Designium escrita por Caio Historinha


Capítulo 19
Stuart I


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Frank Henz



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Turbulentas águas espreitavam na sua janela. O luto seguira o tempo que ficara ali como um irmão que nunca tivera. Mas houve um tempo - e não sabia quando- que amanheceu lembrando-se do sorriso de sua velha; das histórias que contava de seu pai e dos demais parentes que ela perdera contato. “Você deve ter orgulho de seu pai" sua avó lhe dissera em vida e em seus sonhos, e decidira fazer exatamente isso. Teria orgulho de seu pai. Teria orgulho de Helga Sluufy.

Passou os dias de viagem em sua cabine. Havia um cesto de roupas que Molly deixara pra ele. Certa vez ela abriu a porta enquanto ele se trocava. Por sorte estava ao menos de roupas íntimas, mas isso não aliviou o rubor que subiu por todo o seu rosto.
Gostava dela. Porém Stuart sabia que não era o tipo de garota para se gostar. Embora as datas de seus aniversários fossem próximas, a idade não era. Enquanto Stuart se gabava que logo faria dez anos, Molly faria em breve quatorze. Além do fato que era linda e inteligente, do tipo que gostava de aventuras ou quais quer logros que Otto lhe propunha.

Sentia certa inveja da afinidade deles. Sua família sempre se resumira a seu pai e sua avó. E agora não tinha nem isso. Apesar de curioso, Stuart não perguntou aonde eles iam. Ou qual era a ideia de ajuda que aquele insano Otto tinha a lhe oferecer. Aceitou o seu destino cegamente, acreditando estar cumprindo o juramento a sua avó: ser forte.

Duas batidas na porta anunciaram uma visita.

– Pode entrar. - Disse Stuart com a voz rouca pela falta de uso durante esses dias.

– Oi, Stu- Disse uma Molly alegre.

– Oi. - Soltou fraquinho ele em resposta. Ainda estava envergonhado pela situação dela ter o visto seminu. Ela, porém, parecia ter esquecido esse fato, ou não se importava com tais coisas. Afinal era bem mais velha, sabem-se lá quantos garotos pelados ela já vira?

– Quer ir comigo lá em cima? Já estamos quase chegando. - Disse a garota entusiasmada.

– Eu já vou. - Stuart disse sem olhar naqueles olhos verdes.

– Você não saiu daqui desde que chegou. - ela parecia frustrada agora. - Vamos. -Molly disse puxando-o pelas mãos.

Havia uma forma mais humilhante de ser levado para cima? Pensou Stuart enquanto era puxado. Os corredores do navio estavam vazios como de praxe. Subiram as escadas chegando ao lado de fora. A luz radiante do sol foi o suficiente para quase cegar Stuart. A paisagem não era o que ele esperava. Sua janela mostrava dia após dia o mesmo mar revolto nas opulências da noite ou raiado aqui e ali com o prisma de cores congêneres formando possíveis arco-íris. No entanto agora uma miríade de ilhotas espreitavam ao seu redor, e mais uma vez se perguntou aonde estava sendo levado.

– O rapazinho parece surpreso. Observou Otto em voz alta da cabine de navegador bem próximo a ele. Estava vestido como um Capitão importante em seu convés. - Achou que eu o despejaria num saco em qualquer lugar?

– Não senhor. Respondeu Stuart inocente.

– Pelas barbas da minha irmã! Molly, ele quase molha as calças quando fala conosco! - disse Otto rindo de seu jeito irreverente.

– Isso é mentira! - disse o garoto pela primeira vez nervoso desde... Desde que se lembrava.

Otto tornou a rir ainda mais estridente. No convés Molly meneou a cabeça sorrindo daquele jeito encantador. Seu gesto dizia "Está tudo bem, é só o Otto".
Recostando-se nas grades que delimitavam o perímetro do navio, Stuart observou tudo o que não vira nesses dias enclausurado em sua cabine.

Era bom ter os ventos acariciando seu rosto e puxando seus cabelos como um fantasma. O cheiro do mar era agradável: podia sentir o seu sal no ar. Tudo era bonito e colorido. Diferente dos dias cinzentos que passara no sótão dos gêmeos malucos. Apesar de bem alimentado não gostava de sentir como se fosse um rato esgueirando-se para não ser visto por vizinhos e - embora desnecessário - pelos gêmeos.

