Designium escrita por Caio Historinha


Capítulo 15
Vincent II


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Frank Henz



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Caminhavam na trilha da montanha, sua mãe estava á frente serena como desde que chegara ali. Vincent a observava com tanto contentamento que não conseguiria expressar,era como um sonho . As vezes não sabia como reagir com tanta paz acostumado a um clima tão inóspito.

Subiram a encosta e pararam numa rocha especialmente grande,como que nivelada para ser uma mesa de pedra. Sua mãe foi a primeira a subir e com um sorriso deu a mão para Vincent içando-o.

Acima e ao seu redor tudo era branco, exceto ali no "cantinho de Vincent". A centenas de metros abaixo de onde eles estavam na montanha a mansão ficava exatamente a frente da cordilheira que Vincent trouxera para ali. Junto de um lago completavam um cenário que a mansão Collins nunca vira.

Após estar com sua mãe na mesa de pedra ela sinalizou para que se sentassem, e foi o que ele fez. Ela retirou sua mochila e ele a dele. Era difícil se acostumar a ver sua mãe lhe dizendo o que fazer. Acostumar a tudo lhe era absurdamente difícil, porém uma tarefa muito apreciada. Diferente de antes as mudanças de agora eram sempre boas.
Eles retiraram os sanduíches que fizeram na mansão antes de subir e uma garrafa térmica e comeram absorvendo toda aquela paisagem alva e inexplorada a sua volta.

Até onde ia parar aquela imensidão branca? Tinha mesmo um fim? Uma das primeiras mudanças físicas que sentira desde que chegara ali era que não sentia fome,cansaço,sono,nada. Como se essas coisas estivessem sido deixadas para trás como bagagens. No entanto apesar de não sentir fome, comer continuava a ser prazeroso. Dormir era possível e relaxante. E caminhar era excitante e nada cansativo. Ainda mais numa montanha que a alguns momentos (eles não sabiam ao certo como o tempo passava ali) não existia a porta de sua casa.

– Mãe. Vincent à chamou.

A mulher se virou para encará-lo pensativa, sua aparência estava anos mais nova. Até linhas de expressão características haviam sumido dando-lhe um ar bem mais jovem.

– Diga, Vincent. - Ela disse

– Já falei que te amo hoje?- o jovem perguntou serio.

– Só umas cinqüenta vezes, meu amor- ela disse sorrindo daquele jeito que Vincent tanto ansiava enquanto vivia enclausurado em seu próprio quarto. Em sua outra vida, que não gostava de lembrar.

Ela passou um dedo percorrendo os contornos da face de Vincent como se os reparasse agora.

– Também te amo muito. - Sua mãe disse.

Sorrindo de orelha a orelha Vincent voltou a comer o seu sanduíche. Se pudesse definir aquele momento em uma palavra seria: perfeição. Depois de saborear mais um sanduíche ele deitou com a cabeça no colo de sua mãe que entoava uma canção que Vincent não conhecia. Ele poderia dormir mas não queria,não num momento daqueles.

– Como você está se sentindo mãe?

A mulher pareceu pensar muito antes de responder.

– Sinto como se minha essência tivesse sido colocada em outro corpo. Mais jovem e revigorado - respondera ela. - Eu posso escalar montanhas o dia todo que não me cansarei. Se eu pular daqui para aquele lago acredito que não vou morrer. Deve ser assim que os deuses se sentem não? Não haver amanhã,não haver o fim . As areias da grande ampulheta do tempo não tem efeito aqui.

Vincent não tinha pensado assim. Porém o tom de sua mãe não parecia totalmente feliz. Havia uma nota de tristeza ali. “Não permitirei que minha mãe se sinta assim novamente,ela já teve a sua quota de infelicidade".

– Isso é bom ou ruim? Ele perguntou inseguro de qual resposta tomaria.

– Nenhum nem outro Vincent, o que uma velha que passou grande parte da vida doente saberia sobre estas coisas?- sua mãe disse com ainda um traço de sorriso .

– Você não é apenas isso. Não gosto que se descreva assim- disse Vincent fazendo um bico típico de quando ele estava zangado.

– Sou sim meu filho bicudo- disse sua mãe rindo-se da expressão do filho. Levantou-se e Vincent a imitou como uma sombra.- O que acha de voltarmos pra nossa casa agora?

– O que você quiser- respondeu Vincent apesar de acabarem de chegar ali.

