O mundo é uma pintura que se desgasta com o tempo. Esta, tão preciosa, aos olhos do homem era apenas pó. E o pó, carregado pelo esquecimento, agora se encontra em um oceano de escuridão.

Caos. Cegos pelo poder e pelo desejo de algo inalcançável, transformam o mundo em grito de agonia. Sobrevivemos, não vivemos. Nossa vida é um fardo que carregamos. Andamos sem destino. A esperança, já um sonho distante, se esvai com a presença da dor e do sofrimento que os dias apresentam. Nós somos guerreiros, não porque queremos, mas porque é preciso para sobreviver.

Ando em meio à névoa densa que cega os olhos que procuram pelo mais remoto sinal de esperança restante no mundo. Afundadas em desespero, as pessoas seguem desnorteadas em rumo ao lugar nenhum feito de coisas desfeitas. Não há quem tenha objetivo concreto. Não há quem tenha princípios ou motivos. Felizmente, a escuridão que me cerca não se encontra dentro de mim.

Desabo. Choro. Não quero olhar para a desgraça que se faz presente. Por que tem que ser assim? Por que teve que acontecer? Por que eu sobrevivi? Às vezes penso em acabar com isso de uma vez. Mas não posso desistir. Não agora que já cheguei tão longe.

Eu penso diferente. Quero mostrar ao mundo que realmente há uma saída, que há uma luz nesse planeta de trevas. Preciso compartilhar com as pessoas. E para isso eu vou espalhar o que tenho de bom em meu interior.

Levanto. Torno a caminhar pela negra floresta da solidão. Sigo em frente, sem saber o que irá acontecer. Avisto uma aldeia peculiar. Pessoas de tom cinza interrompem suas lamentações e viram-se para mim. Vejo seus olhos tristes e opacos que suplicam por ajuda e decido que começarei a espalhar as boas coisas por aqui.

Vou até o centro do vilarejo. Todos me observam desconfiados. Então começo a cantar. É uma melodia triste e discreta, mas várias pessoas chegam mais perto para ouvir. Após juntar uma quantidade significativa de indivíduos, começo a contar histórias. Histórias sobre valores, histórias com lições de moral, histórias que remetem à infância. E espalhando minhas melodias metafóricas pretendo dar motivo de vida às pessoas para que elas possam organizar o caos e tornar o mundo um lugar melhor. E que assim a vida renasça das cinzas e eu me vá deste lugar, já com minha missão cumprida.