Agora estava de certo modo livre, o amanhã e o depois lhe eram desconhecidos e isso o aprazia de uma forma que não compreendia. Por sorte participaria de algumas aventuras com a destemida Molly (não do tipo romântico) e aprenderia dezenas de palavrões e diversos adjetivos para uma única obscenidade com Otto. Contudo, um dia eles partiriam como seu pai e sua avó fizeram com ele. E dessa vez estaria preparado para que suturasse as feridas antes mesmo de abri-las.

– O que tanto matuta aí nessa cabecinha? - Perguntou Molly escorando nas grades ao seu lado.

– Nada demais. Aqui é muito bonito.

– Não ligue para o Otto, ele nunca muda. E não quis te ofender. - disse a garota encarando-o. Porém Stuart não deixou de olhar o mar, não queria fazer cara de bobo ao contemplar aqueles olhos.

– É serio Molly, não ligo. - Falou o garoto.

– E me desculpe por entrar sem bater aquele dia - ela disse como se falassem sobre a paisagem.

Stuart, ao contrário de Molly, ficou todo vermelho, se auto-proibindo de encará-la.

– Tudo bem. - o que mais diria a ela numa situação tão constrangedora? -Não foi nada.

– Sabe do que eu me lembro olhando essa paisagem? - perguntou Molly pondo um ponto final naquele disparate.

– O que? - Stuart se agarrou a pergunta frívola como um bote salva vidas para o assunto anterior.

– "Onde vivem os monstros". Eu sei que é infantil, mas adoro aquele filme. - Stuart olhou de relance para ela e sua expressão era de arrebatamento. - Acho que eu nunca voltaria se achasse aquele lugar - ela virou-se para ele - Você gostaria de uma vida assim, Stu?

– É melhor do que os Teletubbies com certeza e suas bizarras TVs nas barrigas. - Respondera Stuart para o deleite de sua ouvinte que caiu na gargalhada.

– De fato- respondeu Molly entre arquejos.

Stuart estava perplexo, esperava mais amadurecimento de uma garota de praticamente quatorze anos. Todavia o fato dela ser assim não diminuía a atração que sentia por ela.

Assim que o riso da garota esmaeceu, ela o olhou de uma forma diferente de antes. Como se o sondasse. Stuart ficou desconcertado de tanta atenção, e seu ego não parava de dizer a ele que aquilo era o que ele pensava.

– Otto está enganado. Você é mais do que parece, Stu. - Molly dissera. É forte aqui- ela pousou uma mão em seu peito Stuart sentiu como se queimasse.

– Obrigado. - Ele respondeu sem jeito, nunca lhe haviam dito isso e não sabia a maneira correta de responder a este tipo de elogio.

– Estamos quase chegando, casalzinho! - disse Otto de sua cabine.
Stuart afastou de Molly com a face rubra o que fez Otto rir novamente, mas a garota continuava com a mesma expressão de antes.

– Não sei como você o aguenta. - Stuart soltou sem pensar.

– É melhor do que viver com meus pais - ela deu de ombros.

Stuart assentiu, no entanto não compreendia Molly. Daria tudo para viver com seus pais. Ela pareceu entender sua relutância.

– Meus pais só brigavam, e ano passado enfim divorciaram-se. A minha escolha era entre minha mãe e seus amantes viciados ou meu pai e o contender de cervejas que é despejado semanalmente via correio na sua casa.

O dia era do rubor, e ele vencia todas suas batalhas no caleidoscópio de emoções de Stuart. Fitou o chão, mais uma vez sem saber o que falar.

– Sinto muito. - o menino disse timidamente.

– Eu sei que sente, Stu. Mas não desperdice seu tempo acatando os meus problemas, mesmo em pensamentos. Você já teve a sua quota de tristeza o suficiente também. Nós tivemos. - Molly lhe olhou estoicamente. Vamos apenas viver cada dia.

– Que tal selarmos um acordo sobre isso¿ - sugeriu Stuart envolto num sentimento novo aderido das palavras da garota.

– Um pacto? - Molly pareceu ponderar sobre o assunto. E assentiu. - Sim, façamos um juramento agora. - disse ela pegando suas mãos.

