Claro que Rosalie não se esqueceria da promessa de, na próxima folga que eu tivesse, nós levarmos Victor a um lugar diferente. E claro que eu não iria negar isso a ela, você sempre mandou em mim querida, e a culpa é toda sua.

            Por isso, quando o dia dos namorados chegou, eu aproveitei que o banco ia ter uma reunião com os acionistas apenas da parte financeira, que não tinha a ver com o meu cargo – ainda – e tirei a tarde de folga para que pudéssemos ir. Quando avisei a Rose, ela riu me abraçando, porque ela jurava que eu havia me esquecido de que tinha prometido.

            Como se eu fosse mesmo de esquecer alguma promessa feita a você.

            Meu único temor era com os enjôos que ela continuava sentindo, e que deveriam permanecer por mais uns dois meses.

            Mas como sempre, Rosalie teimou e bateu o pé para que fossemos.

            - Eu passei bem a semana inteira – ela disse me abraçando, um sorriso meigo em seus lábios, e eu sabia que ela queria mesmo passar momentos diferentes com Victor.

            Apesar de não ser verdade que ela havia passado bem a semana inteira, porque duas ou três noites ela havia levantado várias vezes enjoada, e ainda tinha muito sono, mas não adiantaria mesmo discutir, por isso, dei de ombros – que ela logo entendeu como “vamos arrumar as malas”, e logo após o almoço nós partíamos para uma cidade há vários quilômetros de Rochester.

            A viagem durou a tarde toda, com direito a paradas e beijos no caminho. E confesso que nunca havia pensado que viajar com um bebê pudesse ser tão complicado, porque uma hora Victor queria colo, na outra tinha de trocar sua fralda, e nós não faríamos isso no meio de lugar nenhum, mas acabou sendo divertido ver todas as tentativas de Rosalie ao tentar acalmá-lo, e depois os sorrisos e palavras soltas que Victor pronunciava vendo tudo novo ao seu redor.

            Anoitecia quando chegamos ao local em que ficaríamos, um pequeno complexo de aconchegantes cabanas de frente para o grande lado de New Buffalo. Sorri vendo como Rosalie também sorria, abraçando a Victor que ria apontando para o lago.

            - O que acha? – perguntei abraçando-a por trás, para logo pegar Victor no colo e abraçá-la, com o braço livre, pela cintura.

            - Lindo – ela respondeu e beijou meus lábios.

            Victor logo começou a bater as perninhas no meu colo, e quando o pus no chão, foi para vermos ele correndo, com seus passinhos rápidos e curtos que sacudiam seu corpinho, até mais perto da água, fomos atrás dele, e Rose segurou sua mão enquanto ele olhava tudo maravilhado.

            - É mesmo lindo – ela murmurou, minutos depois, quando já estávamos na cabana, Rosalie havia ido até a sacada com Victor em seu colo, mostrando para ele o reflexo da lua no mar.

            - Vem campeão – ele ergueu os bracinhos, só porque sabia que eu poderia erguê-lo mais alto, e Rosalie revirou os olhos cruzando os braços, por pura pirraça. – Não vamos teimar agora!

            - Cinco minutinhos não faz mal – ela retrucou, continuando com pirraça, enquanto eu segurava Victor de frente para o lago, ele estava tão admirado por tudo novo que nem resmungava enquanto conversávamos.

            Sim, porque com apenas um ano nosso rebento já era cheio de manias, e outra delas – como a de não estar sozinho – era que não gostava quando eu e Rosalie ficávamos falando com a voz um pouco mais alta, quando eu falava e ela rebatia, ou ao contrário. Ele sempre choramingava, resmungava ou fica puxando nossas roupas, qualquer coisa que chamasse atenção e nos fizesse parar.

            Ou então ele só estava entendendo que eu só queria o seu bem.

            - Você mesma ouviu o que o médico disse, é só por mais uns dois meses que você tem de evitar ficar com ele no colo – eu disse e ela revirou os olhos.

            - Claro, mais dois meses por ser início de gestação, depois disso minha barriga vai estar crescida e eu não vou poder pegá-lo por causa disso...

            - Vem cá – eu abri o braço recebendo-a em um abraço, beijei seu rosto e ficamos assim, os três ali abraçados enquanto Rosa acariciava seu ventre liso.

            - Já estamos com quase dois meses – ela comentou com um suspiro, e eu soube que ela pensava no primeiro bebê que havíamos perdido. – Não me olhe assim – ela murmurou tocando meu rosto – eu sei o que você está pensando, não sabe disso ainda querido? – sua voz murmurava de modo tão tranquilo e suave que me dava vontade de voltar a beijá-la logo. – Eu estava mesmo pensando no nosso primeiro bebê – sua mão pousou sobre seu ventre –, mas, dessa vez, eu sinto que ele está tendo outra chance. Eu já pensava assim desde que engravidei de Victor – ela acariciou meu rosto e eu assenti, sabendo que isso era verdade. – Eu só pensava em como seria, ter um filho um pouco mais crescidinho...

            - Ia estar sendo tão bom quanto agora – murmurei beijando a palma de sua mão e ela assentiu. – Vem cá – voltei a abraçá-la e me inclinei para beijar seu pescoço. – Você é que não sabe que é como um livro aberto para mim, querida? – murmurei em seu ouvido. – Eu sei também o que você estava pensando, eu sei que não parava por ai – ela suspirou fechando os olhos, e eu entendi isso como uma brecha para que eu continuasse. – Você ainda pensa no dia que nós perdemos o nosso primeiro filho – ela suspirou, suas mãos esticando-se para pegar Victor no colo, prensando-o em seu abraço só para senti-lo assim, bem próximo dela. – Eu sei que você ainda tem medo...

            Rosalie abriu os olhos me encarando, e piscou duas vezes para esconder as lágrimas. Toquei suas bochechas mostrando que estava ali para secar essas lágrimas.

            - E você sabe que não tem porque ter medo – ela assentiu – nós já estamos com quase dois meses – murmurei espalmando seu ventre. – E você está indo muito bem até agora – beijei seu rosto – e nós vamos continuar assim.

            Ela assentiu querendo acreditar, e eu voltei a beijar seu rosto, confortando-a entre meus braços.

            Nós sempre soubemos que iria dar certo... Eu sempre soube querida.