Masquerade escrita por okayokay


Capítulo 6
Death


Notas iniciais do capítulo

Me perguntaram no privado o porquê de eu escrever apenas o ponto de vista das garotas. A verdade é que eu não faço ideia de como a cabeça de um menino gira, então é mais fácil escrever como se fosse eu. Vou tentar mudar isso a partir desse capítulo, mas não sei se ficará tão bom, então eu gostaria que vocês me dissessem alguma coisa. Qualquer coisa.



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Madison Hartfold

– As inscrições para as atividades extracurriculares começaram.

– Eles dizem que não é obrigatório - Scarlett debocha. - Todos sabem que tudo no Instituto St. Cloud é obrigatório.

– Não seja tão chata, Lett - digo. - Há tanta coisa legal para se fazer. Eu acho que...

Minha fala é interrompida quando os três livros de matemática que eu seguro são derrubados no chão. Olho para cima: rosto limpo, cabelo ressecado, calça de marca desconhecida, olhar fixo no chão... bolsista.

– Você está louca? - pergunto. Aponto para meus livros. - Pegue.

O menino fica paralisado. Não sei se é de medo ou desafio, mas isso me irrita profundamente.

– Agora! - grito.

Ele pega meus livros rapidamente, os junta e os entrega para mim sem me olhar nos olhos. Arranco-os de suas mãos e suspiro.

– Eu odeio bolsistas - digo a Scarlett. Quando passamos por ele, que está ajoelhado, faço questão de tropeçar em seu ombro para que aquele pobretão caia.

§§§

Franklin Wentworth

– Ash - bagunço o cabeço da minha irmã. - Onde está a Dona Bethany?

– Aqui - minha mãe aparece já vestida de branco. Ela é neurologista no Hartfold Hospital. - Estou de saída.

Ela vai até mim e ajeita meus cabelos.

– Ajeita isso, pelo amor de Deus.

– Ele é cacheado, mãe - resmungo. - Enrolado igual ao seu.

– Espero que seja só o cabelo...

– O quê? - questiono.

– Nada - ela diz, balançando a cabeça. - Dá um jeito nisso. Diga ao seu pai que...

– O que quer que você tenha a dizer a mim, Bethany, pode ser dito pessoalmente - meu pai, Jonathan Wentworth, desce as escadas com cara de sono. - E então?

Havia bastante contraste entre os meus pais. Meu pai é alto, branco, cabelo loiro e liso. Minha mãe é baixa, tem pele morena, algo entre o bronzeado e o negro, tom herdado pela minha irmã mais nova, Ashley, além disso o cabelo dela é comprido, bem enrolado e castanho. A única coisa que liga os Wentworth são os olhos azuis. Ashley seria a cópia idêntica da minha mãe se não fosse pelo fato do seu cabelo ser liso. Já eu, tenho o cabelo da minha mãe e a cor da pele do meu pai.

Respiro fundo. A confusão está armada.

Meus pais se separaram há dois anos, mas ainda vivem na mesma casa. Não é pela falta de dinheiro, afinal isso sobra, mas é porque nenhum dos dois quer sair daqui. A casa é na verdade dos meus avós maternos, que deixaram de herança para sua única filha Bethany. Meus pais se casaram e meu pai foi morar com a minha mãe. Ela sempre me contava como eles eram pobres e se tornaram ricos juntos, ela como neurologista e ele como o inventor de um dos jogos mais baixados atualmente. Os dois cresceram juntos.

Como é casa caiu nas mãos da minha mãe por herança, a casa é só dela. Mas mesmo depois da separação, quando meu pai se negou a sair, ela não falou mais nada, apenas aceitou. E ainda aceita. Ela aceita toda essa humilhação que meu pai a faz passar em sua própria casa e muitas veze eu odeio esse cara por isso.

– Qual é a amante do dia? - pergunto. - Ou eu deveria dizer da noite?

– Hayley é minha namorada, Frank - ele rosna. - Seja respeitoso.

Então ela desce as escadas. Para mim, parece uma miragem. Pele clara e lisa, cabelos na altura dos ombros, encaracolados nas pontas e negros. Olhos grandes e verdes claros, quase azuis. Provavelmente cinco ou seis anos mais velha do que eu.

