" Anica "

Acordei um pouco confusa, não sabia como havia chegado em meu quarto. A ultima coisa que me lembro é de estar no abrigo abraçado com o Daniel e ele foi tão fofo, ficou ao meu lado e mesmo não querendo acabei chorando.

Não queria demonstrar fraqueza, tento sempre ser forte, mas tudo tem limites e aquele foi o meu. Fui ao banheiro, lavar o rosto, estava com muita dor de cabeça, ao sair encontrei minhas três criadas paradas olhando para mim.

– Está tudo bem senhorita? - Marta perguntou.

– Sim, só um pouco de dor de cabeça, como eu cheguei aqui? - perguntei sentando na cama.

– O príncipe Daniel te trouxe. - Alice falou sorrindo - Ele já esteve aqui, TRÊS VEZES para te ver. - ela falou ainda sorrindo, fazendo questão de enfatizar a quantidade de vezes.

– Três vezes? - perguntei espantada - Quanto tempo eu dormi?

– Um dia.

– Um dia? - perguntei assustada - Nossa!

– A senhorita gostaria de algo para comer?

– Com certeza. - senti meu estômago revirar, fui tomar um banho e depois elas me trouxeram a comida.

Elas saíram para fazer outro vestido e eu fiquei sozinha tomando meu café quando alguém bateu a porta.

– Entre! - falei.

Era o príncipe Daniel, ele estava sorrindo e automaticamente sorri também.

– Atrapalho?

– De maneira alguma. - ele sentou na minha cama, bem próximo a mim.

– Fico feliz que acordou, achei que teria que te dar um beijo para despertar - ele falou sorrindo, era obvio que era uma brincadeira e mesmo assim não pude evitar, fiquei vermelha na hora, só a ideia de beijá-lo me deixou nervosa.

– Estou longe de ser eu princesa. - falei tentando disfarçar minha vergonha.

– Eu discordo. - ele falou sorrindo, no fundo ele tinha razão, afinal um de nós seria princesa.

– Obrigada! - falei envergonhada.

– Pelo que? - ele perguntou confuso.

– O abrigo, você me ajudou, eu não costumo demonstrar fraqueza mas essa situação ... a seleção, me deixa frágil. - tentei ser o mais claro possível.

– Você me ajuda eu te ajudo. - ele sorriu e apertou minha mão fazendo com que nossos dedos se entrelaçassem. Isso fez com que meu coração acelerasse e finalmente percebi o que estava na cara, que estava tão obvio, que até a Alice percebeu. Eu estou apaixonada por ele.

Apaixonada pelo cara que eu detestava, que achava metido e superficial, que fala com os empregados, que come na cozinha como se isso fosse normal para um príncipe, que cuida da irmã que me dá atenção, que se importa comigo.

Enquanto nossas mãos estavam unidas eu desejei que esse momento nunca acabasse, que ficássemos juntos para sempre.

Ficamos assim por um longo tempo. ele olhava para mim de uma forma tão intensa que eu não conseguia desviar nem por um segundo. Mas ele quebrou o silencio.

– Bom, eu tenho que ir, mas você gostaria de um passeio hoje a tarde?

– Claro - falei sorrindo, ele pegou minha mão deu um beijo e saiu, me deixando sozinha com meus medos e sentimentos.

Permaneci em meu quarto o resto da manhã, não conseguia aceitar o que estava sentindo. Nunca havia me apaixonado por ninguém, sempre me mantive afastada de todos, vi o que minha mãe sofreu, não queria passar pela mesma coisa.

Me arrumei e desci para o almoço, quase todos já estavam sentados, menos Daniel e Bianca. Normalmente eu ficaria feliz por eles estarem juntos mas senti algo estranho, como um aperto no peito.

Depois fomos para o salão das mulheres, tivemos algumas aulas com Silvia e ficamos lendo algumas revistas.

– Olha, a bela adormecida acordou. - Joany falou com ironia.

– Para sua tristeza não é? - perguntei enojada.

– Imagina, você sabe que eu te amo! - ela falou sorrindo.

– Claro morre de amores por mim. - falei revirando os olhos, e uma criada entrou.

– Senhorita Anica, o príncipe te espera. - nesse momento meu coração acelerou.

– Obrigada. - falei levantando. - Tchau amor! - falei sorrindo.

Sai do salão contente pois iria ficar ele, e isso parecia perfeito para mim.