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O navio ancorou num cais de pedra. Sua praia assim como toda a ilha parecia desolada. Contudo havia uma aura ali acolhedora. Estranhamente fazia com que Stuart se sentisse num lar de verdade. Porém esse sentimento podia emanar de seus companheiros. Suspeitava que estando no Alaska ou na África, se sentiria em casa se Otto e Molly estivessem com ele.

– Ajudem-me a descarregar as bagagens! - pediu Otto, ríspido como de costume.

Somente algumas malas não muito pesadas e uma mochila era a dita bagagem. Os três companheiros seguiram uma trilha na mata litoral com Otto como guia, porém Molly andava sem se preocupar como se conhecesse aquele lugar tão bem quanto o velho.

Um quarto de hora depois se depararam com uma clareira grande o suficiente para hospedar um estádio de futebol. Porém havia uma casinha de madeira em seu centro. Oprimida pela mata que a cercava parecia ser menor do que aparentava.

– Bem vindo à sua nova casa, Stu. Sinta-se à vontade, por favor - disse Molly, fazendo as vezes de generoso anfitrião, já que Otto estava ocupado sendo rabugento por nenhum motivo aparente.

Stuart sorriu pra ela e fez um simulacro do que poderia ser um sorriso pra Otto. Ele pareceu impressionado com tal atitude do garoto e assentiu a cabeça em sua direção.
Mais tarde Stuart ficou impressionado que a maioria da pequena bagagem era composta por coisas suas. Estaria bem abastecido de roupas e sapatos. Se bem que morando numa ilha poderia se vestir de folhas e atar-se a cipós. A casa por dentro era bem menos canhestra do que parecia olhando-a por fora.

Havia beliches nos quartos,com lençóis limpos. O papel de parede era verde-esmeralda e molduras em preto e branco de uma família pendia em diversas paredes. Aquele lugar era usado frequentemente, nem um lugar se manteria tão limpo e intacto se condenado ao abandono como o paradigma das casas abandonadas. Stuart foi deixado em paz para desfazer suas malas no seu quarto. Sua janela dava a vista para uma mesa e bancos de pedra que não havia reparado antes. Tardiamente se deu conta que seu quarto situava-se na parte detrás da casa que explicava ele não ter visto aquela mesa na clareira antes.

Alguns instantes ele voltara à cozinha e Molly preparava um lanche para todos. Stuart não reclamou por estar com fome, mas da próxima vez pediria algo menos nutritivo ou verde no pão. Não obstante achou uma total falta de educação lhe dizer isso no primeiro dia ali. Todavia não sabia ao certo se teria coragem ou desenvoltura o suficiente para abordar tal questão.

As horas ou o cronograma típico londrino haviam sido exterminados assim que sairiam de suas fronteiras. Lancharam na hora do almoço e jantaram na hora do chá. Não se incomodou com as mudanças, estava se adaptando. Uma das coisas que Stuart gostava era do Discovery Chanel, ver os hábitos dos animais selvagens era fascinante. Tomara, portanto alguns dos conceitos deles para si. Adaptar-se a novos ambientes e manter território, era um dos princípios estereótipos. Só não via motivo de lutar pela liderança de seu bando. Convinha a Otto ser o macho alfa pela idade. No entanto manteve essa lógica para si, não queria ser tratado como criança. Já bastava a discrepância de sua idade.

– Que tal um pouco de ação, garoto¿ - disse Otto certa hora da tarde (ele nunca sabia ao certo ali). Havia um brilho naqueles olhos pouco comuns no velho.

– Hmm, como quiser senhor. - respondeu Stuart na defensiva, com medo de um logro daqueles.

– Siga-me então e verei do que é capaz. Disse Otto levantando-se obrigando ao garoto segui-lo.

O velho seguiu pela saída de trás da casa conduzindo não intencionalmente Stuart. A porta aberta revelou a mesa de pedra que Stuart vira antes de sua janela. Havia uma caixa de madeira em cima displicente sujeita ao tempo e as intempéries. Contudo, não havia motivo de precaução num lugar isolado sem os perigos de uma civilização. Não sujeito as limitações da sociedade, nem desfrutando de suas plácidas ofertas.
Otto sentou-se num banco sinalizando para que Stuart fizesse o mesmo a sua frente. Assim que ele fez o mencionado Otto abriu a caixa revelando um tabuleiro quadriculado de vermelho e preto seguido de pecinhas brancas e pretas de madeira.

