Pov: Richard

– E aí Rick. – Falou Vítor me empurrando com o ombro enquanto descíamos as escadas para tomar café. – Quando vamos duelar de novo?

Suspirei com um pouco de irritação ao ouvir aquela ladainha de novo, mas no fundo achando graça. Olhei para meu amigo.

Ele era branco, com olhos azuis, cabelos loiros e trazia um khopesh nas costas. O típico garoto que atraía meninas como se fosse feito de açúcar.

– Quando você quer perder de novo? – Provoquei e ele riu antes de me dar um soco de leve no braço.

Me esquivei e segurei o braço dele, mas ele já esperava e girou o corpo se livrando de meus dedos.

– Trapaceiro. – Ele resmungou, mas estava sorrindo.

– Ora, assim que o Logan chegar você pode lutar com ele, aquele lá gosta de uma boa luta. – Falei no momento que chegávamos a mesa e fazendo uma careta, o Logan me odiava, com razão. Fiz um esforço para desviar os pensamentos. – Ou qualquer um dos seus amigos seguidores de Set, a Katherine, ou o Adam, até mesmo a Saeme.

Ele concordou, mas não parecia convencido.

– Tudo bem.

Nos servimos e fomos para a ponta da mesa, quando passamos por Laura Dragomir ele ficou vermelho e engasgou com um waffle, mas tentou disfarçar.

Fiquei tentado a tirar uma gracinha, mas sabia que ele não ia gostar muito e podia revidar à altura.

Suspirei e comecei a comer em silêncio enquanto os outros iniciados chegavam e se serviam, todos pareciam abatidos e com sono, como se tivessem tido pesadelos durante a noite.

Eu não duvidava disso.

De vez em quando meu ba gostava de dar uma voltinha por aí e visitar algum canto do mundo, ou voltar para o passado, ou ir para um possível futuro. Só podia imaginar como era para os outros.

– É, nós a vimos com Liz, elas estavam indo para o arsenal. – Ouvi a voz de Jasmine Lightwood, uma das seguidoras de Toth, ela estava conversando com Michelle Doyle a algumas cadeiras de distância. – Mas ela parece ser tão reservada.

– Ela é legal! – A seguidora de Bastet falou. – E até já chamou a atenção de algumas pessoas...

Entendi o comentário e me desliguei da conversa, podia sentir os olhos das duas em meu rosto, mas apenas continuei comendo como se não tivesse escutado.

Em algum momento quando alguns iniciados jogavam pedaços de bacon para Filipe da Macedônia (o crocodilo albino que ficava na piscina) e Julius Kane (o outro crocodilo que dividia a piscina com Filipe) Zia, Carter, Walt/Anúbis (esses dois davam dor de cabeça em todo mundo), Sadie (ela eu não preciso nem comentar), Cleo, Shelby, Felix e todos os outros que estudavam os caminhos a mais tempo chegaram para tomar café.

Olhei para Zia, ela apenas sacudiu a cabeça levemente em negação e eu franzi a testa.

Depois de estudar por tanto tempo com ela o mesmo caminho acabamos aprendendo a ler as expressões um do outro, e no dia anterior ela havia me dito que tentaria entrar em contato com uma pequena parte de Rá que não estaria na peregrinação através do mundo dos mortos, mas ao que parecia não havia conseguido.

E ele também não entrou em contato comigo. Se bem que pensando melhor não sei se seria uma boa ideia, ainda mais depois do que ele me disse (e repetiu) por todas as vezes que conversamos.

Você trará dor e morte para aquela que tiver o seu amor e retribuí-lo. Minhas mãos se fecharam em punhos automaticamente ao lembrar, ele havia dito, mas eu não acreditei e me envolvi com ela.

Ah Letícia, eu sinto tanto. Pensei. A culpa foi minha de você ter morrido.

Era por essa razão que eu até arriscava uma paixonite por algumas meninas da mansão, ou até mesmo da escola, mas nunca me aproximava demais, nem deixava se aproximarem.

Só cometi esse erro uma vez.

Zia criticava, dizia que dessa forma eu sempre sairia ferido, mas eu não causaria a morte de mais ninguém se pudesse evitar.

Meus olhos vasculharam a varanda para tentar esquecer esses pensamentos perturbadores e se fixaram nas portas de vidro que levavam de volta para dentro da Mansão.

Então ela apareceu, usava os óculos sobre os cabelos como no dia anterior, um pijama de linho branco com uma corrente de ouro no pescoço por dentro da roupa e um kit de magia ao lado do corpo.

Parecia mais decidida, em seus olhos não havia mais o medo do dia anterior, era como se ela tivesse crescido em uma noite apenas.

