Designium escrita por Caio Historinha


Capítulo 10
Helga


Notas iniciais do capítulo

Capítulo escrito por Frank Henz



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Deixou as flores no túmulo de Barney com as habituais lágrimas que sempre trazia ali,junto das flores claro. Ele morrera por uma causa que nem sabia ao certo o que era. Os direitos dos mutantes ele alegava,eram pessoas como eles porém afetados. "Não se julga os doentes mãe", ele lhe dissera varias vezes. "Porém se julga os mortos meu filho,e eu o julgo um tolo",ela acrescentou limpando seu rosto. Sempre fora uma mulher dura ao seu modo,até perdê-lo o centro de paz em um mundo caótico. E então tudo desabou.

O seu esposo á muito havia perdido a lucidez, e seus demais filhos haviam se mudado para a América e suas promessas. Abandonando a sua origem britânica e consequentemente a ela também. Ulley,o seu esposo havia muito a dizer aos filhos sobre partir pra terra que os expulsou uma vez- independente dos ingleses terem sido expulso enquanto “escravizavam” aquele povo , seu marido era patriota o suficiente pra esquecer este detalhe - ah se teria.

Levantou-se com as costas doendo, não devia fazer esforços como aquele tendo a idade avançada,no entanto uma vez por mês ela fazia este esforço sem reclamar pra ninguém. Não podiam tirar isso dela também,lembrar era tudo o que podia fazer pelo seu Filho que se fora. Tanto o que partira desse mundo como os que partiram daquele continente. Tudo era memória,enquanto fosse lúcida eles viveriam na sua mente e coração partes dela avulsas e escondidas em seu âmago.

"Tornei-me uma velha supersticiosa", Helga pensou enquanto saia daquele cemitério. As criptas estavam esquecidas e cinzas sem nenhum resquício de cor enquanto passava por elas, "Há quanto tempo os seus não lhe visitam”?”ela perguntou a todos os fantasmas dali.” Será que vocês no outro mundo sente a nossa falta quando não viemos visitá-los como se faz com parentes na cadeia?Ou esquecer vocês é o melhor remédio?". Meneou a cabeça algumas vezes pra clarear a mente,aquele lugar a alterava consideravelmente. Saiu pelo bem ornamentado portão leste do cemitério, anjos estavam esculpidos em cada extremidade do muro baixo daquela entrada e saída.

Havia somente um segurança ,um homem insípido largo de peito e barriga com a aparência de quem tinha sido acordado de um sonho nada bom pra uma realidade ainda pior: o seu serviço. Helga sempre o achara menos digno de cavar sepulturas do que patrulhar os corpos em paz dos cidadãos londrinos,mas isto como a maioria das reclamações,manteria para si. Afinal era uma mulher dura a sua maneira. Caminhava na nublada manhã de uma terça-feira qualquer para os transeuntes que passavam por ela na calçada. Alguns se andassem alguns décimos de minutos a mais poderiam iniciar uma maratona. "Nós orgulhamos de nossa pontualidade" ,ela se lembrara.

Barney também era orgulhoso e viu onde isso o levara. Orgulho e acreditar no “potencial” propagado por um mero político corrupto. Lionel era o seu nome e aparentemente ele defendia a causa dos infectados. Barney ficava vidrado assistindo aos debates que aquele político perdia um atrás do outro. Ele fazia de propósito, Helga chegou a conclusão quando por insistência de Barney assistiu um deles.

Aquilo certamente era tudo um teatro pra ludibriar as pessoas comuns dizendo que eles eram parcialmente contra a chacina dos mutantes. Porém inacreditavelmente o veredicto final recaia na oposição. O fracasso tinha um efeito contrário em Barney que revigorava sempre apos assistir a mais um deles.

“Tolo sonhador" ela pensava quando o via tão excitado com perspectivas que não lhe diziam respeito. Porém a persistência de seu filho o tornara notável em alguns outros lunáticos,que se sabe por que decidiram acatar o que ele falava. Agora era a época dos cartazes e de passeatas pelas ruas de sua cidade natal. Bloquear ruas importantes era o principal local de encontro desses loucos.

O mais impressionante era que os mutantes em si não protestavam contra nada,e era impossível saber o que eles pensavam disso. “Eles estão sendo caçados ,como espera vê-los protestando?" perguntara seu filho quando ela lhe pôs a questão. “A senhora viu algum judeu protestando contra Hitler?". “Não cabe a você os defender meu filho,eles não são sua responsabilidade". Ela lhe alegara naquele dia e ele nunca mais lhe dirigiu a palavra em vida. E agora nunca mais retomaria aquela conversa,como isso doía dentro dela.