– Frank, Ashley... - meu pai sorri e estende a mão para ela. - Essa é Hayley.

A morena se senta no colo do meu pai e o beija. Isso embrulha o meu estômago. O meu pai não é tão mais velho assim do que ela, mas o fato de ele estar com uma mulher na frente da minha mãe me enoja.

– Estamos atrasados - me levanto e pego minha mochila. - Ash, vamos?

Minha mãe respira fundo.

– Não sujem o tapete da sala de estar, pelo amor de Deus - ela leva as mãos a cabeça, como se estivesse com dor. - Aquele tapete persa custou o olho da cara e eu o paguei sozinha.

Minha mãe olha para Hayley.

– Quando ele não era nada além de um sonhador - ela continua. - Quando eu era a neurologista renomada, a médica casada com um fracassado.

– Hoje ele é um dos caras mais ricos do mundo - Hayley diz.

– Exatamente. Eu o fiz ser quem é. O cara com quem você está dormindo já foi um derrotado e para quem já foi pobre uma vez não tarda a voltar as suas origens.

– Já chega! - meu pai se exalta. - Vai trabalhar, Bethany.

Minha mãe sorri com cinismo.

– Até porque alguém precisa trabalhar nessa casa, não é mesmo? - ela olha para Hayley. - Quando eu chegar, se houver qualquer vestígio dessa vagabunda na minha casa, saibam que cabeças irão rolar.

§§§

Adam van der Windsor

– Naomi! - grito.

Naomi van der Windsor, a filha adotada dos meus pais, Bridget e Harold.

– Naomi! - grito novamente, colocando um short e saindo correndo pelo corredor.

Naomi tem a pele levemente bronzeada, bem próxima do tom claro, olhos grandes, apesar de serem puxados, que parecem duas avelãs. Lábios carnudos, corpo cheio de curvas e uma língua afiada. Ela contaria aos meus pais que eu levei Wendy para nossa casa.

Merda!, tento achá-la nos corredores.

A encontro no seu quarto, é óbvio. Fecho a porta e a tranco atrás de mim.

– Eu vou contar - ela diz com um sorriso nos lábios.

– Você não vai abrir a boca! - aponto meu dedo para seu rosto. - Eu mato você.

Ela dá risada.

– Você pode pegar quantas garotas você quiser, Adam, mas não na nossa casa.

– Na minha casa - rosno. - Essa casa é minha.

Naomi parece não ter sido atingida pelas minhas palavras.

– Eu sendo sua irmã de sangue ou não, eu sou uma filha registrada. Tenho os mesmos direitos que você.

Naomi se levanta da cama e anda até mim.

– Sabe, Adam, suas atitudes são tão ridículas. Você é tão decepcionante.

– Cala a boca.

– Você fica com uma garota, você espalha isso para os sete ventos... sabe, você já parou para pensar em quantas garotas deixaram de dormir com você pela sua boca grande?

– Não é só a minha boca que é grande - falo com um sorriso no rosto.

Naomi dá risada e olha para baixo, suas mãos parando na beirada do meu short, seus lábios a centímetros do meu ouvido.

– Pare de se insinuar.

§§§

Scarlett Wilkins

– Tudo o que você fez foi mentir para mim! - ouço os gritos da minha mãe do segundo andar. - Eu sempre estive ao seu lado e você me traiu!

– Eu fiz o que eu fiz porque você não cumpria seus deveres como esposa.

Ouço uma risada feminina debochada muito parecida com a minha.

– Meus deveres como esposa? Me deitar com você quando o senhor Wilkins bem entendia? Você acha mesmo que eu era uma vadia de uma governanta que dava para você quando você quisesse? Eu sou sua esposa, Richard. Você deveria demonstrar mais respeito!

– O que está acontecendo? - Wendy sussurra.

– Cala a boca que eu quero ouvir - rosno.

– Eu demonstrei todo o respeito do mundo - a voz do meu pai soa abafada. - Você que me ficava me negando!

– Como que você queria que eu dormisse com o meu marido de noite sabendo que ele comia a empregada na minha cama durante o dia?!

