Guardioes de Deus: a Batalha nos Ceus escrita por cardozo


Capítulo 8
Capítulo 6 - A Vila dos Escribas. Parte I




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A Vila dos Escribas...

 

Andaram por horas na mata, a vegetação mudara de um aglomerado de árvores altas para plantas menores, mais ralas e distantes entre si. Pequenas construções surgiam no horizonte.

-Finalmente chegamos a Vila dos Escribas.

Cassi estava de muito bom humor.

-Vamos fazer uma pequena parada, neste local o comércio é muito difundido, os Serafins são ótimos comerciantes. Pessoas do reino todo passam por essa vila onde os anjos cuidam do comércio. E como precisamos  de provisões este vilarejo veio bem a calhar.

-Vai ser muito interessante conhecer o vilarejo. Vamos ver quem chega primeiro? Aposto que ganho de você.

-Então conte até três e partimos. Tudo bem pra você?

Arão começou a contagem, nem bem chegou ao três e Cassi já havia partido.

-Assim não vale! Você está  trapaceando. Berrava Arão tentando alcançá-la.

O vilarejo era  o típico lugar isolado de tudo, muito simples, com várias pousadas e lojas. Suas construções tinham aparências rústicas e bem conservadas, as plantas faziam parte da paisagem. Na praça central, vários bancos se espalhavam sem uma ordem definida, abrigando pessoas que conversavam animadamente. Um relógio de sol ficava no meio de um lago e pela disposição da sombra de seu ponteiro, a hora do almoço se aproximava.

Pararam em frente a uma taberna, em sua varanda oval  dois pilares sustentavam uma pequena fachada com lampiões presos ao teto. A porta de entrada era feita de madeira, e abria tanto para fora como para dentro  dependendo da direção que as pessoas a empurrassem. Dois vitrais  se postavam um em cada lado da porta de entrada acompanhando seu tamanho. Suas cores escuras impediam a visão de quem estivesse do lado de fora do estabelecimento.

A placa pregada à frente do estabelecimento anunciava: ”Pousada do Oberon ”, a movimentação em seu interior era intensa.

-Do que você está rindo Cassi?

-Espero que não me leve a mal, mas entre os garotos celestinos que se dirigiram para a cidade Ocidental, eu fui a melhor, estou preparadíssima para ser uma guardiã, mas dizem que os candidatos da Cidade Superior são muito melhores e para seu azar vamos competir  com eles. Apesar de todo o meu treinamento, achei que até pudesse me dar mal, mas pensando bem, existe alguém que vai conseguir se sair muito pior do que eu.

-É? Quem?

-Você horas! Afinal está aqui a somente dois dias e sem o mínimo preparo para o que vai vir.

-Obrigado pelo incentivo.  Você sabe como animar as pessoas.

-Não fique assim, nós seremos três no total por parte do povo celestino, resta um para conhecermos, ainda há esperança, ele pode ser pior que você. Ai poderá contar vantagem sobre alguém.

-Puxa você é legal hein. Mas afinal quem começou com essa história de guardiões?

-Foi o grande Deus Set que  vendo o clima que se instaurou entre os povos, permitiu que três jovens celestinos viessem a Cidade Superior para tentarem ser  guardiões. Com isso ele espera mudar o relacionamento entre os povos. Olhe como nosso papel é importante, estamos  representando todas as comunidades fora da Cidade Superior. Se obtivermos êxito,  poderemos provar que os celestinos são dignos de confiança dando início a quem sabe uma  retomada  na aliança entre os povos.

-Esse Set parece ser um Deus muito sábio e bondoso. Arão fez o comentário, seguido de outra pergunta.  -Mas você disse três?

-Isso mesmo, o terceiro viria dos candidatos que se dirigiram a Comunidade Oriental. Assim como você Arão, não faço a mínima idéia de quem seja.

-Será que como nós ele esta neste momento a caminho da Cidade Superior? Onde estará ele numa hora dessas?

 Arão passava a mão no queixo.

De repente um estrondo, a vidraça do lado direito da porta se partiu, um corpo fora arremessado com grande violência de dentro da taberna. Aos pés de Arão e Cassi estava um jovem estendido  com a face toda contorcida de dor e suja pelo chão.

-Bem seu pedido foi atendido. Acho que encontramos o terceiro escolhido bem aos nossos pés. Retrucou Cassi.