Seguiu os transeuntes inertes a sua dor. Morava algumas quadras dali, e algumas pessoas que a viam a cumprimentavam com um sorriso misturado com pena. Eles sabiam aonde ela tinha ido,e podia imaginar os boatos sobre a velha senil que vivia em desgosto no túmulo de seu filho.

Todavia durante todos os anos que morava ali alcançou a amizade em almas gentis. Que viram Helga Sluufy ainda uma recém casada com o atraente e sem papas na língua Ulley começarem a sua história.

Alguns desses amigos eram Brason e Brandy os gêmeos solteirões que por quarenta anos colecionavam artigos nerds desde sabres de luz até o cajado de Gandalf. E que saiam de sua casa (que ficava de frente para a casa de Helga) vestidos aleatoriamente a cada dia com suas diversas fantasias. Era comum eles assustar as crianças no Halloween,parecia que aos seus ouvidos só havia as travessuras e os doces eram esquecidos.

Sally ainda mais velha do que Helga mantinha a memória mais surpreendente que ela já vira. E as horas do chá com aquela velhinha era sempre uma lição de história,sendo que Sally havia dedicado a maior parte de sua vida lecionando historia geral em escolas públicas. Orgulhava-se de ter recusado uma proposta de trabalhar na universidade de Londres.

Otto o “novo velho" como o chamavam por sempre agir como um desde quando não tinha chegado aos quarenta. Trisha a cartomante que previa apenas coisas boas a Helga desde que ela chegara ali. Mesmo não prevendo a morte do seu filho,ela não a culpava. Sabia que ela era uma charlatã ,sempre soubera e gostava dela por isso.
Tudo era memórias.

Quando se deu conta havia chegado em sua rua. Os bem cuidados gramados já estavam sendo regados,automaticamente em algumas casas e em outras por pessoas com baldes. Acenou aos seus conhecidos,deu bom dia aos que sempre lhe cumprimentavam mesmo não tendo afinidade com ela e chegou a sua casinha.

Era pequena para os padrões daquele bairro,pintada de branco. Tinha poucos cômodos no térreo e no andar superior,porém seu porão era grande o suficiente para ser construído outra casa abaixo dela.

Adentrou na varanda e girou a maçaneta. Não teve tempo de abri-la por completo e foi atacada.

– Vovó!- gritou um pequeno menino já em seus braços.

– Está cada vez mais pesado, Stuart, um dia vai me derrubar e é provável que eu não consiga levantar. Ela disse em parte reprimenda ,parte rindo com a atitude de seu neto.

– Eu levantaria a senhora,estou ficando muito forte. - Disse ele cheio de si como um garotinho de nove anos podia ficar falando de si mesmo.

Helga deu um tapinha nas costas do menino que desceu sorrindo como se desculpando. Porem ele não mudaria de atitude tão cedo. Após entrar realmente em sua casa,preparou um café da manhã para seu neto. Observava-o se divertindo com a voracidade que ele comia tudo da mesa.

– Pela rainha, Stuart . Se alguma assistente social visse você agora me prenderia pensando que eu não o alimento.

– Tá tão...gostoso. - Alegou o garotinho quase se engasgando pra falar com tanta comida em sua boca.

Já ia repreendê-lo pela falta de modos quando alguém bateu a porta.

– Estou indo. Helga disse imaginando quem poderia ser tão cedo.

Assustou-se ao se deparar com um rosto de macaco muito peludo quando abriu a porta.

– Sou eu Helga- disse Brandy retirando a mascara.

– Há algum motivo para me assustar logo cedo? - ela perguntou se recuperando do susto.

– Infelizmente senhora tenho sim. - Brandy parecia temeroso olhando para os lados completou. - Eles estão atrás da senhora.

– Eles ? - perguntou Helga sem entender coisa alguma.

Novamente encapuzado, Brandy a puxou para fora e enfim ela compreendeu o que estava acontecendo. Os EEM estavam juntos de alguns policiais comuns abordando seus vizinhos. Pareciam fazer perguntas simples e dependendo da resposta iam para a próxima casa.