– Você está encarando a novata. – Vítor murmurou para mim e eu olhei para ele. – Isso não é boa ideia Rick, nós dois sabemos o que aconteceu da última vez.

– Obrigado por me lembrar. – Falei friamente, peguei um pãozinho e saí dali quando ela e Liz se acomodaram na mesa.

Pude perceber a confusão de todos por eu sair da mesa tão de repente, mas eu não podia ficar ali naquele momento.

Fui para a sala onde Carter ensinava técnicas de luta e peguei um khopesh entre os muitos que ficavam guardados nos armários, mas não deu dois minutos e ouvi a voz de Zia.

– Ela mexeu com você não foi? – Ela não parecia chateada ou preocupada, sua voz estava limpa de emoções o que de certa forma era preocupante para mim.

Fechei os olhos e respirei fundo.

– Zia eu não sei. – Respondi honestamente enquanto ainda de olhos fechados desferia golpes com a espada.

Passo para o lado esquerdo. Corte.

Passo para frente. Enganche a espada na do oponente.

Abri os olhos, ela estava impassível a alguns metros de mim.

– O que você quer fazer? – Ela perguntou simplesmente.

Hesitei antes de dizer:

– Eu não sei.

Pov: Nat

Assim que chegamos à varanda alguns dos magos ficaram nos encarando, mas em vez de me sentir com vergonha me senti tranquila e forte.

Olhei para Liz ao meu lado, ela agia como se nada estivesse acontecendo e me levou para conhecer mais alguns dos magos que eram seus amigos.

– Essa é Caroline Linera, assim como eu ela segue o caminho de Ísis. – Liz falou assim que chegamos perto de uma garota loira de olhos verdes e pele branca que parecia ter talvez 13 ou 14 anos sentada próxima a ponta da mesa. – Caroline, essa é Nat, a minha amiga de quem falei.

– Ah, oi Liz. – Ela cumprimentou minha amiga antes de olhar para mim. – Olá Nat.

– Oi. – Falei e ela estendeu a mão.

– Bem vinda.

– Obrigada. – Falei depois de retribuir o aperto dela e comecei a separar algumas coisas em um pratinho de porcelana e me sentar ao lado de Liz.

– Liz, a Sadie procurou por você ontem, disse que tem algo para falar com você. – A garota falou chamando a atenção de Liz e eu aproveitei para atacar meus ovos mexidos.

– Tudo bem. – Minha amiga respondeu quando eu notei que alguém estava voltando para dentro da mansão.

Olhei ao redor e todos pareciam confusos, pouco tempo depois Zia foi atrás da pessoa que entrou, só podia ser uma pessoa.

– O Richard é tão fofo, e parece tão triste. – Ouvi Liz murmurar ao meu lado depois que todos recomeçaram a falar. – Quer dizer, menos quando o Logan está por perto.

Olhei para ela.

– Como assim?

– Eles dois faltam ir para um duelo sério quando se encontram. – Ela respondeu.

– Por quê?

– Não sei, só sei que o seu irmão não quer ver o Richard nem pintado de ouro. Alguns iniciados sabem o motivo, mas nunca comentam com ninguém, apenas dizem que ‘se está no passado é lá que deve ficar’, tem quem diga que eles já foram amigos, mas algo muito ruim aconteceu e eles brigaram. – Liz deu de ombros antes de dar um suspiro apaixonado. – Pena que ele nunca olhou para mim.

Senti como se o que eu comi pesasse no meu estômago mais do que deveria.

E me perguntei por que me incomodava tanto o fato de Liz mostrar tão claramente que gostava de Richard.

Tentei empurrar essa questão para o fundo da minha mente enquanto ajeitava o presente de Apolo sobre meus cabelos, mas nesse momento Zia apareceu com Richard a seguindo, por um instante nossos olhos se encontraram e eu pude entender o que Liz disse sobre ele parecer tão triste.

– Ei Nat, talvez seja a hora de você falar que encontrou seu caminho. – Liz murmurou para mim antes de se levantar e chamar a atenção de todos para si. – Pessoal, a minha amiga aqui tem uma coisa para contar para vocês!

Senti vontade de estrangular Liz ali mesmo, mas tinha testemunhas demais, então tive que me levantar. Respirei fundo antes de dizer:

– Eu encontrei meu caminho divino.

Silêncio total, todos olhavam para mim, Carter se levantou.

– Tem certeza? – Perguntou e eu acenei. – E qual é?

Franzi os lábios, sabia o que iriam pensar quando eu dissesse que Rá me escolheu, mas não podia voltar atrás. Soltei o ar de uma vez e disse:

– Rá apareceu para mim ontem em um sonho, disse que me escolheu para seguir o caminho dele.

Um pires caiu no chão assim que terminei de falar.