Destino - O Legado do Grande Mago! escrita por oclumos


Capítulo 2
A Chave e a Espada




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[ ZAWN ]

A vida de Zawn mudara completamente nos últimos meses. Ele morava numa cidadezinha próxima à floresta com sua mãe e sua avó. O pai já havia falecido há algum tempo, e desde a sua morte, a mãe viveu só e amargurada. Mas as coisas começaram a mudar quando ela conheceu Lorde Dantos, um famoso armeiro do reino, que estava de passagem pela cidade onde moravam. Eles se apaixonaram e pouco tempo depois se casaram. Zawn gostava do padrasto, pois ele fazia bem para a sua mãe. Ele nunca tinha a visto tão feliz. Poucos meses depois do casamento eles se mudaram para a casa do padrasto que ficava em uma cidade grande e prospera chamada Feirg, onde era possível encontrar as melhores Armarias de todo o reino.

Em Aldar era comum que os jovens se tornassem aprendizes aos dezesseis anos, mas Zawn já tinha quase dezessete e ainda não aprendera nenhum ofício. Lorde Dantos então o convidou para aprender os ofícios de Armeiro, e o garoto aceitou o convite. Ele levava o ofício a sério, sempre estava atento às dicas do padrasto, e não demorou muito para se tornar um bom ferreiro. Muito curioso, sempre pegava livros sobre metais na pequena biblioteca da cidade e testava os conhecimentos adquiridos na loja. Os comerciantes da cidade elogiavam o trabalho do aprendiz, e diziam que ele fazia as melhores facas e talheres já vistos na cidade.

A vida não poderia estar melhor.

[ ... ]

Já era manhã, e o jovem aprendiz estava muito animado. Ele havia trabalhado muito nas ultimas semanas produzindo espadas que seriam avaliadas pelo General do Exército de Aldar, e caso ele gostasse, a Armaria do padrasto poderia se tornar a fornecedora oficial de equipamentos do exército real. Era a primeira vez que o seu trabalho com armas seria posto a prova, mas ele estava confiante.

Ele levantou rápido da cama, e foi direto para o banheiro. Ao se olhar no espelho, ele vê as marcas escuras ao redor dos olhos claros, prova de que não teve uma boa noite de sono. Desde que se mudou ele não tem conseguido dormir bem. Sua mãe diz que é normal se sentir estranho quando mudamos de casa, e que logo ele vai se acostumar. Zawn é um garoto bonito, cabelos castanhos curtos, altura mediana, pele morena bronzeada devido às horas que passa próximo às fornalhas, tem o corpo mais definido que qualquer garoto de dezesseis anos, e sempre atrai olhares por onde passa.

– Querido... - Gritou a mãe com a voz gentil, que provavelmente vinha da cozinha - melhor se apresar ou vai se atrasar para o encontro com o General!

– Já vou mãe - respondeu ele - Só estou terminando de me vestir.

Ele desceu as escadas correndo, e a mesa do café já estava posta, mas ele nem se sentou, só abocanhou um pãozinho e pegou uma maça, deu um beijo na mãe, pegou a mochila e saiu apressado pela porta.

Feirg é um lugar interessante para se viver. Ao contrário do que muitos pensam, ninguém dali come latas de alumínio no café da manhã ou feijões de estanho no jantar. Também há outros estabelecimentos, outros ofícios, e diariamente comerciantes vem de outras cidades trazendo produtos necessários para o dia a dia. A cidade também tem diversas praças e uma Sorveteria que é famosa por todo o reino por ter os sabores mais exóticos que existem.

No caminho da Armaria, Zawn encontra um dos poucos amigos que fizera desde que chegou à cidade. Um menino franzino, poucos centímetros mais baixo que ele, com os cabelos negros na altura dos ombros. Ambos são aprendizes, mas o menor não leva muito jeito com ferramentas pesadas, então ajuda o tio na biblioteca local, onde se conheceram. Zawn chamava-o de Pequeno há tanto tempo que nem se lembrava mais do seu verdadeiro nome.

– Ei Grandão, animado? – Pergunta o menor.

– Claro... – Respondeu – Dizem que o General é muito exigente, mas ontem quando estávamos fazendo uma ultima vistoria, Lorde Dantos me disse que nunca viu um trabalho tão incrível em toda a sua vida... – Disse imitando o sotaque do padrasto.

Eles foram juntos até a biblioteca, que era no caminho da Armaria. Pequeno ficou por lá, mas eles prometem se encontrar na sorveteria depois do almoço para comemorar, ou não. Zawn já estava chegando à esquina da loja do padrasto, quando hesita por um momento. Era o dia em que ele teria que enfrentar os seus próprios temores. Ele queria ser valente como o pai, que morreu lutando num dos combates contra os Q’hor, anos atrás. Se lembrou também do dia em que um homem vestindo uma armadura real batera em sua porta trazendo a pesarosa notícia. Desde então, sempre que ele via um cavaleiro, era como reviver tudo que ele sentiu naquele dia, a dor da perda. Mas ele tinha que ser forte, não demonstraria fraqueza, então ergueu a cabeça e seguiu determinado.