Descer da montanha fora tão prazeroso quanto subir, nada parecia os afetar. Deuses,Vincent se pegou pensando. Não sabia muito sobre eles além de que faziam tudo ao seu bel prazer não se importando com consequências como a mitologia grega e nórdica os fazia crer. Ou mártires como o cristianismo propagava. Nenhum desses condizia com Vincent e sua mãe. Mais havia algo de bélico naquele mundo que os tornava diferente dos humanos comuns. Seria correto os privar de tal benefício de viver num mundo sem dor ou sofrimento ? E se ali fosse o paraíso e eles fossem os primeiros habitantes? O correto parecia ser tão difícil de aplicar naquela situação .

– Anjos,devemos ser anjos mãe. Vincent disse quando descia pela mesma trilha de antes.

– Tenho minhas dúvidas - sua mãe respondeu rindo. - A princípio onde foi parar meu par de asas que eu tanto preciso ? - ela disse em tom brincalhão.

– E auréolas - Vincent passou as mãos por cima de sua cabeça sem sentir nada. - Definitivamente não somos anjos.

O seu mundo ecoou a risada da mulher que tanto prezava. E podia haver alguma coisa melhor? Questionou-se Vincent. Achava que não, teve uma parte absurdamente grande de tristeza,e fazia sentido ter outra parte tão imensurável de felicidade.
Ainda desciam a montanha quando Vincent perguntou

– Sente falta de alguma coisa mãe?

– Sinto falta das estrelas Vincent. - ela disse olhando para o céu branco. - Algo nelas me fazia se sentir melhor enquanto eu definhava na cama. Tão perto e tão distante. E de saber que horas são,não gosto de não saber que as coisas estão em movimento .

– Eu vou trazê-las para a senhora - prometeu obstinado Vincent.
– Não meu filho - sua mãe disse austera. - Mesmo que possa o fazer,não seria a mesma coisa.

– A senhora há algum tempo parece descontente. - o garoto ofegou devido ao esforço de por tais palavras para fora. - Pensei que estava feliz aqui comigo.

– E estou meu filho- sua mãe parou de andar encarando-o. - Muito. Porém eu não me sinto ser eu, é como se o meu eu verdadeiro estivesse assistindo a tudo isto lá no meu quarto em seu leito de morte. E apesar de estar a poucos passos de seguir em frente, para a tão sonhada paz,estou estacionada nos desejos de meu garotinho. - ela abraçou Vincent que chorava a sua frente quando compreendeu o que ela queria dizer. - Eu não posso viver num sonho. No seu sonho Vincent . Aqui que é uma sombra da realidade.

– A senhora não pode me deixar- disse Vincent soluçando agarrado á mãe como se pudesse manter ela á força ali . - Eu não tenho mais ninguém.

– O meu tempo já passou Vincent,você tem que me deixar partir- sua mãe disse olhando nos seus olhos . Tão azuis quanto os dela.

– Irei ficar mais um pouco apenas- ela disse comovida . - Tudo bem?

Vincent assentiu com os olhos lacrimosos. Seguiram a trilha pra baixo e não falaram mais de partidas naquele dia. Sua mãe cantava a melodia desconhecida enquanto desciam a montanha e Vincent tentava ao máximo memorizá-la pois agora sabia que não a teria para sempre.

De alguma forma ele deve ter adormecido,a fadiga emocional o levara a isso e quando abriu os olhos em seu quarto pensou ter tido o mais louco dos sonhos.
Correu pra janela esperando ver a neve mas tudo era branco e vazio. O céu e o que deveria estar ao seu redor. Suspirou de alívio e saiu correndo para o corredor. Alcançou as escadas e passou pela tão odiada ninfa desenhada no vitral e chegou a sala. Imensa e vazia como sempre fora,mas não mais fria. Uma das coisas estranhas ali era que não existia de fato um clima. Não era frio demais nem quente demais. Tudo desde o princípio ali lhe era favorável. Não compreendia as queixas de sua mãe.
Sua mãe. Preocupado,ele correu até a porta e assim que a abriu se deparou a poucos metros com o que ele procurava.

Ainda quando moravam no antigo mundo onde havia morte e sofrimento sempre teve bancos de madeira no terreno dos Collins - hospedavam na maioria das vezes folhas secas no outono e neve no inverno- sua mãe assim que se instalara achou correto fazer o mesmo ali colocando um dos bancos velhos no novo terreno.

Havia uma diferença enorme de se sentar a frente do pálido vazio do mundo de Vincent. Conseguia ser redundante . Por isso Vincent trouxe um lago tão azul quanto os olhos de sua mãe e uma montanha para servir de paisagem . Sendo assim se sentar no banquinho de madeira se tornara exponencialmente melhor desde os tempos antigos. O imenso Big Bem tinha papel de enfeite naquele lugar: mesmo não mostrando as horas realmente – afinal o tempo não passava no limbo – era algo bonito de se ver.