-Como você sabe que ele é o outro escolhido?

-Por que nenhum garoto celestino estaria neste local sozinho. Pelo menos não nestes tempos.

-Oi, ai, ai... Isso dói. Vocês não imaginam como um vôo desses é complicado.

O garoto levantou-se com a ajuda de Arão, bateu na roupa para tirar a sujeira. Tinha os cabelos e olhos cor de mel, sua cabeleira chegava perto dos ombros. Nem de longe lembrava um atleta, quem o visse diria que era um garoto ''normal''. Possuía estatura mediana e boca pequena, seu nariz pouco afinado tornava seu rosto bem incomum. Em sua face havia dois desenhos vermelhos, lembrando um pouco a letra “Z“, que começavam na altura dos olhos depois desciam  rente as orelhas e por fim curvavam-se em direção ao nariz, entretanto não chegavam perto do mesmo.

-Meu nome é Balduíno, mas meus amigos me chamam de Bal...

Não teve tempo de terminar a frase pois duas cordas com ganchos envolveram seus tornozelos.

-Essa não, novamen...te nnããooo.

Foi arrastado para dentro da taberna pelo mesmo local que havia sido atirado.

-Vamos entrar? Perguntou Arão. -Precisamos saber o que esta acontecendo. 

-Fazer o que né! Afinal,  não vai ser nada fácil para  nós três na Cidade Superior  no meio de todos os candidatos, se chegarmos em dois então será muito pior.

Aproximaram-se colocando as cabeças para dentro da vidraça quebrada, o local  se encontrava cheio. Muitas pessoas se divertiam, a maioria delas usavam roupas bem exóticas e  nem prestavam  atenção a confusão que estava acontecendo.

Três  sujeitos estranhos, estavam com o garoto que tinha literalmente voado aos seus pés.  Arão  viu de relance como se fosse uma sombra cinza ao lado de cada um deles, fechou os olhos e abriu  novamente.

À frente deles uma mesa de madeira abrigava vários cristais escuros sem coloração, no meio deles havia um espelho com forma arredondada  inclinado para trás, estava preso a uma caixa com um pequena abertura ao lado.

O mais alto dos três seres, dono de uma força descomunal, levantava Balduíno pelo pescoço com apenas um braço. Seus olhos,  cabelos e barba desfrutavam de uma coloração negra. Tinha uma argola cinza presa ao braço esquerdo, suas ombreiras pretas combinavam com as botas da mesma cor. Em seu peito um colete negro com pontas de metal contrastavam com o resto de sua roupa cinza. Em suas costas um machado estava preso por tiras de metal.

As vestimentas dos outros dois eram idênticas a do ser que sufocava Balduíno, com uma única diferença, ambos possuíam uma capa presa pelas ombreiras.  Os dois  decidiam acirradamente quem ia desferir o primeiro golpe contra o corpo suspenso.

-Escute eu não fiz de propósito, apenas queria...  Ele resmungou um pouco até sentir uma pressão maior sobre  seu pescoço.

-Cale a boca! Não vê que eles estão no meio de uma decisão importante. Disse um deles.

-Muito bem Molf, erga-o um pouco mais. Como iremos  decidir quem acertará o jovem primeiro Sender?

Sender parecia ser o líder, dono de um olhar acinzentado e frio onde uma cicatriz sobre o olho esquerdo marcava seu rosto, possuía uma vasta cabeleira branca, seu corpo apresentava uma  leve curvatura para frente era o mais baixo dos três, portava em sua cintura dois punhais cruzados entre si.

-Acho que o mais correto Tulgor seria eu.  Disse Sender. -Pois fui eu quem o viu mexendo em nossos cristais. 

O ser falava enrolado, como se tivesse a língua presa ao mesmo tempo que jogava saliva para todo lado.

Tulgor tinha  estatura média, possuía cabelos e olhos cinzas, com nariz muito grande e fino, não se separava de sua querida foice que usava como apoio para andar. Sua pessoa transparecia traços de crueldade.

As aparências dos três seres desencorajavam qualquer um da taberna a interferir a favor do garoto.

-Ai! Isso dói, calma ai grandão.

Balduíno tentava fazer força para se livrar, mas era inútil a mão de Molf parecia uma prensa de aço.

-Não dá para termos bons modos, afinal estamos no céu não? Não deveria existir violência aqui.

