certa forma assustadora.

— Nós vamos te fazer umas perguntas e eu quero que você as responda.

Ruby permanece calada, ela percebeu que este seria um dos interrogatórios com um telepata. Ela lembra do que Chris disse sobre focar no bloqueio. O instinto natural de uma pessoa quando lhe fazem uma pergunta é que ela pense numa resposta. Mesmo que ela não a diga, a resposta permanece na cabeça acessível superficialmente para qualquer telepata. Ela precisava evitar que isso ocorresse de qualquer forma.

— De onde você veio e qual a sua relação com Scott McCall? — Diz Natalie sem rodeios, apenas andando de um lado para o outro dentro da sala.

Ruby não responde. Dentro de sua cabeça ela tenta imaginar um ruído branco que possa sobressair qualquer pensamento dela.

— Vamos mais uma vez...

Ruby fecha os olhos e joga a cabeça de um lado para o outro se concentrando para intensificar o ruído imaginário. Ela abre os olhos e percebe que havia criado um bloqueio e que estava funcionando.

— Ah, você vai realmente jogar esse joguinho?

Ruby continua sem responder uma palavra, ela apenas se concentrava no ruído e no bloqueio.

— Muitos tentaram, não se sinta especial por esse truque. Mas decida-se. Você pode colaborar ou ser forçada. Escolha.

Ruby apenas apertou os olhos numa demonstração de raiva.

Natalie demonstra que perdeu a paciência, se aproxima rudemente do ouvido de Ruby e sussurra para ela:

— Eu vou ter que te forçar?

Ruby levanta um canto da boca e num tom de desafio diz:

— Tente então! Vadia!

Natalie fecha o rosto e dá uma joelhada em Ruby na altura da costela.

— Faça.

O agente que estava parado no canto da sala oposto ao do John se aproxima de Ruby, posiciona suas mãos na cabeça dela e Ruby sente toda a onda telepática dele invadindo bruscamente seus pensamentos. Ela tenta focar no que Chris a ensinou sobre bloquear essa invasão e ela sente que ganhou algum terreno.

— Ah ela está tentando lutar, não está? — Natalie se irrita e tira um bastão eletrificado da cintura apenas para ameaçar. — Mais forte. Essa daí não vai conseguir lutar pra sempre.

Estava mais difícil para Ruby se concentrar no bloqueio quando suas memórias eram vasculhadas e por ela visualizadas, bem aos poucos. Uma lágrima escorria de seus olhos ao rever sensações de angústia e de dúvidas que já haviam se resolvido no passado. Há algo a mais. Ruby consegue ver claramente agora. O dia em que ela assassinou o amor de sua vida ainda na floresta encantada. Ela não sabia mas mesmo estando irracionalmente na forma de lobo, ela guardava as memórias do seu instinto. Focar no bloqueio agora era impossível.

— Ela ainda está resistente. — Disse o agente.

— Não por muito tempo. — Natalie pega bastão e acerta no pescoço de Ruby mantendo o contato deixando a descarga elétrica fluir por ela, que gritou. Ela sentia a eletricidade percorrer seus músculos deixando todo seu corpo tenso e rígido. O bloqueio ficou fraco. Ruby tentou lutar mas não conseguiu mais. Ela foi desmaiando aos poucos quando as memórias de ser um lobo passou por ela.

A sensação de correr livremente pelas matas, os cheiros diversos dos outros animais e das árvores. Tudo era relembrado numa intensidade que, usando dessas memórias, ela retira um resquício de força para tentar expulsar o agente de sua cabeça, mas foi em vão quando Natalie aumentou a tensão do bastão e apagou Ruby de uma vez.


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