– Xadrez! - anunciou num brando desnecessário. - Suponho que saiba joga-lo, garoto.

– É igual a dama? - perguntou Stuart tacitamente.

– Claro! - disse Otto com notas de sarcasmos lívidas - Assim como pássaros são iguais a mamutes.

– Não compreendo senhor.

– Está mais do que claro isso, garoto. - Otto revirou os olhos. - Eu o ensinarei então.

No final da tarde, Stuart já memorizara as regras do jogo,e tentara a primeira investida contra Otto. Apesar do mau humor ele ensinava com paciência e repreendia cada jogada impensada do garoto com surpreendente veemência. Como se souber aquilo fosse vital.

– Acho que já basta por hoje. - disse o velho percebendo tardiamente que as trevas já os acolheram em seus múltiplos tentáculos de sombras. - Amanhã você tem que estar melhor. E no dia seguinte superior ao dia anterior.

– Sim senhor. Disse Stuart polidamente.

Foi contente para o aconchego afável da casa. Sua casa agora. Não viu Molly, e, cansado de esperá-la na fria sala - que por algum motivo não era permitido ligar a lareira-, subiu ao seu quarto. Nos outros dias as coisas não mudaram drasticamente apenas sutis detalhes eram alterados. Viu Molly caçar com arco e flecha, o que ela fazia com indizível destreza. E depois retornava a casa na clareira pra mais uma rodada de xadrez com Otto.

O progresso no jogo parecia demasiado lento para o perspicaz olhar de seu mentor. E pela Rainha, ele estava se esforçando. Contudo o velho exigia mais e mais, não aceitando sacrifícios desnecessários mesmo de reles peões.

– O peão se usado corretamente evolui. E você, garoto, usa o somente de alvo. - dizia Otto como um sermão.

Havia muitos desses sermões todos os dias, um para cada peça. Um para cada erro. Sua vida de possíveis aventuras foi eclipsada por coisas como jogar xadrez e observar (raramente) a Molly caçar. Não estava descontente só frustrado por ter tido tantas expectativas a cerca de seu futuro.

Sonhos infantis em suma ainda eram sonhos. E tudo o que com afinco desejou não era diferente das fantasias de um garotinho. Na certa pensava que aprenderia alguma coisa útil com Otto como mandar alguém tomar naquele lugar de varias formas. E como de praxe, terminaria a historia com a mocinha – Molly - nos seus braços.
Mediante suas frustrações decidiu que estacaria os desejos pra cada êxito em sua nova vida. Observou com mais atenção como Molly nunca errava as partes vitais dos animais sendo grandes ou pequenos. Poupando-lhes de sofrer antes de morrer. Engoliu a pergunta estúpida que pensou em fazer "Como ela caçava sendo vegetariana?" E o xadrez...

– Oho! Ai está uma jogada que vale a pena, garoto! - frisou Otto a sua frente.

Sacrificara seu cavalo ao capturar um simples peão. No entanto o objetivo principal dessa jogada era distraí-lo para capturar sua rainha. O que conseguiu com premeditada eficácia. Sabia que não deveria sorrir por receber um elogio. Mas convinha sorrir pois elogios vindo de Otto eram tão avaros,deveria comemorar de alguma forma. E sabia que não podia ser com uma espécie de dancinha da vitória.

– Acho que enfim você sacou a trama do xadrez garoto. Porém está confiante demais por um mérito tão dificilmente adquirido. - disse Otto ainda sim com uma expressão de contentamento estampado em sua face antes cheia de carrancas. - Creio que já conseguiria me responder "Às perguntas".

– Quais seriam senhor? - perguntou Stuart sem tirar os olhos do tabuleiro. Sabia que esse tipo de atitude agradava ao velho.

– Atribua a si mesmo e aos que conhece as peças de xadrez. - disse Otto austero. Sacudiu seus enrugados dedos na cara de Stuart -...Sensatamente.