-Nem trapaceiros também.  Molf o sacudiu no ar.

-Mas o que há de errado com vocês foi só um cristalzinho,  eu estava curioso só isso, não sei como ele veio parar no meu bolso.

-Você estava tentado nos roubar.  Agora vamos mostrar o que acontece com quem tenta nos enganar. Tulgor olhou para Sender. -Acho que tive uma idéia melhor. Vamos bater os dois ao mesmo tempo, o que você acha?

-Socorro alguém me  ajude! Por favor, esses caras são malucos.

Ninguém se movia, os olhares espantados continuavam a fazer de conta que nada estava acontecendo. A sorte parecia estar selada para o garoto, ia levar uma surra ou algo bem pior, pois a expressão dos seus agressores não era nada animadora para se esperar algo de menor intensidade.

-Certo está decidido! Vamos acertá-lo juntos. Finalizou Sender. -No três está bem?

-Hei, isto é covardia, dois contra um. Não é justo.

Novamente Bal sentiu o aperto no pescoço.

-Tá bom, não me esqueci de você não grandão, três contra um.  Conclui com dificuldade.

Molf soltou a garganta e segurou o garoto pelos braços, abriu-os como se estivesse crucificado e depois  virou-o de frente para seus companheiros.

-O que vai acontecer agora? Perguntou Arão.

-Acho que ele vai apanhar um pouco. Ou muito... Cassi estava com rosto sério. -A não ser que ele seja muito forte, mas não é isso que a situação demonstra.

-Não podemos permitir isso Cassi.  Arão pegou Cassi pelo braço. A garota estava relutante. -Eles são  três e o coitado está sozinho.

-Nem sabemos o que aconteceu, talvez ele esteja recebendo o que merece. Além do mais, a julgar pelas aparências desses três brutamontes é melhor que um tome uma surra, do que  os três.

-Nós só vamos espantá-los, não precisamos bater neles.

Arão ia serrando os punhos.

-Eu estou falando de nós. Gritou Cassi incrédula.

Porém quando ela percebeu seu companheiro já havia partido na direção da confusão.

-Homens... Tão impulsivos, agem primeiro para depois pensar. Balançou a cabeça em sinal de reprovação e olhou para cima. -Na próxima encarnação quero continuar sendo mulher. Partiu atrás do companheiro.

Molf começou a contar: 

 -Um, dois

Ria  calorosamente  entre cada contagem.

Os outros dois empunharam os braços, mas antes de dizer três, Bal viu  Arão vindo em sua direção, deu com o calcanhar na partes baixas de seu algoz. Pode só ouvir um "três" abafado e dolorido. Molf soltou sua presa, ao mesmo tempo que Arão pulava e caia com Bal para o lado.

Os punhos dos outros dois não pararam e acertaram o peito de Molf que já se contorcia de dor, lançando-o  para trás  sobre a mesa. Os cristais e o espelho foram para o chão junto com a móvel.

-Seu desastrado olhe o que você fez. Urrou Sender enrolando a língua dando um tapa na cabeça de Tulgor. – Quebrou o espelho, nosso único meio de contato.

No  canto os dois garotos estavam sentados ainda meio tontos pela queda

-Obrigado, acho que escapei de uma surra e tanto. Apertou a mão de Arão.

-Escapou? Acho que não! Eu apenas adiei isso um pouco.

Apontou para os dois seres que se dirigiam para eles correndo.

"Dessa a gente não escapa". Pensou Arão

Tulgor e Sender avançaram sobre os garotos, Cassi  empurrou  uma mesa que interceptou seus caminhos. Eles não conseguiram parar tombando junto com o objeto de madeira. Os garotos olharam espantados  para ela que sorria.

-Vocês  não usam a cabeça, não mesmo.  Disse estendendo as mãos ajudando-os a se levantarem.

-Ela é sempre espirituosa assim. Perguntou Bal olhando para Arão.

-Vamos embora logo, já estou cheio de confusão por hoje. Vocês homens são um problema em qualquer um dos mundos.

Cassi virou-se  porém  trombou o rosto com a abdômen de Molf e foi jogada para trás  caindo nos braços de Bal.

-Elas não resistem ao meu charme.

Brincou Bal, porém logo seu sorriso sumiu, Molf  encontrava-se parado, era um muro a  frente dos garotos, já havia se recuperado dos socos e estava muito furioso.