E lá estava ela . Sentada ,perdida em pensamentos enquanto olhava a frente,para o lago,para a montanha ou para o nada. Vincent não sabia. Caminhou até sua mãe e pôs uma mão em seu ombro e ela colocou ambas as palmas sobre a sua.

–Estou pronta pra partir Vincent - ela disse sem fitá-lo.

– Não compreendo o porquê disso mãe. - Vincent disse agora mais controlado.

– Um dia vai compreender filho. Pense nisso como um Presente para mim. - ela a encarou virando-se. - Estou tão cansada. Aqui dentro - sua mãe apontou para seu peito.

Repentinas e traiçoeiras as lágrimas jorraram. Mas não tinha o porquê escondê-las.

– Shiu, shiu - disse sua mãe. - já foi-se o tempo para chorar querido.

– Eu prometo trazer tudo o que você sente falta. Logo aqui terá tudo o que gosta . Eu prometo- repetiu o garoto como que suplicando.

– Não é o lugar Vincent,não é você. Eu não estou realmente viva,você mantém minha alma aqui como uma memória do que ela já foi e isso é errado até para deuses. Deve deixar as coisas seguirem o seu destino,porém não significa que não possa fazer nada.

Sua mãe levantou-se.

– Você e esse mundo é a esperança pra muitos que realmente precisam de ajuda. Mas cabe a você encontrá-los. E salvá-los .

– As pessoas só sabem matar uns aos outros discriminando por serem tão diferentes entre si. Tão iguais.- respondeu Vincent não querendo falar sobre isso,já que o pouco que sabia sobre as atitudes das pessoas havia sido na televisão em seu quarto. Com a fragilidade de sua mãe temia ficar fora e voltar tarde demais para sua casa por isso tinha aulas particulares. - Como vou ajudá-los? Sendo assim?

– Dê-lhes a oportunidade e verá que nem todos são assim querido. Comece pelos especiais como você . Eles são os mártires do nosso tempo,muitos abusam de suas habilidades em finalidades próprias e sujas. Estenda- lhes a mão. Mostre que nem tudo tem que ser assim Vincent. Você pode parar essa eterna guerra,meu querido. - ela se aproximou de seu filho a poucos centímetros . - Agora beije-me que tenho que ir.
Vincent tocou seus lábios nos da sua mãe,agora não chorava. Ainda não entendia exatamente tudo,porém sua mãe havia lhe ajudado. Estava preparado para deixá-la ir.

– Você nunca me disse sobre o meu pai. - ele soltou cabisbaixo.
– Eu fiz um juramento Vincent de nunca tocar no nome de seu pai novamente desde que ele me deixou com você ainda muito pequeno. E não será agora que quebrarei minha promessa. Mas já lhe adianto que não vale a pena se interessar por este assunto. Deixe essas coisas para trás como deixou todo aquele sofrimento de anos ,e foque agora em sua missão.

– Não sabia que tinha uma, mãe.

– Pense em tudo o que eu lhe disse e saberá qual é ela - respondeu a mulher sorrindo. - Agora faça o que eu pedi Vincent. Por favor.

– Vai lembrar-se de mim onde você estiver?- ele perguntou mais uma vez estranhamente calmo.

– Sempre.

Pegou as mãos dela nas suas e abriu um portal abaixo de sua mãe. Revelando um azul mais intenso do que as águas do lago a sua frente. Tudo era mais fácil ali no seu mundo sendo que aparentemente o limbo era composto da massa branca que ele produzia.

– Eu também - Vincent disse olhando-a nos olhos e soltou suas mãos.
Ele sabia que deveria fechar o portal imediatamente e pensar no futuro e nos planos que sua mãe plantou em sua mente. Todavia não era um simples corpo que caia ali, era a sua mãe. Saltou no portal ao chão.

Caía a uma velocidade incrível seu corpo girava alheio a sua vontade. Tudo era azul, e isso mudava tudo depois de tanto branco. Porém não estava em outra dimensão como contestou alguns segundos depois - que consequentemente gerou mais rodopios em seu corpo. Seu portal surgiu a milhares de quilômetros do solo por isso eles caiam.
Apertando os olhos conseguia ver muito abaixo um ponto verde e aparentemente marrom rodeado de um azul mais escuro do que o azul que o cercava enquanto ele caia. Este azul de baixo parecia ser tão abrangente quanto o de cima. O céu e o Mar,concluiu Vincent.