Sentiu um aperto em seu coração. Só havia um motivo pra eles a quererem, ela era a mãe do antigo líder dos rebeldes que apoiavam os mutantes,na certa acharam que ela por vingança continuaria o trabalho de seu finado Barney. E fazia sentido essa suposição,infelizmente.

– Por favor Brandy - Helga pediu segurando em sua camisa- leve meu neto daqui.

Não havia como decifrar a expressão dele com aquela máscara . Mas para seu alívio ele concordou com um aceno da grande cara de macaco entrando em sua casa. Helga chamou seu neto que não entendia nada do que estava acontecendo e com um esforço dantesco se ajoelhou no frio chão da sua casa olhando-o nos olhos.

– Quero que vá com meu amigo e faça o que ele pedir,compreendido?

– Mas por que vovó? - A criança questionou. Não tinham tempo para isso.

– Por mim - ela disse passando as mãos em seus cabelos tão loiros quanto os de Barney eram- e por seu pai. Afinal você não me disse que estava mais forte?

– Sim estou mais forte- Stuart disse parecendo ganhar confiança com o comentário de sua avó - o meu pai sempre dizia que eu era especial.

– E você é ,meu amor,agora vá - Ela deu um beijo em cada bochecha e ficou o vendoele partir pela saída do outro lado com o ainda mascarado vizinho.

Quando voltou a ouvir as batidas sabia quem era agora. Não respondeu enquanto as vozes chamavam -na. Por fim ninguém mais a chamou,e Helga relaxou um pouco até ouvir um sonoro craque e a porta rachou,uma ,duas ,três vezes até se quebrar.
A enxurrada de policiais e EEM que entraram se depararam com uma velhinha sentada calmamente em seu sofá tomando uma xícara de chá.

– Senhora Sluufy? Bradou um dos homens armados.

– Estou aqui. - ela respondeu calma como se houvesse os reparado agora. - Os convidaria pra entrar,mas não vejo mais necessidade- disse a velha apontando para os estragos que eles tinham feito com sua porta.

– Nós a chamamos! Está surda?- voltou a dizer o mesmo homem armado.

– Nem se eu estivesse não teria ouvido esse estardalhaço. Enfim o que querem de mim?

– O seu corpo nu que não é. O mesmo soldado lhe respondeu,parecia gostar muito do som da sua voz e devia ter uma patente alta entre aqueles homens para agir tão arrogante.

– Queremos o garoto.

Sua visão ficou turva por alguns segundos. Não acreditava no que seus velhos ouvidos a faziam crer estar ouvindo.

– Não há nenhuma criança aqui- Helga disse com o máximo de autoridade que conseguia.

– A não é? - disse sorrindo aquele homem que ela aprendera a desprezar. - vasculhem a casa- ele disse para seus homens que de imediato começaram a virar moveis dos cômodos que eles entravam.

Ouvia sons parecidos lá em cima quando alguns deles subiram. Ulley gemeu em,seu quarto quando foi invadido. Volte a dormir querido,pedira Helga em pensamento. Alguns instantes de aflição depois os soldados voltaram para a sala.

– Nada senhor. Disse um deles,e os demais repetiram o mesmo.
Agora aquele homem não sorria,observou Helga e não sabia se gostava ou temia isso.

– Onde ele está velha?

– Desculpa senhor,não consigo ouvir direito com esses ouvidos - disse Helga friamente.

O homem gesticulou para os que estavam mais perto dela,e ela foi agarrada rudemente. Sua xícara espatifou quando caiu de suas mãos já trêmulas,e o homem a sua direita pegando forte em seu queixo a obrigou a olhar para o seu chefe.

– Eu vou fazer você falar de uma forma ou outra senhora Sluufy,nos poupe o serviço . Dizia o líder.

Helga colocou as mãos como que em concha em seus ouvidos,fazendo uma expressão que não havia entendido o que ele havia lhe falado. O comandante gesticulou para os homens que lhe seguravam e enquanto o da direita passava para trás segurando-lhe entre os braços o da esquerda desferiu tapas que faziam sua cabeça retinir. Nunca havia sentido tanta dor,exceto quando perdera Barney.

Barney...lembrar dele foi como se ela tivesse revigorado suas forças. Já não sabia quantos tapas havia tomado,o homem que desferia os golpes pareceu se cansar e deu um soco entre os seios de Helga e ela pensou que perderia o ar quando o homem que a segurava por trás a jogou para a frente com um violento empurrão e ela caiu batendo a cabeça no piso da sua sala. Alguma coisa apareceu por cima dela,e alguém a puxou pelos cabelos. Saliva, sangue e dentes escorriam de sua boca aberta.