-Acho que estamos encrencados,  esse aí parece ser mais forte que os outros dois juntos. Engoliu seco Bal.

O gigante caminhou na direção dos garotos encurralando-os na parede. 

-Vocês não vão escapar desta vez. Sender falava espalhando saliva pela boca, Tulgor estava a seu lado com humor revigorado, a vantagem era toda deles.

-Ora, ora vamos ter diversão finalmente, desde nossa passagem para cá não tivemos nada que nos animasse. Nada até agora...Vocês vão ser nossos brinquedinhos. Tulgor riu medonhamente.

Tudo estava perdido. Estavam condenados... Uma figura surgiu do meio da multidão brincando com um pergaminho enrolado, jogava-o de uma mão à outra.  O desconhecido parecia não se preocupar com o número em que os seres estavam, nem com o tamanho ou força deles, muito pelo contrário  se divertia com isso.

-Teria lugar para mais um nessa maravilhosa festa? Brincou o intruso

-Quem é você Intrometido? Acho que teremos que surrar mais um além destes três. Sugeriu Tulgor a seus dois comparsas. -Surrar número ímpar da azar. Brincou ele.

-Acho melhor vocês deixarem os garotos  em paz, e irem embora, senão...

-Senão o quê? Ninguém, mas ninguém interrompe meu divertimento.

Molf estava aborrecido,   avançou com  fúria contra o intruso. O que se passou em seguida, porém foi algo  de engraçado à assustador, o desconhecido arremessou o gigante com tamanha facilidade para fora do estabelecimento estilhaçando a outra vidraça,  que os  outros dois não hesitaram em fugir  como loucos, pegaram o espelho quebrado junto com algumas pedras que estavam ao chão e partiram sem ao menos olhar para trás.

-Que coisa!!! Exclamou desanimado. - Nem deu para me aquecer.

            O recém chegado pegou uma cadeira caída e sentou-se em uma mesa vazia, logo outra pessoa surgiu do meio da multidão sentando-se a seu lado. Com um gesto acolhedor pediu para que os três garotos se acomodassem. Os jovens obedeceram.

-Você não toma jeito mesmo. Poderia ter conversado com mais calma com os três e tudo se resolveria na  santa paz, como deve ser. Disse o outro recém chegado ao homem que tinha afugentado  os três sujeitos.

-E o que eu diria? Por favor, caros amigos se não for muito incomodo... Meu caro Raphael, você não sabe como aproveitar a ocasião.

-Estão bem?  Perguntou Raphael, os três ficaram em silêncio. -Creio que este silêncio deve significar sim, meu nome é Raphael e este de atos rudes que vocês puderam presenciar é meu amigo e irmão TsadKiel. Não é muito sensato da parte de vocês saírem  por aí arrumando confusão.

Os três não sabiam se ele estava dando-lhes uma bronca ou apenas brincando.

-Mas não fomos nós que começamos. Arão interrompeu Raphael. -Nós só queríamos ajudar...

-Tudo bem meu jovem. Eles também não eram santos.

Riu sozinho de sua própria piada e depois olhou para TsadKiel,  ao ver seu rosto sério e impaciente, calou-se mudando sua expressão  tornando-a mais séria e sombria.

-Tomem cuidado! Nem sempre existiram pessoas como nós para ajudá-los. Advertiu-os. -Vocês estão indo para Cidade Superior? 

Novamente a ausência de palavras prevaleceu.

-Suponho mais uma vez que este silêncio quer dizer sim. Espero que a partir deste ponto sua jornada  seja mais tranqüila.

-Como vocês sabem que vamos até a Cidade Superior?

O espanto de Bal foi evidente no momento em que fazia a pergunta.

-Nós sabemos muita coisa meu jovem.

Raphael olhou com cumplicidade para TsadKiel.

-Quanto a vocês não creio que saibam no que estão se metendo.

-Claro que sabemos! Estamos indo para Cidade Superior para sermos guardiões.

-Deixe-me explicar lhe uma coisa mocinha.

Raphael abaixou a voz, aproximou a cabeça como se fosse contar algo confidencial, os jovens fizeram o mesmo.

–Alguns candidatos ficaram no firmamento enquanto outros foram mandados ao mundo dos Homens para serem salvos, entretanto um número mínimo retornou. Muitos perderam a vida antes.

-Como assim?

O interesse de  Arão era visível, pois ele estava nesta situação.


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