– Não compreendo senhor. Disse sinceramente o garoto diante do seu mentor.
– Você gosta dessa palavra não é? - disse o velho rindo. – É simples. Como você definiria as pessoas que conhece e conheceu pelos seus atos do começo ao fim. Seus "movimentos" se aplicariam a qual peça especificamente, garoto?

Era difícil ver as coisas desse modo, contudo o velho parecia achar importante esse tipo de visão.

– Se todos formos peças, meu pai e minha avó foram ambos peões. Assim como eu porem cada um seguiu bem mais no “tabuleiro" do que eu jamais avançarei. Meu pai foi um peão conspícuo não temendo nenhuma peça, fomentando outros peões à rebelião. Porém foram fracos por serem peões e não tinham muitos movimentos e eles terminaram cedo demais. - disse Stuart introspectivo. - minha avó foi um peão inerte que morreu por um peão que nem sequer havia se movimentado ainda.

Incontroláveis as lágrimas caíram sobre as peças,e sem posse de si mesmo Stuart já soluçava condescendente em sua amargura de espírito.

– Está enganado, garoto. - Disse Otto quase para si mesmo. - Seu pai fora um cavalo seu salto em L pela população gerou mais danos aos inimigos do que qualquer um já fizera. Ele deu o preâmbulo de que necessitávamos. Morreu por falta de apoio justamente por que as pessoas que sofrem tem a ideia de se rebaixarem a peões. Muitos bispos, torres e cavalos como ele simplesmente negam que podem fazer alguma coisa. E por isso seu pai perdeu.

Otto levantou-se fitando o garoto que ainda não tirara as mãos de seu rosto tentando em vão ocultar as lagrimas que já estavam tão destacadas nas peças a frente. Cintilantes gotas adornavam cada uma delas e brilhava minuciosamente com a luz de fim de tarde que antecedia ao crepúsculo.

– Quanto a você, garoto. Tem razão: é um peão. - continuou o velho inquisitivo. - Porém esta atravessando o tabuleiro e quando chegar ao final vai se tornar o que quiser. O que quiser! Portanto olhe para mim e aceite o seu fardo agora. Já passou o tempo de chorar. A grande Helga e o venerável Barney merecem coisa melhor de nós não acha garoto?

– Sim! - Gritou Stuart franzindo o cenho, tamanha era a sua concentração.

Irei deixá-los orgulhosos pensou ele levantando-se, mas em seu âmago aquilo soou mais estridente do que seu grito de agora. E a quentura que sentira antes no navio borbulhou dentro de si como se ele tivesse aumentado a temperatura. A poucos palmos a sua frente o ar ficou rarefeito. Parecia oscilar. O velho afastou-se com uma expressão neutra.

"Seja forte, por mim e por seu pai." Ele ouviu nos recônditos de sua mente e labaredas verdes rodearam-no provindo de sabe-se lá onde. A princípio, pequenas chamas circundavam-no timidamente e depois elas subiram aos céus impulsionados pela sua determinação. Como um tornado de fogo, porém da cor errada.
Relaxou em sua convicção e o tornado extinguira-se. Esperou calmo pela repreensão que não veio de Otto. Não acontecendo nada tornou a fitar o velho mentor e ele sorria. Sorria. Molly com seus pés silenciosos de caçadora chegara sem ser vista e estava ao lado de Otto olhando-o admirada. Stuart fez o possível pra não voltar a enrubescer. Mas deve ter ficado mesmo que levemente corado por que a garota lhe sorriu... E relutante abriu a boca vagarosamente e imitou seu gesto o melhor que pôde.

Os dias seguiram aos dias e nada tão importante acontecera novamente. Contudo, vez ou outra Stuart longe da casa praticava os seus poderes ainda incerto do que provinha de tal habilidade ou como melhor controla-la. Lembrava-se das indiretas de Otto sobre não poderem escondê-lo ali se ele simplesmente queimasse tudo. Levara o conselho a serio e prometeu não ser indulgente com tais habilidades.