– Senhora Sluufy? Lembrou se agora? Perguntou o comandante.
Helga fez que não com a cabeça. E sentiu outras mãos a pegarem arrastando-a pelo chão de sua casa. Ouviu a porta sendo aberta e ela foi jogada até o gramado de seu quintal. Caiu rolando mas seu corpo frágil recebeu aquele impacto muito mal,suas costelas doíam tanto. “Um dia vai me derrubar e é provável que eu não consiga levantar" ela ouviu a si mesma falando naquela manhã. Jamais falara algo tão verdadeiro em sua vida.

– Deixem ela em paz! - alguma voz familiar disse e Helga se sentiu puxada novamente mas dessa vez com delicadeza.

– Não - ela tentou dizer.

– Calma senhora tudo vai ficar bem- ela olhou o interlocutor e se impressionou. Era Otto e seu rosto estava furioso quando observava os policiais saindo da casa de Helga.

– Isso não vos diz respeito fora daqui- disse um dos soldados e Helga reparou que muitas pessoas haviam saído de suas casas e se dirigiam ate onde ela estava.
Viu Trisha, Sally, Brason e (absurdamente) Brandy acompanhados de dezenas de desconhecidos. Eles fizeram uma linha a frente dela e pareciam não se intimidar com as armas apontadas pra eles.

– Saiam da frente ou serão presos por se aliar a mutantes e a sua causa. Bradou outro dos soldados.

– Vejo uma senhora sendo agredida apenas- respondeu Brandy .

– Cale a boca e tire essa merda de máscara de macaco enquanto se dirige a nós - disse o oficial com sua arma apontada pra Brandin.

–Me dirigir a vocês é uma coisa que não me dá algum prazer. E é Chewbacca, otário.- respondeu Brandin sem vacilar.

Helga viu a raiva no rosto do oficial mas seu chefe pôs as mãos em seu ombro impedindo ele de fazer qualquer outra coisa.

– Essa mulher que vocês tão solicitamente defendem esconde um mutante em sua casa uma aberração. - começou o líder daqueles homens. - que está perto de suas mulheres e crianças,e amanhã vocês virão até nós suplicando para que cuidemos dele.
Algumas pessoas se olharam absorvendo aquela informação,porém ninguém saiu da linha que eles formaram a frente de Helga.

–Vão embora, bastardos imundos!- disse Otto ao seu lado. - é isso que justifica tudo hoje em dia não é? Que se foda vocês,não troco o que eu sei pelo o que vocês sugerem ser o certo.

Agora eu te entendo Barney,Helga pensou chorando ,perdoe sua mãe tão tola. “Meu pai sempre disse que eu era especial" dissera seu neto e tudo se encaixava,o propósito de seu filho nunca fora ser revolucionário como ela o julgava. Ele queria preparar um terreno bom para Stuart viver em paz e a seu tempo constituir a própria família. Stuart era tudo o que lhe restara no mundo pra Helga e ser um mutante não mudava um décimo - não,um milésimo- de amor que sentia por ele.

– Mesmo que a criança seja um mutante,isso não vos dá o direito sobre seu destino- disse Trisha.

– E nem tem sobre nós - completou Sally.

– Por que vocês simplesmente não os ajudam em sua doença? Perguntou a senhora Cannons.

– Acredite eles são incuráveis - Respondeu o chefe dos soldados.

– A ignorância de vocês é incurável,nada mais - respondeu Otto possesso de raiva ainda ao seu lado apoiando ela pra não cair.

– Quando vocês perceberem que estão errados será tarde demais - disse o líder novamente. - Eu não quero fazer mal a pessoas de bem,por isso os deixarei em paz mas não venham choramingar aos meus pés quando essa criança lhes trouxer problemas.

Dito isso, os soldados saíram andando para suas viaturas que estavam no começo daquela rua. Helga olhou surpresa seus vizinhos urrando como animais quando os soldados iam embora (os mais ousados jogaram pedras e demais projeteis que seus olhos fracos não conseguiam discernir nas viaturas). O intento de Barney começava a funcionar.