Mais alguns rodopios e o garoto conseguiu estabilizar numa posição reta. Caia como se estivesse saltado de ponta. Ha algumas dezenas de metros abaixo alguma coisa colorida caia também: sua mãe. Assim como ele ,ela não gritava. Havia aceitado a sua sina.

E eu tenho de aceitar a minha,pensou ele. Lembrou-se dos momentos de paz no limbo com sua mãe,o piquenique na montanha. A estranha melodia que tanto lhe fazia bem. E a matéria branca saiu de ambas as mãos como ele queria. Porém dessa vez ele não as projetou para fora. Forçou-as a espalharem-se pelo seu corpo. Ambos os braços estavam brancos como se estivesse mergulhados em leite.

E em seguida o seu corpo todo,menos os cabelos estavam daquela cor não natural de branco. Sentia o poder fluir por seu corpo como jamais sentira. Invocou algumas imagens de Riley e dessa vez a matéria negra escoou de suas mãos,e novamente ele as conduziu ao próprio corpo,mas não em excesso como a matéria branca. A matéria preta formava linhas em seu corpo como que delimitando o contorno do corpo dele. Estava completo.

A um comando o seu corpo parou onde estava ,ainda no ar. O vento ainda era forte o suficiente para despentear os já bagunçados cabelos castanhos avermelhados. Deu uma olhada em sua nova aparência e gostou do que viu. Era composto de duas matéria distintas: uma provinha da paz e outra da fúria. No entanto levou esse fato como uma lição. Afinal ninguém era unicamente bom,ou apenas mal. Tinha que haver um equilíbrio e Vincent havia o alcançado.

Tornou a olhar para baixo e tudo estava bem mais próximo. Percebia com clareza as ondas se formando a dezenas de metros de distância de onde estava. Como leves ondulações vista aquela distancia. A grande forma verde e marrom era uma ilha com uma protuberante montanha no centro (não tão grande quanto aquela que havia no limbo). E aquele pontinho colorido já tão distante...

Voltou a descer ainda mais rápido agora que tinha controle sobre o seu corpo. Podiam dizer que ele estava voando mas isso seria incorreto. Vincent domava aquelas matérias em seu corpo conduzindo-a para qualquer direção que quisesse e estando a usá-la como uma vestimenta ele ia junto. Acelerou ainda mais e agora distinguia perfeitamente o corpo de sua mãe a algumas dezenas de metros . “Ela parece tão em paz" .

Podia parecer coisa da mente dele mas sua mãe havia sido transfigurada . Seus cabelos voltaram a ser ralos revelando sua cabeça anormalmente pequena. Voltara a tonalidade branca- azulada e as veias riscavam todo o seu corpo berrante mente. As rugas em seu rosto voltou a marcá-la , perdeu as maçãs que havia readquirido no limbo. E apesar de tudo, Vincent nunca a viu com uma expressão tão feliz. Aqueles velhos lábios eram a prova daquilo enquanto sorria ao cair de cabeça pra baixo com os olhos fechados.

“Descanse em paz, mãe". A contragosto, Vincent evocou imagens de Riley e projetou uma esfera negra em sua mão direita . Alimentou-a com o pesar por todos aqueles anos e acima dele a sua esfera já havia superado o tamanho dele três vezes. Arremessou a bola negra abaixo numa força inimaginável. Como que calculado a gigantesca esfera passou pelo corpo de sua mãe indo até a montanha. O impacto foi mais rápido do que ele previra e uma coluna de fogo de proporções dantescas subiu cheirando a enxofre em sua direção. Cremando o corpo de sua mãe instantaneamente.
" já foi-se o tempo para chorar querido " . Vincent circundou a coluna de fogo e lava que jorrava abundantemente.

Como uma mosca faria próxima a uma lareira voando em espiral em sua descida. O vulcão voltou a cuspir lava para o céu,Vincent voava bem mais próximo do chão devido a esse fato porem as lavas e o magma caia como uma chuva vermelha e absurdamente quente levantando vapor e chamas onde caia. Nesse momento escorria pela floresta que teve a infelicidade de margear aquele vulcão.

Mas Vincent era rápido,desviava dos jorros da montanha com velocidade a poucos metros do próprio vulcão. No entanto por voar tão baixo quase foi escaldado quando uma cachoeira de magma surgiu de repente no seu flanco. Só teve tempo de pensar no sorriso que odiava em Riley e projetou a massa preta a sua frente num formato de meia lua de proporções duas vezes o tamanho de Vincent.