– Oi! - ele falou sorrindo.

– Oi! - era tão bom ver seu sorriso. - E então onde vamos?

– Lembra do abrigo, quando você perguntou qual o lugar que eu mais gosto daqui do palácio?

– Sim. - respondi, mas não me lembrava do que ele respondeu.

– Então gostaria de conhecer?

– Adoraria. - falei entusiasmada.

– Venha. - ele pegou minha mão e seguimos pelo corredor, entramos em uma sala e fomos para uma lareira onde ele abriu uma porta secreta e me puxou para dentro.

Era o terraço, de lá eu conseguia ver grande parte de Angeles, além de uma vista perfeita para o pôr do sol.

– É tão lindo! - falei encantada.

– Verdade. - ele estava atrás de mim, e percebi que se aproximou um pouco.

Nesse momento meu coração acelerou, ter ele tão próximo me deixou muito nervosa.

– Gosto daqui, sinto calma, tenho a sensação que sou livre.

Me virei para olha-lo, mas ele estava muito próximo, mais do que eu imaginava.

Ficamos parados, calados, apenas nos olhando. O mundo poderia acabar e nós não perceberíamos.

– É um lugar bem tranquilizante mesmo.

– Ninguém sabe dele além dos meus pais e eu, é o meu refugio, venho para cá quando quero paz.

– Fico grata por sua confiança em mim.

– Será nosso segredo.

– Pode deixar. - falei sorrindo, ele se aproximou mais um pouco.

– Gosto de você! - ele falou e não pude evitar a felicidade em meu peito.

– Também gosto de você. - falei mais depois resolvi disfarçar, não podia ser tão clara assim com meus sentimentos. - Você é um ótimo amigo, me sinto protegida com você.

– Que bom. - ele respondeu sorrindo mas pude ver um tom de desapontamento em sua voz - Gosto de te proteger, gosto de estar com você, mas, gosto mais de olhar seu olhos.

Como? sério mesmo que ele estava dizendo isso? Não poderia me sentir mais feliz, tenho certeza que estava com um sorriso besta no rosto. Era tudo tão belo, a paisagem, o segredo, ele.

Estávamos bem próximos, eu estava quase desistindo de lutar contra minha teimosia e me entregar a esse sentimento quando uma borboleta pousou na sacada, tentei me concentrar nela e com muito esforço me virei para observa-la, ela era tão linda, tinha uma cor viva, azul que me lembrava do oceano.

– A Ana iria amar isso tudo. - falei lembrando dela e automaticamente coloquei a mão na minha correntinha, ela realmente ia amar, esses vestidos lindos, comer doces, usar coroa, ver essa paisagem.

Esta tão perdida em meus pensamentos que mal ouvi ele falar comigo, me virei rápido para olha-lo e percebi que ele estava mais próxima, apenas um palmo no separava, com meu movimento rápido uma mecha do meu cabelo acabou caindo sobre meu rosto.

– O que disse? - perguntei nervosa com a proximidade.

– Me lembre de agradecê-la. - ele falou sorrindo.

– Por que? - perguntei confusa.

Ele tirou a mecha do meu rosto e colocou atrás da minha orelha depois acariciou meu rosto com as costas da sua mão, mesmo querendo reagir, eu não conseguia, estava paralisada, não conseguia desviar do seu olhar.

– Não falei nada, muito menos ele, apenas foi se aproximando e diminuindo a distância entre nós que finalmente acabou. Quando seus lábios encontraram os meus eu senti uma coisa tão mágica e especial que mesmo tentando, nunca conseguiria achar palavras para descrever o que senti.

Eu poderia imaginar milhões de momentos assim, em que passaríamos juntos, felizes, mas não era assim.

Não havia apenas eu, ainda tinham 20 meninas que poderiam muito bem ser melhores que eu.

E se ele não me escolhesse? Não quero me magoar, não quero sofrer como minha mãe.

Mesmo contra minha vontade, interrompi o beijo.

– Desculpa, eu não posso. - falei enchendo os olhos de lagrimas.

– Por que? - ele parecia confuso e triste.

– Porque ... não posso. Desculpa! - sai correndo antes que começasse a chorar, antes de me arrepender.

Entrei no meu quarto e comecei a chorar, minhas criadas não sabia o porque mais me apoiaram da melhor forma, fiquei chorando por horas e decidi:

Não vou deixar ele me machucar, não mais do que estou.