Quando voltei para onde a equipe estava reunida pude ouvir uma explosão e depois o silêncio.

Olhei ao redor e vi que Audrey e Inácio ainda estavam dentro do círculo enquanto Mikaela e Mark jaziam estirados no chão, próximos à outra equipe.

Liz e Rosalie foram até eles, mas foi preciso que mais alguns da nossa equipe fossem ajudá-las a trazê-los para o nosso lado.

– Desculpem. – Eles murmuravam incoerentemente, com os olhos revirando nas órbitas enquanto eram colocados sentados em um canto com a garota chamada Candice cuidando de ambos.

– Sekhmet. – Liz murmurou para mim ao se aproximar e eu fiquei confusa.

– O quê?

– Ela segue o caminho de Sekhmet, por isso que está cuidando dos dois. – Minha amiga explicou e olhou para mim com seriedade. – Mas agora é sua vez, vai lá e mostra para eles o porquê Rá te escolheu.

Concordei sentindo um frio na espinha.

– A vitória desse duelo vai para a equipe dois. O placar está assim: duas vitórias para a equipe um e uma vitória para a equipe dois. – Carter anunciou não parecendo muito satisfeito com algo. – Equipes, mandem suas próximas duplas.

– Está pronta? – Richard perguntou ao meu lado.

Acenei com a cabeça, não confiava na minha voz e tinha medo de abrir a boca e colocar tudo o que eu comi para fora.

Olhei para a equipe dois e notei que eu e Richard iríamos duelar contra o casal que não parecia empolgado quando Carter falou dos duelos.

– Kaya e Alec. – Ele murmurou ao meu lado, parecendo incomodado com algo. – Tenha cuidado Nat, Alec normalmente usa artifícios de distração enquanto Kaya lança o verdadeiro ataque, eles podem parecer inofensivos, mas são combatentes quase imbatíveis.

Lancei um olhar nervoso para eles e então eu e Richard nos movemos para fora do grupo, deixando claro que era nossa vez de duelar. Um olhar rápido na direção de Zia me disse que ela estava apreensiva.

Respirei fundo, não ia voltar atrás.

Entrei no círculo ao lado de Richard e peguei o papiro que havia preparado para aquela dupla em especial.

– Não atacaremos primeiro. – Ele murmurou para mim. – No primeiro momento vamos defender, testar a força deles e ver até onde vai, em seguida vamos revidar.

– Mas foi a equipe deles que ganhou o duelo anterior. – Argumentei no mesmo tom. – Podem escolher se vão atacar ou defender.

– Tem razão, mas eles são guerreiros e impacientes como seu irmão, tenho 70% de certeza que vão querer atacar primeiro, mas se não quiserem você sabe exatamente o que fazer, não sabe?

Concordei levemente. Estranhamente o lugar parecia em silêncio e eu podia sentir os olhos de todos ali sobre mim e Richard. Meus batimentos estavam tão altos que me perguntei se era por causa deles que todos estavam quietos.

Carter me lançou um olhar quase triste e eu engoli em seco, então ele olhou para a outra dupla.

– Sua equipe detém a vitória da vez, vocês escolhem atacar ou defender como primeiro movimento? – Engoli em seco, podia sentir o bacon a meio caminho da minha garganta.

– Atacaremos primeiro. – O garoto respondeu calmamente e Carter assentiu no mesmo momento que eu e Richard suspiramos aliviados.

– Escudo de chamas. – Ele falou para mim rapidamente. – Erguerei a primeira coluna quando atacarem e você bloqueia o que vier depois, mas se poupe.

– Pode deixar. – Falei sentindo a adrenalina correndo por meu corpo enquanto nos armávamos com o cajado e a varinha, o papiro enrolado e apertado entre meus dedos.

– Duelem! – Carter falou e saiu rapidamente do caminho.

Como nos duelos anteriores nada aconteceu por um segundo, então o ar mudou e se encheu de pequenas fitas brancas que pareciam feitas de luar, olhei para o garoto e vi que surgiam da palma da mão dele, contei rapidamente, eram doze e giravam em um padrão um tanto familiar.

– É um relógio. – Falei para Richard que assentiu.

– Ele vai tentar avançar nosso futuro, onde estaremos esgotados demais para duelar.

Minha boca se abriu em choque, mas Richard parecia calmo e tinha tudo sobre controle ao bater o cajado no chão quando as fitas estavam muito próximas.

Uma coluna de fogo envolveu o círculo ao nosso redor e nos fechou como um domo quente, mas não insuportável.

– Sua vez Nat! Uma coluna não é o bastante e não esqueça de Kaya! – Ele exclamou e como se ela tivesse ouvido as palavras dele várias flechas em chamas atravessaram a barreira que ele criou.

Por instinto bati meu cajado no chão e outra coluna de fogo, com a mesma intensidade da dele, emergiu, senti uma leve tonteira, mas logo passou. Meu esforço foi recompensado ao ver que as flechas viraram pó.

Richard desfez o domo ao nosso redor e eu o imitei, mas mais lentamente, pronta para nos proteger rapidamente se eles tentassem um novo ataque.

Quando olhei para a outra dupla eles pareciam em choque enquanto voltavam seus olhos para mim, como se não acreditassem.

– Nat, mostre a eles. – Ele instruiu e eu dei um leve sorriso.

Abri minha mão exibindo metade do papiro que eu havia desenhado, a outra metade seria usada em breve, se fosse necessário, soprei o papel e ele voou para o meio do caminho entre os dois círculos.