– Opa, cuidado por onde anda... – Gritou um senhor, que carregava uma pilha de livros, e usava uma túnica verde bem escuro que lhe caía até os pés. Zawn em seu momento determinado não o viu, e no choque acabou derrubando tudo que o velho carregava.

– Desculpe-me senhor, eu não o vi. – Disse o garoto embaraçado.

– Depois dizem que nós, velhos é que estamos ficando cegos – disse o velho resmungando. – Vamos, me ajude a recolher isso tudo.

Ele o ajudou, e ofereceu ajuda para carregar os livros, mas o velho recusou, e seguiu o seu caminho. Zawn ficou ali parado olhando o velho carregar aquela pilha enorme de livros, até ele dobrar a esquina e sumir de vista.

[ ... ]

– Ele está chegando – Gritou o padrasto ao ver uma carruagem parar em sua porta. Lorde Dantos parecia tão ansioso quanto o enteado. Seu negócio já era bem sucedido, mas se eles se tornassem a Armaria oficial do Rei, os lucros chegariam às estrelas.

Vários homens vestidos com armaduras polidas e brilhantes desceram da carruagem, e por fim, ele desceu. O general era um homem grandalhão de cabelos grisalhos curtos em estilo militar, cavanhaque bem feito e também grisalho e usava uma armadura com detalhes escuros e uma capa preta.

– Sejam bem vindos à Armaria Dantos... – Disse o padrasto, sendo o mais cordial possível – Queiram me acompanhar, por favor.

O general e um de seus homens seguem Lorde Dantos em silêncio, e Zawn entra no depósito logo atrás deles. Eles analisaram com cuidado as espadas, testando o corte, o balanço, o equilíbrio... Eles trocavam olhares, mas nenhum deles falava nada.

– Excelente trabalho – Disse o escudeiro, quebrando o silêncio – Um acabamento de primeira qualidade, mal consigo identificar de que material elas são feitas. É algum segredo de Armeiro?

– Lorde Dantos, em toda a minha experiência com armas, nunca vi armas tão incríveis como essas. – Disse o general. – Parabéns pelo trabalho.

– Agradeço os elogios, senhores, mas não sou eu quem os merece – ele disse – Essas espadas foram produzidas pelo meu enteado e aprendiz, Zawn.

– E onde está esse prodígio? – perguntou o general.

– Aqui, senhor. – Disse o garoto à porta do deposito.

Ele então se aproximou do padrasto e recebeu olhares examinadores dos outros dois. Eles olhavam das espadas para o garoto e então trocavam olhares.

– Quantos anos você tem, garoto? – Perguntou o escudeiro.

– Dezessete, senhor... – Respondeu o aprendiz.

– E há quanto tempo é aprendiz de lorde Dantos? – Perguntou o General

– Alguns meses... – Respondeu

– O menino é muito dedicado, senhor... – Ponderou o Padrasto – Trata-se de fato de um prodígio com os metais. Está inclusive trabalhando agora em uma liga que deixa o aço mais leve e dez vezes mais resistente.

– Bem, acho que temos um acordo, então. – Disse o General – Vocês são a Armaria oficial do Exército de Aldar.

– Muitíssimo obrigado, senhor – Disse o aprendiz.

– Garoto, com o seu talento, você vai longe. – O General olhava-o no fundo dos olhos. – Tenho um convite para lhe fazer, e espero que o aceite.

[...]

Zawn não se aguentava de tanta felicidade. Teve que ir correndo à Biblioteca contar a Pequeno as novidades. Ele virou a esquina com tanta pressa que acabou tropeçando num buraco do calçamento. Quando se levantou viu algo caído próximo à parede. Era um livro. Provavelmente ele e o senhor não haviam pegado todos eles do chão. Ele colocou o pequeno volume do bolso e correu para a Biblioteca, prometendo a si mesmo que encontraria o velho e o devolveria o pequeno livro.

Ele correu até a biblioteca, e chegou ofegante no balcão, onde geralmente Pequeno ficava, mas dessa vez era o tio quem estava lá, preenchendo papeis e fichas de devolução.

– Senhor, onde encontro o Pequeno? – Perguntou ele ao homem idoso que pareceu ter ouvido uma palavra sequer e continuou preenchendo seus formulários. – Senhor? Senhor? – Zawn bateu a campainha.

– Em que posso ajudar meu jovem? – o homem levantou o olhar em direção ao garoto.

– Sabe onde posso encontrar o Pequeno?

– Qual o autor? - perguntou

– Não é nenhum livro, senhor... É o aprendiz que trabalha aqui. – disse impaciente. – Seu sobrinho...

– Ah sim, esse Pequeno. – Disse o homem voltando a preencher os formulários no balcão – ele está na sessão B, devolvendo os livros às prateleiras. Sabe como chegar lá?

– Sei – Disse o jovem - Obrigado, senhor.