Um minuto de silêncio. Dois. Três. Penso que alguém morreu, mas as vozes começam a soar mais baixas e eu e Wendy temos que subir para o segundo andar para conseguirmos ouvir.

– Você fez uma filha naquela mulher - minha mãe fala. - Tudo bem. Eu aceitei. Uma criança não tem culpa do seu pai legítimo ser um homem casado com outra. Eu pedi, não, eu implorei para você parar de se encontrar com ela, mas você não fez como eu disse...

– Eu não conseguia... Chelsea, por favor. Você sabe como eu tentava, mas eu não conseguia...

– Não conseguia manter o pinto dentro das calças? - ela volta a gritar. - Eu o alertei do que poderia acontecer, Richard. Você sabe que eu sou bipolar, você sabe que eu não consigo lidar com as minhas emoções! Eu disse que estava com raiva, eu disse...

– E você a envenenou.

– Você a envenenou! - minha mãe berra. - Se suas atitudes tivessem sido diferentes, sua amante estaria viva e bem longe daqui com essa criança gorda! Você a matou, não eu.

Meu pai bufa.

– Você vendeu todas as ações da minha empresa.

– Você merecia.

– Você me quebrou, Chelsea. Nós estamos falidos.

– Você e a sua bastarda estão falidos. Eu sou uma escritora rica e famosa que levou o golpe do dono da editor. Eu e Scarlett estamos indo para Londres daqui vinte minutos.

– Se você pensa que vai se safar dessa...

– Eu odeio você, Richard. O meu único arrependimento foi não ter matado aquela desgraçada com as minhas próprias mãos.

Um estrondo. Gritos agudos, sons guturais saindo da boca da minha mãe. Rosnados, guinchos e berros. Tudo está em câmera lenta.

Corro até o quarto deles, atravesso o corredor. Abro a porta bem a tempo de ver a poça de sangue ao redor da minha mãe, o líquido pegajoso e avermelhado saindo da sua barriga, suas mãos pressionadas contra a tesoura que foi enfiada no seu estômago.

O sangue dela está nas mãos dele.

Corro até ela, não me importo com a sangue, apenas seguro o seu rosto.

– Vá para Londres - ela murmura. - Fuja desse louco.

Nego com a cabeça.

– Eu não vou deixar você.

Ela sorri de canto.

– Eu sou um caso perdido.

Nego repetidamente com a cabeça. Lágrimas, desespero, sonhos de uma vida junta aos meus pais que nunca se realizarão, desejos jogados fora como se fossem lixo, uma vida inteira junta desprezada, o amor que um dia existiu foi embora pela janela e tudo o que restou foi ódio e asco.

– Mãe...

– Fuja desse louco enquanto ainda é tempo - ela sussurra. - Eu não o fiz e olha o que é que deu.

E então ela simplesmente para de respirar. Sem pulsação, sem olhos piscantes, lágrimas seguradas. Sua mão pende no chão sobre a poça de sangue, que ainda sai do seu corpo.

Olho para o meu pai com raiva. Nojo.

– Como você pôde?

– Scarlett... - ele olha para as mãos sujas do sangue da mulher com quem ele foi casado por vinte anos. - Eu não...

– Eu odeio você! - grito. - Tomara que você morra!

– Scarlett.

Seguro as lágrimas e olho fixamente nos seus olhos.

– Por que você não faz um favor ao mundo e se mata?

E naquela noite, Richard Wilkins, o dono de uma grande editora de livros, atualmente falida, foi encontrado morto no banheiro da sua casa.

Eu temo. Sei a verdade, mas ainda assim a temo. Quando o médico legista me chama, eu caminho lentamente até ele. O medo faz meu coração disparar dentro do meu peito.

Eu sou uma órfã agora, penso. A culpa faz minha cabeça latejar. A dor da perda do meu pai, por pior que ele fosse, me faz perder a razão. Choro na frente do legista.

– Enforcamento - ele me diz, depois que eu consigo me controlar. - Suicídio.


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Notas finais do capítulo

No capítulo que vem eu prometo que posto uma lista nas notas finais dos nomes dos personagens, profissão e etc. Será melhor para vocês entenderem a fic.



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