– Khepri. – Sussurrei tocando no amuleto em meu pescoço e senti minhas forças renovadas.

Canalizei boa parte para o papiro e logo uma piscina preta começou a emergir do papel. Vários besouros vivos surgiam em onda após onda e iam na direção da outra dupla.

A garota parecia horrorizada, mas não ficou parada, desenhou um hieróglifo simples no ar com a varinha e eu sorri, esperava por algo parecido quando várias abelhas apareceram e avançaram na minha direção e de Richard.

Ergui minha mão e os besouros responderam, como uma massa preta todos levantaram voo e formaram uma muralha, então uma ideia surgiu.

– Richard se prepare. – Murmurei. – Tenho uma ideia.

Comandei os besouros a fecharem um enorme domo ao redor de Kaya e Alec, mantendo-os a vários centímetros afastados do círculo de proteção deles e tomando o cuidado de aprisionar as abelhas com ambos.

– Muito bom! – Ele elogiou. – Mas que tal isso?

Com o cajado erguido ele fez com que várias bolas de fogo de um tom quase branco fossem na direção dos besouros, entendi o que seria feito canalizei um pouco mais de poder para que os besouros aguentassem o calor e o absorvessem, mas sem usar minhas reservas, Khepri me dava a força necessária, mas eu podia sentir meu poder diminuindo gradativamente.

Deu certo a estratégia de Richard, pois nós poderíamos aguentar o calor e as chamas sem nos incomodarmos muito, mas outros magos que não fossem elementaristas do fogo sofriam com o aumento de calor, um brilho prateado fez com que nosso truque com os besouros e o calor explodisse ao redor dos dois.

Muitas abelhas estavam mortas aos pés de Kaya e Alec, que suavam como se tivessem corrido uma maratona. A garota lançou um olhar assassino na minha direção e eu sorri.

Mas nossa alegria durou pouco, pois ela retirou um pequeno pedaço de barbante da bolsa, que logo se tornou uma linha muito comprida, e com ela começou a tecer o que parecia uma rede, quando estava pronta ela lançou a rede sobre meus besouros, que se desfaziam em poeira ao entrar em contato com a rede.

– Macramé. – Richard falou parecendo desgostoso. – A rede está encantada, nossos besouros já eram.

Fiz beicinho, mas deixei para lá quando vi meu último besouro tentar desesperadamente escapar daquela droga de rede e virar cinzas no último instante, o papiro pegou fogo e desapareceu.

Alec lançou bolas peroladas de aparência perigosa na nossa direção e precisei de toda a minha força de vontade para não fazer nada precipitado e gastar minha energia a toa.

Meu esforço foi recompensado quando elas explodiram como fogos de artifício inofensivas à nossa frente, olhei para Kaya, mas o olhar dela estava em Richard, que fitava os fogos com fascínio.

Não entendi até que um arco se materializou nas mãos dela enquanto ainda estava de olho em Richard, meus instintos gritaram para que eu o protegesse, mas algo atingiu minha pele, era gelado e incomodava cada vez mais, então doeu.

Soltei um grito agudo ao sentir aquilo, mas nem isso fez Richard olhar na minha direção. Então entedi, hipnose, Kaya havia hipnotizado ele, por isso seus olhos não desgrudavam da figura dele. Olhei para Alec, ele olhava meu braço fixamente e notei que seus dedos estavam retorcidos em garras, como se estivesse agarrando algo.

Ah, mas não vai mesmo! Pensei com irritação.

Comecei a esquentar minha pele rapidamente, esperava poder deixá-la tão quente que ele não teria escolha se não soltar. Afinal quem não quer se queimar não se deve brincar com fogo (rsrs). Ao forjar um elo mágico ele abriu uma possibilidade interessante para que eu revidasse, contanto que conseguisse resistir, pois já podia sentir minha força me deixando, e ainda tinha que salvar Richard do ataque de Kaya.

– AI! – Ouvi Alec se queixar e sacudir a mão que segurava meu braço com magia a alguns segundos atrás.

Tentando desesperadamente terminar aquele duelo, ou trazer Richard de volta para que ele terminasse aquilo, o que viesse primeiro, comecei a lançar bolas de fogo sucessivamente, chamando a atenção de ambos para mim.

Com apreensão lembrei de algo que Zia havia me ensinado, seria arriscado e eu teria que manter minha concentração para desfazer rapidamente o que estava prestes a fazer.

Kaya preparou a flecha, ainda concentrada em Richard. Olhei meu cajado, respirei fundo e entoei o encantamento. O ar, que já estava quente, esquentou ainda mais, meu cajado brilhou e explodiu em chamas, mantive todo o poder sob controle para que não atingisse um tamanho maior que a forma do cajado.

– Cace Kaya e Alec. – Murmurei e deixei a coluna ir.

Ouvi os arquejos dos magos ao meu redor junto com o que parecia protestos e quase perdi a concentração, mas consegui manter o pilar sob controle.

No meio do caminho o pilar se dividiu em dois.

O casal de magos soltou um grito ao ver que as colunas iam em direção a eles rapidamente, sem ter outra opção ambos saíram correndo do círculo e eu usei a força de vontade que ainda tinha para cessar o encantamento.

Ainda bem que Zia aprimorou o feitiço para que pudéssemos impedi-lo quando quiséssemos, assim não temos que esperar horas. Pensei incoerente. Então o mundo girou e tudo ficou escuro.