Assim se encontrara numa manhã parcialmente fria de... Bem, não sabia que dia ou mês se situava. Todavia encontrava-se numa manhã nem muito fria nem muito quente treinando o alcance de seu tornado com a vigente Molly a lhe incentivá-lo em progressos. Conforme ele aumentava o calor dentro de si maior era o tornado de chamas que provinha de si. Uma espiral verde o circundava sendo ele o centro de tudo. Não cansava de fato produzir tais chamas porém a cada novo tornado a antes excitada Molly ficava mais apreensiva. Talvez ele estivesse excedendo-se demais. Mas não via o porquê maneirar em seu poder só por temê-lo.

– Acho que já foi o suficiente por hoje, Stuart. - Disse Molly realmente preocupada.

– Estou pegando o jeito. - Respondeu O garoto a provocando. Porem desfez seu tornado para ela não o atormentar mais.

Preparava-se para partir para sua casa com Molly pensando o que ela faria se ele lhe desse a mão durante o caminho quando alguma coisa caiu- Não, pousou- Atrás de si.
Virou-se achando ser algum pássaro grande, talvez um cisne. E assustou-se com o que viu soltando um grito. Era um garoto branco como o leite que o fitava. Havia linhas negras que se sobrepunham sobre seu corpo alvo de uma maneira incomum. Podia e parecia ser parte de uma fantasia, mas se fosse estava de tal forma aderido ao corpo deste cara que ele teria dificuldades em tirar sem auxílio. Seus cabelos e olhos eram as únicas coisas naturais nele. Os olhos eram azuis como se houvessem capturado e fundido o azul do mar e do céu num tom que se destacava em seu rosto pálido. Os cabelos eram espetados estavam em desalinho, de uma cor castanho-avermelhada. Precisava de corte apesar de não ter chegado aos ombros.

– Meu nome é Vincent e tenho uma proposta. Sua face não demonstrava nenhuma emoção.

Não havia como prever as intenções desse cara extremamente pálido que simplesmente chegou ali. Era hora de avançar no tabuleiro para o bem ou para o mal.

– Meu nome é Stuart. - ele disse resoluto provendo as chamas verdes ao redor dele e de Molly em excesso perante o visitante para mostrar que não era um simples peão. - O que quer de nós?

– Ajuda-los se possível. - Respondeu conspicuamente. Ele não vacilou perante as chamas. Era quase como se não as temessem.

– No que exatamente?- perguntou Stuart ainda alheio a o que esse sujeito queria lhe dizer.

– De que lado você está? - Perguntou Molly sem medo ao estranho
Vincent. Esse era o nome dele. No entanto, Vincent pareceu reparar em Molly só agora que ela havia falado.

Stuart só pensava em como alguém conseguia manter a mesma expressão de vazio por tanto tempo. Não confiava nele.

– Lado? . Ele fez a palavra soar como um enigma dificílimo. - Estou do “lado" que constitui a paz. Por que morrer tendo que escolher lados? - mais uma vez ele frisou a palavra como se desconhecesse. - Por que não servir a ti mesmo?

– Se pensa assim, por que quer o Stu? - perguntou Molly com o máximo de ousadia que conseguia diante do estranho.

– Para que ele não tenha que escolher um lado. Ambos são analogias e levam ao mesmo caminho da morte. Mais depressa do que você terá tempo de crescer. - Vincent respondeu introspectivamente fitando Stuart. - É compreensível você duvidar de mim e de minha possível ajuda. Você já deve ter saboreado desventuras amargas mesmo sendo tão novo. Na certa perdeu pessoas que amava e a confiança se tornou um tabu para ti. Portanto te darei o poder da escolha - fez um gesto com as mãos e uma forma branca como a textura que compunha de seu corpo surgiu no meio deles rodopiando e adquirindo aos poucos uma forma oval grande - Na sua frente encontra-se um portal ele ficará aqui por dois dias e depois desaparecerá. Se decidir ir atrás de mim é só entrar ali. Se ignorar minha ajuda eu o ignorarei semelhantemente. E assim seguiremos nossas vidas.

Stuart ficou sem fala. Não estava preparado para responder aquilo E não sabia quando estaria.

– Adeus. - Disse Vincent. Flutuou até o portal transpondo-o sem dificuldade e desaparecendo por completo.

Sentiu uma mão em seus ombros e relaxou extinguindo o tornado.

– Esse cara. Vincent- disse Stuart encarando Molly. - Certamente seria uma “Rainha”.


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Notas finais do capítulo

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