O escudo aguentou firme a torrente de lava que escorria até ela,e ainda um pouco assustado o garoto via o rio de fogo escorrendo pelos lados onde seu escudo não estava.
Pensando rápido Vincent impulsionou seu corpo para trás mantendo o escudo negro a sua frente e conseguiu sair da cachoeira vermelha que brotava de um dos mais novos orifícios do vulcão.

Porém aquele lugar continuava a ser muito perigoso,e o vulcão expelia lava a grandes distâncias para todos os lados. Aquela pequena ilha não duraria muito mais. Sair dali voando não era tão simples, senão fosse atento seria atingido ainda no alto.
Ainda sobre a sombra de seu escudo negro projetou outro similar em proporção na mão esquerda e fazendo um movimento como que puxando com ambas as mãos ele uniu as duas meia luas Negras numa única grande esfera . A sua frente moldou uma espécie de pequena janela para não perder visão total. E seguro ,impulsionou seu "transporte" a toda velocidade para longe daquela ilha e seus momentos finais.

Pela sua “janela" assim que a ilha tinha ficado para trás e apenas o mar seguia calmo abaixo dele decidiu parar. Com um movimento fluido de ambas as mãos ele voltou a separar as duas meias luas negras. Lançou a da direita primeiro pra cima e quando já estava a uma distância consideravelmente longe ele lançou a outra com ainda mais força na mesma direção. E assistiu a colisão se transformar numa grande explosão nas alturas satisfeito.

Voltou a sobrevoar o mar a frente. Fizera a primeira parte que sua mãe pedira e não lhe negou o descanso que ela tanto ansiava . Agora faltava a segunda e mais difícil parte: ajudar os mutantes. Não tinha ideia de como sequer a começar a fazer isso.
Impulsionou-se para baixo . Mantinha a mesma velocidade mas estava tão próximo de seu reflexo no mar que tocou uma das mãos nas águas enquanto sobrevoava. Sentia-se tão bem. Tão completo.

Absorto em seguir o seu próprio reflexo nas águas não reparou que a frente surgia outra ilha. Essa parecia bem maior e a melhor parte : não tinha vulcão. Pensou em circundá-la por cima para ter uma melhor visão e se assustou com o que viu nas alturas.
Por um momento insano achou que outro vulcão havia entrado em erupção mas aquilo que saltava para cima não era definitivamente lava. Era uma espécie de tornado verde,porém parecia ser constituído absurdamente...de chamas. Pelo calor que produzia mesmo a distancia.

Só havia uma explicação óbvia para coisas ilógicas. Mutantes. Voou para cima seguindo o tornado verde que não saia do lugar. Sobrevoou florestas virgens e rios translúcidos. “No entanto isso tudo acaba assim que aquele tornado de fogo se espalhar". Seja quem fosse que produzia aquilo ou era muito poderoso ou muito ingênuo por produzir em tamanha quantidade excessiva .

Alguns quilômetros a mais e nada parecia estar ardendo em chamas e o tornado mantinha-se no mesmo lugar ainda visível muitos metros acima de todas as árvores daquela ilha. Quanto mais se aproximava Vincent do tornado de fogo mais ele diminuía altura de seu vôo e sua velocidade. Logo voava abaixo do topo das árvores desviando de grossos troncos e cipós a sua frente encontrou um lugar num galho a sete metros do chão que lhe dava uma vista bem favorável.

Um garotinho loiro com dez anos no máximo era a fonte do tornado que o circundava como uma espiral sendo ele o centro daquilo. Havia uma garota bem bronzeada e de cabelos pretos observando tranqüilamente os feitos do garoto.

– Acho que já foi o suficiente por hoje Stuart! - a garota gritou para ser ouvida. E o tornado foi desfeito ainda no ar como se nunca tivesse existido. O menino ofegava mas sorriu para a garota.

– Estou pegando o jeito. - O garoto disse parecendo ainda mais infantil do que já era.

"Você pode ajudá-los" a voz de sua mãe ecoou na sua mente. Essa era uma chance. Resignado Vincent saltou do galho em que estava ainda assim controlando a sua queda para cair o mais devagar possivelmente. Os dois só o notaram quando seus pés tocaram o chão . O garoto gritou assustado com a aparência estranha de Vincent mas logo se recompôs colocando-se a frente da menina ,protetor.

– Meu nome é Vincent e tenho uma proposta. Ele disse como que ensaiado e sem muita convicção.

– Eu sou Stuart - disse o garotinho produzindo seu tornado de chamas verdes como um escudo para ele e a garota. Era incrivelmente quente estando tão próximo - O que quer de nós?


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Notas finais do capítulo

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