Assim que eles se foram,muitos a rodeavam eram tantos tentando lhe ajudar que a atrapalhavam mais. Á um berro de Otto eles lhe deram espaço e ela foi levada a sala dos gêmeos Brandy e Brason que parecia ser feita de tudo o que eles gostavam . O sofá tinha o formato de uma nave ,ela ignorou e se deitou ali sentindo as pontadas de dor em suas costelas mais forte do que nunca . Uma ambulância chegou depressa e ela só concordou em ir se eles prometessem cuidar de seu neto até o seu retorno.

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Todos os dias trocava de casa,porém tinha se acostumado a esse fato depois de dois meses. O que não se acostumava era viver sem sua avó. No entanto não reclamava para ninguém,prometera ser forte por seu pai e por sua avó e era o que fazia agora enquanto viajava no porta malas dos gêmeos esquisitos. Eles deviam estar correndo muito e diversas vezes Stuart se chocou entre as paredes do porta mala,mas agora parecia estar diminuindo.

E ele não sabia se isso era bom ou ruim. O carro parou de se mover e o porta malas foi aberto . Brason o retirou com gentileza de lá,pra variar nenhum deles estava fantasiado e Stuart via o quão velhos e gordos eles eram idênticos em cada ruga e banha proeminentes.

– Desculpe pelo transporte criança . É apenas cautela - disse o gordo quando o pôs em terra firme.

Era uma noite fria e Stuart ouviu um som que não ouvia a muito tempo. Ondas se quebravam contra a praia lá embaixo. Os gêmeos lhe conduziram para outro lado da praia através das grandes rochas que ocultavam o outro lado. A lua nunca parecera tão grande,pensara o menino. Não sabia o porquê mas aquilo lhe deu um sentimento de mau agouro. Ainda não havia atravessado a extensão das rochas totalmente quando avistou um barco ancorado com suas luzes acesas. Olhou para os gêmeos que não diziam nada e continuou seguindo-os mesmo que não soubesse o destino,afinal não tinha para onde ir se fugisse.

– Minha avó está naquele barco?- perguntou Stuart.

– De certa forma sim, garoto - respondeu não sem gentileza aquele que chamavam de Brandin.

Com o tempo que convivera com eles já conseguia diferenciá-los.
Seguiram para o cais de madeira que ficava no nível do barco já aberto e uma pessoa o esperava lá. Quanto mais se aproximavam mais ficavam claras as suas formas e Stuart viu que o homem era velho com uma barba bem aparada e um olhar capaz de azedar leite. Era Otto.

– Vocês demoraram pra cacete,estavam se masturbando vendo elfas ou Ets?

– Não vou me dignar a responder Otto, já há anos que faço um esforço mental pra não matá-lo. - respondeu Brason. Para sua surpresa Otto gargalhou .

– Mil perdões, vossas gordulênçias- o velho fez uma mesura trocista para os gêmeos e só então pareceu reparar no garoto ali. - Aí está ele. Espero que tenha sido bem tratado rapazinho, venha depressa eu tenho uma cabine exclusivamente pra você e um jantar claro se estiver com fome numa hora dessas.

– Pra aonde eu vou?- perguntou Stuart com medo.

– Você vai ficar seguro e é isso o que importa - respondeu Brandin.

– E a minha avó? O garoto perguntou com os olhos lacrimejantes.

– Ela mandou te entregar isso- disse Brason lhe dando um envelope. - Agora vá, garoto não temos tempo.

Stuart não tinha como recusar independente do que ele dissesse ou fizesse e achou melhor fazer o que mandavam,os homens ficaram para trás conversando e ele adentrou no barco onde uma garota que ele conhecia lhe abordou sorrindo.

– Seja bem vindo, Stuart - ela pegou em sua mão e o conduziu até uma pequena cabine com beliches desocupadas e bem organizadas em tão pouco espaço.
Molly era esse o nome da garota que estava ali ,era neta ou sobrinha do resmungão Otto e passava as ferias com seu velho. Tinha cabelos pretos e uma pele bronzeada que contrastava com o sorriso branco e os olhos verdes.

– Por favor fique a vontade e me chame se precisar. Iremos partir em instantes. A garota disse docilmente e saiu da cabine.

Stuart se recostou em uma das camas e abriu o envelope que ganhara.
Só precisou de ler algumas linhas e já estava chorando como um bebê. "Seja forte você me prometeu. Seu pai e eu te amamos." Era a frase final que havia na carta de sua avó,a ultima que ela escrevera antes de partir. O barco começou a se movimentar seja lá pra aonde ia,não importava mais. Enxugou seus olhos. Ser forte,isso é o que eu serei.


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