– Nada de conversar alto, pra não atrapalhar os leitores. – Resmungou o velho.

O jovem aprendiz de armeiro estava no fim das escadas quando avistou o amigo na sessão B, como informou o tio. Pequeno estava, como sempre, perdido em meio a tantas pilhas de livros. Enciclopédias, contos, poesias, fábulas... Apesar de pequeno, o acervo da Biblioteca de Feirg era bem variado, e novos livros sempre chegavam da capital e de outros reinos também.

– Ei Grandão, veio pegar alguma coisa pra enfiar nessa sua cabeça oca? – Perguntou o menor.

– Não pude esperar até o almoço para te contar as novidades. – ele disse

– Então conte...

– O general não só adorou as espadas, como também convidou toda minha família para ir à capital. – Disse ele animado – O príncipe herdeiro vai se casar com a princesa Kaya em poucos dias, e somos convidados para a cerimônia.

– Quer dizer então que agora você vai ser um Armeiro podre de rico? – Disse o amigo – Já está até sendo convidados para a alta sociedade...

– Acho que sim... – respondeu – E tem mais. O General disse que se seus pais deixarem, você também pode vir ao casamento conosco.

– Você pediu à ele pra que eu fosse? – perguntou incrédulo.

– Claro. Achou que eu fosse deixar você fora dessa?

– Cara, você é impossível! – disse o menor abraçando o amigo.

– E então, vamos tomar aquele sorvete ou não? – perguntou

– Claro. – respondeu – Vou avisar aquele velho ranzinza que estou saindo para o almoço e pegar a minha carteira.

– Não precisa – disse o maior – hoje é por minha conta.

[ ... ]

O dia foi bastante cansativo. Além do convite, o general também havia deixado uma encomenda especial e muito importante: O presente de casamento do príncipe herdeiro. A espada encomendada deveria ser leve e bem afiada, adornada com pedras azuis e vermelhas, cores de ambos os reinos. Zawn trabalhou nisso durante toda à tarde, pois as festividades começariam em poucos dias e ele não queria estragar tudo logo na primeira encomenda.

Quando chegou em casa, nem quis jantar. Foi direto para o quarto e se jogou na cama. Ele sentiu algo em seu bolso, lembrou então do pequeno volume que encontrou na rua. Pensou no velho senhor e tentou lembrar se já o vira antes na cidade, mas nada lhe veio à memória. Ele passou o olho pela capa de couro preto e tentou ler o titulo que estava bem apagado, mas não conseguiu e acabou deixando o livro pra lá, jogado na mesa de cabeceira enquanto ele tomava um banho.

Ele deixava a agua morna cair em seu corpo, e escorrer pelas suas formas bem torneadas. A fuligem acumulada no decorrer do dia em seus cabelos ia sendo eliminada aos poucos até ele estar completamente limpo. Sua mãe havia reclamado muito que o garoto deixava as toalhas brancas cheias de manchas, pois não se esfregava direito. Demorou um pouco, mas ele aprendeu como tirar toda aquela sujeira de armaria do corpo. Fazia calor, então ele só vestiu o short de dormir, e se deitou sem camisa mesmo.

Tentou dormir, mas seu corpo não obedecia. Talvez uma leitura de leve fosse o suficiente pra produzir um pouco de sono. Então ele pegou o livrinho preto e começou a folheá-lo. Parecia um livro de instruções, um manual ou coisa do tipo, mas o idioma não é o comum de Aldar, era estrangeiro. Nada era de fato legível, mas ele percebeu que em quase todas as páginas havia um desenho. Uma chave. Provavelmente era algum manual de fechaduras estrangeiro que o velho nem sentiria falta. Será que valeria a pena, ter o trabalho de devolver?

Ele continua folheando as páginas, que já estavam velhas e amareladas, até que encontra uma com a ponta dobrada. Coincidência ou não, nela ele encontra uma palavra legível. O nome de um dos sabores de sorvete que ele mais gostava. Era um sabor um pouco apimentado, e que ao contrário dos outros não provocava frio algum, mas sim um calor na ponta da língua. Ele sempre se perguntava como o sorveteiro conseguia tal proeza. Depois de muito pensar, leu a palavra em voz alta.

– Ogien!

Antes mesmo de fechar a boca, algo inesperado acontece. Suas mãos e o livro começam a pegar fogo. Assustado ele joga o livro no chão e as chamas se extinguem, sem deixar nenhuma marca nem nas mãos dele, nem no livro. Confuso ele pega o volume e abre na mesma página, as palavras começam a tomar foco, e ele consegue ler algumas, mas não ousa pronunciá-las de novo. Magia era algo comum em Aldar, a guilda era bastante conhecida por ajudar os estudiosos nos avanços da medicina, estudo das plantas, mas ele nunca havia visto ninguém com bolas de fogo nas mãos. Assustado de mais para continuar a leitura, ele guarda o pequeno livro numa gaveta da mesa de cabeceira e vai dormir, ou pelo menos tentar.


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